terça-feira, 13 de outubro de 2009

Santo Agostinho, um Homem Magno

Pintura medieval européia


Santo Agostinho de Hipona

Introdução

Santo Agostinho sem duvida alguma um dos Santos Padres mais importantes para o Ocidente Cristão, Grande Teólogo e Escritor Literário além de compartilhar de uma mentalidade filosófica espetacular por seu Neo-platonismo, seus conceitos são vivos na Igreja de Rito Latino há séculos recebeu o titulo de Doutor da Igreja o Doutor da predestinação e da graça, para a Igreja católica, estudioso da filosofia platônica, comentador e estudioso das Sagradas Escritura, adversário do herege Pelágio e do maniqueísmo. Combateu as heresias dos pricilianistas e dos donatistas que por muito e um longo tempo influenciaram a vida de muitos na África. Bispo e grande escritor que deixou valorosa literatura cristã. Foi declarado Doutor da Igreja no Ocidente pelo Papa Bonifácio VIII, em 1298, o terceiro da tradição latina a ser honrado com este titulo especial dado pela Igreja aos grandes homens que desenvolveram papel de notável e ortodoxa importância tanto para o Ocidente ou para o Oriente Cristão nas questões relacionadas à Fé católica e sua disciplina, teologia, liturgia além da riquíssima apologética doutrinal e dogmática de muitos a qual Santo Agostinho utilizou. É comemorado na liturgia ocidental no dia 28 de Agosto.



Vida e Conversão

Aurelius Augustinus, SANTO AGOSTINHO nasceu em TAGASTE DE NUMÍDIA, província romana ao norte da África em 13 de novembro de 354; hoje atual Tunísia. Primogênito do pagão e oficial do Império romano, Patrício e da fervorosa cristã Mônica. Criança alegre, buliçosa, entusiasta do jogo, travessa e amante da amizade, não gosta muito de estudar porque os mestres usam métodos agressivos e não são sinceros. Ante os adultos se revela como "um menino de grandes esperanças", com inteligência clara e coração inquieto.

Africano pela lei do solo, romano pela cultura e língua, e cristão por educação. AGOSTINHO, jovem, de temperamento impulsivo e veemente, se entrega com afinco ao estudo e aprende toda a ciência do seu tempo estudou também retórica em Cartago onde ensinará gramática até os 29 anos, mais tarde parte para Roma e Milão e torna-se fantástico e brilhante professor na corte do imperador.

Nesta mesma época entre as orações e temores de sua Mãe Mônica e as fervorosas pregações de S. Ambrósio, bispo de Milão. Converte-se finalmente ao cristianismo e é batizado em 387, pelo Bispo, Ambrosio.



Adolescente, afunda-se nos vícios
A brilhante inteligência de Agostinho e sua fiel memória propiciavam-lhe muita facilidade para os estudos. Esse fator inclinou seu pai, quando Agostinho terminou os estudos em Tagaste e Madaura, a pensar em mandá-lo para Cartago, a capital romana do norte da África, onde ele poderia prosseguir sua formação intelectual e chegar a reputado jurista.
O ano que Agostinho passou, esperando que seu pai juntasse o dinheiro suficiente para isso, foi-lhe funesto. Estava na exuberância dos seus 16 anos, cheio de vida e quimeras, e perdeu-se moralmente devido à influência deletéria de maus companheiros, que levavam vida debochada. Declara ele em sua imortal obra Confissões: “Desde a adolescência, ardi em desejos de me satisfazer em coisas baixas, ousando entregar-me como animal a vários e tenebrosos amores! Desgastou-se a beleza da minha alma e apodreci aos teus olhos [ó Deus], enquanto eu agradava a mim mesmo e procurava ser agradável aos olhos dos homens”.(1)
Chegando por fim à famosa Cartago, aos 17 anos, logo se uniu à turbulenta mocidade acadêmica da cidade. Iniciou em seu curso de retórica o estudo de Virgílio, poetas e escritores latinos. Descobriu em Cícero a atração da filosofia, e a ela entregou-se com ardoroso fervor. Aos 19 anos uniu-se em ligação pecaminosa a uma donzela, com quem viverá 15 anos, só rompendo esse criminoso vínculo ao se converter. Ela lhe deu um filho, Deodato.



Depois virará Santa por seu exemplo de mãe doada a fé do filho, Apesar de não serem ricos, era uma família respeitada. Sua mãe dedicou-se à sua formação e conversão à fé cristã. Com muito sacrifício, seus pais lhe ofereceram o melhor estudo romano. Seus primeiros anos de estudo foram, feitos na escola local, onde aprendeu latim. Logo, foi enviado para a escola próximo a Madaura, e em 375 à Cartago, para estudar retórica. Longe da família,




S. Agostinho se apartou da fé ensinada por sua mãe, e entregou-se aos deleites e influencias do mundo e a imoralidade com seus amigos estudantes. Viveu ilegitimamente com uma concubina (ilegalmente) durante treze anos, a qual lhe concedeu um filho, Adeodato, em 372. O mesmo morreu cerca do ano 390. Na busca pela verdade, ele aceitou o herético maniqueísmo, o qual ensinava um dualismo radical: o poder absoluto do mal, o Deus do Antigo Testamento, e o poder absoluto do bem, o Deus do Novo Testamento. E a luta travada entre os poderes das trevas e da luz Nesta cegueira ele permaneceu nove anos sendo ouvinte, porém, não estando satisfeito, voltou à filosofia e aos ensinos do Neo-platonismo. Ensinou retórica em sua cidade natal e em Cartago, até quando foi para Milão, Itália, em 384.

Em sua busca afanosa vive longos anos com ânimo disperso. Vazio de Deus e agarrado pelo pecado, a vontade "sequestrada", errante e peregrina, "enganado e enganador".

Mas, seu coração, sempre aberto à verdade, chega ao encontro da graça pelo caminho da interioridade, apoiado pelas orações de sua mãe, que na infância lhe havia marcado com o sinal da cruz.


Enfim, na véspera da Páscoa de 387, ele é batizado por Santo Ambrósio juntamente com seu filho Deodato e vários discípulos.
Depois do batismo, Agostinho resolve voltar para a África. Em Óstia, perto de Roma, dá-se o famoso êxtase em que ele e sua mãe são arrebatados quando consideravam a vida futura. Pouco antes havia falecido seu filho, aos 15 anos de idade. E Santa Mônica logo o segue ao túmulo. “Em toda a literatura não há páginas com mais refinado sentimento do que a história de sua santa morte e a dor de Agostinho [Confissões, IX]”.(5)


Em Roma, foi apontado pelo senador Símaco como professor de retórica em Milão. Como parte de seu trabalho, ele deveria fazer oratórias públicas honrando o imperador Valenciano II. Sua Conversão no ano 386, quando passava várias crises em sua vida, S. Agostinho estava meditando num jardim sobre a sua situação espiritual, e ouviu uma voz próxima à porta que dizia: “Tome e Leia”. Agostinho abriu sua Bíblia em Rm 13,13-14 e a leitura trouxe-lhe a luz que sua alma não conseguiu encontrar nem no Maniqueísmo e em suas fanfarras.



Com sua conversão à Cristo, ele despediu sua concubina e abandonou sua profissão no Império. Sua mãe, Santa que rezava há quase 25 anos por sua conversão, morreu logo depois do seu batismo, realizado por Santo Ambrósio na Páscoa de 387.



Do Sacerdócio ao Episcopado de Hipona

De novo em Tagaste - a mãe morre no porto de Roma - vende suas posses e projeta seu programa de vida comum: probreza, oração e trabalho. Por seus dotes naturais e títulos de graça, cresce em torno dele um grupo de amizade e funda para a história o Monacato Agostiniano.

No ano 391 é proclamado sacerdote pelo povo, e cinco anos mais tarde, os cristãos de Hipona o apresentam para o Episcopado. Consagrado BISPO DE HIPONA - título de serviço e não de honra - converte a sua residência em casa de oração e tribunal de causas. Inspirador da vida religiosa, pastor de almas, administrador de justiça, defensor da Fé e da Verdade. Prega e escreve de forma infatigável e condensa o pensamento do seu tempo.


Uma vez batizado, regressou um ano depois para Cartago, Norte da África, onde foi ordenado sacerdote em 391.
Um dia no ano 391, em que tinha ido a Hipona — onde a fama de sua santidade e saber já havia chegado —, estava ele rezando numa igreja, quando o povo o rodeou, aclamando-o e pedindo ao bispo Valério que lhe conferisse o sacerdócio. Apesar de todos os seus protestos, ele teve que curvar-se à vontade de Deus.
A primeira coisa que Agostinho fez, quando ordenado, foi pedir ao bispo um lugar para erguer um mosteiro como o de Tagaste. Logo povoado de almas eleitas sob a direção de Agostinho, desse celeiro sairiam pelo menos 10 bispos para as dioceses vizinhas.


Em Tagasta, ele supervisionou e instruiue organizou um grupo de cristãos batizados chamados de “Servos de Deus”. Cinco anos depois, foi consagrado Bispo de Hipona pela Igreja Latina, por pedido de uma congregação ligada a ele, permanecerá até sua morte. Daí até sua morte em 430, empenhou-se na administração episcopal, estudando e escrevendo.

Voltou para a África em veste de penitência onde foi ordenado sacerdote e depois bispo de Hipona aos 42 anos de idade. Foi um dos homens mais importantes para a Igreja. Combateu com grande capacidade as heresias do seu tempo, principalmente o Maniqueísmo, o Donatismo e o Pelagianismo, que desprezava a graça de Deus.

O bispo Valério, considerando o valor de Agostinho, temeu perdê-lo para outra diocese. Por isso, pediu ao Primaz de Cartago que o nomeasse seu bispo-auxiliar com direito à sucessão. Mais uma vez Agostinho teve que se curvar ante a vontade da Providência. Pouco depois, com a morte de Valério, tomou posse da direção da diocese. Mas quis que em seu palácio se observasse a regularidade religiosa, para que tivessem mais eficiência seus trabalhos apostólicos.


Filósofo e padre da Igreja. Filho de mãe cristã (Mónica, santificada pela Igreja) e de pai pagão, não é baptizado. Menospreza o cristianismo até que, aos dezoito anos, enquanto estuda em Cartago, ao ler o Hortênsio de Cícero, inicia uma procura angustiada da verdade. Após uns anos de adesão ao maniqueísmo, converte-se primeiro a esta doutrina no ano de 374 e posteriormente ao cepticismo. Professor de Retórica em Cartago e depois em Milão. Nesta última cidade (384) conhece as doutrinas neoplatónicas; isto, mais o contacto com Santo Ambrósio, bispo da cidade, predispõe-o a admitir o Deus dos cristãos. Pouco a pouco apercebe-se de que a fé cristã satisfaz todas as suas inquietações teóricas e práticas e entrega-se inteiramente a ela; é baptizado em 387. Passa por Roma e regressa à sua Tagaste natal, na costa africana, onde organiza uma comunidade monástica. Ordenado sacerdote em 391, quatro anos mais tarde é já bispo de Hipona, cargo em que desenvolve uma actividade pastoral e intelectual extraordinária até à sua morte.
Sua vida foi registrada pela primeira vez por seu amigo São Possídio, bispo de Calama, no seu Sancti Augustini Vita. Descreveu-o como homem de poderoso intelecto e um enérgico orador, que em muitas oportunidades defendeu a fé católica contra todos os detratores.
Possídio também descreveu traços pessoais de Agostinho com detalhe, desenhando um retrato de um homem que comia com parcimónia, trabalhou incansavelmente, desprezando fofocas, rejeitadando as tentações da carne, e que exerceu a prudência na gestão financeira conforme sua posição e autoridade de bispo.
Sua vida não é tranquila: missa diária, prega até duas vezes ao dia, dá catequese, administra bens temporais, resolve questões de justiça (cerca, muro, dívidas, brigas de família…), atende aos pobres e orfãos, etc.
Pouco antes da morte de Agostinho, a África romana foi invadida pelos Vândalos, uma tribo guerreira com simpatias com o Arianismo. Pouco depois de Hipona ser cercada pelos bárbaros Agostinho adoeceu; Possídio relata que ele gastou seus últimos dias em oração e penitência, pedindo para que os Salmos penitenciais de Davi fossem pendurados em sua parede para que ele pudesse ler. Pouco tempo após sua morte, os Vândalos levantaram o cerco de Hipona, mas não muito tempo depois eles voltaram e queimaram a cidade. Eles destruíram tudo, mas a catedral de Agostinho e a biblioteca ficaram inalteradas.



Teólogo Genuíno

Santo Agostinho Filósofo e Teólogo de Hipona, Norte da África. Grande Polemista pregador de talento, administrador episcopal competente, teólogo notável, ele criou uma filosofia cristã na história que continua válida até hoje em sua essência a teologia Ocidental. Vivendo num tempo em que a velha civilização clássica parecia sucumbir diante dos bárbaros, S. Agostinho permaneceu em dois mundos, o clássico e o novo medieval.

Ocorre que Agostinho escreveu e defendeu algumas doutrinas que são consideradas errôneas do ponto de vista cristão ortodoxo. Não há teólogos ortodoxos consagrados que neguem este fato. Desde contemporâneos de Agostinho, como São João Cassiano e São Vicente de Lérins, até os mais recentes, como o Arcebispo Filareto de Chernigov e o próprio Pe. Serafim Rose, todos reconhecem que Agostinho, no mínimo, exagerou ou expressou-se mal em alguns pontos cruciais de sua vasta obra.

Santo Agostinho escreveu muitas obras e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento cultural do mundo ocidental. É chamado de “Doutor da Graça”. Inicialmente seduzido pelo maniqueísmo, contou, em suas Confissões, a longa caminhada interior até a conversão e seu batismo por Santo Ambrósio, em 387.

Por suas Obras Santo Agostinho é apontado como o maior dos Pais da Igreja. Ele deixou mais de 100 livros, 500 sermões e 200 cartas. Suas obras mais importantes foram:

Confissões, obra autobiográfica de sua vida antes e depois de sua conversão;

Contra Acadêmicos, obra onde demonstra que o homem jamais pode alcançar a verdade completa através do estudo filosófico e que a certeza somente vem pela revelação Divina;

Doctrina Christiana, obra exegética mais importante que escreveu, onde figuram as suas idéias sobre a hermenêutica ou Interpretação das Escrituras. Nela desenvolve o grande princípio da analogia da fé;

De Trinitate, tratado teológico sobre a Trindade De Civitate Dei, obra apologética conhecida como Cidade de Deus. Com o saque de Roma por Alarico, rei dos bárbaros em 28 de agosto de 410, os romanos creditaram este desastre ao fato de terem abandonado a velha religião Pagã clássica Romana e adotado o cristianismo. Nesta obra, põe-se a responder esta acusação a pedido de seu amigo Marcelino. S. Agostinho escreveu também muitas obras polêmicas para defender a fé dos falsos ensinos e das heresias dos maniqueus, dos donatistas e, principalmente, dos pelagianos. Doutrinas condenadas e combatidas por outros Santos Padres da Igreja na época; Também escreveu obras práticas e pastorais, além de muitas cartas, que tratam de problemas práticos que um administrador eclesiástico enfrenta no decorrer dos anos do seu ministério.

A formulação de uma interpretação cristã da história deve ser tida como uma das contribuições permanentes deixadas por este grande erudito cristão. Santo Agostinho exalta o poder espiritual sobre o temporal ao afirmar a soberania de Deus sobre a criação. Esta e outras inspiradoras obras mantiveram viva a Igreja através dos séculos. Também foi ele que deu empenho notável a integração da filosofia ao cristianismo desenvolvendo e compatibilizando a teologia e ética moralista cristã com a forma filosófica Platônica, apropriando-se das inspirações Neo-platônicas, colocando no mundo dais Idéias , A consciência de Deus, que assume as qualidades e as prerrogativas da Idéia do Bem.

A filosofia de Agostinho é estritamente platônica: metafísica, gnosiologia e ética. Excetuando-se Orígenes, nenhum autor cristão procurou a verdade em tantos campos. Não elaborou um sistema, mas encontrou em Platão o que convinha a seu pensamento: “Nenhuma doutrina está mais próxima da nossa” [Cidade de Deus, VIII, c.5]. Foi por antonomásia a autoridade teológica de TA que o repetiu, corrigiu e o ampliou. TA em matéria teológica, o cita com relação aos temas da Graça, dos sacramentos, da cristologia, da Trindade, da liberdade e muitos outros. Depois de Aristóteles – e quase tanto quanto ele – Agostinho é, de longe, o autor mais citado por TA. A obra de Agostinho é vasta e profunda.

Entre as suas obras contam-se grandes tratados (Contra Académicos), obras polémicas contra outras correntes teológicas e filosóficas, e as suas famosas Confissões. O conjunto da sua obra e do seu pensamento fazem dele o grande filósofo do cristianismo anterior a Tomás de Aquino (século xiii). O seu platonismo domina a filosofia medieval.
Para compreender a filosofia de Santo Agostinho há que ter em conta os conceitos augustinianos de fé e razão e o modo como se serve deles. Com efeito, não pode considerar-se Agostinho de Hipona um filósofo, se por tal se entende o pensador que se situa no âmbito exclusivamente racional, pois, como crente, apela à fé. Santo Agostinho não se preocupa em traçar fronteiras entre a fé e a razão. Para ele, o processo do conhecimento é o seguinte: a razão ajuda o homem a alcançar a fé; de seguida, a fé orienta e ilumina a razão; e esta, por sua vez, contribui para esclarecer os conteúdos da fé. Deste modo, não traça fronteiras entre os conteúdos da revelação cristã e as verdades acessíveis ao pensamento racional.
Para Santo Agostinho, «o homem é uma alma racional que se serve de um corpo mortal e terrestre»; expressa assim o seu conceito antropológico básico. Distingue, na alma, dois aspectos: a razão inferior e a razão superior. A razão inferior tem por objecto o conhecimento da realidade sensível e mutável: é a ciência, conhecimento que permite cobrir as nossas necessidades. A razão superior tem por objecto a sabedoria, isto é, o conhecimento das ideias, do inteligível, para se elevar até Deus. Nesta razão superior dá-se a iluminação de Deus.
O problema da liberdade está relacionado com a reflexão sobre o mal, a sua natureza e a sua origem. Santo Agostinho, maniqueu na sua juventude (os maniqueus postulam a existência de dois princípios activos, o bem e o mal), aceita a explicação de Plotino, para quem o mal é a ausência de bem, é uma privação, uma carência. E ao não ser alguma coisa positiva, não pode atribuir-se a Deus. Leibniz, no século xvii, «ratifica» esta explicação.
As Confissões, a sua obra de mais interesse literário, são um diálogo contínuo com Deus, em que Santo Agostinho narra a sua vida e, especialmente, a experiência espiritual que acompanha a sua conversão. Esta autobiografia espiritual é famosa pela sua introspecção psicológica e pela profundidade e agudeza das suas especulações.
Em A Cidade de Deus, a sua obra mais ponderada, Santo Agostinho adopta a postura de um filósofo da história universal em busca de um sentido unitário e profundo da história. A sua atitude é sobretudo moral: há dois tipos de homens, os que se amam a si mesmos até ao desprezo de Deus (estes são a cidade terrena) e os que amam a Deus até ao desprezo de si mesmos (estes são a cidade de Deus). Santo Agostinho insiste na impossibilidade de o Estado chegar a uma autêntica justiça se não se reger pelos princípios morais do cristianismo. De modo que na concepção augustiniana se dá uma primazia da Igreja sobre o Estado. Por outro lado, há que ter presente que na sua época (séculos iv-v) o Estado romano está sumamente debilitado perante a Igreja.



De Pai da Igreja a Doutor Ocidental

No século VI, a controvérsia agostiniana havia cessado, e a imagem de Agostinho permaneceu a mesma de sempre: a de um Padre da Igreja. Uma das maneiras mais claras de apurarmos esse dado é quando, no 5º Concílio Ecumênico, seu preâmbulo lista Agostinho como Santo Padre ao lado de santos como Atanásio, Basílio, Gregório, Cirilo, Proclo e Leão. O Papa de Roma, Vigilius, embora estivesse presente em Constantinopla, recusou-se a participar do Concílio. Meses mais tarde, aceitando a autoridade do Concílio, retratou-se de seu erro citando como exemplo as próprias retratações de Agostinho em relação a suas obras. É evidente, portanto, que no século VI Agostinho era reconhecido como Padre da Igreja.

No entanto, foi somente no século IX que o Abençoado Agostinho tornou-se controverso no Oriente, em função da contenda sobre o Filioque (a doutrina segundo a qual o Espírito Santo procede do Pai “e do Filho”, e não somente do Pai, conforme sempre ensinado no Oriente). Pela primeira vez, um Padre da Igreja grego (São Fócio, o Grande) examinou minuciosamente uma parte da teologia de Agostinho. Anteriormente, somente Padres ocidentais, embora sempre no espírito ortodoxo, haviam feito isso, e sempre em latim.

utilizou.

Queda do Império e morte de Agostinho

O santo bispo de Hipona foi um dos maiores defensores da ortodoxia em seu tempo tumultuado por heresias, combatendo-as com a palavra e com a pena. Depois dos maniqueístas, combateu as heresias dos pricilianistas e dos donatistas, tão poderosos na África, onde já haviam infectado mais de quatrocentos prelados e combatiam os fiéis católicos a ferro e fogo. Agostinho obteve auxílio do Imperador Honório para a erradicação de tão perniciosos elementos.
Combateu também as heresias dos pelagianos, dos semi-pelagianos e dos arianos, vindos com a invasão dos godos.

Em 429 os vândalos, guiados por Genserico atravessam o Estreito de Gibraltar e atacam o norte africano. AGOSTINHO "cercado com o seu povo" sente amargura e luto, alenta o ânimo de seus fiéis e os convida à defesa. No terceiro mês do assédio, aos 76 anos de vida, em 28 de agosto de 430, começa a viver na Cidade de Deus uma vida mais nobre.


Enfim, em 430 os bárbaros vândalos invadiram o norte da África e cercaram Hipona. Consumido pela tristeza, pois via naquilo a mão de Deus que castigava, Agostinho foi vitimado por uma febre que o prostrou ao leito. Tendo sempre presente sua anterior vida pecaminosa, mandou que escrevessem na parede de seu quarto os salmos penitenciais, para os ter diante dos olhos o tempo todo, até entregar sua compungida e nobre alma a Deus, a 28 de agosto de 430.(7) Mereceu o glorioso nome de Doutor e defensor da graça, pela refutação que fez à doutrina errônea da graça, pregada pelo pelagianismo.(8)