quarta-feira, 30 de março de 2011

Os Santos e a “inconsciência” dos mortos

Por Eduardo Moreira.

Varias dissidências do Protestantismo arriscam-se por caminhos nem sempre corretos ao interpretar a vida após a morte com base nas Escrituras. E eles nem deveriam interpretá-las ou tem o direito de fazê-la, isto é o papel do Magistério da Igreja. Sua interpretação não representa a realidade, pois seu Cânon bíblico¹ é incompleto, o que dificulta uma justa compreensão e interpretação do assunto, além é claro de que os protestantes não têm e recusam a Sagrada Tradição o que exerce um fator importante no auxilio a exegese bíblica.

A interpretação protestante da vida após a morte não faz, por consequência, referência ou se quer entende o valor da intercessão dos santos. Por falta desta percepção teológica, frequentemente os protestantes chamam os católicos de idólatras, por invocarem os Santos e a Maria. Ou seja, como eles não entendem que os santos podem interceder por nós, eles acham que se pedimos as orações dos que estão com Deus, estamos adorando-os ou invocando os mortos [existem também uma confusão quanto ao termo que eles correlacionam a “evocação de mortos” que é proibida biblicamente].

Primeiramente é conveniente fazer uma pequena correção tendo em vista a realidade semântica da língua portuguesa. De fato se procurarmos em um dicionário de português moderno, veremos que a palavra venerar e a palavra adorar são sinônimos. Entretanto, duas considerações devem ser feitas:

I - Em qualquer idioma que se preze, não há sinônimo perfeito de forma tal que nenhuma palavra substitui outra integralmente. Se assim não fosse, duas palavras não existiriam para designar a mesma coisa, afinal, no decorrer dos anos uma expressão tenderia a se dissolver e a outra tenderia a se perpetuar é o que acontece com as línguas modernas que estão em mutação continua como dizem os linguistas. Nesses termos, as palavras venerar e adorar não são sinônimos no catolicismo, mas certamente o são no protestantismo, a língua latina soube preservar termos e adjetivos, o que não se verifica nas línguas contemporâneas. Dessa forma, para que não haja confusões, é melhor tratar não de adoração e veneração, mas de dúlia e latria.

Latria é o culto que se presta a uma divindade, verdadeira ou não, oferecendo-lhe orações de reconhecimento de sua divindade e inclusive oferecendo sacrifícios. Na latria existe um conjunto de símbolos externos visando reconhecer, no caso do monoteísmo, uma entidade que é em tudo ato e perfeição.

Na dúlia, existe um conjunto de ações feitas em reverência a alguma pessoa que foi ou que é mais santa, visando pedir orações e buscando naquela pessoa um modelo das virtudes que ela possui. Que existem pessoas mais santas que outras é lógico. Daí nasce a devoção de dúlia. Por exemplo, os protestantes podem se ajoelhar para que um pastor ore por eles e isso não será idolatria. Da mesma forma, nós católicos podemos nos ajoelhar para receber a bênção de um Padre que isso não vai ser idolatria. Nesses atos estaremos apenas reconhecendo nossa pequenez e assim nos mostraremos humildes para sermos menos indignos de receber as bênçãos que Deus quer derramar sobre nós a partir daquele irmão que ora. Diferentemente é a idolatria.

A idolatria é uma palavra formada por dois radicais, ido, que provém de ídolo e latria, que significa culto a uma divindade. Ora, qualquer um, seja ele católico ou protestante, sabe que uma pessoa não pode ser um “deus” por diversos motivos. Outra consideração é que um ídolo é, na letra, algo equivocadamente chamado de divindade porque nunca existiu de fato, afinal só existe um Deus em três pessoas distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Portanto, em Apocalipse 22, 8-9, quando São João prostra-se diante do anjo aí sim foi um ato de adoração equivocada do Apóstolo e por isso ele foi repreendido. Dessa maneira a adoração é algo que parte de dentro, da intenção de se reconhecer o ser adorado como Senhor, Criador, Salvador, Causa das Causas. Várias passagens da Bíblia mostram o ato de prostrar-se como sendo não adoração, mas expressão de profundo respeito, amor ou devoção não idólatra (cf. Sm 28, 14, Gn 18, 2, Gn 19, 1, Gn 33, 1-3, Gn 47, 31, Gn 48, 12, Ex 18, 7, At 10, 25)

II - Uma mesma palavra significa várias coisas, sendo que grandes conjuntos de pessoas podem dar a uma palavra um significado diferente do significado em ato. Por tal, se algum dia uma Igreja quiser chamar uma mesa de altar, não haverá, em princípio problema nenhum nisso. Assim, na visão dos católicos as palavras Ecclesia e Cátedra significam na letra, Igreja e cadeira onde se sentam os bispos, respectivamente. Entretanto, essas são palavras latinas e no latim essas palavras têm tomando sua configuração e emprego pelo Magistério um único sentido. Logo, discutir se adorar e venerar são a mesma coisa é algo que não levará a lugar algum, pois os católicos e a Igreja tem uma noção diferente do verbo venerar. Os católicos constantemente dizem que venerar é amor, dedicação, imitação e etc. os protestantes contra argumentam dizendo simplesmente que é adorar. Se os dois pontos de vista forem aceitos de forma recíproca, de imediato isso fará que o protestante admita que não pode amar ninguém senão a Deus, pois amar seria o mesmo que venerar e venerar seria o mesmo que adorar. De forma igual isso levaria os católicos a extinguirem um costume que a Tradição Apostólica, validada desde os tempos apostólicos. Santo Inácio de Antioquia era um bispo da Igreja de Antioquia no fim do I século e início do II século. Como é sabido, é em suas cartas que aparece pela primeira vez o termo “Igreja Católica” na sua carta aos (Tralianos 13, 3) Santo Inácio próximo ao martírio promete orar pelos que continuariam vivos mesmo depois de morto, pois estaria junto de Deus.

Certamente as crenças da inconsciência dos mortos como professadas pelas Testemunhas de Jeová e pelos Adventistas do Sétimo Dia que creem que a alma não sobrevive à morte. Quando confrontadas, com testemunhos como a carta de Santo Inácio de Antioquia aos Tralianos (que é parte do Tesouro da fé Católica da Sagrada Tradição) quanto pelas Sagradas Escrituras fica claro que isso é falso.

Nosso Senhor Jesus Cristo é visitado no Monte Tabor por Moisés e Elias. Nesse episódio, Jesus transfigura-se em sua divindade na presença desses dois e de alguns apóstolos (cf. Mt 17, 1-8, Mc 9, 2-8 e Lc 9, 28-36). Elias estava vivo, pois acendeu de corpo e alma ao céu (cf. II Rs 2, 11), mas Elias não estava na alegria do céu, pois essa realidade será inaugurada com a descida de Cristo aos infernos. Entretanto, Moisés estava morto (cf. Dt 34, 5 e Js 1, 2) e por isso seguramente compareceu no Tabor só em espírito. Em outras ocasiões nas Escrituras temos conclusões que nos ajudam no entendimento do assunto, em Rs 17, 22 vemos que a alma de um menino voltou a ele e ele recobrou a vida. Se corpo e alma fossem inseparáveis, então a alma do menino não teria voltado a ele, pois nada que não saiu pode voltar. Por todos esses argumentos, vemos que mesmo que muitos não aceitem, a alma e o corpo não são inseparáveis, exceto quando falamos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Terminando essa primeira reflexão sobre almas, iniciamos uma segunda. Por vários lugares na Bíblia vemos que Jesus morreu para nos salvar. Ora, se Jesus morreu para nos salvar, então é certo que estamos salvos pelo batismo que nos sepulta com Cristo e nos faz nascer novamente como Cristo ressurgiu dos mortos (cf. Rm 6,4 e Cl 2, 12). Jesus não disse em lugar algum na Bíblia que o Batismo é só para os adultos, Ele apenas deixou que o Batismo deve ser feito Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (cf. Mt 28, 19). Através do batismo somos parte do Corpo de Cristo que vive (I Cor 12, 27). Ora, se Cristo vive e se somos parte do Corpo de Cristo, somos então vivos e não mortos, a menos que morramos por nossos pecados. Assim, todo aquele que crê em Cristo ainda que morto vive (cf. Jo 6, 47 e Jo 11, 25).

Jesus também prometeu ao bom ladrão que "hoje estarás comigo no Paraíso" (cf. Lc 23, 43), o que mostra que depois da morte de Cristo não há mais o Sheol (Mansão dos mortos) como dizem os Salmos, pois tudo o que era velho passou (cf. II Cor 5, 17).

A Bíblia também leva os protestantes a crerem que os mortos são inconscientes. Quanto à inconsciência dos mortos, vemos que Samuel não estava nada inconsciente quando encontrou Saul (cf. I Sm 28, 11-20). Também Moisés não estava inconsciente no Monte Tabor (cf. Mt 17, 1-8, Mc 9, 2-8 e Lc 9, 28-36). Também os mártires de Apocalipse não estavam nem um pouco inconscientes, pois até pediram vingança (cf. Ap 6, 9-10). Lázaro e o Rico estavam tão cientes no seio de Abraão que até dialogaram (Lc 16, 20-27). Aqui há mais um detalhe. No seio de Abraão não só não há inconsciência, como já é claro que cada um tem o que merece após a morte.

A morada dos mortos não era lugar de inconscientes, mas sim lugar onde não se tinha a ciência da existência de Deus, pois Deus não estava com os mortos até Cristo morrer na Cruz e nos redimir do pecado de Adão. Se não fosse assim Jesus não teria prometido ao ladrão "hoje estarás comigo no paraíso".

Quanto ao fato da confusão que se faz no que diz respeito às Escrituras, Jesus mesmo explica em Mt 22, 29-32 que nem todos (em especial os Saduceus) compreenderam as Sagradas Letras. Ele diz que os saduceus, que não acreditavam na ressurreição (cf. Mt 22, 23), não compreenderam as Escrituras, ou seja, naquela época, Escrituras ainda eram o Antigo Testamento que não foi entendido pelos judeus. Assim, concluímos que mesmo na Antiga Aliança já existia alguma ressurreição, ainda que imperfeita pela ausência de Deus. Jesus também disse que o Deus de Abraão, Isaac e Jacó não é o Deus dos mortos, mas o Deus dos vivos. Logo, se o Deus de Abraão, Isaac e Jacó (todos mortos no corpo), não é o Deus dos mortos, mas dos vivos (vivos no espírito), há vida após a morte.

Jesus ainda prossegue dizendo que na Ressurreição seremos como os Anjos de Deus no céu. Os anjos não são inconscientes e mais, os anjos intercedem pelos vivos oferecendo nossas orações (cf. Ap 8, 3-5), rogando a Deus por nós (Zc 1, 12-13), se relacionando com a nossa salvação (Hb 1, 14), cumprindo missões especiais (Lc 1, 19-38, At 10, 22) e cumprindo missões habituais (Mt 18, 10 e Hb 1, 14).

De forma análoga, as Sagradas Escrituras mostram Jeremias intercedendo pelos vivos, mesmo depois de morto quanto ao corpo (cf. II Macabeus 15, 13-16). De certa forma mesmo não tendo o contato com Deus no Sheol, é possível deduzir que os mortos tinham como orar a Deus. Mesmo Jeremias presenciou Deus dizendo que nem se Moisés e Samuel se voltassem a Ele, Seu olhar se volveria para os israelitas (cf. Jr 15, 1).

Compreendendo então, podemos ver pela Bíblia que tudo o que era velho passou com a morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dessa maneira temos uma oração muito antiga no cristianismo, o Credo que diz: ...[Jesus] foi crucificado, morto e sepultado, desceu a mansão dos mortos. As Sagradas Escrituras também falam disso (cf. I Pd 3, 19).

Ora, Jesus então morreu e foi ao seio de Abraão, mas fazer o que? Pregar aos espíritos que lá jaziam, seguramente para que fossem salvos (cf. I Pd 3, 19). Os espíritos dos mortos já tinham consciência, conforme te mostrei e é falso que a palavra Ruah significa espírito inconsciente de noções gerais, pois se assim fosse, a Bíblia estaria errada em vários lugares. Se assim fosse também, o próprio Espírito Santo de Deus seria inconsciente, pois Ele é também tratado como Ruah. Os anjos, sendo seres puramente espirituais também deveriam ser inconscientes por esse viés.

Desde o pecado de Adão, entretanto, nós nos encontramos em estado de desgraça, até que Jesus morreu por nós. Assim, Jesus é a Árvore da Vida (Ap 2, 7, Ap 22, 14) que Deus nos proibiu quando Adão pecou selando o paraíso com uma espada flamejante segurada por um anjo (cf. Gn 2, 9, Gn 3, 22 e Gn 3, 24). A árvore da vida era quem dava a vida eterna, conforme narra (Gn 3, 22).

Dessa maneira, Deus quando Adão pecou nos fechou a Salvação, pois fomos filhos desobedientes, mas como vimos na passagem de Lázaro e do Rico, mesmo no seio de Abraão já há a separação entre bons e maus, onde os maus recebem o castigo e os bons recebem consolo.

Quando Jesus morreu na cruz, o sacrifício infinito Dele nos libertou das sombras da morte e do pecado. Ele venceu a morte e nos ganhou a Salvação Eterna. Dessa forma, depois de Sua morte, Jesus que desceu aos infernos e livrou os mortos do Sheol e os mortos viveram. Como pela morte de Cristo somos mortos para o pecado e inseridos no seu corpo, certamente após a morte estaremos onde está Cristo. Se estaremos onde está Cristo, estaremos no Céu, pois Cristo está no Céu. Se somos parte do Corpo de Cristo na terra, também seremos após a morte e assim somos parte de Cristo sempre, pois o sacrifício de Cristo foi de uma vez por todas, tendo Ele entrado no Santuário e adquirindo-nos a redenção eterna (cf. Hb 9, 12). Dessa maneira, como vimos somos o Corpo de Cristo e Cristo está no Santuário. Porque então essa realidade deveria mudar após a morte?

A Bíblia fala que podemos orar uns pelos outros em várias partes, vivos podem orar pelos vivos (cf. Êx. 32, 30-35). Se nessa terra podemos nós orar pelos que vivem junto de nós, mesmo sendo nós cheios de pecado, o que então não será a oração dos que estão de uma vez por todas unidos a Deus e que são como os Anjos de Deus nos céus?

Esses estão uma vez por todas inseridos no Corpo de Cristo e como Ele é o único mediador de nossa salvação, eles são mediadores junto a Cristo, pois vivem n’Ele (cf. I Tm 2, 1-7). Se não fosse assim, de nada valeria rezarmos uns pelos outros.

Os que estão vivos no Espírito têm ainda uma oração mais valiosa, pois não podem mais ir para o inferno e não podem mais ofender a Deus com o pecado. Se não podem mais pecar, agora já são puros. Se agora já são puros e se agora vivem junto a Cristo, então estão mais agraciados que nós que ainda podemos pecar e sermos condenados. Assim, esses que estão com Cristo têm uma oração muito mais eficiente que qualquer um de nós aqui na terra.

É evidente que qualquer um de nós vivos pode orar pelos irmãos, pois pelo Espírito Santo somos um só Corpo em Cristo. Assim, nesses termos, os irmãos falecidos quanto à carne, mas vivos no Espírito, podem orar por nós e assim como podemos pedir a um de nossos irmãos vivos, podemos pedir a um dos vivos na glória para que orem por nós.

Se nessa vida estamos vivos em Cristo, não faz sentido morrermos e nos separarmos de Cristo após a morte. Jesus mesmo prometeu ao ladrão que ainda naquele dia estaria com Ele no Paraíso.

Um ponto que pode levar objeção é que ninguém vai ao Pai senão por Cristo. De fato, mas (1) essa passagem se refere à Salvação e só o sacrifício de Cristo é que pôde nos salvar e (2) Cristo nos fez parte de seu Corpo. Se ninguém vai ao Pai senão por Cristo significa que os irmãos vivos em alma não podem orar por nós, então significa também que os vivos em corpo não podem orar, pois ninguém vai ao Pai senão por Cristo. Entretanto, podemos sim orar e os vivos na alma também, pois são parte de Cristo e estão todos vivos por Cristo.

Entretanto, é errado também se invocarmos os mortos. Não devemos tomar parte dos rituais espíritas que pedem aos mortos para que voltem a esse mundo. Não que o retorno não seja possível, pois Moisés voltou a esse mundo depois de morto assim como Samuel e Lázaro, irmão de Marta e Maria. Basta Deus mandar e eles podem vir como mensageiros, pois são como Anjos de Deus no Céu. Mas nós não devemos invocar os mortos, pedindo para que venham a esse mundo em nosso auxilio. Coisa bem diferente é evocar os vivos em Cristo, pedindo para que orem por nós, pois se somos iguais aos anjos de Deus no céu após a morte, é bom saber que os anjos oram por nós (cf. Ap 8, 3-5). Nenhum homem é onipresente, mas Cristo o é. Assim, os que estão em alma em Cristo são, pela unidade do Espírito Santo com Ele, onipresentes².

Concluímos, pois, nossas considerações teológicas dizendo que invocar não é o mesmo que evocar e que adorar não é o mesmo que venerar. Ajoelhar-se perante a algo ou alguém nem sempre é adorar.

Na Bíblia não está escrito "ajoelharás somente perante o Senhor teu Deus". A Bíblia também não proíbe a construção de imagens, mas sim de ídolos. Se imagem é o mesmo que ídolo, então o Evangelho de São Lucas e os Atos dos Apóstolos não servem pra nada, pois os idólatras são árvores más e árvores más não dão bons frutos. Ora, foi o próprio São Lucas quem pintou o primeiro quadro de Nossa Senhora, e se ele era idólatra por ter feito tal, não poderia ter escrito textos inspirados.

A dúlia e o uso de imagens são coisas muito antigas do cristianismo, não há como separá-las da história da fé cristã. Os escritos do período patrístico confirmam a Tradição Apostólica. Lendo essas obras pode ser visto o que era a fé cristã primitiva, ensinada por Cristo a seus Apóstolos e desses para os primeiros presbíteros, diáconos e bispos. Consequência fatal será assumir que a Igreja Católica é a Igreja primitiva.

Não se pode interpretar as Sagradas Escrituras como nosso raciocínio entende. A palavra profecia na Bíblia significa palavra inspirada, e nesse contexto, a passagem em II Pd 1, 20 fala contra o livre exame protestante. Dessa maneira, é evidente que há apenas uma interpretação autêntica, guiada pelo Espírito Santo. Essa interpretação se encontra guardada com as chaves de São Pedro que estão na Santa Igreja Católica.

Notas:

Cânon bíblico¹: Lista ou catálogo dos livros considerados sagrados pela Igreja desde o século III com os concílios regionais de Hipona.

Onipresentes²: O termo aqui é usado para aludir a “Visão Beatífica” dom cujo, os justos na alegria do céu possuem por estarem intimamente unidos a Deus.

Referências:

Idolatria. Site da Catedral Santo Antônio da Jacutinga. Disponível em: http://santoantoniojacutinga.com/index.php/idolatria Acesso em: 22 Novembro 2010.

Santo Inácio de Antioquia. Carta aos Tralianos 13, 3.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Testemunho de conversão: Eduardo Marques Moreira


Bom dia, boa tarde, boa noite! Que a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com você meu irmão!
Sou natural do Estado de Minas Gerais. Nasci em uma pequena cidade chamada João Pinheiro, que fica próxima à divisa do Estado de Minas com o Estado de Goiás. Aquela cidade quando eu era criança era um reduto de catolicismo muito forte. Comovia-me quando criança ver a devoção das pessoas, a reza do terço e os cantos das Missas nos fins de semana. Fui coroinha na minha paróquia e quis ser padre até meus 11 anos. Todavia, a tibieza sempre tinha sido minha companheira, desde a infância. Não gostava de rezar o terço todos os dias como era hábito em minha casa, por vezes achava a Missa demorada e enfadonha além de outros descuidos que tinha.
Aos 15 anos fiz o crisma e participei de um encontro que mudou os rumos de minha vida para sempre. Através da RCC tive meu primeiro contato com Jesus Cristo em experiências de oração. Tentei elaborar ministérios de música dos 15 aos 16 anos, mas sem muito sucesso. Hoje vejo que Deus tinha outros planos pra mim que não a música. Nessa época em meu coração a ciência e a religião colidiam frontalmente. Eu não acreditava em Adão e Eva e aceitava a ciência sem questionamentos, ao passo que questionava várias coisas sobre minha crença. Admito que tudo dependeu de minha aceitação, mas uma boa parte de meu desvirtuamento se deu pelo ensino péssimo que recebi de vários professores influenciados pelo marxismo e que, por sua vez, aceitaram sem questionar as críticas feitas à Igreja, repassando-as a seus alunos. Isso é claro, é um reflexo do péssimo ensino oferecido nas escolas do Brasil que desperta no aluno não um senso crítico geral, mas uma visão bitolada e negativista, hostil às religiões, em especial ao catolicismo.
Aos trancos e barrancos empurrei a fé na adolescência questionando como a hóstia podia se tornar o corpo e sangue de Cristo, como Jesus poderia ter ressuscitado dos mortos e como Deus teria criado o mundo. Eu imaginava Deus como uma pessoa extremamente piedosa que tinha um martelo da justiça nas mãos. No fim de nossa vida Ele nos julgaria e nos salvaria ou condenaria. Nessa época, as únicas coisas que me mantinham católico eram: o medo de que se Deus existisse, mais cedo ou mais tarde viria o fim dos tempos eu poderia ir pro inferno e o respeito pelos meus pais.
Aos dezessete anos eu finalmente não agüentei mais as colisões e decidi romper com a Igreja me declarando ateu. Poucos meses depois eu voltei a freqüentar um grupo de oração da RCC muito mais movido por algumas pessoas do que pelo amor a Deus propriamente dito. Ao fim de meus dezessete anos passei no vestibular e concluí o ensino médio. Ingressei na faculdade com dezoito anos para cursar Química e nessa época me mudei para Patos de Minas.
Na faculdade o ambiente ateísta e agressivo me fascinou e não raras as vezes neguei minha fé. Entreguei-me às paixões mundanas e cuidei pouco de meu lado espiritual. Saia com meus amigos aprontando todas e bebendo muito. No outro dia sempre vinha o arrependimento por ter feito o que era mau e vinha com isso a vontade de procurar a Deus. Uma tibieza sem fim me acompanhava, uma mistura de amor e ódio pela Igreja Católica. Às vezes eu ia à missa e às vezes eu faltava. Às vezes me dizia crente, às vezes ateu. Entretanto, sempre a saudade da Igreja, das orações e da sensação de paz me faziam querer voltar atrás e mesmo com toda a tibieza, em várias ocasiões eu pedi a Deus ajuda em momentos difíceis.
Com o tempo, mudou-se para o pensionato onde eu morava um protestante. Nessa época morávamos em muitos e um dos rapazes era um ex-seminarista ainda fiel à Santa Igreja. É duro dizer isso, mas nesse período o contato com alguns “católicos” só piorou minha situação. Ameaças constantes de ir para o inferno, pensamentos nada pautados na razão e tentativas de brecar meus questionamentos com ameaças de que era tudo coisa do demônio me fizeram cada vez mais avesso à religião. O protestante que morava conosco ficava sempre criticando a Santa Igreja e como eu não estudava a sã doutrina e não conhecia o protestantismo, eu nunca sabia refutá-lo. Entretanto, me doía muito ver aquele rapaz falando aquelas coisas horrorosas sobre a Igreja. Não fosse esse ex-seminarista, sempre me mostrando como eram os pontos de vista da Igreja eu certamente teria ficado ainda pior.
No ano de 2006 eu me transferi para a Universidade Federal de Uberlândia e então me mudei de Patos de Minas. Em Uberlândia as tendências ditas racionalistas me acertaram de cheio. Eu passei a ser mais ausente à Igreja e passei a criticar e atacar a Igreja em muitas coisas, mas ao mesmo tempo não gostava quando falavam mal dela perto de mim. Essa tibieza me acompanhou até o ano de 2007 quando afogado em um vazio espiritual sem fim, resolvi voltar à casa de Deus. Fiquei por mais ou menos 6 meses fiel e rezando o terço diariamente. Nessa época conheci a Associação Cultural Montfort onde muitas vezes eu procurei a doutrina da Igreja. Hoje por vários motivos não aceito mais os pontos de vista dessa Associação, muito embora reconheça a erudição e a cultura de seus membros, em especial de seu fundador. Foram meus primeiros contatos com a Doutrina e com a Apologética Católica. Até nos dias de hoje eu ainda preservo a forma de apresentar meus argumentos parecidos com a forma da Montfort, respondendo à altura que merecem os hereges. O raciocínio da fé teve um impacto ainda maior em mim que o racionalismo da ciência. Eu percebi que não era necessário ser ateu para ser cientista e notei também que crer não era uma questão de fé, uma questão de necessidade ou uma questão de tranqüilidade. Enfim eu havia entendido que crer é uma questão também de pensar, de estudar, de demonstrar, debater e tudo isso gerou em mim um fascínio sem fim pela teologia. Eu ajudei a fundar um grupo de estudos católicos em Uberlândia chamado grupo de jovens Ágape.
No início de 2008 tive uma recaída e dessa vez eu fiquei com pensamentos parecidos com o deísmo. Decidi continuar freqüentando a Igreja pra não decepcionar meus pais, mas eu não mais disfarçava minha falta de devoção e piedade. Foi então que comecei a namorar uma garota do grupo de jovens que assim como eu, havia ajudado a fundá-lo. Ela me conduziu novamente de forma bem suave aos caminhos de Deus. Fiquei todo o ano de 2008 repensando pontos de minha fé e estudando a doutrina esporadicamente. Nesse ano eu vi ainda mais que a doutrina católica é muito pautada na lógica e foi também nesse ano que eu mais pude ver a mão de Deus me guiando, mesmo eu estando distante. Vi que a Igreja salvou a cultura greco-romana e que nem sempre o que os historiadores marxistas contavam sobre a Igreja representava a verdade documental. Percebi que os protestantes não eram os santos mostrados e que, pelo contrário, os pais da reforma foram homens sujos e corruptos.
Ao fim de 2008 percebi que a ciência não era também a mãe da razão como eu pensava graças aos estudos que fiz na disciplina de filosofia da ciência durante o fim da graduação. Estudando pensadores como Karl Popper em seu livro O olho e o espírito, fui percebendo como nós cientistas éramos medíocres muitas vezes. Nessa época eu pude treinar bastante minha retórica e minha eloqüência. Foi então que me tornei católico sem reservas e no ano de 2009 passei a investir pesado em materiais de estudo e em minhas orações diárias.
Tive contatos com a teologia da libertação e com outras frentes heréticas ditas da Igreja. No início de 2009 consegui um emprego e mudei-me para Várzea da Palma. Nessa época onde conheci um seminarista que me indicou bons estudos sobre a “reforma protestante”. Em meados de maior de 2009 saí da empresa onde estava trabalhando e me mudei pra São Carlos, onde estudei mais a doutrina da Igreja e intensifiquei minha vida de oração. Nessa época tive uma mudança radical de vida. Passei a me interessar mais pela apologética e no ano de 2010 fundamos a Associação Universitária Fides et Ratio. Passei a ler mais o Apostolado Eletrônico Veritatis Splendor onde conheci o apologista John Lennon J. da Silva e também os professores Carlos Martins Nabeto e Alessandro Ricardo Lima. Passei a freqüentar também nesse ano a sede dos Arautos do Evangelho em São Carlos, onde tive contato com obras excelentes do ilustríssimo pensador católico Dr. Plínio Corrêa de Oliveira.
Nos fins de 2010 eu e John nos tornamos grandes amigos e juntamente com outro grande amigo que conheci através de John resolvemos investir em um projeto audiovisual que pretendemos manter em parceria em breve. No início de 2011 decidimos fundir o Apostolado São Clemente Romano e a Associação Universitária Fides et Ratio em um só apostolado cujo projeto ainda está em andamento. Entretanto, deixei de atualizar o blog da Associação Universitária Fides et Ratio nesse ano para me dedicar apenas ao Apostolado São Clemente Romano.
Agora estamos com uma idéia de estender as atividades da Fides et Ratio ao Apostolado São Clemente Romano. A Associação Universitária Fides et Ratio tem em São Carlos um programa de palestras nas universidades, levando a formação teológica, histórica e filosófica aos alunos que se interessarem. Decidimos fazer isso para combater as coisas erradas ensinadas sobre a Igreja. Com a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo e com as bênçãos de Maria Santíssima desempenharemos daqui pra frente grandes trabalhos para a maior glória de Deus sempre.
Que Deus os abençoe e que o testemunho desse miserável servo sirva para firmar muitos que tíbios como eu fui.
Christus Vincet, Christus Regnat, Christus Imperat!
Eduardo Moreira

sábado, 26 de março de 2011

Contribuições jurídicas oriundas da Inquisição durante a Idade Média

Por John Lennon J. da Silva.

A Inquisição, em especial o “processo inquisitorial” quando confrontado com a concepção de justiça e direito, além da forma de aplicação de penas em vigor na Idade Média, representa em relação ao quadro penal daquelas sociedades, um papel de avanço não só a respeito do tratamento com os suspeitos e acusados como também com todo o processo de julgamento e a aplicação de penas, já que durante aqueles séculos estava em vigor um “Direito criminal” que comparado com o que séculos depois vira a ser o “moderno Direito Penal” apresenta ser brusco e rudimentar.

Os teóricos recentemente salientam sobre aspectos criminais e judiciários que usados pela Inquisição nos séculos de sua atuação, acabam por demonstrar um avanço comparado com os processos judiciais - civis das várias nações na Idade Média e Moderna, tais dados são pouco conhecidos do público em geral, leiamos algumas citações.

O Prof. Dr. Jorge Pimentel Cintra diz:

“De certa forma, a Inquisição foi a reação de defesa de uma sociedade para qual a preservação da fé era tão importante como a saúde ou os direitos humanos para a sociedade atual [..] a Inquisição representou um claro progresso com relação aos tribunais e julgamentos da época, como reconhecem muitos juristas atuais: era o tribunal mais justo e brando do seu tempo.” (AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. Ed. Cleofás, 2009, p. 109.)

O historiador italiano Luigi Firpo afirma:

“Naturalmente a Inquisição não era um agradável clube para conversas amenas, mas fornecia garantias jurídicas inexistentes nos tribunais civis da época.” (idem).

Poullet afirma que:

“[...] Não seria difícil demonstrar que em geral os tribunais da Inquisição se mostraram sob todos os respeitos muito mais equitativos e menos rigorosos para com os acusados do que todos os tribunais civis. [...].” (Citado em: AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. Ed. Cleofás, 2009, p. 102.)

O historiador dinamarquês Gustav Henningsen durante o Simpósio do Vaticano em 1998 sobre A Inquisição:

“A Inquisição introduziu um princípio de transparência, de moderação e de direito onde o poder político e o povo queriam proceder à justiça sumária e exemplar [...].” (AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. Ed. Cleofás, 2009, p. 110).

O comportamento e mentalidade do povo naquela época em relação aos crimes e as sociedades quanto à punição de “acusados” de faltas sociais e crimes religiosos, lembrando que o poder civil e religioso nesta época encontrava-se intimamente ligado uma ao outro.

É absolutamente estranho e diferente das modernas concepções de justiça, direito e julgamento. Os princípios que delineavam a atuação daquelas sociedades eram outros, por exemplo, a finalidade da Inquisição naqueles tempos apoia-se na “defesa da fé e na perseguição da heresia”, como atesta Arturo Bernal Palácios:

“A finalidade da Inquisição (“Inquisitio haereticae previtatis”) era a defesa da fé e a perseguição da heresia com o objetivo da conversão do herege, secundariamente se procederá o castigo” (SV, p. 144).

O que parece aos nossos olhos modernos estranho, para aquela época era assimilado por todos, é papel do bom historiador e do leigo olhar para o passado desprendendo-se do presente, pois não sendo assim é puro e simples anacronismo histórico e vêm a ferir um dos princípios básicos de análise e comentário histórico.

Neste contexto os processos inquisitoriais e o direito eclesiástico demonstraram notável diferença já na época. Contrariando o que foi por quase dois séculos propagado, a ideia de uma “Inquisição” que não representou avanço algum em nenhum sentido, os juristas atuais têm reconhecido que sim e diversos aspectos. E a historiografia recente esta a produzir uma “nova leitura” dos tempos medievais, a Inquisição também tem sido tratada de forma séria e não mais como no passado; que era usada para jogar a imagem da Igreja na lama.

Na apresentação do livro “A Inquisição na Espanha” do historiador britânico Henry A. Kamen, Edison Carneiro fez notáveis afirmações sobre os tribunais da Inquisição:

“Para muita gente constituirão surpresa as constatações do autor (a) de que os tribunais da Inquisição eram em geral clementes, e mais ainda se comparados com os tribunais seculares; (b) que a Inquisição não inventou torturas especiais e aquelas que mais frequentemente usava – a garrucha, a toca e o potro – eram comuns aos outros tribunais; (c) de que embora o segregado dos demais, o suspeito ou acusado detido pela Inquisição era razoavelmente bem tratado, em cela aquecida, limpa e iluminada; (d) de que embora não houvesse limite de idade para detenção ou tortura, era raro que tais penas fossem ministradas a crianças e velhos; (e) de que nem sempre o suspeito ou acusado era torturado, e de que de qualquer modo não mais de uma vez; (f) de que a confissão confessada sob tortura não era considerada válida, se não fosse ratificada sem coação no dia seguinte; (g) de que as penas de prisão de trabalhos nas galés ou de degredo ou banimento foram muito mais numerosas do que as penas capitais; (h) e de que, mesmo neste último caso, se o acusado, no momento de ser consumido pelas chamas, se arrependesse ou confessasse, era misericordiosamente estrangulado pelo carrasco [...].” (Citado em: AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. Ed. Cleofás, 2009, p. 110).

Referencias:

AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. Ed. Cleofás, 2009, p. 102, 109, 110.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Resposta ao comentário de um protestante.


Comentário (veja ao final desse texto):

Boa Tarde, me chamo Ismael Rodrigues, moro em Fortaleza, não sou participante de nenhuma denominação, nen evangélica e nen católica, mas estudo bastante a bíblia e eis uma curiosidade... De onde surgiu o culto mariano? quem deu a ordem ou a quem foi revelado isso? se O próprio cristo disse ser o único caminho que leva ao pai e seu espírito é o que intercede unicamente por nós, pq na igreja católica existem tantos "santos" a quem o povo é levado a adorar como deus?
se a bíblia diz que Deus não divide sua glória com ninguém, quem recebeu a autoridade de fazer tronos no céu? e pq a bíblia diz que ninguém ainda subiu ao céus, senão aquele que desceu de lá? mas que todos dormem no senhor? A igreja que serve a Deus ou Deus é que serve a igreja católica? agindo conforme suas leis criadas aqui?
Padres não pregam o evangelho, não precisam viajar gastar com passagens aéreas, ficam dentro de uma igreja sendo sustentado por uma paróquia e pelo governo estadual e recebe regalias do governo federal e ainda existe pessoas que dizem que vivemos em um pais com pluralidade religiosa. Pra que se preocupar com qualquer que seja o pastor, preocupem-se com suas almas, com o evangelho que estão seguindo....e a quem seu pecado de idolátria e adoração desvirtuada estão sustentando o luxo de quem?

Prezado senhor Ismael Rodrigues, Salve Maria, mãe do meu Senhor (Lc. I, 43).

Da saudação acima o senhor pode ver que o culto Mariano tem bases bíblicas. Veja, por exemplo, que de Gênesis ao Apocalipse nunca um anjo saúda alguma pessoa, só Maria em Lc I. E veja que não é qualquer saudação, ele diz Ave, graça em plenitude, o Senhor (Deus) é contigo (Lc. 1, 28). Ora, Maria na hora não sabia porque recebia tamanha saudação porque na verdade ela é tão agraciada e virtuosa que seu coração evitou a soberba. Graça em plenitude significa aquela que era, que é e que sempre será cheia de graça. Se um anjo a saudou, quem sou eu para negar-lhe os méritos que lhe são devidos? Até um anjo reconheceu a pureza de Maria e o senhor a coloca em dúvida, senhor Ismael. O Anjo Gabriel se maravilha e a saúda, o que indica que a grandeza da Mãe de Deus (Lc. I, 43) é superior à dos anjos. Isso tanto é verdade que Deus quis que Maria e não um anjo, trouxesse Jesus ao mundo.

O senhor diz que não é protestante, mas pelas suas palavras e pelo seu fundamentalismo sua afirmação se mostra mentirosa. Apenas o estudo da Bíblia não leva ninguém a ter ódio da Santa Igreja, pois os cristãos primitivos amaram a Igreja Católica, mesmo estudando a Bíblia, mas eles a estudavam com base no que os pais da Igreja ensinaram. O senhor é protestante e ao que parece mentiu que não é por ter vergonha de ser. Porque a vergonha de ser protestante Ismael? É algo tão ruim assim pertencer a uma comunidade do período pós-reforma? O senhor perdeu toda a razão com esse argumento, atirou contra o próprio pé e seguiu ao pai da mentira, satanás. Foi isso que lhe ensinaram na sua Igreja? O senhor atira contra si próprio quando diz que apenas lê a Bíblia, como se a leitura Dela causasse, por imediato todas as conclusões protestantes. Isso já é um princípio protestante, a Sola Scriptura, que prega que só a Bíblia livremente interpretada por inspiração do Espírito Santo é fonte de toda a doutrina. Esse princípio foi formulado por Lutero no século XVI e causou várias conclusões desastrosas para o próprio protestantismo. Leia aqui o que o próprio Lutero diz acerca das interpretações diversas da escritura. Veja o que São Pedro diz acerca disso (II Pd 1, 20-21).

Talvez o senhor saiba me dizer por que vários protestantes tradicionais afirmam que há, logo após a morte, a passagem para a outra vida ao passo que outros protestantes negam essa passagem? Vocês dizem que são a Igreja de Cristo, mas enfrentam problemas graves de doutrina graças à livre interpretação. Vocês sequer têm um consenso nesse e em vários outros assuntos, senhor protestante. Como o senhor quer passar a Igreja Católica por falsa, sendo que há uma só doutrina verdadeira e as várias doutrinas protestantes estão em colapso? Como pode haver um doutrina verdadeira com tantos pontos discrepantes? Entre vocês alguns crêem no sacramento da Eucaristia, outros não. Uns crêem na Santíssima Trindade, outros não. Uns dizem que o batismo é válido para adultos e crianças, outros dizem que só é válido para adultos. Uns batizam em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, outros batizam só em nome de Jesus. Uns dizem que há ressurreição logo após a morte e outros dizem que só há ressurreição no fim dos tempos. Uns crêem que se pode comer sangue, outros proíbem isso. Uns deixam as mulheres andarem como querem, outros só as aceitam de saias e cabelo comprido. Uns chegam a negar a divindade de Cristo, outros a aceitam. Percebe agora o caos da Sola Scriptura, meu caro? Para a correta interpretação da Bíblia, deve haver a Sagrada Tradição e sem ela o que ocorre é a divisão doutrinal que se observa nas seitas protestantes. A proposição de Lutero de que o Espírito Santo guia cada um no momento em que lê a Bíblia é uma farsa, pois todos vocês apoiados apenas na Bíblia discordam profundamente na doutrina.

O senhor com certo tom de superioridade, como se fosse o único que tem a Bíblia em casa cita que Jesus é o único que subiu aos céus. De fato, como afirma São João em Jo 3, 13, de Corpo e Alma, até aquela época em que os Apóstolos escreveram seus livros, somente quem tinha subido era o Cristo. Após isto, afirma a Sagrada Tradição tão esquecida por vocês que temem a verdade da patrística, Nossa Senhora também ascendeu de corpo e alma aos céus.

Seu comentário de que os mortos dormem é simplesmente uma ignorância de quem lê a Bíblia, mas não a entende. O senhor sabe me falar se quem dorme pode dizer alguma coisa? É interessante como sua interpretação literal da Sagrada Escritura atira contra seu próprio pé. Veja bem essas passagens: Mt 17, 1-3; Lc 16, 22-31. Que interessante, aqui os mortos estão falando, mesmo "dormindo", como o senhor mesmo disse. Mais interessante ainda é ver que foi Jesus mesmo quem disse que Dimas estaria com ele ainda hoje no paraíso (Lc 23, 41-43). Então, será que os mortos são mesmo inconscientes? Estariam os mortos literalmente dormindo, ou estariam aguardando a ressurreição da carne, mas já vivendo no paraíso? Veja mais em II Cor 12, 3-4; Ap 6, 9-11. Nesse caso, acho que está mais que provado que os mortos não estão inconscientes e mais, que já estão com Cristo nos céus. Veja bem que mesmo antes da crucificação que nos salvou do pecado, Jesus afirma que Lázaro, o mendigo, já tinha consolo no seio de Abraão.

A doutrina Católica também não ensina a ninguém adorar santos, meu caro doutor protestante. Apenas admiramos profundamente os nossos que deram a vida pela palavra de Deus e pela única Igreja de Cristo, porque todo aquele que crer e for batizado será salvo. Ora, o próprio São Paulo fala que somos membros do Corpo de Cristo (I Cor 2, 27). Se assim o somos, então podemos orar a Cristo uns pelos outros validamente e se somos parte de Cristo que é onipotente e onipresente, então também nós, após a morte, através do Corpo de Cristo somos onipotentes e onipresentes.

O senhor cita erroneamente Jo 14, 6. Esse é o perigo de se isolar um versículo da Bíblia senhor protestante. Cristo é o único que leva ao Pai, pois a Salvação, o Paraíso, é a graça de contemplar a Deus e foi por Cristo que fomos salvos. A passagem que o senhor cita é muito bem interpretada em I Tm 2, 1-5. Nosso Senhor é o único mediador de salvação, pois só pelo sacrifício dele é que pudemos ser salvos, afinal, foi pelo sacrifício de Cristo que veio a salvação (Leia os capítulos de 9 a 13 da Carta aos Hebreus). Nenhum homem que morresse na cruz poderia perdoar nossos pecados e por isso, só um homem Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, pôde lavar nossas manchas e nos abrir as portas da Salvação. Se Cristo já morreu por nós e já apagou nossas culpas, porque então o senhor teima em dizer que o paraíso permanece fechado? Se Cristo já fez o sacrifício infinito que lavou nossas culpas, qual é o sentido do paraíso permanecer fechado? Todavia esperamos em Cristo pelo juízo final, onde todos ressucitaremos na carne eterna e incorruptível como Cristo também ressurgiu.

Assim, pela salvação de Cristo, mesmo mortos viveremos (Jo 5, 25, Jo 6, 57-58, Jo 11, 25) e como vivemos mesmo estando mortos, podemos orar uns pelos outros. Santo Inácio de Antioquia, discípulo de São João Apóstolo, disse que depois de morto continuaria a orar pelos seus (Carta aos Tralianos 13, 3). E então, quem tem maior autoridade, um conjunto de seitas protestantes dos séculos posteriores ao século XVI que nem sequer se entende ou um santo discípulo de um dos 12 apóstolos, bispo de uma das Igrejas Primitivas dos séculos I e II dC?

Você como protestante, em especial protestante pentecostal que afirma ser o retorno da Igreja Primitiva, deveria saber disso. Nós católicos apenas amamos os Santos e Jesus mesmo mandou amarmos uns aos outros (Mt 22, 39). Por esse amor que nos une aos santos, pedimos suas orações, pois como já estão os santos em plena comunhão com Deus, sua oração é mais poderosa. Os Santos já não pecam mais e não estão mais atrelados ao corpo terreno meu caro amigo protestante e por isso não têm as limitações da carne. Agora o senhor entendeu o que é veneração?

O senhor nos acusa de sermos idólatras, é claro, essa acusação nunca pode faltar quando um protestante se refere a um católico, mesmo tendo sido refutado várias vezes. O pior cego é o que não vê e o pior surdo é o que não ouve. Vou mostrar-lhe que essa acusação é completamente infundada. Eu poderia lhe dar mais de dez versículos na Bíblia que mostram que ídolos são deuses falsos, que nunca existiram, e que foram feitos por mãos de homens. Entretanto, vou lhe apresentar apenas um versículo e se o senhor quiser, leia mais a Bíblia e descubra outros que o confirmarão. Para o senhor não falar que o Antigo Testamento caiu com Cristo, vou citar At 19, 26. Nesse caso em específico, vemos que as pessoas usavam os ídolos para obter lucros. Isso não é similar ao que muitos protestantes fazem hoje com coletas milionárias? A Sola Scriputra não seria também um idolatria (costumo chamá-la de bibliolatria)? É correto dar à Bíblia o lugar que é de Deus? Se não, porque vocês abandonaram a Igreja de Cristo, que é seu próprio Corpo, para seguir a livre interpretação da Bíblia? A Igreja Católica não adora, mas apenas ama pessoas, e não deuses, que existiram e que dariam suas vidas por Cristo como muitas o fizeram. Através disso o senhor já pode notar que o culto aos santos não é idolatria, pois não consiste em adoração, não consiste em reconhecimento das imagens como divindades e não consiste em dar mérito a algo que não existe, como os ídolos. Entendeu agora, senhor protestante?

Quanto à acusação de que padres não pregam o evangelho, como é que o senhor acha que o Evangelho se espalhou pelo mundo? Certamente o senhor deve imaginar que do nada sopraram brisas que levaram as páginas da Sagrada Escritura por todo o mundo e as pessoas a interpretaram livremente chegando à mesma fé. Por um acaso não foram os padres quem levaram o Evangelho do Oriente Médio para o mundo? Não sei se o senhor sabe, mas a "Reforma Protestante" só ocorreu no século XVI, quando uma boa parte do mundo já era cristã. Foi a Igreja Católica, senhor protestante, a mesma Igreja de Madre Tereza de Caucutá, que pregava o Evangelho pelo exemplo na Índia e não pela exploração dos pobres, quem levou a Bíblia e a sã doutrina ao mundo. Foi também a Igreja Católica que levou o Evangelho ao Japão, o país com maior número de mártires e mártires católicos, da história. Foram os Jesuítas quem tentaram, mesmo contra a vontade dos portugueses e espanhóis, trazer o Evangelho aos indígenas. Agora por favor, tenha a curiosidade de ler o que fizeram os protestantes puritanos com os índios da América do Norte.

Quanto à sua acusação de luxo, não é um luxo ter jatinho particular? Não é luxo também explorar os pobres para o bem próprio? Será que as seitas que o senhor defende estão pregando o Evangelho para a Maior Glória de Deus, como os Jesuítas fazem até hoje, ou será que é para a maior grandeza do dinheiro? Com certeza, muitos protestantes são sinceros de coração, mas francamente, existem uns por aí dos quais eu desconfio e desconfio mais quando Jesus diz que ninguém serve a Deus e ao dinheiro. E tem mais uma coisa, ao contrário do que o senhor diz, existem padres e missionários católicos que viajam pelo mundo pregando o Evangelho sim, como os Arautos do Evangelho, os Jesuítas, os Dominicanos e outros. Os padres paroquiais por sua vez têm um rebanho já fixado para cuidar e por isso eles ficam em suas Igrejas, ajudando os pobres com campanhas, pregando o Evangelho para os seus e ministrando os sete sacramentos deixados por Cristo em suas Igrejas. Estude mais antes de acusar, senhor protestante. Passe bem!

Ad majorem Dei gloriam!
Eduardo Moreira

terça-feira, 22 de março de 2011

Os Cinco maiores mentirosos da História.

É muito fácil. Basta atirar lama à Igreja Católica. A fórmula nunca falha, embora já repetida milhares de vezes, com entediante monotonia, em todos os países do Ocidente, precisamente aqueles que devem sua fundação cultural à mesma Igreja Católica.

“A mentira, mil vezes repetida, torna-se verdade”. A frase é de Goebbels, o propagandista de Hitler, mas a idéia é muito mais antiga, remontando provavelmente ao próprio Pai da Mentira.

Lutero

O próprio Lutero nos legou o relato dessa prática, anos antes de lançar-se em revolta aberta, dizia: “(…) os hereges não são bem acolhidos se não pintam a Igreja como má, falsa e mentirosa. Só eles querem passar por bons: a Igreja há de figurar como ruim em tudo.” (Franca, Leonel, S.J. A Igreja, a reforma e a civilização, Ed. Agir, 1952, 6ª ed. Pág. 200).

E num piscar de olhos lá estava o rebelado Lutero ensinando aos protestantes: “Que mal pode causar se um homem diz uma boa e grossa mentira por uma causa meritória e para o bem da Igreja (luterana).” (Grisar, Hartmann, S.J., Martin Luther, His life & work, The Newman Press, 1960- pág 522).

Diz o precioso livro: Martin Luther, His life & work, Grisar, Hartmann, S.J., The Newman Press, 1960 pág. 177:

“Lutero era inventivo na promoção de sua causa. Em sua avidez de lucrar o que parecesse servir aos seus fins, Lutero ao final de 1520 fez uso de uma notória fábula atribuída ao bispo Ulrich de Augsburg, publicando-a [a fábula] em Wittemberg com seu prefácio. Essa publicação pretendia ser uma efetiva arma contra o celibato dos padres e religiosos. Nessa carta o santo bispo é representado narrando como cerca de 3000 (de acordo com outros, 6000) cabeças de crianças que teria sido descobertas num reservatório de água do convento de freiras de São Gregório em Roma. (…) (Jerome) Emser desafiou Lutero a publicar essa questionável carta, e ele respondeu que não confiava muito nela. (sic!) Todavia, graças a seu patrocínio, a fábula pôde continuar sua destruidora carreira e foi zelosamente explorada”.

No final da vida, admitindo seu erro, escrevia Lutero arrependido: “Se o mundo durar mais tempo será necessário receber de novo os decretos dos concílios (católicos) a fim de conservar a unidade da fé contra as diversas interpretações da Escritura que por aí correm.” (Carta de Lutero à Zwinglio In Bougard, Le Christianisme et les temps presents, tomo IV (7), p. 289).

Voltaire

Logo surgiu Voltaire, para adquirir fama instantânea, o aplauso unânime das rodas mundanas e ainda boas patacas, além de uma aura de grande artista, ou pensador dotado de espírito agudo e destemido, com pouco ou nenhum esforço, simplesmente forjando mentiras contra a Igreja Católica. A mentira era a arma de Voltaire: “Mentez, mentez toujours, il en restera quelque chose“, ou seja, “minta, minta sempre, alguma coisa ficará”.

Todos sabemos quem foi Voltaire: o pior inimigo que teve o cristianismo naquele século XVIII, em que emitia críticas cruéis. Com os anos crescia seu ódio ao cristianismo e a Igreja. Era nele uma obsessão. Cada noite cria haver afastado a infâmia e cada manhã sentia a necessidade de voltar a declarar: o Evangelho só havia trazido desgraças sobre a Terra, dizia. Manejou como ninguém a ironia e o sarcasmo em seus inúmeros escritos, chegando até o inominável e o degradante.

Pois bem, no número de abril de 1778 da revista francesa Correspondance Littérairer, Philosophique et Critique, tomo XII (páginas 87-88), se encontra nada menos que a cópia da conversão de M. Voltaire. Literalmente diz assim:

«Eu, o que escreve, declaro que havendo sofrido um vômito de sangue faz quatro dias, na idade de oitenta e quatro anos e não havendo podido ir à igreja, o pároco de São Suplício quis de bom grado me enviar a M. Gautier, sacerdote. Eu me confessei com ele, se Deus me perdoava, morro na santa religião católica em que nasci esperando a misericórdia divina que se dignará a perdoar todas minhas faltas, e que se tenho escandalizado a Igreja, peço perdão a Deus e a ela.

Assinado: Voltaire, 2 de março de 1778 na casa do marqués de Villete, na presença do senhor abade Mignot, meu sobrinho e do senhor marqués de Villevielle. Meu amigo». (Fonte: http://neopapistas.blogspot.com/2005/02/converses-xi-converso-de-voltaire.html).

Alexander Hislop.

Em 1858 um ministro protestante escocês, chamado Alexander Hislop, publicou um mentiroso livro chamado “A Duas Babilônias” para enganar os avós dos que hoje são protestantes.

Este livro alega que a religião da antiga Babilônia, sob a liderança do Nimrod e sua esposa, recebeu mais tarde disfarces de sonoridade cristã, transformando-se na Igreja Católica Apostólica Romana. Com efeito, existiriam duas “Babilônias”: uma antiga e outra moderna (a Igreja Católica). É daí que veio os insultos protestantes que calunia que as doutrinas católicas são pagãs. Ainda hoje vemos eles com essa quimera na ponta da língua.

Outro pastor, Ralph Woodrow, escritor protestante, reconheceu as acusações infundadas e retirou das livrarias e substitui seu livro, que se baseava nas mentiras de Alexander Hislop. Aponta Ralph Woodrow:

“Eis aqui um exemplo de algumas afirmações INFUNDADAS que são feitas acerca da religião da antiga Babilônia:

- Os babilônios se confessavam e confessavam os pecados aos sacerdotes, os quais vestiam roupas clericais da cor preta.

- O rei deles, Nimrod, nasceu em 25 de dezembro; faziam decorações em árvores de natal e comungavam hóstias em sua honra, como deus-Sol.

- Os adoradores do sol acorriam semanalmente aos seus templos – no domingo – para cultuar o deus-Sol.

- A esposa de Nimrod, Semíramis, tinha o título de Rainha Virgem do Céu e era mãe de Tammuz.

- Tammuz foi morto por um javali quando tinha 40 anos. Logo, os 40 dias da Quaresma vieram para homenagear a sua morte.

- Os babilônios lamentavam por ele em uma “Quinta-Feira Santa” e adoravam a cruz (a letra inicial de Tammuz).”

“É impressionante como ensinamentos infundados como esses circulam e se tornam críveis. Qualquer pessoa pode ir a qualquer biblioteca e consultar qualquer livro sobre a história antiga da Babilônia: nenhuma destas coisas poderá ser encontrada. Essas afirmações não possuem fundamento histórico; ao contrário, são baseadas em um monte de peças de quebra-cabeças sobre mitologia juntadas arbitrariamente.

(…) Isto foi o que procurei fazer no meu livro “Conexão Babilônia?” [que substituiu o meu livro anterior "Babilônia: a Religião dos Mistérios"]”. (Fonte: http://www.veritatis.com.br/article/4702).

Ralph Woodrow ainda denuncia que muitos desonestos protestantes, continuam fazendo uso das calúnias depois de mais de 200 anos.

Dollinger

O apostata Döllinger, sob o pseudônimo de Janus, por encomenda do tirano Bismarck escreveu o mentiroso livro “O Papa e o Concílio”, na Alemanha em 1870, para irresponsavelmente atacar a Igreja, apregoando que esta “vendia indulgências”, tendo sido esquecido depois por ser um trabalho sujo. Traduziu-o Rui Barbosa, em sua juventude, e depois arrependeu-se, pelas calúnias e pelo ataque apaixonado que o livro faz contra a Igreja Católica, não permitindo mais sua reimpressão enquanto vivo; após a sua morte, sarcasticamente reimprimiram a obra, rejeitando porém, um prefácio que explicava o arrependimento de Rui Barbosa.


Deus agiu, e logo dizia o experiente Rui Barbosa: “Estudei todas as religiões do mundo e cheguei a seguinte conclusão: religião ou a Católica ou nenhuma”. (Livro Oriente, Carlos Mariano de M. Santos (1998-2004) artigo 5º. – ou (acesse: http://www.paginaoriente.com/livro/artigofin.htm).

Loraine Boetner

Este arauto do pai da mentira, forjou o livro que era conhecido como “A bíblia do Anti-catolicismo”. Continha quatrocentos e cinqüenta páginas que encheu de todos os tipos de distorções e mentiras sobre a Igreja Católica. O ministro protestante Scott Hahn era um distribuidor deste compêndio diabólico de mentiras contra a Igreja Católica.

Deus agiu e o presbiteriano ministro protestante Scott Hahn se converteu ao catolicismo. O cd do seu testemunho de conversão atingiu o maior número de cópias distribuídas em todos os tempos. O seu testemunho pode ser acessado pelo site (www.chnetwork.org/scotthconv.htm) ou em português no site: (http://geocities.yahoo.com.br/jf_m2001/134.htm).

Sábio conselho é o de Jesus, aos protestantes que perpetuam a mentira de herança para seus filhos: “Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira”. (Jo 8,44).

Hitler foi bom discípulo dessa gente, afirmava: “As grandes massas acreditarão mais facilmente numa grande mentira do que numa mentirinha”. E fantasiava anciãos de padre, e os fotografava saldando a suástica para favorecer seu partido. Os protestantes de hoje publicam estas velhas fotos na Internet para também favorecer-se, escondendo a de seus pastores e avós alemães, que adoravam Hitler de fato.

Veja com seus próprios olhos a verdade cruel:


Fonte:

NASCIMENTO, Fernando. Os Maiores Mentirosos da História. [sua veiculação neste site (http://www.apostoladoscr.com.br/). Foi permitida pelo próprio autor].

sábado, 19 de março de 2011

Considerações do Pe. Paulo Ricardo sobre a Campanha da Fraternidade 2011.

O Padre Paulo Ricardo em seu site (http://padrepauloricardo.org/), esta semana lançou seu tradicional podcast “Parrésia”: Com uma novidade, agora gravado em vídeos que foram postados em canal do youtube, estou a posta-los aqui para que todos os leitores assistam.

Em três vídeos ele faz boas considerações sobre a atual Campanha da Fraternidade “Fraternidade e Vida no Planeta”. Confiram logo abaixo:







sexta-feira, 18 de março de 2011

Milhares de ex-anglicanos se unirão a ordinariato pessoal da Igreja Católica na Grã-Bretanha.

900 pessoas, 61 delas sacerdotes, vão se unir ao Ordinariato

As milhares de pessoas que se unirão à Igreja Católica nesta Páscoa estão participando nestes dias dos ritos que marcam a fase final de preparação.

Nas dioceses da Inglaterra e País de Gales, existem mais de 4.700 candidatos e catecúmenos que se reuniram na semana passada, nas catedrais de suas respectivas igrejas locais.

Estima-se que, de todos eles, 900 se tornarão membros do Ordinariato Pessoal de Nossa Senhora de Walsingham, criado para aqueles que, a partir da Comunhão Anglicana, desejam ser católicos, mantendo alguns elementos da tradição anglicana. Destes, 61 são antigos clérigos anglicanos.

Outros países

Em Washington, D.C. (EUA), duas cerimônias estão sendo preparadas para o Rito de Eleição e o Chamado a Prosseguir a Conversão, devido ao grande número de pessoas. A arquidiocese vai acolher 1.100 novos membros, de cerca de 100 paróquias.

O cardeal Donald Wuerl, arcebispo de Washington, dará a cada um dos catecúmenos e candidatos seu livro "Os Sacramentos. Um encontro contínuo com Cristo", agora publicado em inglês e espanhol.

Em Miami, 489 catecúmenos participaram do Rito de Eleição. O arcebispo local, Dom Thomas Wenski, lhes disse: "Permaneçam firmes na oração e saibam que seus irmãos e irmãs católicos estão rezando por vocês e aguardando com alegria sua entrada na Igreja".

"Lembrem-se das palavras repetidas inúmeras vezes nas Escrituras e que ouvimos tantas vezes do Papa João Paulo II: Não tenham medo. Não tenham medo de atravessar a vida como amigos de Deus." Enquanto isso, em Hong Kong, Dom John Tong anunciou que sua igreja batizará 3.400 catecúmenos, cerca de 350 a mais que no ano passado.

Esta diocese estava batizando mais de 2.000 pessoas por ano nos últimos anos, mas em 2010 o número saltou para mais de 3.000.

O aumento é atribuído a "um compromisso impressionante da diocese e à mobilização do laicado", informou a agência ‘Fides'. Existem aproximadamente 356 mil católicos em Hong Kong, cerca de 5% da população.

Tradição

Na Vigília Pascal, em 23 de abril, será realizada a celebração dos sacramentos da iniciação. Depois de receber os sacramentos do Batismo, Confirmação e Eucaristia, os escolhidos são chamados de neófitos, e são considerados membros plenos dentre os fiéis cristãos. Continuam com um período de reflexão chamado "mistagogia", que significa "saborear os mistérios" e que dura da Páscoa até Pentecostes.

Os anglicanos que se unirem ao Ordinariato Pessoal de Nossa Senhora de Walsingham serão recebidos na Igreja perto da Páscoa, mas de acordo com a data estabelecida com bispos locais, com a intenção de permitir-lhes celebrar o Tríduo (da Quinta-Feira Santa até o Sábado Santo) como católicos.

Os antigos clérigos anglicanos cujas petições de ordenação foram aceitas pela Congregação para a Doutrina da Fé serão ordenados como padres católicos em datas próximas a Pentecostes.

Fonte:

Grã-Bretanha: Igreja se prepara para receber novos membros , LONDRES, quarta-feira, 16 de março de 2011 (ZENIT.org). Disponível em: http://www.zenit.org/article-27507?l=portuguese Acesso em: 17 Março 2011.

terça-feira, 15 de março de 2011

São Tomás de Aquino e o dom de línguas.

Por John Lennon J. da Silva

Existe hoje muita confusão quando ao “dom de línguas”, muitos grupos e comunidades ligadas a RCC, demonstram forte ênfase nos “carismas” e isto têm proporcionado desatenção de alguns lideres e coordenadores ligados ao movimento no Brasil.

É querido pelos últimos dois papas uma “comunhão madura” e fecunda das Novas Comunidades quanto a sua íntima relação, e consonância com a doutrina católica e com todas “as componentes eclesiais” como disse o Papa Bento XVI, há então de trabalhar-se para cumprir esta tarefa.

Por isto o “dom das línguas” hoje tem sido o foco de críticas, há também de mencionar a heterodoxia de indivíduos quanto ao este dom, além da alegação de estarem verdadeiramente sendo agraciados com tal manifestação, sem entrar profundamente no tema, estou recomendando aos leitores e internautas que visitam o site, um sublime comentário ao cap. 14 da I Carta aos Coríntios produzida por nada menos que São Tomás de Aquino “doutor dos doutores” e “teólogo dos teólogos” na Igreja.

Neste capitulo da I Carta aos Coríntios, São Paulo o apostolo faz menção ao “dom de línguas” extratos deste capítulo são utilizados comumente e de forma pouco exegética para se justificar certas incoerências e equívocos quanto a este carisma que é um dos sete dons do Espírito Santo como ensina e enumera o Catecismo da Igreja Católica.

É muito útil a leitura deste comentário teológico para compreensão ortodoxa do assunto e de uma maturidade em relação ao tema, por isto publico aqui e espero ajudar aos cristãos neste sentido, a leitura ajudara tanto na percepção como na interpretação deste dom, sob o olhar da doutrina tradicional da Igreja das palavras e síntese do grande Tomas de Aquino.


Comentário de Santo Tomás de Aquino à Primeira Carta aos Coríntios (1) Capítulo 14.

Texto sobre o dom de línguas.

Lição 1: 1Co 14,1-4

Primazia do dom da Profecia sobre o dom de línguas.

1. Buscai a caridade; mas também desejai com emulação os dons espirituais, especialmente a profecia.

2. Pois o que fala em línguas não fala aos homens senão à Deus. Em efeito, nada ele entende: diz verbalmente coisas misteriosas.

3. Pelo contrário, o que profetiza fala aos homens para sua edificação, exortação e consolação.

4. O que fala em línguas, edifica-se a si mesmo; o que profetiza, edifica toda a assembléia.

Uma vez afirmada a excelência da caridade à respeito dos demais dons, logicamente compara agora o Apóstolo os demais dons entre si, e mostra a excelência da profecia sobre o dom das línguas. E para isto faz duas coisas. Primeiro mostra a excelência da profecia sobre o dom das línguas, e logo como se deve usar tanto do dom das línguas como o da profecia.
Primeiramente, faz duas coisas. Faz ver que o dom da profecia é mais excelente que o dom das línguas, em primeiro lugar por razões relativas aos infiéis, e em segundo por razões da parte dos fiéis.

A primeira parte se divide por sua vez em duas. Primeiro mostra como o dom da profecia é mais excelente que o dom das línguas pelo uso daquele nas exortações ou ensinamentos; em segundo termo, pelo que vê do uso das línguas, que é para orar. Com efeito, para estas duas coisas é o uso das línguas: Por isso aquele que fala em línguas peça para poder interpretar (14,13). Enquanto ao primeiro, ainda duas coisas. Desde logo antepõe uma, pela qual se assegura o que segue; e ela é isto: Dito está que a caridade excede a todos os dons. Logo se isto é assim, buscai, isto é, esforçadamente, a caridade, que é o doce e proveitoso vínculo dos espiritos. Ante todas as coisas a caridade, etc. (1P 4,7). Sobre todas as coisas tenham caridade (Cl. 3,14).

Em segundo lugar adiciona o que liga com o que segue. E isto é aquilo de: desejai com emulação, etc. Como se dissera: Embora a caridade seja o maior de todos os dons, contudo os demais não são desdenháveis, senão que desejáveis, desejai com emulação, isto é, ardentemente amando os dons espirituais do Espírito Santo. E quem os fará mal se vos esforçais pelo bem? (1P 3,13). Pois embora a emulação às vezes se toma por fervoroso amor, as vezes por inveja, contudo não tem equivoco: mas bem um procede do outro, porque, com efeito, zelar e desejar com emulação designam um fervoroso amor a determinada coisa.

Mas ocorre que a coisa amada de maneira tão fervorosa é amada por alguém que não suporta coparticipação, senão que a quer somente para ela e exclusivamente. E isto é o zelo, que segundo alguns é um intenso amor que não suporta coparticipação na coisa amada. Mas nas coisas espirituais ocorre que muitos podem participar delas perfeitissimamente, em vez de um só nas que não podem participar muitos.

Assim é que na caridade não se dá esse zelo que não tolera coparticipação no que se ama e que só se encontra enquanto coisas corporais, no que sucede que se alguém tem aquilo que ele mesmo zela, sofre; do qual resulta um desejo com emulação que vem a ser inveja. De modo que se eu amo honra e riquezas, sofro se alguém as possui, e consequentemente o invejo. E assim é patente que do zelo surge à inveja.

Em consequência, quando se disse: Desejai com emulação os dons espirituais, não se trata da inveja, porque as coisas espirituais podem ser possuidas por muitos; e se disse que se desejam com emulação é só para induzir a um fervente amor de Deus.

Mas como nas coisas espirituais existem certos graus, porque a profecia excede o dom de línguas, se disse: especialmente a profecia, como se dissera: entre os dons espirituais desejai com maior emulação o dom da profecia. Não extingais o Espirito; não desprezeis a profecia (1Filem 5,19-20).

Mas para a explicação de todo o capítulo devem-se ter desde agora em conta três coisas, a saber: o que é profecia, de quantos modos se designa a profecia na Sagrada Escritura, e o que é falar em línguas.

Acerca do primeiro se deve saber que profeta é algo assim como o que vê ao longe, e em segundo lugar alguns o entendem como falar prognósticos, mas todavia melhor se toma por guia, faról, que é o mesmo que ver.

Pelo qual em 1 Reis 9,9 se disse que a quem agora se chama profeta em outro tempo se chamava vidente. Daqui que a visão daquelas coisas que estão distantes, ou que são futuros incertos, ou que estão por cima da nossa razão, se designa com o nome de profecia.

É, pois, a profecia a visão ou manifestação de futuros incertos ou do que excede a inteligência humana. Mas para tal visão se requerem quatro coisas.

Com efeito, como nosso conhecimento é mediante as coisas corporais e por espectros ou imagens tomadas das coisas sensíveis, primeiramente se necessita que na imaginação se formem semelhanças corporais das coisas que se mostram, como ensina Dionísio, pelo qual é impossível que nos ilumine a luz divina se não seja mediante a diversidade das coisas sagradas envoltas em véus.

O que em segundo lugar se necessita é uma luz intelectual que ilumine o entendimento sobre coisas que se devem conhecer acima de nossa natural cognição. Com efeito, como a luz intelectual não se dá senão sobre as semelhanças sensíveis formadas na imaginação para serem entendidas, aquele a quem tais semelhanças se mostram não pode ser chamado profeta, mas senão um sonhador, como o Faraó, que embora viu espigas e vacas, as quais indicavam certos fatos futuros, como não entendeu o que viu, não se chama profeta, senão que o é, aquele José, que fez a interpretação. E o mesmo há que dizer de Nabucodonosor, que viu a estátua, mas não entendeu. Pelo qual tampouco ele foi chamado profeta, senão a Daniel. Pelo qual se disse em Daniel 10,1: Lhe foi dada na visão sua inteligência.

O que em terceiro lugar se necessita é ousadia para anunciar o revelado. Pois para isto fez Deus suas revelações: para que sejam manifestadas aos demais. Eis, eu ponho minhas palavras na tua boca (Jr. 1.9).

O quarto são os milagres, que são para a certeza da profecia. Pois se não fizerem alguns, que excedam as forças naturais, não crerão naquilo que está por cima da cognição natural.

Pelo que aponta ao segundo, os modos da profecia, sabemos que existem diversos modos de ser profeta. Com efeito, às vezes se diz que alguém é profeta porque tem estas quatro coisas, a saber: que vê visões imaginárias, e têm a compreensão delas, e ousadamente as manifiesta aos demais e também faz milagres, e de um como está dito em Numeros 12,6: Se existe entre vós um profeta, etc.

Chama-se também às vezes profeta o que só tem as visões imaginárias, mas impropriamente e muito de longe.

Também se diz às vezes profeta ao que tem a luz intelectual para explicar também as visões imaginárias, ou feitas a ele mesmo, ou a outros; ou para expor os ditos dos profetas ou as Escrituras dos Apóstolos.

E assim diz-se profeta a todo o que discerne as escrituras dos doutores, porque se interpretam com o mesmo Espírito com que são declaradas. Pelo qual se podem chamar profetas a Salomão e a David, enquanto tiveram luz intelectual para uma clara e sutíl penetração; mas a visão de Davi foi tão só intelectual.

Se diz também que alguém é profeta pelo único fato de que declare ditos de profetas, ou os exponha, ou os cante na Igreja, e deste modo se diz que Saul se contava entre os profetas (I Rs 19,23-24), ou seja, entre aqueles que cantaram os ditos dos profetas.

Diz-se também que alguém é profeta se faz milagres, segundo aquilo de que o corpo morto de Eliseu profetizou (Sl 48,14), ou seja, que fez um milagre.

Mas o que aqui diz o Apóstolo em todo o capítulo sobre os profetas deve-se entender do segundo modo, isto é, do que se diz que profetiza aquele que explica em virtude da luz divina intelectual as visões recebidas por ele mesmo ou por outros. É claro que aqui se trata desta classe de profetas.

Quanto ao dom de línguas devemos saber que como na Igreja primitiva eram poucos os consagrados para pregar pelo mundo a fé de Cristo, a fim de que mais facilmente e a muitos anunciassem a palavra de Deus, o Senhor deu-lhes o dom de línguas, para que a todos ensinassem, não de modo que falando uma só língua fossem entendidos por todos, como alguns dizem, mas sim, bem literalmente, de maneira que nas línguas dos diversos povos falassem as de todos. Pelo qual disse o Apóstolo: Dou graças a Deus porque falo as línguas de todos vós (1Cor 14,18). E em Atos 2,4, se disse: Falavam em várias línguas, etc. E na Igreja primitiva muitos alcançaram de Deus este dom.

Mas os corintios, que eram de indiscreta curiosidade, preferiam esse dom que o da profecia. E aqui por falar em língua, o Apóstolo entende que em língua desconhecida e não explicada: como se alguem falasse em língua teutônica a um galês, sem explicá-la, esse tal fala em língua. E também é falar em língua o falar de visões somente, sem explicá-las. De modo que toda locução não entendida, não explicada, qualquer que seja? Seja, propriamente falar em língua.

Visto estas coisas, dediquemo-nos à exposição da carta, que é clara. E para isto faz o Apóstolo duas coisas. Primeramente prova que o dom de profecia é mais excelente que o dom de línguas; e em segundo lugar rechaça qualquer objeção: Volo autem vos...: Desejo que faleis todos em línguas; prefiro, contudo, que profezeis (1Cor 14,5). Que o dom de profecia exceda o dom de línguas o prova com duas razões, das quais toma a primeira da comparação de Deus com a Igreja; e a segunda razão se toma da comparação dos homens com a Igreja.

A primeira razão é a seguinte: Aquilo pelo qual faz o homem as coisas que não são unicamente em honra de Deus, mas também para utilidade dos próximos é melhor que aquilo que se faz tão unicamente em honra de Deus. É assim que a profecia é não unicamente em honra de Deus, mas também para a utilidade do próximo, e pelo dom de línguas se faz unicamente o que é em honra de Deus. Logo etc.

E esta razão se desenvolve, primeiramente enquanto ao que o que é dito em língua, tão unicamente honra à Deus. O expressa com essas palavras: O que fala em língua, se entende que desconhecida, não lhes fala aos homens, se isto fosse, ao entendimento dos homens, mas senão a Deus, isto é, tão unicamente em honra de Deus (1Cor 14,2). Ou à Deus, porque o mesmo Deus entende: O ouvido de Deus zeloso escuta tudo, etc. (Sb 1,10). E o que não se disse ao homem, adiciona: Nada ele ouve, isto é, nada ele entende. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça (Mt 13,9). Mas o que só a Deus é falado, compreende-se que o próprio Deus fala. Pelo qual disse: Mas o Espírito de Deus fala mistérios, isto é, coisas ocultas (1Cor 14,2). Porque não sereis vós que farereis, senão o Espírito de vosso Pai é que falará em vós. (Mt 10,20).

Em segundo lugar prova que a profecia é em honra de Deus e para utilidade dos próximos. Pelo qual disse: Porque quem profetiza, etc. (1Co 14,3), isto é, o que explica visões ou escrituras, lhes fala aos homens, quer dizer, ao entendimiento dos homens, e isto para edificação dos principiantes, e para exortação dos adiantados (Animais os covardes,1Ts 5,14. Ensinai e exortai,Tt 2,15), e para consolo dos aflitos.

Mas a edificação corresponde a uma disposição espiritual. Em quem também vós estais sendo juntamente edificados (Ef. 2,22). E a exortação é para induzir a boas ações, porque se a disposição é boa, boa será tão a ação. Estas coisas ensinam e exortam (Tt. 2,1,4). A consolação induz a paciência ante os males. Tudo quanto foi escrito, para nos ensinar se escreveu (Rm 15,4).

Pois bem, a estas três coisas induzem os proclamadores da Divina Escritura.

A segunda razão é esta: o que é útil tão somente para quem o faz é menor que aquilo que também a outros aproveita. É assim que o falar em línguas é somente para a utilidade de quem as fala, é ao invés o profetizar aproveita a outros.

Averigua esta razão, e primeiramente enquanto a sua primeira parte, para o qual disse: O que fala em línguas edifica-se a si mesmo (1Cor 14,4). (Dentro de mim meu coração me ardia, Sl. 38,4). Em segundo lugar enquanto a sua segunda parte, para o qual disse: Mas o que profetiza edifica, instruindo, a Igreja, isto é, aos fiéis. Edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas (Ef. 2,20).

Lição 2: 1Co 14,5-12

Por exemplos, já das flautas, já dos homens, ensina que a profecia sobrepuja ao dom de línguas.

5. Desejo que faleis todos em línguas; prefiro, contudo, que profetizeis. Pois o que profetiza supera ao que fala em línguas, a não ser que este também interprete, para que a assembléia toda receba edificação.

6. E agora, irmãos, suponhamos que eu vá até vós falando-lhes em línguas: Em que lhes aproveitaria eu se minha palavra não vos traz nem revelação, nem ciência, nem profecia, nem ensinamento?

7. Assim sucede com as coisas inanimadas que dão vozes tais como a flauta ou a cítara. Si não dão distintamente os sons, como se conhecerá o que toca a flauta ou a cítara?

8. E se a trombeta não dá senão um som confuso, quem se preparará para a batalha?

9. Assim também vós: se ao falar não pronunciais palavras inteligíveis, como se entenderá 10. Há no mundo não sei quantas variedades de línguas, e nenhuma carece de sentido.

10. Há no mundo não sei quantas variedades de línguas, e nenhuma carece de sentido.

11. Mas se eu desconheço o valor dos sons, serei um bárbaro para o que me fala; e o que me fala, um bárbaro para mim.

12. Assim, pois, já que aspirais aos dons espirituais, procurai abundar neles para edificação da assembléia. O que dizes? É como se falásseis ao vento.

.Aqui o Apóstolo rechaça a objeção ao falso entendimento que pudesse haver acerca do que previamente explicamos: com efeito, alguns poderiam crer que por preferir o Apóstolo a profecia ao dom de línguas deveria desdenhar-se o dom de línguas. Pelo qual, para excluir tal coisa, disse: Desejo que faleis, etc.

Donde primeiramente se vê o que trata de insinuar; e logo dá a razão dele: O que profetiza supera... a não ser que, etc. Assim é que disse: Os digo, não obstante o que já disse acima, que não desejo que desdenheis o dom de línguas, pois quero que todos vós faleis em línguas; mas desejo que profetizeis. Quem me dera que todo o povo de Yawhé profetizasse. . ? (Ez 1 Ez 1,29) Ez 11, E o explica dizendo: mas supera, etc., como se dissera: desejo que mais bem profetizeis, porque o que profetiza supera, etc. E a razão disto é que às vezes alguns são movidos pelo Espírito Santo a falar algo místico que eles mesmos não entendem; e é assim como estes tem o dom de línguas. Mas às vezes não só falam em línguas senão que ademais interpretam o que dizem. Pelo qual adiciona o Apóstolo: A não ser que este também interprete. Porque o dom de línguas com sua interpretação é melhor que só a profecia; porque, como já se disse, a interpretação de algo elevado pertence à profecia. Assim é que quem fala e interpreta é profeta, pois tem tanto o dom de línguas como o da interpretação para edificação da Igreja de Deus; pelo qual disse o Apóstolo: para que toda assembléia receba edificação, ou seja, que não sozinho se entenda senão que também edifique a Igreja: Procuremos o que seja para mútua edificação (Rm 14,19). E: Que cada um agrade bem ao seu próximo para sua edificação (Rm 15,2).

E agora, irmãos, etc. Aqui prova com exemplos, e de três classes, que o dom da profecia supera o dom de línguas.

Primeiro com um exemplo tomado de si mesmo; logo mediante um tomado das coisas inanimadas: Assim sucede com os instrumentos inanimados, etc.; e por último com um tomado da diversidade de línguas dos homens: Há no mundo não sei quantas variedades de línguas, etc.

Enquanto a ele mesmo, argumenta desta maneira: É patente que eu não possuo menos que vós o dom de línguas; mas se somente lhes falar em línguas, sem interpretá-las, de nada aproveitariam. Logo tampouco vos aproveitais mutuamente. O disse com estas palavras: Suponhamos que eu vá até vós falando em línguas. O qual pode entender-se de duas maneiras, isto é, ou em línguas desconhecidas, ou a letra com qualquer sinais não entendidos. Em que vos aproveitaria se minha palavra não traz nem revelação? etc. E aqui devemos observar que estas quatro coisas, a saber, nem revelação, nem ciência, nem profecia, nem ensinamento, podem diferenciar-se de duas maneiras.

1º De um modo segundo o poder de quem seja. Pois devemos saber que a ilustração da mente mediante o conhecimento é de quatro coisas, porque o é das coisas divinas, e tal ilustração pertence ao dom de sabedoria. Mas o conhecimento das coisas divinas, como já se disse no capítulo 2, é a revelação, porque as coisas que são de Deus nada se conhece, etc. Pelo qual disse o Apóstolo nem revelação, pela qual é iluminada a mente para conhecer as coisas divinas.

Ou o conhecimento é de coisas terrenas, mas não de qualquer for, senão só das que são para edificação da fé, e tal conhecimento pertence ao dom da ciência, pelo qual disse: nem ciência, não de geometria, nem de astrologia, porque estas não tem a ver com a edificação da fé, senão a ciência das coisas santas. Lhe deu a ciência das coisas santas, etc. (Sb 10,10). Ou é conhecimento de coisas futuras, e este pertence ao dom da profecia, pelo qual disse: nem profecia. Interpreta-lhes sinais y os prodígios antes que ocorran, e a sucessão dos tempos e dos sinais (Sb 8,8). Mas é de notar-se que aqui não se toma a profecia em sentido geral, ou seja, conforme ao que se foi dito, senão de maneira particular tão somente enquanto é a manifestação de coisas futuras. E enquanto a isto define assim Cassiodoro: A profecia é a divina inspiração de coisas futuras para declarar a imutável verdade. Quero derramar minha doutrina como profecia, etc. (Sl 24,46). Ou é de ordem da moral, no qual pertence a instrução ou doutrina, pelo qual disse o Apóstolo: nem instrução. Com instrução instruindo (Rm 12,7). A boa instrução da graça (Pr 13,15).

2° De outro modo podem-se distinguir as diversas maneiras de adquirir o conhecimento. Com efeito, é de saber-se que todo conhecimento ou provém de um princípio sobrenatural, isto é, de Deus, ou de um natural, ou seja, da luz natural de nosso entendimento. Mas o primeiro pode ser de duas maneiras: ou infundindo-se a luz divina por súbita apreeensão, e assim teremos a revelação; ou se infunde sucessivamente, e assim é a profecia, pois não a tiveram subitamente os profetas, senão sucessivamente e por partes, como mostram suas profecias.

Mas se a instrução se adquire mediante um princípio natural, isto ocorre ou mediante estudo próprio, e assim pertenece a ciência; ou se recebe de outro, e assim pertence a doutrina. E assim sucede com coisas inanimadas, etc. Isto mesmo se mostra com exemplos tomados de coisas inanimadas, isto é, de instrumentos que parecem ter voz. E primeiramente por instrumentos de gozo; e em segundo por instrumentos de combate: E se a trombeta não dá senão um sonido, etc. Pois disse: não só pelo que já foi dito acima, senão também porquanto há coisas que carecendo de alma dão sons, é evidente que somente falar em línguas não aproveita aos demais. E assim sucede com coisas inanimadas que dão sons. Pelo contrário, a voz é um sonido que sai de uma boca animal, formado por órgãos naturais. Assim é que as coisas que carecem de alma não dão vozes.

Devemos dizer que ainda quando a voz não pertence senão a animais, contudo, se pode dizer, por certa semelhança, de certos instrumentos que tem certa consonância e melodia, pelo que faz menção deles, isto é da cítara, que ao tato dá sons, e da flauta, soprando. Portanto, se estas coisas dão sons confusos como se entenderão?

Com efeito, sendo que o homem mediante instrumentos deseja expressar algo, isto é, com algumas melodias, que se ordenam ou ao pranto ou ao gozo (Vós cantareis como na noite em que celebra a festa, com alegria de coração, como que ao som da flauta vai entrar no monte de Yahwéh,Is 30,29), ou também a sensualidade, não se poderia julgar com que finalidade se toca a flauta, ou com qual a cítara, se o som é confuso e obscuro.

Da mesma maneira, se o homem fala em línguas, e não as interpreta, é impossível saber o que quer dizer. Se não dá senão um som confuso, etc. Isso mesmo se vê pelos exemplos das coisas inanimadas, e dos instrumentos próprios para o combate. E esta semelhança se toma do capítulo 10 do livro dos Números. Ali se lê que o Senhor ordenou a Moisés que fizesse duas trombetas de prata para convocar o povo, para pôr em movimento os acampamentos e para o combate. Mas para cada uma destas finalidades teriam certo modo de tocar, pois de uma maneira era a voz para juntar-se na assembléia, outra era para mover o campamento, e outra quando lutavam. Pelo qual argumenta o Apóstolo que assim como se a trombeta não dá senão um som confuso, isto é, ininteligível, não se sabe se devem preparar para a guerra, assim também vós, se falais somente em línguas, sem uma clara exposição que interprete o dito, nada saberá do que é dito. Por trombeta se pode entender que se trata do pregador. Como trombeta clama a voz no grito, etc. (Is 58,1).

Porque não se pode saber o que se diz é que falareis ao vento, ou seja, inútilmente. E exerço o pugilismo não como dando golpes no vazio, etc. (1Cor 9,26). Há no mundo não sei quantas variedades de línguas, etc. Aqui toma o exemplo das diversas línguas que se falam. E acerca disto procede de três maneiras.

Primeiro mostra a diversidade das línguas; logo, a inutilidade de falar-se mutuamente em línguas estranhas: Mas se desconheço o valor dos sons, etc; e finalmente conclui com o que deseja: Assim pois, já que aspiramos aos dons espirituais, etc.

Com efeito, primeiramente disse: Muitas e diversas línguas há no mundo, e cada quem pode falar a que queira; mas se não fala uma determinada, não se entende. Pelo qual disse: há não sei quantas variedades, etc. Pode-se expor isto de duas maneras, porque pode continuar com o que precede, de modo que diga: Falareis ao vento; e há não sei quantas variedades, etc., como se dissera: ao vento, isto é, inutilmente falais em todas as línguas, porque falais sem entende-las, não obstante que para serem entendidas tem as significações próprias das vozes. Pois nada carece de voz.

Ou se pode pontuar desta maneira: Es como si ha-biaráis al viento. Pois tantos são os gêneros de línguas, isto é, de cada língua. Mas se desconheço, etc. Com isto mostra sua inutilidade. O disse com estas palabras: Se falasse todas as línguas. Mas se desconheço o valor dos sons, ou seja, a significação das vozes, serei um bárbaro para meu interlocutor.

R. - Eis que eu trago sobre vós uma nação de muito longe, nação cuja língua ignoras (Jr. 5,15).

Observe-se que segundo alguns são bárbaros aqueles cujo idioma discorda totalmente do latino. Embora outros dizem que todo estranho ou estranjeiro é um bárbaro para qualquer outro estranho quando não é entendido por ele. Mas isto não é assim, porque segundo Isidoro Barbaria é uma certa nação. Em Cristo não há bárbaro nem escravo, etc. (Cl. 3,2). Mas, segundo mais verdadeiramente se disse, bárbaros são propriamente aqueles que gozam de vigor corporal sendo deficientes no vigor da razão, e estão como na margem das leis e sem regime jurídico. E isto concorda com o que Aristóteles disse em sua Política. Consequentemente, quando o Apóstolo disse: assim como conclui o que pretende, isto se pode construir de duas maneiras. Primeiramente para certificar como se dissera: Tão bárbaro seria eu para vós se falasse sem significação nem interpretação, como bárbaros serieis vós mutuamente; pelo qual procurai abundar, etc., e isto porque aspiráis aos dons espirituais.

Ou de outro modo, dizendo-se tudo com claridade, como se dissera: Não sejais, pois, bárbaros; senão que, tal como eu procedo, posto que estais ansiosos das coisas do espirito, isto é, dos dons do Espírito Santo, pedí-los a Deus, para que abundeis. Na abundante justiça está a virtude máxima (Pr 15,5). Na qual justiça é edificar aos demais. Pedi e vos será dado; buscais e achareis; batei e vos será aberto (Mt 7,7).

Lição 3: 1Co 14,13-17

Tanto na oração privada como na pública se vê que a profecia é mais excelente que as línguas.

13. Portanto, o que fala em línguas peça o dom de interpretar.

14. Porque se oro em línguas, minha respiração ora, mas minha mente fica sem fruto.

15. Então que fazer? Orarei com a boca, mas orarei também com a mente. Salmodiarei com a boca, mas salmodiarei também com a mente.

16. Porque se não dá graças senão com palavras que exalas, quem suprirá aos simples? Como dirão amém a tu ação de graças se não sabem o que dizes?

17. Porque tu, certamente, bem que das graças, porém o outro não se edifica.

Já mostra acima o Apóstolo a excelência do dom da profecia sobre o dom das línguas, com razões tomadas da parte da exortação, e agora demonstra o mesmo com razões tomadas da parte da oração, pois, em efeito, estas duas coisas, a oração e a exortação, às exercitamos com a língua.

Para isto procede de duas maneiras. Primeiramente prova com razões a excelência da profecia sobre o dom das línguas; e em segundo lugar com exemplos, pelo qual disse: Dou graças a meu Deus, etc.

E enquanto ao primeiro procede também de dois modos. Em primeiro termo põe a necessidade da oração; e logo faz ver que na oração mais vale o dom da profecia que o dom das línguas. Porque se oro em línguas, etc.

Assim é que primeiro diz: Disse que o dom de línguas sem o dom da profecia carece de valor, e pelo mesmo, como o interpretar é próprio da profecia, que é mais excelente que aquele, o que fala em línguas desconhecidas ou estranhas, ou de ocultos mistérios, peça, é claro que a Deus, o dom de interpretar, ou seja, que lhe seja dada a graça de interpretar. Orai para que Deus nos abra uma porta (Colos. 4,3).

A Glosa explica o pedir de outra maneira. Com efeito, orar ou pedir se entende de duas maneiras: ou como suplicar a Deus, ou como persuadir, como se dissera: O que fala em línguas, peça, ore, ou seja, de tal maneira persuada que interprete, e neste sentido toma aqui a Glosa o orar, em todo o capítulo.

Mas não é esta a intenção do Apóstolo, senão que seja uma insistente súplica a Deus. Porque se oro, etc. Aqui mostra que ao orar mais vale a profecia que o dom das línguas, e isto de duas maneiras. Primeiramente por razão tomada da parte dele mesmo que ora; em segundo lugar, por razão tomada da parte do que ouve: Porque se não bendizes, etc.

Enquanto ao primeiro, na ocasião, procede de duas maneiras. Primeiramente dá a razão do que quer demonstrar; e logo rechaça a objeção: Então, que fazer? Sobre o primeiro é de saber-se que de duas maneiras é a oração. Teremos a oração privada quando um ora, dentro de si mesmo e por si mesmo. E a oração pública quando se ora frente ao povo e pelos demais; e em ambas as orações pode usar-se do dom das línguas e do dom da profecia. E se trata de demonstrar que em uma e outra oração vale mais o dom da profecia que o dom das línguas.

E primeiramente na oração privada dizendo que se ali há um simples ou incrédulo, quem faz sua oração salmodiando ou dizendo Pai Nosso, mas não se compreende o que diz, esse tal ora em línguas e o mesmo lhe dá orar com palavras que o Espírito Santo lhe concede e até com palavras de outros; mas se é outro o que ora e entende o que diz, este ora e profetiza. E é claro que mais ganha o que ora e entende, do que aquele que somente ora com a língua, ou seja, o que não entende o que diz.

Porque quem entende se renova em sua mente e em seu afeto; e entretanto a mente do que não entende permanece sem fruto de renovação. Daqui que como é melhor o renovar-se na mente e afeto do que unicamente no afeto, resulta claro que na oração mais vale o dom da profecia do que somente o dom de línguas. Isto o expressa dizendo: Digo que peça o dom de interpretar. Porque se oro em línguas, ou seja, se para orar uso o dom de línguas, de modo que digo algo que não entendo, então meu espírito, isto é, o Espírito Santo que me é dado, pede que me incline e mova a pedir. E com tal oração não deixo de ganhar, porque o mesmo fato de que me mova pelo Espírito Santo é meritório para mim. Pois nós não sabemos pedir o que convém; pois o próprio Espírito Santo nos faz suplicar (Rm 8,26). Ou também: Espírito meu, meu espírito, isto é, minha razão, me indica que fale coisas que são para o bem, ou com palavras próprias minhas, ou de outros santos. Ou também: Espírito meu, meu espírito, isto é, a faculdade imaginativa, pede, enquanto vozes ou semelhanças das coisas corporais são tão somente na imaginação sem aquilo pelo qual se entendam pelo entendimento; e por isso adiciona: mas minha mente, isto é, meu entendimento, fica sem fruto, porque não entende. Pelo que na oração é melhor a profecia ou interpretação do que o dom de línguas. Contudo, e quando alguém ora e não entende o que disse, se fica sem o fruto da oração?

Devemos dizer que é duplo o fruto da oração. Um fruto é o mérito que se resulta ao homem; o outro fruto é a consolação espiritual e a devoção que se alcança pela oração. Agora bem, enquanto o fruto da devoção espiritual se priva quem não atende ao que ora ou que não o entende; mas enquanto ao fruto do mérito não se pode dizer que se prive, porque se assim fosse muitas orações ficariam sem mérito, pois com dificuldade pode dizer o homem um Pai Nosso sem que seja exigida a mente pelas demais coisas. Pelo qual devemos dizer que quando o que ora se distrai às vezes do que disse, ou quando alguém em uma obra meritória não pensa continuamente em cada um de seus atos que faz por Deus, não perde a razão do mérito. E assim é porque em todos os atos meritórios que se ordenam a um fim reto não se requer que a intenção do agente se una ao fim em cada ato, senão que a primeira energia que move a intenção permaneça na obra inteira ainda quando as vezes em algo particular se distraia; e essa primeira energia faz meritória toda a obra a não ser que se interrompa por uma afeição contrária que do fim predito leve a um fim contrário.

Mas a atenção é tripla. Uma é a respeito das palavras que diz o homem, e esta às vezes danifica enquanto impede a devoção; outra é com relação ao sentido das palavras, e esta danifica, embora não é muito nociva; e a terceira é com relação ao fim, e esta é a melhor e quase necessária.

Todavia, estas palavras do Apóstolo: a mente fica-se sem fruto se entendem do fruto de renovação. Então que fazer? etc. Porque pode alguém dizer: Se orar com a língua é algo sem fruto da mente e todavia a boca ora, porque, em conseqüência, não há que orar com a boca?

O Apóstolo o resolve dizendo que se deve orar das duas maneiras, verbal e mentalmente, porque o homem deve servir a Deus com tudo o que tem de Deus; e como de Deus tem respiração e mente, pelo mesmo de uma e outra maneira deve orar. Com todo seu coração louva ao Senhor, etc. (Sl 47,10). Pelo qual disse: Orarei com a boca, mas orarei também com a mente; salmodiarei com a boca, mas, etc.

E disse orar e salmodiar, porque a oração ou é uma deprecação, e a isto se refere o orar, ou é para louvar a Deus, e a isto se refere o salmodiar. Sobre estas duas coisas disse São Tiago (Tg 5,13): Sofre algum entre vós? Que ore. Está algum alegre? Que cante salmos. E nos Salmos 91,2: Bom é salmodiar, etc. Assim é que orará verbalmente, isto é, com a imaginação, e com sua mente, isto é, com a vontade. Porque se não louvas senão com respiração, etc. Isto mostra em segundo lugar que o dom da profecia vale mais que o dom de línguas, ainda na oração pública, na qual se dá quando o sacerdote ora publicamente, e às vezes diz coisas que não entende, e às vezes coisas que entende. E sobre isto procede o Apóstolo de três maneiras.

Primeiramente da razão; logo já põe a vista: Como dirão amém? etc.; e por último prova o que havia suposto: Se não sabem o que dizes.

Em efeito, disse assim: Disse que o dom da profecia na oração privada vale mais, porque se não louvas, etc., e também na pública, porque se não louvas senão com a respiração, isto é, em uma língua que não se entenda, ou com a imaginação, e movido pelo Espírito Santo, quem suprirá aos simples? Simples é propriamente aquele que não conhece senão a língua materna: Como se dissera: Quem dirá aquilo que deve dizer ali o simples? Ou seja: Amém. E por isso disse: Como dirá amém a tua ação de graças? O que a Glosa explica assim: Como se porá em harmonia com a ação de graças feita por ti na representação da Igreja? Quem seja bendito na terra será bendito em Deus. Amém (Is 65,16). Amém é o mesmo que faça-se, ou assim seja; como se dissera: Se não entende o que dizes, como assentira ao que dizes? Pode alguém assentir, ainda sem entender, mas tão somente em geral, não em concreto ou em especial, porque não pode entender que coisas boas dizes nem o que é que tão só bendizes. Mas porque não se hão de dar as bendições na língua vulgar para que se entendam pelo povo e se adapte estas melhor a elas?

Devemos dizer que isto assim foi felizmente na Igreja primitiva, mas já estando instruídos os fiéis e sabendo o que é que ouvem no oficio comum, se dizem os louvores em latim.

Consequentemente, prova o Apóstolo porque não se pode dizer Amém quando disse: Porque, certamente, bem que tu dá graças, isto é, embora tu dês boas graças à Deus enquanto entendes; mas outros, que ouvem e não entendem, não se edificam, enquanto não entendem em especial, embora em geral entendam e se edifiquem. Não saia de vossa boca palavra danosa, senão a que seja conveniente para a edificação da fé (Ef 4,29). E pelo mesmo é melhor que não somente com a língua se louve, senão que também se interprete e se ponha à vista, embora tu que da graças, bem o faças.

Lição 4: 1Co 14,18-22

Dá graças pelo dom de línguas que Deus lhe deu, propondo-se como exemplo.

18. Graças dou à Deus porque falo as línguas de todos de vós.

19. Contudo prefiro falar na Igreja cinco palavras com sentido para instruir aos demais do que dez mil palavras em línguas.

20. Irmãos, não sejais crianças nos juízos; sede crianças enquanto à malícia, mas maduros nos juízos.

21. Está escrito na Lei: Falará a este povo em línguas estranhas e por lábios estrangeiros, e nem ainda assim me escutarão, diz o Senhor.

22. Assim pois, as línguas servem de sinal não para os crentes, mas senão para os infiéis; ao invés, a profecia, não para os infiéis, senão para os crentes.

Aqui mostra o Apóstolo a excelência do dom da profecia a respeito do dom de línguas por razões tomadas da parte dele mesmo. E para isto procede de duas maneiras.

Primeiramente dá graças pelo dom de línguas que Deus lhe deu; e logo lhes propõe o mesmo como exemplo: Mas na Igreja prefiro, etc. Assim é que disse: Graças dou, etc., como se dissera: Não é que desprezo o dom de línguas quando digo que o dom da profecia seja mais excelente, senão que deve te-lo por muito apreço. Pelo qual eu também dou graças a Deos, etc. Pois deve-se dar graças de tudo. Em tudo dai gracias, etc. (1Filem 5,18). E: Graças dou a Deus, etc.. Como se dissera: não menosprezo o dom de línguas como se dele caressese, pois eu também o tenho, pelo qual disse: graças dou a Deus. E para que não se creia que todos falavam uma só língua, disse: porque falo todas as línguas de vós (Falavam os Apóstolos em várias línguas, Atos 2,6). Mas na Igreja, etc. Aqui se põe ele mesmo como exemplo, como se dissera: Se eu tenho também o dom de línguas como vós, deveis fazer o que eu faço. E eu quero, isto é, prefiro, falar na Igreja cinco palavras, ou seja, muito poucas, porém com minha percepção, e dizer, com minha inteligência, de modo que eu entenda e seja entendido, e assim instrua aos demais, que não dez mil palavras, ou seja, uma multidão de palavras em línguas, no qual, como quiser que seja, não é falar ao entendimento, como já ficou exposto acima.

Alguns opinam que o Apóstolo disse cinco porque parece querer expressar que prefere dizer uma só oração para o entendimento do que muitas sem inteligência. Pois a oração, segundo os gramáticos, para fazer sentido perfeito deve constar de cinco partes, a saber: sujeito, predicado, ligação verbal, determinação do sujeito e determinação do predicado.

A outros parece melhor que como falar com a inteligência é para ensinar aos demais, exige cinco coisas porque o douto deve ensinar cinco coisas, a saber: o que se deve crer (Assim tem de ensinar e exortar, etc. Tito 2,15); o que se deve obrar (Ide, pois... ensinai-os a guardar tudo o que Eu os tenho mandado,Mt 28,19-20); o que se deve evitar, isto é, os pecados (Como da serpente foge do pecado,Sl 21,2 Revela meu povo suas iniquidades,Is 58,1); o que se deve esperar, isto é, a dádiva eterna (Desta -salvação investigaram e indagaram os profetas, que profetizaram sobre a graça destinada a vós,1 Pedro 1,10); o que se deve temer, isto é, as penas eternas (Idê, malditos, ao fogo eterno, etc.Mt 25,41).

Irmãos, não sejais crianças, etc. Aqui mostra a excelência do dom da profecia sobre o dom de línguas, com razões tomadas da parte dos infiéis. E para isto procede de duas maneiras. Primeiro desperta a atenção, e os torna atentos; e logo argumenta a propósito: O que está escrito na lei?

Acerca do primeiro vemos que o Apóstolo tira-lhes o manto da desculpa daqueles que ensinam coisas vãs e superficiais querendo fazer-se pasar por inocentes, sem preocupar-se portanto de penetrar ao fundo conforme a verdad das coisas, no qual não alcançam, alegando para isto as palavras do Senhor: Se não mudardes e vos fazeis como crianças, não entrareis no Reino dos Ceús (Mt 1 Mt 8,3). Tal coisa exclui o Apóstolo dizendo: Não sejais crianças nos juizos, ou seja, não quereis falar e ensinar coisas infantis, inúteis e tolas. Quando eu era criança, falava como criança, etc. (1Cor 13,1 1Cor 1). Mas como deveis fazê-los como crianças? Com o afeto, não com o entendimento. Pelo qual disse: Mas enquanto a malícia. Porque já sabemos que as crianças não projetam coisas más, e é assim como debemos fazer-nos crianças; pelo qual disse: sede crianças enquanto à malícia. Mas falta-lhes pensar em coisas boas, e não é assim que devemos ser crianças, mas senão varões bem perfeitos, pelo qual adiciona: porém maduros nos juizos, isto é, enquanto ao distinguir os bons e os maus, sede perfeitos. Por isso disse em Hebreus 5,14: O manjar sólido é para os perfeitos ou adultos. Assim é que não se louva em vós a simplicidade que se oponha à prudencia, senão a que se opõe ao engano. Pelo qual disse o Senhor (Mt 10,16): Sede prudentes como a serpente. Quero que sejais engenhosos para o bem e inocentes para o mal (Rm 16,19). Pelo qual, quando disse: Está escrito na Lei, argumenta a propósito, e devemos saber que sua argumentação, como se vê pela Glosa, inclue muitas aplicações; mas segundo a intenção do Apóstolo não parece que neste lugar atenda senão a uma razão. E a razão que dá para provar que o dom da profecia é mais excelente que o dom de línguas é o seguinte: Tudo o que vale mais para aquilo ao que outra coisa principalmente se ordena é melhor que esta outra ordenada ao dito; e o dom da profecia, como o dom de línguas, se ordena à conversão dos infiéis; porém mais eficazes são para isto as profecias que o dom de línguas; logo a profecia é melhor.

Mas enquanto a esta razão procede o Apóstolo de duas maneiras. Primeiro mostra a que se ordena o dom de línguas; e a que se ordena o dom da profecia; em segundo lugar, que vale mais o dom da profecia: Se, pois, se reúne toda a assembléia, etc. (1Cor 14,23). Duas coisas faz acerca do primero. Desde logo faz admitir a autoridade. E logo, apoiado na autoridade, argumenta à propósito: Assím pois, as línguas, etc.

Pelo que vê ao primeiro se deve saber que estas palavras: Que está escrito na Lei? Se podem ler ou interrogativamente, como se dissera: não deveis faze-los crianças nos juízos, senão adultos, e isto é ver e connhecer a lei. Em consequência, se sois perfeitos nos juízos, conheceis a lei, e na lei o que está escrito sobre as línguas: que geralmente são inúteis para aquilo para o qual se ordena, porque ainda quando se fale em diversas línguas, por exemplo, ao povo judeu, contudo não ouve o homem, etc.

Pode-se ler também indulgentemente: Está escrito na Lei. Como se dissera: Não vos agiteis como crianças desejando algo sem discernir se é bom ou melhor o que tratais de alcançar e o prefirais a um bem superior, senão sede perfeitos nos juízos, discerni entre os bens e os bens maiores, para que assim trateis de alcançá-los.

E é assim, se pensais o que está escrito na Lei: Em línguas estranhas falará, etc. (Assim é que meditando o juízo é perfeito,Sb 6,16). E diz na Lei, tomando a Lei estritamente pelos cinco livros de Moisés tão somente, como se toma em Luc. 24,44: É necessário que se cumpra tudo o que está escrito acerca de mim na Lei de Moisés, etc., senão por todo o Antigo Testamento, como se toma em Jo 15,25: Para que se cumpra o que está escrito em sua lei: odiaram-me sem motivo. E isto mesmo está escrito no Salmo 119. Contudo, este sentido está tomado de Is 28,11, donde nosso texto diz: Sim, com palavras estranhas e com língua estrangeira se falará a este povo.

Assim é que está escrito que em línguas estranhas, isto é, em diversos gêneros de línguas, e por lábios estrangeiros, ou seja, em diversos idiomas e modos de pronunciar, falarão a este povo, ao dizer, aos judeus, porque este sinal se deu especialmente para a conversão do povo judeu: Nem assim escutaram, porque com sinais manifestos não creram. Endureceu o coração deste povo, etc. (Is 6,10).

Mas, para que Deus lhes deu sinais, se não haviam de converter-se? Sobre isto há duas razões. Uma delas é que ainda quando não todos se converteriam, contudo alguns sim porque não rechaça o Senhor ao seu povo. A outra razão é que mais justamente se manifestaria a condenação deles sendo mais manifesta sua iniquidade. Se eu tivesse vindo e não tivesse falado, etc. (Jo 15,22). Pelo tanto, quando disse: Assim, pois, as línguas, etc., partindo da autoridade assentada argumenta à propósito, como se dissera: que o dom de línguas não foi dado para que os fiéis creiam é claro, pelo fato de que já creêm (Já não cremos por tuas palavras, etc., Juan 4,42), senão para que os infiéis se convertam.

Mas na Glosa vemos neste lugar duas exposições de Santo Ambrósio que não são literais; das quais uma é a seguinte: Assim como no Antigo Testamento falei ao povo judeu em línguas, isto é, por figuras e com lábios, prometendo bens temporais, assim agora, no Novo Testamento, falo a este povo em outras línguas, isto é, aberta e claramente, e com outros lábios, ou seja, espirituais, embora tampouco igualmente ouçam enquanto a multiplicidade deles. Assim, pois, as línguas se dão não para os infiéis senão para os fiéis, para fazer patente a infidelidade daqueles.

A outra exposição é esta: Em línguas estranhas, isto é, obscura e parabolicamente lhes falará para que os indignos não escutem, isto é, não entendam.

Pelo tanto é patente que a profecia se ordena a instrução dos fiéis, que já creêm. E pelo mesmo as profecias se dão não para os infiéis, que não creêm (Senhor, quem deu crédito a nossa notícia?,Is 53,1), senão para os fiéis, para que creiam e se instruam. Filho do homem, eu te fui dado por centinela na Casa de Israel (Ez 3,17). Quando não há profecia o povo se perde (Pr 29,18).

Lição 5: 1Co 14,23-26

Mostra os inconvenientes que se seguem, enquanto aos infiéis, do dom de línguas e o bem do dom da profecia enquanto a eles mesmos.

23. Se pois se reúne toda a Igreja ou assembléia e todos falam em línguas e entram nela ignorantes ou infiéis, não dirão que estais loucos?

24. Pelo contrário, se todos profetizam e entra um infiel ou um ignorante, será convencido por todos, julgado por todos.

25. Os segredos de seu coração ficarão descobertos e, prostrado rosto em terra, adorará a Deus confessando que verdadeiramente Deus está entre vós.

26. O que concluir, pois, irmãos? Quando estiverdes reunidos, cada um de vós pode ter um salmo, uma instrução, um apocalipse, um discurso em línguas, uma interpretação; mas que tudo seja para edificação.

Segundo a Glosa aqui começa outra razão na prova das teses. Mas, conforme já dito, não foi dada senão uma única razão e em certo modo não foi manifestado senão a metade dessa mesma razão, isto é, que a profecia é mais eficaz para aquilo pelo que especialmente se ordena o dom das línguas. Daqui que para isto procede o Apóstolo de duas maneiras:

Primeiramente mostra os inconvenientes que do dom de línguas se seguem para os infiéis: Se todos falam em línguas... Logo mostra o bem, que do dom de profecia se segue ainda para os infiéis: Pelo contrário, se todos profetizam... É inconveniente que do dom de línguas sem a profecia se segue mesmo para os infiéis que tenham por loucos aqueles que falam somente em línguas, não obstante que o dom de línguas se ordena para a conversão dos infiéis, como já se viu, e para isto disse assim: Pelo contrário, se todos profetizam.

Como se dissera: Isto demonstra que as línguas não se devem preferir às profecias, porque: Se reúne toda a Igreja, a dizer, todos os fiéis, não só corporalmente senão com a mente (A multidão dos crentes não tem senão um só coração e uma só alma, Atos 4,32), e todos, já reunidos, falam em línguas, ou seja, em idiomas estranhos, ou falam coisas desconhecidas e obscuras, e quando falam assim confusamente entra algum ignorante, isto é, alguém que não entende senão seu idioma, ou um infiél, por quem as línguas foram dadas, não dirão que estais loucos? Porque o que não se entende se toma por loucura. Com efeito, entende-se a língua, as coisas que se diz de nenhuma maneira são ocultas; porém o mal está em que não se expliquem, porque por falar coisas ocultas podem pensar de vós o mesmo que pensam dos gentios: que o que fazem em seu próprio rito o ocultavam por sua mesma torpeza. O qual é também uma certa loucura.

Objeção: Enquanto aos ignorantes é o mesmo falar em línguas que o falar em idioma culto; é assim que na Igreja todos falam em idioma culto, porque tudo se diz em latim; logo parece que também isto é uma loucura.

Respondo: Pelo mesmo era uma loucura na Igreja primitiva, porque eram rudes e ignorantes em matéria de rito eclesiástico, posto que não sabiam o que se fazia ali, se não lhes explicasse. Mas na medida conveniente todos estão instruídos, pelo qual, ainda quando tudo se diz em latim, todos sabem, contudo o que se faz na Igreja.

Consequentemente, quando disse: Pelo contrário, se todos profetizam, mostra que segue o bem do dom da profecia. E para isto procede de três maneiras.

Primeiramente mostra o que segue, enquanto aos infiéis, pelo bem da profeicia; logo, mostra como segue isso: os segredos de seu coração, etc.; e em terceiro lugar, adiciona que efeitos provêm dele: E, prostrado rosto na terra, etc.

Disse, pois: Consta que mediante o dom de línguas não se convence os infiéis. Pelo contrário, ou seja, mas sim aqueles que juntos profetizam, isto é, falam ao entendimento de todos, ou explicam as Escrituras, ou ainda interpretam as revelações que tem recebido; isto é, se todos, mas não simultaneamente, senão um em seguida do outro assim profetizam; e entra, isto é, na Igreja, na assembléia, algum ignorante, ou seja, quem não tenha mais que a língua materna, o bem que dele segue é que será convencido de algum erro que lhe é mostrado (Logo que me mostrasse me envergonhei, Jer 3 1,19), julgado por todos os que profetizam, como se dissera que se mostra avergonhado de seus maus costumes e de seus vícios.

O homem espiritual, isto é, o mestre, o julga todo, etc. (1Co 2,15). Para estas duas coisas, com efeito, é a profecia: para confirmação da fé e para correção dos costumes. E de que maneira vem este bem do dom da profecia o adiciona ao dizer: Os segredos de seu coração. O qual se pode entender de três maneiras.

Um modo consiste, literalmente, em que alguns na Igreja primitiva tiveram o dom de saber os segredos dos corações e os pecados dos homens. Pelo qual lê-se que Pedro castigou Ananias por fraude no preço do campo (At 5,4-5). E por isto se lê: os segredos de seu coração, etc. Como se dissera: se convence porque os segredos, isto é, seus pecados secretos ficam descobertos por aqueles que os revelam.

Outro modo ocorre quando alguém na pregação toca muitas coisas que os homens levam em seu coração, como se vê nos livros de São Gregório, de onde cada um ordinariamente pode encontrar todos os movimentos de seu coração. E conforme isto se lê: Os segredos do coração. Como se dissera: ficam convencidos porque os segredos de seu coração, isto é, os que levam no coração (Assim como nas águas se reflete o rosto de quem as olha, assim se manifestam aos prudentes os corações dos homens, Pr 27,19), são manifestados, ou seja, são palpados por eles.

Ocorre outro modo, porque às vezes se diz que é segredo do coração aquilo que um duvida e não pode por si mesmo certificar. E conforme a isto se lê: Os segredos do seu coração, isto é, aquelas coisas que duvida em seu coração e que não creia que se manifestem, pois indo à Igreja se fazem frequentemente manifestas, como de si mesmo disse Santo Agostinho (Conf., Liv. 10, cap. 35): que foi a igreja unicamente pelo canto, e contudo ali se revelavam muitas das coisas sobre as quais duvidava e pelas quais não houvera ido. E dele seguia o salutável temor, pois completamente vencido temia a Deus. E o Apóstolo disse isto assim: E prostrado rosto em terra, isto é, tão vencido ficava, manifestados os segredos de seu coração, que prostrado rosto em terra adorava a Deus (E prostrando-se adoraram,Mt 2,2), em sinal de santo temor. Dos réprobos se lê, ao invés, que caem para trás. A senda dos ímpios é tenebrosa e não sabem donde se precipitam (Pr 4,19). Mas o eleito cai rosto em terra porque sabe donde se prostra e que é em sinal de santo temor. Prorromperam em gritos de jubilo e cairam rosto em terra (Levit. 9,24 e Mt 2,2). Diante cairão em terra os etíopes (Sl 71,9). E não só mostrara santo temor de Deus, senão também à Igreja, confessando, disse el Apóstolo, que verdadeiramente Deus está em vós, os que profetizais na Igreja. Queremos ir convosco, porque temos ouvido dizer que Deus está convosco (Zc. 8,23).

Está claro, portanto, que o dom de profecia é mais útil enquanto aos infiéis.

Que concluir, pois, irmãos? Aqui os instrui sobre o uso dos ditos dons. E para isto procede de duas maneiras.

Primeiramente mostra como se devem portar no uso destes dons; e logo conclui com seu principal propósito: Portanto, irmãos desejai com emulação o profetizar, etc.

E para o primeiro procede de duas maneiras. Primeiramente ensina como se devem portar no uso dos ditos dons; e logo expressa sua importância.

Enquanto ao primeiro três coisas faz. Em primeiro lugar mostra em geral como se deve mostrar respeito a todos os dons; em segundo lugar, como terão de se portar quanto ao dom de línguas: Se alguém fala em línguas, etc.; em terceiro lugar lhes disse como devem portar-se quanto ao dom da profecia: Profetizem dois ou três, etc.

Disse, pois: profetizar é melhor que falar em línguas. Que concluir, pois, irmãos? Isto é o que deveis fazer. Porque quando vos reunis se vê que um só não tem todos os dons; e portanto nenhum de vós deve lançar mão de todos os dons, senão daquele que mais especialmente foi recebido de Deus e que seja o melhor para a edificação, Porque cada um de vós tem algum dom especial: algum tem um Salmo, isto é, um cântico em louvor do nome de Deus, ou explica os Salmos. Pelas alturas conduz meus passos, etc. (Habac. 3,19). Outro tem instrução: prega para instrução dos costumes ou para explicar um sentido espiritual. Por sua doutrina se dá a conhecer o varão (Pr 12,8). Outro tem um Apocalipse, isto é, uma revelação, ou em sonho ou em alguma visão. Existe um Deus no céu que revela os mistérios, etc. (Dn 2,28). Outro tem um discurso em línguas, isto é, o dom de línguas ou de ler as profecias. E começaram a falar em outras línguas (At 2,4). Outro, uma interpretação. A outro a interpretação das línguas (1Cor 12,10).

Estas coisas se hierarquizam assim: ou são naturais ou vem só de Deus. Se procedem somente do meio natural, ou são para glória de Deus, pelo qual se disse: Tem um Salmo, ou é para a instrução do próximo, pelo qual disse: Tem uma instrução. Se provém unicamente de Deus, são de duas maneiras: ou são algo oculto interiormente, pelo qual disse: tem um Apocalipse, ou são coisas ocultas exteriormente, pelo qual disse: tem um discurso em línguas. E para a manifestação de uma e outra coisa é uma terceira, isto é, uma interpretação.

E se deve proceder de modo que tudo seja para a edificação. Que cada um de vós trate de agradar a seu próximo para o bem, buscando sua edificação (Rm 15,2).

Lição 6: 1Co 14,27-33

Ensina como devem usar do dom de línguas e quando não se há de usar.

27. Fala-se em línguas, que falem dois, ou no máximo três, e por turno; e que haja um intérprete.

28. Mas se não há quem interprete, guarde-se silêncio na assembléia; fale cada qual consigo mesmo e com Deus.

29. Quanto aos profetas, falem dois ou três, e os demais julguem.

30. Se algum outro assistente tiver uma revelação, cale-se o primeiro.

31. Pois podeis profetizar todos por turno para que todos aprendam e se animem.

32. E os espíritos dos profetas estão submetidos aos profetas.

33. Pois Deus não é um Deus de desordem, senão de paz, como ensino em todas as igrejas dos santos.

Aqui lhes ensina o Apóstolo como devem proceder para o uso do dom de línguas; e para isto faz duas coisas.

Primeiro mostra de que maneira se deve usar do dom de línguas; e logo, quando devem deixar de usá-lo: Se não há quem interprete. Disse, pois, primeiramente que o modo de usar do dom de línguas deve ser de tal maneira entre vós, que se fala em línguas, ou seja, sobre visões, ou sonhos, tal discurso não se faça por muitos, de modo que o emprego do tempo nas línguas não deixe lugar aos profetas, e se gere a confusão. Senão que falem dois, e se for necessário três, de modo que seja suficiente com três. Por declaração de dois ou três (Dt 17,6). E é de notar-se que este costume é conservado até agora na Igreja. Porque lições, e epístolas e evangelhos temos no lugar das línguas, e por isso na Missa falam dois, pois só por dois se dizem as coisas que pertencem ao dom de línguas, isto é, epístola e evangelho. Os Matinais (vésperas) constam de muitas partes, ou seja, de três lições ditas no Noturno. Em efeito, antigamente os Noturnos se diziam separados conforme as três vigilias da noite; mas agora se dizem em uma só vez. Assim é que não somente se deve guardar a ordem enquanto ao número dos que falam, senão também quanto ao modo, e isto disse assim São Paulo: e por turno, isto é, que os que falem se sucedam alternativamente, ou seja, que um fale depois do outro. Ou: por partes, isto é, por incisos, de modo que se diga uma parte da visão, ou da instrução, e se explique, e logo outra e esta seja explicada, e assim sucesivamente. E deste modo acostumaram guardar-lo os anunciadores quando anunciam interpretando para homens de língua estranha, pelo qual disse: e que há um intérprete.

Consequentemente, quando disse: Mas se não há quem interprete, etc., ensina quando não se deve usar das línguas dizendo que se deve falar por partes e que haja um que interprete. Porque se não há quem interprete, que quem tiver o dom de línguas guarde silêncio na assembléia, isto é, que não fale nem anuncie as pessoas na língua desconhecida, pois não será entendido por ninguém, e fale consigo mesmo, porque ele mesmo se entende, mas isto em silêncio, orando ou meditando. Falará na amargura de minha alma. Lhe dirá a Deus, etc. (Jó 10,1-2).

Quanto aos profetas, falem dois ou três, etc. Aqui ordena como devem portar-se a respeito do uso da profecia. Para isto, primeiramente ensina de que maneira devem usar desse dom, tanto quanto ao número como quanto à ordem; e em segundo lugar disse a quem é proibido o uso da profecia: As mulheres calem-se nas assembléias.

Enquanto ao primeiro procede de três maneiras. Primeiramente ensina a ordem de usar do dom da profecia; logo, dá sua razão: Pois podeis profetizar todos, etc.; e em terceiro lugar rechaça a objeção: os espíritos dos profetas estão submetidos aos profetas.

Em relação com o primeiro, primeiramente determina o número daqueles que hão de usar do dito dom; e logo, ensina o modo e a ordem de usar dele: Se algum outro assistente, etc.

Acerca do primeiro devemos saber que o uso da profecia conforme ao que aqui parece que entende o Apóstolo é dizer ao povo umas palavras de exortação explicando as Sagradas Escrituras; e como na Igreja primitiva haviam muitos que recebiam de Deus este dom, e ainda não se haviam multiplicado os fiéis, para que não houvesse nem confusão nem cansaço, quer o Apóstolo que não todos os que sabem explicar as profecias e a Sagrada Escritura profetizem, senão alguns poucos e determinados, no qual disse assim: Enquanto os profetas, etc. Como se dissera: Não quero que todos os que se reúnem, senão tão só dois, ou três no máximo, na medida que exige esta necessidade de falar, falem, isto é, exortem. E isto concorda também com o que já dizia a Escritura: Por declaração de dois ou três (Dt 17, o). E os demais, ou seja, os que não devem falar, julguem aquilo que foi exposto, se foi bem ou mal dito, aprovando o bem dito, e fazendo que se corrija o mal dito. O homem espiritual julga tudo (1Cor 2,15).

No uso desse dom deve-se guardar também a regra de que se algum outro dos assistentes que se calavam e julgavam revelar algo melhor do que se apresenta e exorta primeiro, então este que está de pé deve sentar-se e aquele a quem algo melhor foi revelado deve levantar-se e exortar. Isto disse o Apóstolo: Se algum outro assistente tem uma revelação, se entende que pelo Espírito Santo, o primeiro que se levantou cale-se e ceda o lugar aquele (Estimando mais em cada um aos demais,Rm 12,10).

E a razão é que desta maneira podeis sucessivamente profetizar um por um, isto é, todos, e assim todos, ou seja os maiores, ensinam, e todos, ou seja os menores, sejam exortados (Que atenda o sábio, etc. Pr 1,5).

E se alguém diz: oh! Apóstolo: Eu não posso calar quando outro profetiza, ou ceder e retirar-me havendo já começado, porque não posso silenciar o Espírito que fala em mim segundo aquilo de Jó 4,2: Quem pode conter suas palavras? Contesta o Apóstolo dizendo: Os espiritos dos profetas estão submetidos aos profetas. Como se dissera: Muito bem podes calar ou sentar-se, porque os espiritos dos profetas, isto é, os que dão as profecias – e os põe no plural pelas muitas revelações que são inspiradas- estão submetidos aos profetas, por certo, enquanto ao conhecimento, porque, como disse São Gregório (Moral., lib. 2, c. 14), nem sempre atua nos profetas o Espírito de profecia. De modo que não é um hábito como a ciência. Segue-se pelo tanto daqui que ainda enquanto ao conhecimento lhes está sujeito, e podem usar dele quando quiserem, ou não usá-lo; porque é força certa o impulso de Deus, que ilumina e toca os corações dos profetas; mas não conhecem senão quando assim são tocados. Logo desta maneira não lhe está sujeito, nem se entende assim a palavra do Apóstolo, pois os espiritos dos profetas estão sujeitos aos profetas enquanto à elocução, porque quando querem podem muito bem dizer as coisas que se revelam a eles, e podem não dizê-las.

Assim é que não vale o pretexto de que te impulsiona o Espírito sem que possa calar. E que isto seja a verdade o prova dizendo: Pois não é um Deus de dissenção, etc. E dá dele a razão. Jamais impulsiona Deus para aquilo que resulte rixa ou dissensão, porque não é um Deus de dissensão senão de paz; e se o Espírito de profecia impulsiona os homens a falar, seria então causa de dissensão, porque assim sempre estariam querendo falar, e não ensinar, nem calar quando outro fala, para turbação dos demais. Logo o Espírito Santo não impulsiona os homens a falar. E o Deus da paz e do amor estará convosco (1Cor 13,2).

Contudo, como, todavia poderia objetar-se que aquilo não ocorreria porque somente aos Coríntios mandava o Apóstolo estas coisas e não às demais Igrejas, pelo que até como algo molesto poderia ser considerado, agrega que isto ensina não somente a eles senão também em todas as Igrejas; e com efeito disse: Como ensino em todas as Igrejas dos Santos sobre o uso das línguas e da profecia. Já disse acima: Que tenhais todos um mesmo sentir (1Cor 1,10).

Notas do TC

(1) O presente texto que apresentamos aos nossos leitores é parte de um belíssimo e extraordinário comentário da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios feito pelo mais Doutor dos Santos e o mais Santo dos Doutores da Igreja, isto é, de Santo Tomás de Aquino.

A tradução para a língua portuguesa foi feita por Rodrigo Santanta e revisada por Alessandro Lima de um texto editado em castelhano pela Editorial Tradicón (S. A. Av. Sur 22 No. 14 - entre Oriente 259 y Canal de San Juan - , Col Agricola Oriental. Codigo Postal 08500) de 1983. A edição em castelhano (disponível no site da Congração para o Clero: http://www.clerus.org/) se deu através de um exemplar em latim intitulado

O texto bíblico citado por Santo Tomás é o da Vulgata de São Jerônimo, infelizmente as atuais traduções em português não são tão fiéis aos termos empregados nesta referência católica das Escrituras, desta forma optamos por traduzir da Vulgata os textos utilizados neste comentário, dando assim maior uniformidade e fidelidade ao texto latino de Santo Tomás.

O que nos motiva a publicar o presente trecho do comentário de Santo Tomás (sobre o capítulo 14 de 1 Cor) é que ele trata de um tema ainda muito incompreendido entre nós católicos deste século: o dom de línguas. Neste trecho de seu comentário o Doutor Angélico apresenta-nos a doutrina tradicional da Santa Igreja Católica a respeito deste tema que é de especial interesse em nosso tempo. É mister lembrar ainda que os Pontífices Romanos não só recomendaram-nos à doutrina do Aquinate (Santo Tomás), mas também em diversas oportunidades confirmaram a autoridade de seus ensinamentos para toda a Igreja Católia (alguns exemplos: Aeterni Patris de Leão XIII, Doctoris Angelici de S. Pio X , Lúmen Ecclesiae de Paulo VI, Sapientia Christiana, Laborem exercens, Inter Munera Academiaraum de João Paulo II).

Fonte da Obra:

Apostolado Tradição Católica. Prof. Alessandro Lima. Disponível em: http://www.tradicaocatolica.com.br/teologia/tomismo/67-comentario-de-santo-tomas-de-aquino-a-primeira-carta-aos-corintios Acesso em: 17 Março 2011.