terça-feira, 27 de julho de 2010

Grã-Bretanha prepara recepção do mais alto nível para visita de Bento XVI em Setembro.

Enquanto a Grã-Bretanha prepara uma recepção do mais alto nível para o Papa Bento XVI, a expectativa cresce, e os católicos se tornam cada vez mais conscientes da importância do papel desempenhado pela Igreja na sociedade britânica.

ZENIT entrevistou Dom Andrew Summersgill, coordenador da visita papal que se realizará entre 16 e 19 de setembro próximo. O bispo explica a importância do convite dirigido ao Papa por Sua Majestade a Rainha Elizabeth II, e descreve como os católicos estão se preparando para a visita do Santo Padre.

ZENIT: Quais são as últimas novidades em relação aos preparativos para a visita de Bento XVI?

Dom Summersgill: A 2 de julho passado, a Santa Sé, o governo britânico e as conferências episcopais da Inglaterra, Escócia e País de Gales confirmaram os elementos principais da visita do Santo Padre de setembro. O programa detalhado deve ser publicado cerca de um mês antes da chegada do Papa Bento XVI.

Neste momento estamos definindo os locais em que serão realizados os principais eventos públicos com o Santo Padre: a Missa em Glasgow, a Missa de beatificação (do cardeal John Henry Newman) em Birmingham e a vigília em Londres.

Ao longo das últimas semanas, tivemos uma série de reuniões de planejamento com representantes da Santa Sé.

Estamos também preparando os detalhes junto ao governo britânico, às autoridades locais, à Comunhão Anglicana, com a polícia e os serviços de segurança.

ZENIT: Os veículos de comunicação têm destacado a atitude negativa de alguns grupos ateístas e secularistas em relação à visita de Bento XVI. Como definiria o clima nas paróquias e entre o público em geral frente à visita papal que se aproxima?

Dom Summersgill: Sim, de fato há grupos que questionam a visita do Santo Padre, dentre os quais alguns fazem objeção especificamente da visita ser tratada como uma visita de Estado – o mais alto nível de boas-vindas que o Reino Unido pode conceder a um visitante.

Há também aqueles que questionam elementos fundamentais do ensinamento da Igreja Católica, e que aproveitam a ocasião para manifestar suas posições.

Além disso, a Grã-Bretanha está atravessando um momento difícil em termos econômicos, e alguns têm levantado objeções em relação aos gastos envolvidos com a visita do Papa Bento XVI.

Devo dizer, porém, que estas atitudes contrastam com a atitude de boas-vindas da maior parte da sociedade, especialmente entre as diversas comunidades cristãs.

No último final de semana, tive a oportunidade de conversar com um professor que está organizando uma excursão de alunos para participar do encontro com os representantes da educação católica, que será celebrado no segundo dia da visita; tive contato ainda com diversos grupos de jovens que se organizam para representar suas paróquias durante a visita.

Recentemente, as conferência episcopais publicaram um livreto no qual respondem a uma série de questões referentes à visita. A página na internet do evento também é muito popular.

ZENIT: O Papa deixou clara em diversas ocasiões sua intenção de dialogar com toda a sociedade britânica, inclusive com os ateus. A seu ver, qual o significado desta visita para o público em geral?

Dom Summersgill: Uma das maneiras pela qual o público em geral se relaciona com o Papa é através da mídia. A forma com que o evento será noticiado tem, portanto, importância fundamental.

O arcebispo de Westminster, Vincent Nichols, definiu a expectativa geral relativa à visita: que nossa sociedade seja capaz de compreender, com a visita do Papa Bento XVI, que a fé é uma bênção a ser redescoberta e não um problema a ser solucionado.

ZENIT: No que esta visita será diferente em relação à visita de João Paulo II de 1982?

Dom Summersgill: A visita do Papa João Paulo II foi uma visita pastoral aos católicos da Inglaterra, Escócia e País de Gales. Em 1982, todo o itinerário do Santo Padre foi concebido em função da celebração dos sacramentos. À época, a Guerra das Malvinas estava em curso e havia dúvidas se aquele seria de fato um momento oportuno.

Desta vez, o Papa Bento XVI vem para visitar a sociedade britânica como um todo, além, é claro, para celebrar a Eucaristia, e especialmente para a beatificação do cardeal John Henry Newman.

A visita de João Paulo II durou nove dias, e este esteve em mais locais do que Bento XVI terá oportunidade de conhecer durante sua breve visita. Em 1982, com exceção da visita à rainha, não houve os aspectos formais associados a uma típica visita de Estado.

A visita de João Paulo II foi também mais local; desta vez, a vista de Bento XVI estará centrada em quatro localidades: Edimburgo, Glasgow, Londres e Birmingham, de modo que muitas viagens estarão envolvidas.

ZENIT: Esta visita tem um significado especial pelo fato do Papa vir em resposta a um convite da rainha. Poderia falar mais a respeito? Por que razão Sua Majestade a Rainha Elizabeth II escolheu este momento em particular para convidá-lo?

Dom Summersgill: A rainha é cristã praticante e claramente uma mulher de fé. Um convite para uma visita de Estado é única para o Chefe de Estado visitante, visto que não pode ser repetida. Por isso, estou certo de que se trata de um desejo pessoal da rainha – ainda que, em questões desta natureza, a rainha atue assessorada pelo governo.

O governo está comprometido em oferecer as boas-vindas ao Santo Padre na condição de líder espiritual de cerca de 10% da população britânica, bem como consolidar a cooperação em diversas áreas entre o governo e a Santa Sé, especialmente no que se refere ao combate à pobreza no mundo e a mútuos compromissos no âmbito da educação.

ZENIT: A visita papal que se aproxima tem atraído a atenção para a Igreja católica de uma maneira peculiar no Reino Unido. Poderia dizer algo sobre essa publicidade? Como a Igreja poderia fazer uso dessa publicidade para alcançar os não católicos?

Dom Summersgill: Espero que os preparativos para a visita e a própria visita em si mesma sejam ocasiões para que nós católicos recuperemos a confiança em nós mesmos e em nosso papel na sociedade britânica.

Por uma série de razões que prefiro não detalhar, não tem sido fácil nos últimos anos ser católico em nossos países, e acredito que a vista do Santo Padre será um momento muito importante.

Será também uma oportunidade para reconhecer as profundas mudanças ocorridas na Igreja do Reino Unido: somos uma Igreja muito diferente, em grande parte devido à imigração.

Será também um momento para proclamar a mensagem do Evangelho no âmbito público.

Por uma feliz coincidência, o domingo da chegada de Bento XVI coincidirá com nossa tradicional celebração da Home Mission Sunday, de forma que tudo parece se encaixar perfeitamente.

FONTE:

Genevieve Pollock: Grã-Bretanha prepara recepção do mais alto nível para Bento XVI (Entrevista com Dom Andrew Summersgill) Londres, terça-feira, 27 de julho de 2010 (ZENIT.org) – http://www.zenit.org/article-25628?l=portuguese