segunda-feira, 25 de junho de 2012

Por que Deus se fez homem? (Artigo V)

Por Eduardo Moreira.
O homem, o Pecado Original e a Eucaristia
Iniciando mais um artigo da série “Por que Deus se fez homem?” que é baseada (mas não é literalmente) na obra de título igual e de autoria de Santo Anselmo de Cantuária, falaremos sobre o homem, a queda e a Eucaristia.
Graças aos avanços da ciência, sabemos hoje que provavelmente a narração do Gênesis é uma metáfora. O Papa Pio XII dá total direito aos católicos de pensarem assim, muito embora afirme que a posição oficial da Igreja é o criacionismo (Vide Encíclica Humani Generis). Entretanto, quanto à criação do universo já é hipótese praticamente consolidada na Cátedra de São Pedro que esse surgiu pelo Big Bang, conforme propôs o Padre Jesuíta Georges Lemaître ao dar o escopo dessa Teoria. O que a Igreja não admite (e com razão e obrigatoriedade científica) é que a criação esteja aqui por acaso, sem uma razão e sem um propósito. Em termos científicos, é irracional falar em “acaso”. Na verdade, em ciência clássica não se aceita o acaso como explicação, pelo contrário, a ciência vive de encontrar causas dos fenômenos observados empiricamente.
Mas então, como o homem surgiu? Essa pergunta é intrigante, mas é teologicamente irrelevante. Sabemos que o homem é bom, pois foi criado bom. O argumento moral da existência de Deus demonstra muito bem que o homem não se compraz com o mal, a menos que esteja deformado, é claro. Logo, o homem, embora esteja deformado pelo mal, é intrinsecamente bom.
Em termos teológicos, o homem foi criado por Deus e tudo o que Deus fez é bom. Logo, o homem não pode ser mal e o próprio comportamento social apoia essa hipótese. Tanto é verdade isso que existem em todas as sociedades, códigos de conduta que, se violados, resultam na pena temporal de um poder judicial qualquer.
Ora, se o homem é bom, por que ele faz o mal? São Paulo diz que “não faz o bem que quer, mas o mal que não quer” (Rm 7, 19). De fato, o homem pode agir mal por descuido ou por pura maldade. É difícil imaginar, entretanto, que alguém que age mal não se arrependa mais tarde. Se não se arrepende é porque não pensa no que fez, pois se pensar certamente se arrependerá.
Podemos então dizer que o homem é bom, mas está corrompido. E o que corrompeu o homem? O que corrompe o homem? Por que, mesmo tendo raciocínio, o homem age mal? Aí entra a Teologia. Para a Teologia, o homem sabe o que é bom e o que é mau, o que é certo e o que é errado, mas age mal porque, em algum momento da história, por algum motivo ele se corrompeu. Talvez seja até ingênuo pensar que foi um casal que comeu o fruto proibido e por isso se corrompeu, mas isso pode ser uma figura de linguagem ou mesmo algo tido como real pelos judeus. Esses últimos são muito ligados à questão das impurezas e sendo o Gênesis um livro judeu, é normal que haja referência à cultura deles. Assim, o judeu do passado (quiçá o moderno) pode crer de fato que a injestão de um fruto pode provocar a queda do ser humano. Entretanto, Cristo diz aos cristãos que não é o que entra, mas o que sai da boca do homem que é impuro (Mt 15, 11), pois a boca fala do que o coração está cheio (Lc 6, 45) e se o homem fala impurezas, é porque impuro está seu coração.
Acerca da queda, o Padre Paulo Ricardo diz que ela gerou o pecado original, que nada mais é que a vontade do homem de expulsar Deus de sua vida, tal qual fizeram os construtores da Torre de Babel. Assim sendo, há várias interpretações para esse pecado. Ele pode ser o orgulho, a vontade do homem de ser igual a Deus ou simplesmente a tendência do homem de negar a Deus. Diz-nos o Gênesis que Deus passeava com o homem durante as tardes pelo jardim do Éden. Ora, isso é a visão beatífica, da qual estamos privados. De fato, ninguém vê a Deus. Podemos dizer então que o pecado original nos colocou de costas para Deus.
Cristo não podia estar de costas pra Deus, pois do contrário, não o conheceria. Podemos dizer então que Cristo não tinha o pecado original, o orgulho, a vontade de viver sem Deus. Nossa Senhora de forma igual, não poderia ser também portadora desses males, pois do contrário não teria se colocado tão prontamente a serviço do Altíssimo.
Tendo esclarecido, ao menos de forma vaga o que é o pecado original, devemos esclarecer agora o que é e para que serviu o Sacrifício de Cristo. Ora, esse sacrifício limpou-nos de nossos pecados que agora podem ser perdoados. Digamos assim que o pecado, por mais leve que seja, é uma ofensa tão grande que o homem não pode limpá-la por sacrifício algum. Assim sendo, o homem necessita do Sacrifício de Cristo, que tem valor infinito. Mas, se Cristo morreu na cruz, como o homem se beneficia desse Sacrifício?
O homem se beneficia através do Batismo. Através do Batismo somos mortos para esse mundo e nossa vida passa a estar escondida em Cristo (Cl 3, 1). Além disso, o Batismo nos torna parte do Corpo de Cristo e aí está a misericórdia. Quem não tinha pecado se fez vítima por misericórdia. Cristo se deu na cruz para nos livrar do pecado e nos permitiu, não por nossos méritos, mas pela graça, sermos inseridos em seu Corpo. Dessa forma, os méritos infinitos de Cristo se aplicam a nós e com o Batismo já não temos mais a mancha do Pecado Original.
Entretanto, a Teologia diz que todos os sofrimentos do homem são decorrentes do Pecado Original. Então, por que mesmo sendo batizados nós sofremos? Talvez os fatos que causam sofrimentos existissem, mesmo sem o pecado original, mas a forma de encarar esses fatos seria diferente. Santo Agostinho diz que a alma que ama a Deus não se inquieta, pois Deus é tudo pra  ela. Assim sendo, as coisas da terra não lhe causam mal, pois a maior riqueza essa alma já tem que é a riqueza de Deus. Isso não responde, entretanto, a questão inicial desse parágrafo. Na melhor das hipóteses isso nos dá uma dimensão sobre quanta falta nos faz a visão beatífica que, dando-nos certeza da existência de Deus, nos dá também a certeza da Salvação e força para encarar essa vida. São Tomás de Aquino nos responde a questão inicial desse parágrafo dizendo que, embora o pecado original seja retirado nessa vida, os méritos desse perdão só serão “pagos” no século futuro. Assim, embora não tenhamos mais a mancha do Pecado Original, temos que passar por uma provação nessa Terra para nos mostrarmos dignos do Paraíso Celeste. Há algo ilógico nisso? De forma alguma, afinal, não recebemos nessa vida glória alguma por nossos feitos. É na outra vida que depositamos nossa confiança. Aqui, como diz a oração da Salve Rainha, é um vale de lágrimas, um lugar de provações onde caminhamos confiantes em Deus e depositamos n'Ele todas as nossas esperanças. É após a morte que o homem aparecerá glorioso, isto é, como foi criado pra ser.
Mas não é apenas a Salvação que nos é garantida pela morte de Cristo. Também devemos nos alegrar dessa morte porque por ela nos tornamos capazes de sermos filhos de Deus. Não somos filhos de Deus por mérito nosso, mas porque pela morte de Cristo e pelo Batismo, somos inseridos ao Corpo de Cristo que é filho de Deus. Assim, pela graça nós, que não somos da mesma substância de Deus, nos tornamos parte de Deus e por isso somos seus filhos adotivos. "Quão gloriosa fostes, ó morte de Cristo, que nos tornou filhos de Deus. Quão digno de louvor és, ó Cristo, que através de sua encarnação nos ensinou do modo mais divino, como é ser humano."
Alguns teólogos dizem que Cristo, ao se encarnar, ensinou o homem a viver como tal. Outros dizem que Cristo se encarnou para acostumar o homem à divindade e para acostumar Deus à humanidade para que no Corpo Místico de Cristo pudessem conviver harmoniosamente. Por fim, outros, como Santo Anselmo, dizem que o Sacrifício de Cristo permitiu ao homem decaído se elevar à dignidade de Deus, não pelos méritos do homem, mas pela Graça Salvífica.
E onde entra a Eucaristia? Ora, é muito simples. Pelo pecado nos apartamos da Graça e pela Penitência nos reaproximamos. Note que aqui não falamos de uma penitência qualquer, mas da Penitência, isso é, do Sacramento. A Eucaristia é, pois, o alimento espiritual que aproxima a nossa natureza decaída da natureza agraciada da divindade. Assim como o corpo precisa de alimento material para se nutrir, a alma precisa de alimento espiritual para se manter forte. O Espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26, 41b). Então o nosso Espírito, que é a parcela da Alma onde habita Deus, pode ficar cheio de Deus e pode, ipso facto, viver na Graça mesmo sendo indigno dela. A Eucaristia então acostuma o homem à natureza divina, nos faz ainda mais semelhantes a Deus e nos torna menos indignos do Paraíso. 
Pensando bem, a Hóstia Santa é algo que, de certo modo, é muito frágil. Deus, pura Graça e Majestade, se faz tão pequeno e frágil como um pedaço de pão. Aí está a Misericórdia, porque Deus, sabendo de todos os riscos e blasfêmias aos quais estará sujeito na matéria, se faz pequeno na Hóstia Santa. A Eucaristia é, pois, verdadeiro Corpo e Sangue, Alma e Divindade de Cristo. Só quem já viveu uma vida de Comunhão Diária sabe quão grande é essa graça.
Na Eucaristia podemos receber o próprio Deus, que sendo Misericórdia Infinita, corre o risco de ser comungado até mesmo por pessoas com os mais terríveis pecados. Mas Deus assim mesmo se sujeita, se faz pequeno por amor, se entrega ao homem para que o homem se fortaleça e goze um dia do Paraíso Eterno em Sua presença.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Ao Sagrado Coração de Jesus

Por Carina Caetano

Meu doce amado Jesus,

Quis hoje lhe escrever. Sim. Olhando teu sagrado coração, pude ouvir tua voz serena a me inspirar e a ter ânimo novo, neste dia em que celebramos o teu coração precioso. Dele correram sangue e água. Nele vimos tua humanidade, mesmo sendo Deus. E sendo Senhor de todas as coisas, morreu por nós na cruz. Quanto mistério! Tu te dás na simplicidade de um pão e ao mesmo tempo és o Rei dos Reis. O pequeno e o tão grande!

Os limites, extremos. Soberano de todas as coisas.

Pensando neste sentido, vejo o homem, na sua pequenez. Me vejo, Senhor, pobre e fraca. Vivendo só pela sua misericórdia. 

O homem busca grandes coisas, a se beneficiar de tudo, ser o maior de todos, conquistar status e posição de vantagem perante os outros. Busca freneticamente sua felicidade em coisas vãs e passageiras. Se frustram. Alguns sucumbem e buscam a morte, inocentemente achando que esta é a maneira de cessarem seus problemas. Meu Deus! Bendito seja o teu

Coração chagado e sagrado também por estas pessoas que são fechadas ao teu mover.

O homem chegou à Lua, lutou por isso, para conquistar o Universo, outros planetas e quiçá gostariam até de ver outras galáxias de perto. E tocá-las. 

Ó meu Deus, piedade! Piedade de mim que busco, tantas vezes, a felicidade em coisas passageiras... Em querer ir longe demais, quando o meu repouso está neste teu coração.

O homem se aproxima da Lua, e se distancia de Deus. Quisera, Senhor, visitá-lo no Sacrário, para sentir teu coração pulsar, e lá encontrar uma fila de pessoas com a mesma intenção. 

Hoje vemos pessoas vazias, bancos de igrejas vazias, filas de confissão vazias. Onde estão as pessoas? Em filas de cinemas, de bancos, de shows. Isso é proibido? Não. É necessário. Vã é a nossa vida se vivemos longe do Cristo, da Divina Eucaristia e sob a intercessão da bem aventurada Virgem Maria.

Senhor, é o teu coração que queremos. Coloca-nos junto de Ti e nos lava com o teu sangue, nos redima pelos nossos pecados. Sede Nosso auxílio e proteção!

Oração


Recordai-vos, oh! Sagrado Coração de Jesus! de tudo o que haveis feito por salvar nossas almas, e não as deixeis perecer.
Recordai-vos do eterno e imenso amor que haveis tido por elas; não desprezeis estas almas que vêem a Vós, agoniadas sob o peso de suas misérias oprimidas sob o de tantas dores.
Comovei-vos à vista de nossa debilidade, dos perigos que nos rodeam por todas as partes, dos tantos males que nos fazem suspirar e gemer.
Cheios de confiança e amor, viemos a vosso Coração, como o coração do melhor dos pais, do mais terno e mais compassivo amigo.
Recebei-nos, oh! Coração Sagrado! em vossa infinita ternura; fazei-nos sentir os efeitos de vossa compaixão e de Vosso amor; sede nosso apoio, nosso mediador perante vosso Pai, e em nome de vosso precioso sangue e de vossos méritos, concedei-nos a força em nossas debilidades, consolo em nossas penas, e a graça de amar-vos no tempo e de possui-vos na eternidade.
Coração de Jesus, eu venho a Vós porque sois meu único refugio, minha unica mas certa esperança; Vós sois o remedio de todos os meus males, o alívio de todas as minhas misérias, a reparação de todas as minhas faltas, a segurança de todos os meus pedidos serem atendidos, a fonte infalivel e inesgotávelpara mim, e para todos a luz, força, constância, paz e benção.
Estou seguro que não vos cansareis de mim e que não cessareis de amar-me, proteger-me e ajudar-me, porque me amais com um amor infinito.
Tende piedade de mim, segundo vossa grande misericórdia, e fazei de mim, por mim, e em mim tudo o que queirais, porque eu me abandono a Vós com inteira confiança de que Vós não me abandonareis jamais. Assim seja.

domingo, 10 de junho de 2012

O que fazem os demônios?

Por Carina Caetano*

No artigo dessa semana, resolvi abordar o contexto acerca das potências inerentes aos anjos e por consequência aos demônios.

Espero poder ajudar a quem ler este artigo, de forma a tirar algumas dúvidas que são cada vez mais frequentes quanto a este tópico. Espero também desmistificar alguns contos que ouvimos por aí, contos esses muitas vezes que nos são relatados por pessoas com grande tempo de caminhada e que, partindo de pressupostos, cometem equívocos que acabam sendo passados adiante. Sobretudo, peço que o Espírito Santo, pela intercessão da Virgem Santíssima possa, por meio deste artigo, fazer cair por terra certos escrúpulos que temos acerca do demônio.

Comecemos falando dos milagres:

Muitos têm essa dúvida: “O demônio pode fazer milagres?” “Pode se passar por Deus por meio de um milagre realizado na vida de alguém?” “Ouvi tal pessoa de caminhada dizendo que o demônio, assim como Deus, também tem esse poder. Isso ocorre de fato?”

Não! O demônio não pode fazer milagres, e isso por uma razão muito simples: só Deus pode operar um milagre. Mas você vai me dizer “Ah, mas eu já vi casos de pessoas que foram curadas de doenças humanamente incuráveis em lugares que não professam a fé em Cristo”. Certo, isso de fato existe, porém, não denominamos uma ação extraordinária desse tipo por parte do demônio de milagre. O que um demônio pode realizar é um prodígio, uma maravilha, um sinal extraordinário. É o que nos afirma o famoso exorcista Maltês, Frei Elias Vella, em seu livro “O Leão que ruge ao longo do Caminho”.

Para confirmar esse conceito, o padre José Antonio Fortea nos diz em sua grande obra “Summa Daemoniaca”, que o demônio tem o poder, por sua capacidade angélica, de tirar uma pedra no rim, porém, não tem o poder de criar um olho numa cavidade vazia da faze, tem poder para curar uma dor de ouvido, mas não tem poder para criar um tímpano. Apenas Deus tem esse poder! O demônio pode transformar alguma coisa existente, mas nunca criar algo.

Para guardarmos bem esse conceito, tenhamos sempre em mente que ação do homem é uma ação de caráter natural, isto é, se dá dentro das limitações impostas pela natureza física; a ação dos anjos (e dos demônios) é de caráter preternatural. A palavra “preternatural” significa “mais além da natureza”, como acontece quando o demônio age nos exemplos citados acima, fazendo com que seja caracterizado um possível prodígio, uma maravilha, como lemos acima. Deus, e somente Deus, age em caráter sobrenatural, isto é, acima de qualquer natureza criada.

Importante ter sempre em consideração que, o demônio, ao dar com uma mão, toma com duas; ao beneficiar alguém por meio de uma cura física ou psicológica, sempre está tirando muito mais no lado espiritual e, com o passar do tempo, em outras áreas da vida humana.

Deus, ao contrário, sempre pode nos dar o milagre do qual realmente precisamos, sempre nos fazendo crescer em Sua graça. E Sua Poderosa ação fica ainda mais evidente quando é alcançado o milagre da nossa conversão.

* Colaboração de Caio C. Pereira.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A Divina Eucaristia

Por Eduardo Moreira.

Muitos católicos não conhecem o valor inestimável da Hóstia Santa. Esse valor muitas vezes é passado como mero simbolismo, simples sinal de Jesus ordenado na última ceia. Entretanto, sem se dar conta essas pessoas cometem um terrível engano. Perdem uma grande oportunidade de santificação ao negar ou negligenciar o Cristo Vivo consagrado na Hóstia. De fato, se lermos o Evangelho vemos que Jesus diz claramente que “Isso é o Meu Corpo” e “Isso é o Meu Sangue”.

São Francisco de Assis ao falar de tão grande mistério diz:

Pasme o homem todo, estremeça a terra inteira, rejubile o céu em altas vozes quando sobre o altar, estiver nas mãos do sacerdote o Cristo, Filho de Deus vivo! Ó grandeza maravilhosa, ó admirável condescendência! Ó humildade sublime, ó humilde sublimidade! O Senhor do universo, Deus e Filho de Deus, se humilha a ponto de se esconder, para nosso bem, na modesta aparência do pão. Vede, irmãos, que humildade a de Deus! Derramai ante Ele os vosso corações! Humilhai-vos para que Ele vos exalte! Portanto, nada de vós retenhais para vós mesmos, para que totalmente vos receba quem totalmente se vos dá!"

 É também em termos como esses que nos fala São Paulo em sua primeira carta aos Coríntios, no Capítulo 11. São Paulo diz que quem come e bebe da Santa Ceia comunga o próprio Corpo e Sangue de Cristo. Não se fala aqui de símbolo ou de presença meta-estável de Jesus na Hóstia, mas sim de uma transformação, ou seja, isso é o Corpo e Sangue de Cristo.

E por que o Deus infinito se faz tão pequeno? Por que Deus se coloca a disposição dos homens no tesouro da Eucaristia, presente em Igrejas frequentadas por pecadores em todo o mundo? Porque Deus é misericórdia.

A Eucaristia é um Sacramento, ou seja, um sinal da graça de Deus. Não importa se os homens são pecadores, e de fato o são, pois onde abundou o pecado superabundou a graça (Rm 5, 20). De fato, qualquer um que, recebeu esse Elevadíssimo Sacramento, torna-se potencialmente passível de Comungar o próprio Deus, isto é, receber Jesus em Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

Se pelo Batismo somos unidos ao Corpo Místico de Cristo, o qual é a Igreja. Como podemos permanecer unidos a esse Corpo, senão pela Graça? Entretanto, a Graça se manifesta nos sinais visíveis de Deus, os Sacramentos. De fato, somos por nós indignos de fazer parte da Imensa Santidade de Cristo. O homem pecador não pode sequer se aproximar de Deus, quanto mais ser digno de fazer parte do Corpo d'Ele. Assim sendo, a Misericórdia de Deus se aproxima de nós e nos convida, pela Graça, a fazermos parte de Cristo.

Cristo, inocente crucificado, adquiriu com sua Santíssima Morte e Ressurreição, os méritos infinitos, capazes de perdoar todos os pecados. E como nós, que somos finitos e pecadores, podemos nos beneficiar disso? Pela Graça de Cristo, a qual Salvou o mundo. É pela Infinita Misericórdia de Deus que nós, pecadores, passamos à plena comunhão com Cristo, o qual através dessa Graça nos transmite os méritos de sua paixão. É por isso que nossos pecados estão perdoados, porque nós, mesmo indignos, estamos inseridos no Corpo Místico d'Aquele que inocente se fez culpado por nós e assim nos obteve o prêmio da Salvação Eterna.

E onde entra a Eucaristia? A Divina Eucaristia é o mistério que nos mantém unidos a Deus. O Corpo e Sangue de Cristo, recebidos por nós tomam conta de cada parte de nosso corpo envolvendo-nos na Santidade de Cristo. Não nos tornamos da mesma substância de Deus, pois ao contrário d'Ele, somos finitos e pecadores. Por isso dizemos que “comungamos” porque entramos em comum união (comunhão) com Deus.

Não é ousadia demais dizer que Deus, em sua Infinita Misericórdia, não se satisfez apenas em salvar a criatura humana, desgraçada e perdida. Deus quis deixar seu próprio Corpo para ser recebido por nós. Pode-se dizer que essa união entre o homem e Deus pelo Batismo é uma união desproporcional devido aos nossos pecados e nossa natureza é infinitamente mais medíocre. Entretanto, Deus, que superabunda a graça, nos resgatou de nossa culpa e não somente isso, Ele se fez pequeno como um pedaço de pão para que nós pudéssemos nos estabilizar nesse Corpo Místico. Deus se une a nós através da Divina Eucaristia. Que grande Graça!

De fato, pelo Batismo somos unidos ao Corpo de Cristo, mas esse vínculo, embora seja estável, é desproporcional. Dessa maneira, a Eucaristia estabiliza o homem em Deus, acostuma nossa natureza frágil e pecadora à natureza divina que é pura graça. Assim, da mesma maneira que temos o alimento material que nos mantém vivos, a Eucaristia, alimento Espiritual, permite criar vínculos de amor tão fortes que nem a morte pode separar. É pela Eucaristia que temos força para superar nossas fraquezas humanas e assim, ultrapassando toda a expectativa humana, atingir a Salvação Eterna.

A alma necessita da Eucaristia, aspira por ela e não sossega até tomar contato em seu mais íntimo com esse Deus infinito que se faz tão próximo a ponto de poder ser comungado. Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo, Deus vivo na Hostia Santa que nos santifica acostumando assim a frágil natureza humana à natureza Divina com a qual teremos a Graça de conviver pela eternidade.