sexta-feira, 28 de junho de 2013

A Imitação de Maria: Parte X


Ter amor por aqueles que são crucificados todos os dias

Por: Eduardo Moreira

Pode alguém pensar que Maria sofreu apenas pela morte de Cristo por ser Ele seu filho. Nada mais insensato! Cristo do alto da Santa Cruz deu sua Mãe a todos os homens para que, confiando nela, fossem salvos passando pelos caminhos queridos por Deus e que a Virgem Maria foi capaz de conhecê-los. Essa verdade deveria ser unânime entre os cristãos, mas mesmo entre as Igrejas Apostólicas há aqueles que mantém uma devoção fraca e cuidadosa para com a Santíssima Virgem. Essas pobres almas escondem em seu interior uma profunda soberba, pois pensam que por si próprias podem atingir o Cristo que habita nos Céus, no mais Alto e Inacessível que podemos conceber.
Maria, pois, não sofreu apenas com a morte de Cristo, Ela continua a sofrer ao ver cada filho d'Ela ser desprezado e crucificado pelos homens. E quantas almas são crucificadas todos os dias? Quantas pessoas sob as quais Cristo se esconde são ignoradas nas ruas onde estão famintas, maltrapilhas e abandonadas (Mt 25, 40)?
Maria sofreu por cada apóstolo que foi morto, cada discípulo perseguido e exilado, e continua a sofrer, mesmo hoje, ao ver com pesar que seus próprios filhos não se ajudam. Longe dos discursos socialistas que só fizeram tudo aquilo que condenaram, Maria pede-nos hoje para sermos mais humanos.
Cristo não veio ao mundo para nos ensinar a sermos Deuses, mas sim para mostrar ao homem o caminho, a via perfeita de ser plenamente homem, imagem e semelhança de Deus, demonstrando compaixão para com todos, inclusive para com os mais necessitados.
Cada vez que vemos a desigualdade social gritante se alastrar pela Terra e ficamos calados ou, pior, até apreciamos esse alastramento medonho, somos cúmplices do diabo e permitimos que a mensagem do Evangelho seja usurpada por grupos que, em nome do fim da pobreza, defendem atitudes imorais, assassinato de bebês no ventre materno, massacres das pessoas que seguem alguma religião, enfim, todo tipo de ódio que se possa imaginar. O socialismo é a soma das virtudes enlouquecidas. Esse regime coloca virtudes acima de Deus, extingue o ser humano enquanto indivíduo e provoca as piores tragédias que se conhece quando colocado em prática.
O bom cristão não pode ser socialista porque o socialismo promete apenas a ajuda material e trata o ser humano como uma parte do coletivo. O bom cristão enxerga o próximo como ser humano, não como membro de uma sociedade. Ninguém pode se dizer cristão se não tem compaixão pelo próximo ou se concorda com as mazelas mundiais da fome e da doença. Cristo disse que veio para que todos tivessem vida, e vida em abundância!
Cada vez que negamos ajudar o próximo, tratá-lo como ser humano, negamos isso ao próprio Cristo. Cada vez que ignoramos os anseios do irmão, ignoramos o próprio Cristo que, sendo Rei, veio à Terra pobre como um mendigo.
Tal como Maria teve pena de seu Filho crucificado, também nós devemos ter pena de tantos que são crucificados todos os dias. Se jejuamos, aquele alimento do qual nos abstemos não deve ser reservado, mas sim servir de sustento a quem não o tem. Cabe também a nós em cada jejum ou penitência, não só nos abstermos friamente do alimento, mas também entregar esse sofrimento a Deus pelas mãos Imaculadas de Maria para que Ela, dispenseira de todas as graças, aplique como for melhor.
Além da abstinência, da partilha e da entrega, convém também que façamos, pelo menos por um breve instante, uma reflexão acerca das pessoas que passam por esses sofrimentos todos os dias, não espontaneamente, mas sim por não ter lhes restado opção. Dessa forma certamente quando algum desses pequeninos nos vier pedir alguma coisa saberemos nos colocar em seu lugar, conseguiremos imaginar o desespero e a dificuldade que ele está passando e não pensaremos duas vezes em ajudá-lo e em tratá-los com dignidade.
As mães bem sabem de quantos sacrifícios fazem pelos filhos. Maria, naqueles tempos difíceis, certamente se absteve de muitas coisas para o bem do próximo, de Jesus e de São José principalmente. Certamente esse grande exemplo de santidade moldou grandes santos como São Francisco que ficava feliz quando, mendigando, ganhava um pão que não usava para o próprio sustento. São Francisco ficava feliz porque com aquele pão não mataria a própria fome, mas sim a fome do irmão.
Nisso se resume a passagem de 1 Cor 13 na qual podemos ver que o verdadeiro amor pensa antes no próximo que em si mesmo. Deus não pensa em Si mesmo, mas sim nos seus filhos porque não há nada de que Ele necessite. Quando procuramos imitar a Deus através da Imitação de Maria nosso egoísmo se extingue e, tal como São Francisco, ficamos felizes ao vermos que poderemos ajudar o próximo.
Também testemunhou essa virtude com profundidade Madre Tereza de Calcutá que, saindo de si mesma, foi viver na Índia cuidando de pessoas que nem católicas eram porque viu nelas não hindus, mas criaturas de Deus necessitadas de pão e compaixão. Esse é, talvez, o maior esplendor do cristianismo e também sua maior riqueza, como disse Santo Estêvão, nossa maior riqueza são os órfãos, as viúvas e os mendigos.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Liberdade, Justiça, Amor ao Próximo e Misericórdia

Por: Eduardo Moreira


Ao ler um texto do Papa João Paulo II, o grande Papa da paz, lembrei-me de um antigo chavão que circulava entre as escolas pelas quais passei durante os ensinos fundamental e médio. Aquele chavão era necessário e os professores foram muito sábios em divulgá-lo porque com ele aprendemos o que era a liberdade bem no tempo em que revogávamos para nós esse atributo sem conhecermos exatamente o que era. O chavão era: há uma grande diferença entre liberdade e libertinagem.
Naquela concepção, tínhamos a impressão de que a liberdade era poder fazer tudo o que quiséssemos sem nenhuma influência. Entretanto, onde é que não há influência? Somos influenciados por tudo, pela mídia, pela educação que recebemos de nossos pais, pelo ensino dado nas escolas, etc. Enfim, na atual conjuntura das coisas acho impossível o ser humano não ter influencia de ninguém ou nada, afinal, não se pode negar a forte influência que recebemos do meio que por sua vez forma quem somos. Se não somos influenciados pelo meio conservador, somos influenciados pelo meio revolucionário. Em ambas situações somos influenciados de forma tal que não se pode dizer por isso que somos livres.
Então, o que dizer da liberdade? Existiria alguma liberdade?
A resposta é simples: a liberdade está no ato de escolha. Eu sou livre pra escolher que influência eu terei. Sou livre para discordar das influências e livre para, a partir de outras influências, tentar melhorar minha vida.
Liberdade não é sair fazendo o que se bem entende. A liberdade existe apenas para se praticar o bem, do contrário, com justa razão recebe a prisão quem usa mal sua liberdade. Portanto, é útil pensar que só temos liberdade para fazer aquilo que não agrida a liberdade de outros, ou melhor, para fazer aquilo que gostaríamos que fizessem por nós.
Nisso consiste o amor: fazer pelo próximo o que desejamos que ele faça por nós. Nisso também consiste a verdadeira justiça, a justiça com misericórdia que é indulgente para com os arrependidos. Se erramos, desejamos que todos sejam indulgentes conosco. Ora, se assim é, devemos ser indulgentes com todos os que se arrependem de terem feito o mal. É essa a justiça perfeita.
Certa vez um amigo me chamou a atenção para um fato interessante: não devemos nos zangar com o próximo pelo fato dele ter pecados diferentes dos nossos. Quer dizer, pecados todos temos, então, porque somos tão indulgentes com nossos próprios erros e não toleramos os menores deslizes de nossos semelhantes?
A verdadeira paz depende de tudo isso, da liberdade, da justiça, do amor ao próximo e da misericórdia. Entretanto, não devemos nos enganar porque há uma paz assassina e pacifista que ronda nossa sociedade. O fato de eu dever amar ao próximo não significa que eu não deva aplicar a ele a justiça, porque, do contrário, em nada estou colaborando para o crescimento pessoal dele.
Na justa medida, é perfeitamente aceitável a aplicação de penas para punir e fazer refletir quem erra, bem como para isolar um malfeitor da sociedade que pode se tornar uma vítima de seus criminosos. Não se trata aqui de aplicar a pena de morte a quem rouba uma caixa de fósforos, porque isso seria a justiça sem misericórdia, ou seja, seria uma justiça absurda e implacável.
Trata-se, pois, de aplicar penas justas aos indivíduos que erram visando retirar o risco da sociedade enquanto o indivíduo se reabilita para ingressar nela novamente.
A grande arte da vida é encontrar o equilíbrio, porque medidas extremas sob aspecto de liberdade só escravizam o ser humano. Como disse o poeta, “disciplina é liberdade”, entretanto, não há disciplina no terrorismo e nem na inquietação exacerbada. Ao contrário, as pessoas extremamente inquietas são pessoas doentes, que já perderam o sossego na vida e procuram desesperadamente uma solução sem encontrá-la. São pessoas que já não ligam para a dor alheia, para o próximo e para a sociedade e muito dificilmente conseguirão fazer algo útil para alguém. Precisamos, pois, de mais Cristos e de menos revolucionários.

domingo, 23 de junho de 2013

A Imitação de Maria: Parte IX

Da capacidade de transformar coisas ruins em boas

Por: Eduardo Moreira

Quem poderia imaginar que, em meio a tanta humildade, pudesse brotar a maior Graça já realizada por Deus? Um casal simples, um artesão-carpinteiro e uma mulher que, naquele tempo, era gênero sem expressão na sociedade. Os dois receberam em sua mais profunda “indigência” e humildade a mais importante missão que Deus pôde dar aos mortais: gerar, criar e educar o Homem-Deus.
Para nós é difícil, pelas condições de vida atuais, imaginarmos quanto sofrimento enfrentou pacientemente a Sagrada Família, mas, sem dúvida alguma, sem se desesperarem porque tinham por Pai o Altíssimo. Sequer podemos imaginar como é para uma família com uma criança recém-nascida, vagar pelo deserto a fim de encontrar uma morada segura para seu filho perante a perseguição de um tirano cruel. Assim era o casal de Nazaré, São José e Nossa Senhora.
Seria completamente errôneo afirmar que São José e Nossa Senhora eram indigentes. Talvez o fossem aos olhos do mundo, como o são as pessoas que passam desapercebidas por não terem conseguido alguma importância para a sociedade, mas aos olhos de Deus nunca houve e nem jamais haverá família mais querida e mais importante. Entretanto, mesmo tendo eles ciência disso jamais quiseram se impor com glórias à sociedade, pelo contrário, passaram por esse mundo despercebidos pela maioria da população mundial. Todas as grandes histórias dessas duas grandes pessoas ficaram conhecidas apenas como memórias póstumas, sendo que em vida não receberam mérito algum.
Seria, pois, errôneo atribuir indigência a Nossa Senhora e a São José. Não podemos também falar em “pobre gruta de Belém”. Não houve e nem jamais haverá castelo tão precioso quanto aquele. Não haverá jamais lugar tão santo e tão rico. Não se trata de pobre gruta, mas de riquíssimo castelo onde nasceu o Homem-Deus. É pobre essa gruta em riquezas materiais, as mais pobres dentre as riquezas, entretanto, lá ocorreu o milagre mais perfeito: o nascimento de Cristo. É intrigante pensar como o mais nobre dos reis escolheu nascer no mais simples dos palácios, mas as coisas de Deus não são como as nossas. Nós vemos a aparência, Deus vê o coração.
Em meio a todo aquele cenário de dor e, para alguns, de desespero, Nossa Senhora e São José foram espelhos de Deus. Deus consegue tirar das coisas ruins coisas boas. Nossa Senhora e São José transformaram todo esse sofrimento no episódio mais belo de todas as crônicas dos reis da Terra: o nascimento do Deus-Rei.
Essa é só mais uma prova de que imitando a Maria, imitamos o Altíssimo. Tal qual Ele, Nossa Senhora conseguiu transformar um mal, a pobreza material, em um grande bem: o nascimento do mais rico Rei que já existiu. Eram reis, mas viveram como escravos. Tinham tudo para serem orgulhosos, mas foram humildes todo o tempo.
Pobreza das pobrezas, onde se gerou o Rei dos Reis! Quantas vezes nós, pecadores como somos, reivindicamos riquezas do mundo? Quantas vezes queremos ser coroados de ouro onde Cristo foi coroado de espinhos? Se nem Maria teve lugar para dar à luz o Salvador, nem os cristãos podem ter muitas exigências com um apego exacerbado às coisas materiais.
A verdadeira riqueza é a que trazemos dentro de nós, a que faz brotar a fé, a esperança e a caridade, virtudes que a Santíssima Virgem conheceu de perto e tão bem que se tornou sua mais fiel praticante. Não descansa a alma do avarento, nem do soberbo, nem do orgulhoso e nem do ambicioso. Inquieta está a alma que não procura imitar as virtudes da Santíssima Virgem e não achará paz enquanto não descobrir essa fôrma e caminho de santidade.
Apenas a santidade traz paz de espírito. Apenas a virtude satisfaz a vontade do homem. Muitos correm atrás das riquezas do mundo esperando encontrar nelas alívio para seus sofrimentos. Enganam-se e perdem-se esses. Maria não teve nem onde dar à luz Jesus e não houve mulher com maior paz e nem com maior felicidade que Ela. Sua paz e sua felicidade repousavam em Deus, não nas riquezas da Terra, riquezas que ela não tinha.
Maria transformou suas dores e sofrimentos em uma maneira perfeitíssima de agradar a Deus. Tanto mais se mortificava Ela, mais Graças alcançava aos olhos do Altíssimo. Maria sabia de sua importância na Economia da Salvação. Em cada tarefa doméstica, em cada sofrimento, no alto da Cruz ao ver seu Divino Filho morrer inocente, Maria entregava a Deus seus sofrimentos e certamente com alegria por estar salvando as almas de muitos pecadores.
Sua dor de Mãe ao ver seu Filho morto transformou-se em alegria ao contemplar quantas almas salvou no ato de entregar tão grande sofrimento a Deus para que Ele usasse essa pena duríssima a fim salvar os homens pecadores. Tal qual Cristo, Maria, Imaculada e sem pecado, sofreu como os pecadores para que esses pudessem se salvar.
Na pobreza de Nazaré Maria deu ao mundo a maior riqueza: Jesus Cristo, o Deus vivo e encarnado. No ato de ódio do mundo pelo homem-Deus, Maria deu a esse o maior amor que poderia existir: a Salvação. Maria nos ensinou, tal como Cristo, como tratar o ódio: devemos sufocá-lo com o Amor Divino. Maria está a ensinar ainda hoje a todos os cristãos que devemos transformar as coisas ruins em coisas boas.

Ave Maria

Ave Maria, Cheia de Graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o Fruto do teu ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte.
Amém


sexta-feira, 21 de junho de 2013

A Imitação de Maria: Parte VIII


Do verdadeiro espírito de fé e união com Maria

Por: Eduardo Moreira

O homem que comunga entra em comunhão com Cristo, come e bebe sua salvação através da Divina Eucaristia. O homem que reza o Rosário, por sua vez, entra em espírito de fé e união com Maria de forma perfeita. Entretanto, no Rosário meditamos toda a vida de Cristo de forma tal que há uma estreita relação entre ele e a Divina Eucaristia.
Apesar das Ave-Marias em maior número, o Rosário é uma oração Cristocêntrica. Não se afasta de Cristo que o reza com fé, pelo contrário, se aproxima d'Ele de forma perfeita. Ninguém, pois, pode se aproximar de Cristo perfeitamente se não for em espírito de fé e união com Maria.
Quem comunga recebe a Cristo em seu coração, é verdade, mas para essa recepção ser efetiva é necessário a reza do Santo Rosário. Quem comunga e reza o Rosário, mais que se unir com Cristo, se une a Ele de forma tão perfeita que se torna confundível com Ele. A união de quem reza o Rosário com Cristo através da Eucaristia é mais perfeita porque a alma que reza o Santo Rosário se apresenta humildemente à Virgem Santíssima que a apresenta a Jesus. Da mesma forma que há uma união perfeita entre Maria e Jesus, quem se une à Santíssima Virgem pelo Santo Rosário se une a Cristo com laços estreitíssimos através de tão piedosa Mãe.
Aqueles que procuram outra via se perdem, se dispersam, porque não conhecem os caminhos que conhece a Santa Mãe de Deus. Aqueles que procuram a Cristo sem passar por Maria não O encontram. Mesmo que se esforcem, sozinhos jamais poderão encontrá-lo. Deus está em caminhos inacessíveis ao homem, em caminhos que só Maria dentre todos os homens conhece. Só se alcança a Deus de forma perfeita passando pelos mesmos caminhos de santidade pelos quais passou a Santíssima Virgem e se alguém os atinge, mesmo que não saiba, é porque Ela os apresentou.
Faz muito bem à própria alma aquele que, ao receber a Eucaristia, pede para que Nossa Senhora receba Jesus por nós. Em nossa espiritualidade torpe não podemos receber o Cristo de forma perfeita. Convém, pois, consagrarmos esse tão sublime momento à Santa Mãe de Deus, que bem conhece seu Filho e sabe perfeitamente como elevar nossas súplicas a Ele. Nesse exato momento, as maiores Graças se derramam sobre a alma. Cristo se deixa conhecer através de sua Santíssima Mãe que o apresenta à alma que o recebe.
É essa a comunhão perfeita, aquela feita em espírito de fé e união com Maria, a que nos une perfeitamente a Deus através da Divina Eucaristia e do Amor da Virgem. Maria sabe como apresentar o que temos de melhor a Cristo e devemos permitir que Ela o faça. Ela quer nos apresentar a Cristo, mas precisamos entregar nossas almas a Ela. Assim, Maria reveste nossas porcas virtudes com sua santidade e eleva-as ao Pai de forma perfeita através do Pão dos Anjos, a Divina Eucaristia. Tanto mais nos deixamos consumir por esse espírito de fé e união com Maria, mais nos entregamos ao próprio Cristo, mais Graças alcançamos e mais ficamos próximos da Salvação.
Pobres almas aquelas que, não sabendo ou tendo orgulho, não procuram a via de santidade que é Maria. Pobres daqueles que confiam nas porcas misérias e nos deficientes méritos para tentar penetrar o Insondável e Incompreensível. Perdem-se no caminho de sua soberba, confundem-se, dividem-se em seu orgulho e espalham sua confusão.
Muito mais agradável a Deus são aquelas almas que se unem a Maria para que Ela tome conta de suas misérias e de seus méritos. Muito mais graciosa é a oração do humilde, aquela que é ouvida por Deus, que faz tremer a Céus e Terras e converte todo o mundo em união com a Santíssima Virgem.
Engana-se aquele que se acha forte o bastante para ser dono das próprias virtudes ou sábio o bastante para cultivá-las. Tão logo o insensato se declara santo, já vem sorrateiramente o inimigo e lhe subtrai tudo o que pensa que tem através da mesma soberba que o pecador usa para se declarar semelhante a Deus. Aliás, uma relação muito estreita entre a alma soberba e Lúcifer: ambos querem ser iguais a Deus, mas jamais conseguirão.
Devemos, ao invés disso, consagrar todas as nossas virtudes e feitos a aquela que esmagou a cabeça da serpente para que Ela sim faça em nós a Vontade de Deus e tome conta de nossos ralos méritos. Sou todo vosso, minha Rainha e minha Mãe e tudo quanto tenho vos pertence, diz a alma contrita do humilde.
Há quem objete pensando que, se se unir perfeitamente com a Virgem Mãe dispondo de tudo o que tem, nada lhe sobrará para apresentar a Deus. Esse pensamento é insensato e é bem similar ao operário que enterrou os próprios talentos. Primeiramente, não temos via segura alguma de guardar nossos tesouros espirituais. Se os enterrarmos, tão logo o fazemos e a ferrugem os corrói. Se os mostramos, a soberba no-los tira. A escolha mais sábia é entregá-los à Santíssima Virgem que os apresentará a Deus para que sejam usados da melhor forma que existir. Não devemos, pois, pensar que ao entregarmos tudo a Ela ficaremos sem nada porque Maria nunca deixaria faltar nada a quem lhe ama a ponto de se entregar completamente.
Se quisermos ser perfeitos, devemos permitir que Maria venha habitar em nós. Devemos nos unir a Ela com um espírito contrito e devemos implorar para que Ela nos molde em seus caminhos para que um dia gozemos da Pátria Celeste.
Quão grande mistério descoberto por São Luís Maria de Montfort: quanto mais doamos, mais ricos nos tornamos. Quanto mais nos humilhamos, mais se exalta nosso espírito rumo ao Pai. Tanto mais pequenos nos tornamos na Terra, maiores seremos no Reino dos Céus. Pequenas almas rumo ao Céu, plenamente entregues à Misericórdia Divina pelas Mãos Imaculadas da Santíssima Virgem, assim são aqueles que se lançam nesse mar de Graça e Misericórdia.


Oração para a Comunhão
Maria Santíssima, recebei por mim agora seu Divino Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, porque por minhas faltas e pecados não mereço ser ouvido, não mereço recebê-lo, não mereço sequer me aproximar de tão grande mistério.
Virgem Santíssima, Mãe da Divina Graça, concedei-me a conversão de meu coração pobre e pecador a fim de que melhor me aproxime de Deus.
Tomai conta de minha alma, minha dulcíssima Mãe, e fazei-me como vós, um espelho vivo de Cristo, de quem tu és fiel imitadora.
Mãe de Misericórdia, peço-vos que me gereis no íntimo de vosso ventre, a primeira morada de Cristo, o pão dos anjos, e tornai-me semelhante a Ele que é todo Misericórdia.
Mãe de Deus, apresentai-me a Deus em adoração perfeita. Não permitais jamais que d'Ele me separe e nem que me afaste d'Aquele que me deu a vida e a oportunidade de tornar-me santo.
Mãe de Graça, que por vossa intercessão eu mereça um dia a vida eterna em espírito de fé e união convosco e com Cristo, meu amado Salvador.
Amém.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

As Riquezas da Igreja


Por: Eduardo Moreira

O mundo de hoje, com certa hipocrisia, anda a interpretar livremente o Evangelho a seu bel prazer impondo fardos pesados nos outros e retirando os mais leves de cima de si. Não raras as vezes vemos pessoas dizendo que o Vaticano deveria vender seu patrimônio para matar a fome dos pobres enquanto esses mesmos não doam sequer 10 centavos para um mendicante nas ruas, sempre com o mesmo argumento de que “ele vai comprar droga”. Cabem, entretanto, algumas considerações acerca da riqueza da Igreja.
Primeiramente, conta-se uma história de que o Papa Paulo VI teria vendido sua tiara papal para simbolizar o despojamento das riquezas. Com o dinheiro obtido, esse Papa teria comprado comida para os pobres. No dia seguinte, a economia continuava igual, a desigualdade social não tinha diminuído e ninguém tinha se tornado mais rico por causa desse nobre ato. Os mesmos pobres que tinham saciado sua fome estavam novamente com fome nas ruas mendigando um prato de comida. É claro que esse ato do Papa foi um símbolo de humildade, mas sendo nós francos (e com todo respeito que devemos ter pelo Papa), qual foi a contribuição efetiva pra esse ato na mudança da vida das pessoas? Em termos materiais, nenhuma. Talvez reste hoje uma vaga lembrança na memória das pessoas sobre o Papa que vendeu sua tiara papal, mas penso que muito pouca gente se lembra disso ou já leu algo sobre.
O que esses céticos que tanto criticam a Santa Sé não sabem é que eles não têm a menor noção do real valor das coisas que estão no Vaticano e nem do que elas representam. Como um exemplo da estupidez materialista desses cético lembro que não é incomum ver pessoas divulgando a foto do Papa Emérito Bento XVI sentado em um trono, supostamente de ouro, que, se fosse vendido daria pra comprar comida pra milhões de famintos. Até hoje não sei se todo esse alarme por causa “do tal trono de ouro“ é tolice ou pura má-fé. A verdade é que o trono papal não é de ouro, mas sim de madeira recoberta por uma fina camada de bronze. Como diz o ditado, nem tudo o que reluz é ouro. O trono papal é amarelo dourado, mas não é de ouro e certamente não mataria a fome do mundo inteiro.
Em segundo lugar, o papel da Igreja é exercer a bondade e não resolver grandes mazelas sociais que estão totalmente fora de seu alcance. O que a Igreja pode fazer, e tem feito muito bem, é criar instituições caritativas e apelar aos mais ricos para que perdoem as dívidas dos mais pobres ou para que sejam caridosos. Não são raros os documentos papais que pedem a caridade às pessoas e não vou citá-los porque um texto não seria suficiente para tal. Outra contribuição da Igreja para resolver as mazelas da sociedade é defender os valores morais porque sem eles o coração se torna duro e a sociedade fria, incapaz de ajudar os mais necessitados. Por fim, a Igreja elaborou sua Doutrina Social que jamais foi colocada em prática em nenhum país, mas se fosse certamente diminuiria muito a pobreza.
Em terceiro lugar, mesmo que o Vaticano quisesse vender suas “riquezas” não poderia, mesmo porque a maior riqueza da Igreja são as pessoas e não seus tesouros. Diz um conto que certa vez um prefeito perverso pediu a São Lourenço, diácono da Igreja Primitiva, que lhe desse todas as suas riquezas para que a cidade pudesse enviá-las à Roma. De fato, a comunidade de São Lourenço era rica e ele, como diácono, administrava essa riqueza. São Lourenço teria então reunido todos os mendigos, doentes, viúvas e órfãos e, apresentando-os ao prefeito, teria dito: aqui estão nossas maiores riquezas. Enfurecido, o prefeito teria queimado São Lourenço vivo em um braseiro feito no chão. Dizem até que São Lourenço, dono de um humor típico de quem tem uma fé inquebrável, teria dito: vire-me do outro lado porque esse já está bem tostado. E assim morreu esse doutor da humildade, um dos maiores mártires da Igreja Católica. Quanto às riquezas materiais das quais dispõe o Vaticano atualmente, essas não podem ser vendidas porque são patrimônio da humanidade. Mesmo sendo consideradas peças caras as obras em poder da Igreja não tem valor efetivo nenhum, afinal, esse patrimônio não rende nada a ninguém. Em resumo, faz tanto sentido pedir que Roma venda seus “tesouros” quanto pedir a venda de tudo o que existe nos museus do mundo. Cabe aqui uma pergunta, intrigante aos hipócritas que defendem a igualdade social: quem compraria bens tão caros, segundo as palavras dos pseudo-socialistas, senão os grandes detentores do capital mundial? Quer dizer, essas pessoas defendem que os maiores ricos do mundo comprem os bens da Igreja tornando-se ainda mais ricos. Muito coerente!
Em quarto lugar, se quebrarem a maior instituição caritativa do mundo, quem ficará em seu lugar? Quem arcará com os milhares de orfanatos, hospitais, azilos e outras instituições beneficentes da Igreja? Os socialistas? Ou será que seriam os mesmos extra-terrestres que, segundo Richard Dawkins, teriam plantado a vida na terra? Talvez a Richard Dawkins Foundation pudesse fazer isso. Enfim, nossos especialistas em resolver as mazelas africanas não pensaram nesse detalhe (aliás, penso que nem saibam pensar de fato).
O que mais chama a atenção é que muitas pessoas que criticam os bens da Igreja nunca fizeram nada para mudar o mundo. Defendem regimes autoritários e assassinos que, muito distante de matar a fome dos pobres, deram a esses bastante companhia como em Cuba, por exemplo.
A verdade é que esse argumento de que a Igreja deveria vender seus bens casa-se perfeitamente com o pensamento ateísta militante, o mesmo presente nos países socialistas que levaram tantos cristãos ao fuzilamento pelo simples fato deles serem cristãos. Essa ideia de que a Igreja deveria vender tudo o que tem tenta esconder, no fim das contas, um profundo desejo de que Ela deixe de existir. Aos que têm tal desejo, eu sinto informar mas Deus assegurou que a Igreja estaria presente entre nós até o fim dos tempos. Ela é uma força contra a qual não adianta lutar porque é o próprio Deus quem a manteve. Todas as tentativas de derrubá-la foram inúteis, leiam a história e vocês verão isso. Matem os cristãos e o sangue deles irrigará o terreno de onde nascerão novos mártires. Fechem Igrejas e os cristãos se reunirão até nos esgotos. Prendam nossos bispos e eles celebrarão a Santa Missa nas cadeias usando o próprio peito como altar. Se você que é contra a Igreja pretende perseguir os cristãos, saiba que para nós essa vida não é nada. Como disse São Paulo, viver para nós é Cristo e morrer é lucro. Para o verdadeiro cristão nada se compara à alegria do Céu, nem mesmo os maiores prazeres terrenos.
É triste ver o estado das pessoas cegas com o próprio ódio. Os mesmos que dizem que “o amor é sua religião” ou que “se unem pelo amor ao contrário dos cristãos que se unem pelo ódio” manifestam um ódio mortal pelo cristianismo e pelos seus seguidores. Entretanto, nós cristãos devemos continuar nossa caminhada de 2000 anos amando nossos inimigos e sufocando o ódio deles com a Misericórdia de Deus.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A Imitação de Maria: Parte VII


Maria, a Mãe do Evangelho Vivo

Por: Eduardo Moreira

Maria na história da Salvação não cumpre apenas o papel de primeiro apóstolo e mestre de Nosso Senhor. Ela é a própria figura da mudança da Antiga para a Nova Aliança. Assim como o Povo de Deus passa de um povo diminuto para todo o mundo, como se os judeus estivessem dando à luz o cristianismo, assim também é Maria, uma mulher judia, dando a luz ao Cristo, o primeiro cristão. Maria é, pois, muito mais que uma mulher. Ela é a Mãe do Evangelho Vivo e Encarnado.
Formosa como a lua e brilhante como o sol, se ela não nos desse à luz a Glória de Deus, nós mesmos poderíamos pensar que ela é o próprio Deus. Entretanto, como é toda humildade essa Boa Mãe, Ela nos mostra quem são o Pai, o Filho e o Espírito Santo e humildemente se coloca no lugar de criatura, ocupando assim na hierarquia natural o mais alto posto que se pode pensar, acima dos anjos, dos homens e de tudo o que se conhece abaixo de Deus.
Entretanto, engana-se aquele que pensa que Maria foi essencial à economia da Salvação apenas na geração de Cristo. Assim como Deus nos deu Cristo por Maria, é da vontade d'Ele que sigamos o mesmo Cristo com Maria, imitando seus passos e suas virtudes. Ora, se a vida terrena é um continente e o Paraíso é outro, sem dúvida alguma o tempo de vida equivale a um oceano turbulento que nos separa. Assim sendo, precisamos de um barco para chegarmos ao Céu e esse barco não pode ser qualquer um. Esse barco deve ter condições muito específicas para que nos leve onde devemos ir. Com toda certeza esse barco é Maria. Ela conhece o Coração do Filho melhor que ninguém e Ela é quem melhor pode nos apresentar esse Coração. Ela o gerou, Ela o criou, Ela o acompanhou como fiel discípula, Ela esteve de pé na Cruz, o momento mais importante para nossa salvação. Ora, tudo isso prova que Ela não só deu a luz a Cristo como também se faz necessária na caminhada dos cristãos para a salvação deles.
Se olharmos para a história de Cristo, em todos os momentos importantes esteve Nossa Senhora. Na crucifixão, no primeiro milagre e, é claro, em toda a infância e formação de Nosso Senhor. Se é por Maria que Cristo veio ao mundo, também é por Ela que Ele deseja ser conhecido e amado. Nossa vontade é torpe. Hoje estamos firmes, amanhã podemos nos tornar os piores pecadores. De fato, não foram poucos aqueles que, ao começarem uma caminhada em odor de grande santidade, morreram heréticos e devassos. Um pequeno olhar para um pequeno pecado pode, pois, desencadear todo o processo de queda desde que alimentemos nosso orgulho.
Se não estamos unidos fortemente a Cristo, não resistimos ao pecado. Se não resistimos ao pecado, por menor que seja ele, logo nos tornamos totalmente podres. Só se mantem firme na fé aquele cristão que se apega a essa tão boa Mãe, que suavemente nos apresenta o Filho por caminhos que apenas ela conhece.
Aquele que se deixa moldar por Maria, tanto mais se deixa moldar, tanto mais se consome por tão grande amor, mais se aproxima do Evangelho Vivo, mais se torna semelhante ao Cristo. Esse é o poder da Mãe de Deus de formar os santos de forma que quanto mais nos aproximamos d'Ela, mais nosso espírito se enche de Deus.
Se nos entregamos a Ela sem reservas, a Palavra de Deus se torna nossa amiga e nesse espírito de fé e união com Maria, os trabalhos e as cruzes da vida parecem ser mais brandas do que realmente são. Por mais que se acheguem atribulações, sempre há uma esperança incandescente no coração daquele que busca a Mãe de Deus e que procura imitar em sua vida as virtudes d'Ela. Não existe via mais perfeita de salvação do que aquela que passa por Maria.
Voltando à metáfora dos dois continentes, não que seja impossível atravessar o tão grande e tão turbulento oceano da vida, mas será muito mais difícil e penoso e certamente serão muito remotas as possibilidades de se chegar ao outro lado sem o auxílio de nossa Mãe.
Alguns podem objetar dizendo que leem com frequência as Sagradas Escrituras ou que oram em casa para o deus no qual creem ou ainda que sua fé não precisa de tantos cuidados por já ser uma fé madura e consolidada. Completo, pois, que esses estão muito mais próximos da condenação do que quaisquer outros.
Deus ouve a todos, mas ouve mais aqueles que lhe são próximos. Onde reina a soberba, Deus não está. Só mesmo com muita soberba e cegueira espiritual para podermos dizer que somos suficientes a nós mesmos ou à nossa própria fé. Todas as almas que fiam-se em si próprias para a sua salvação correm grave risco de serem condenadas porque já não conseguem ver suas próprias limitações e já não recorrerão à ajuda de quem melhor conhece a Deus, no caso, Maria. Eis o grave erro dos que buscam a santidade por seus achismos ou por sua própria soberba. Certamente não foram poucas as almas que se condenaram por aderir a tais pensamentos.
Não importa quantas páginas das Sagradas Escrituras se leu ou se conhece. Não interessa quantas horas de balbuciamentos foram feitas. Não importa, tampouco, quanta fé julga ter aquele que ora a seu deus particular. Se tudo o que foi feito não o foi em espírito de fé e união com Maria, ainda que inconscientemente, de nada valeu aos olhos de Deus. Só Ela alcançou graça aos olhos do Altíssimo que a planejou desde a eternidade. Por esse exato motivo, mesmo os profetas do Antigo Testamento fizeram tudo nesse mesmo espírito, isto é, imitando a Santíssima Virgem, muito embora Ela ainda não existisse no tempo e no espaço.
Embora Maria não existisse no tempo da Antiga Aliança, o caminho de santidade seguido por Ela é o caminho de santidade que mais agrada a Deus, que desejou criá-la desde sempre. Por esse exato motivo, esse caminho de santidade foi seguido por todos aqueles que foram santos ao longo da história e esse mesmo caminho só se concretizou de forma máxima, sem precedência ou sucessão, em Maria Santíssima. Nenhum homem comum foi tão santo quanto Ela e nenhum jamais será.
A Mãe do Evangelho Vivo viveu tão bem o Evangelho que já o vivia antes da encarnação temporal do Verbo. Ela foi desejada e planejada por Deus desde a eternidade e ninguém jamais se comparou a Ela. Ela foi a imitação perfeita de Cristo, logo, ela foi a descrição humana mais exata da vivência do Evangelho.
Maria foi a luz que guiou os santos de toda a história, o referencial de santidade que sempre existiu, o caminho de salvação atemporal querido por Deus e planejado por Ele por todos os séculos dos séculos. Todos os santos da história, de uma forma ou de outra, foram doutores em imitar a Santíssima Virgem.
Não há virtude que não exista em Maria em grau máximo. Ao entregar, tal qual Cristo, seu espírito ao Pai na Cruz, ao contemplar seu Filho imolado, ela foi a maior mártir da História. Ao aceitar ser escrava de Deus e fazer em tudo a vontade dele, Ela foi a doutora da humildade. Ao dar a luz a Cristo, Ela foi a maior evangelista e a maior profetisa que já existiu. Se aqueles que disseram algumas palavras acerca da Antiga Lei, ainda imperfeita, mesmo assim foram chamados profetas, que dizer então daquela que muito mais que dizer, gerou a Lei Perfeita, o Evangelho Vivo, Cristo Jesus em seu ventre? Não houve pregação mais eficiente que a pregação de Maria, muito embora quase não se encontrem palavras ditas por Ela no Evangelho. Ao ser entregue por Cristo como Mãe de João, Ela é, pois, Mãe de toda a Igreja e Mãe espiritual de todos os fiéis.
Evangelizou, embora não tenha dito quase nada. Não o disse, de fato, porque se tivesse dito teria sido idolatrada pelos judeus, um povo ritualista que não tinha contemplado Deus face a face. O silêncio de Maria foi importante para que Cristo aparecesse e fosse reconhecido como Deus de Deus, Luz da Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro. Maria aniquilou-se para Cristo aparecer e também nós precisamos fazer isso. Entretanto, esse caminho de salvação se revelou a nós como uma Misericórdia de Deus para que pudéssemos através d'Ela elevar a Ele nosso espírito e para podermos, um dia, merecer o paraíso.

O Segredo de Maria (Monsenhor Jonas Abib e Luzia Santiago)

Trabalhe e reze. Fique em silêncio, reze, ame e reze. Escute e reze.
Não discuta, não queira ter razão: cale-se.
Não julgue, não condene: ame.
Não olhe, não queira saber: abandone-se.
Não arrazoe, não entre na profundidade dos problemas: creia.
Não se agite, não procure fazer: reze.
Não se inquiete, não se preocupe: tenha fé.
Quando você fala, Deus se cala e você diz coisas equivocadas.
Quando você discute, Deus é esquecido e você peca.
Quando você argumenta, Deus é humilhado e você pensa em coisas vãs.
Quando você se apura, Deus é distanciado e você tropeça e cai.
Quando você se agita, Deus é lançado fora e você fica na obscuridade.
Quando você julga o irmão, Deus é crucificado e você se julga a si mesmo.
Quando você condena o irmão, Deus morre e você condena a si mesmo.
Quando desobedece, Deus fica distante e você morre.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

A Imitação de Maria: Parte VI


Imitação da vigilância

Por: Eduardo Moreira

O homem prudente vigia-se constantemente. Vigia os pensamentos, porque eles se tornam palavras. Vigia palavras, porque elas se tornam ações. Vigia ações, porque elas são o que melhor diz sobre o que ele é. A pregação converte, mas o exemplo arrasta multidões. São Francisco dizia a seus companheiros de ordem: vamos evangelizar, se necessário com palavras. E de fato, os franciscanos evangelizavam com o exemplo de vida, humildade, obediência e pobreza.
Certamente Maria não caiu no pecado não somente por ser Imaculada, afinal, também Eva era Imaculada e caiu. Maria não descuidou de seus pensamentos, palavras e ações por um minuto sequer. Devemos, pois, à imagem d'Ela, vigiar e orar. Não é à toa que o inimigo surgiu como uma serpente, porque a serpente é astuta tal qual os demônios o são. Sim, eles sabem a hora exata de agir de forma a nos tomar de surpresa e nos seduzir para o mal.
Mas será fácil fazer tudo isso? É claro que não. Se nos dispomos a imitar o Cristo, que tantos ultrajes sofreu, será possível que pensemos que isso será fácil? Não é mais coerente pensar que será dificílimo? E mais, por que é que buscamos coroas de ouro num mundo onde nosso Rei foi coroado com uma coroa de espinhos? Imitar a Cristo, imitar à Santíssima Virgem custa caro, pode custar a alguns o sangue e a própria vida, mas teremos sempre a certeza de que essa vida não é nada, que tudo passa e que um dia teremos o consolo eterno. Viver pra mim é Cristo e morrer é lucro, dizia São Paulo.
O medo gela o corpo, mas a fé aquece o coração e traz de volta a esperança até em quem está em condições de jazer nas profundezas do inferno. A vigilância é sinônimo de uma fé madura e de uma espiritualidade viva e atualizada. Ninguém, por mais que queira, vigia constantemente os próprios atos se não for com o auxílio de Deus. Longe dele só há tagarelices, conversas livres, obscenidade, futilidade. Enquanto os demônios vigiam astutos nossas vidas, nos tentando em nossas maiores fraquezas, Deus está a dizer: coragem, eu venci o mundo. Não existe cristianismo sem coragem. Não existe cristão verdadeiro sem a vigilância. Nossa alma deve ser como um exército em ordem de batalha, tal como Maria, impecável, pronta para qualquer ordem que venha do alto. Para isso precisamos estar vigilantes.
Se não oramos, não conseguimos vigiar. Apenas Cristo vigiava no horto porque apenas Ele orava. Os apóstolos dormiam e por isso não vigiavam. Se não vigiamos, nos entregamos aos vícios, esperando achar neles a felicidade, como um cão que se atira em um pedaço de pimenta esperando encontrar algum prazer. O que conseguimos, entretanto, não é o prazer pra alma, mas apenas para o corpo. A alma fica então vazia após se entregar aos vícios. A alma fica triste porque chora ter perdido a graça, passa a sentir saudade de Deus. Nos vem então uma sensação de vergonha porque, de fato, estamos com vergonha de Deus, como Adão e Eva se sentiram ao ver o Pai após o pecado. Sentimos vergonha porque pecamos e por isso vem o remorso após os palavrórios, as conversas livres e os demais prazeres da carne. É preciso, pois, vigiar e orar para resistirmos às tentações do Inferno.
Algumas pessoas querem a perfeição espiritual, mas sendo apenas servas de Deus. Isso é impossível. Para sermos perfeitamente vigilantes, para sermos os servos nos moldes que Deus quer precisamos não ser apenas servos, mas escravos! Um servo trabalha num horário fixo, um escravo serve ao seu senhor integralmente. Um servo recebe um ordenado por seus trabalhos, um escravo vive totalmente dependente do Senhor. Devemos, pois, ser escravos por amor. Se somos ricos, devemos nos dispor de toda a riqueza, consagrando-a totalmente à Nossa Senhora para que Ela aplique da forma como melhor glorifique a Deus. O escravo de Maria dispõe de tudo o que tem por Ela e deixa tudo o que tem, incluindo suas vontades, nas mãos da Santíssima Virgem. Por tudo isso os escravos da Virgem Santíssima são os servos mais perfeitos, porque fazem apenas a vontade d'Ela, que é a mesma vontade de Deus.
Nisso consiste a verdadeira liberdade, por mais irônico que pareça, assim nos livramos de nossos vícios e pecados e nos tornamos verdadeiramente livres para o Céu. Não há outra via de perfeição e felizes são os que a descobrem. Essa via, entretanto, exige entrega e sacrifício, exige uma vida coerente com a vida de Maria, a fôrma de todos os santos, o Vaso Honorífico de Devoção.
Vigiar é difícil e penoso, mas torna-se mais ameno e confortável com a presença de Maria. Ela reconforta nossas almas, como boa mãe que é. Ela nos ampara e nos auxilia, mesmo nos momentos mais difíceis. Para solicitar que Ela nos ajude, não nos esqueçamos de dizer, várias vezes ao dia, a oração da qual fala São Luis Maria de Montfort: Sou todo vosso, ó minha rainha e minha mãe e tudo quanto tenho vos pertence! Nisso consiste a perfeição e a escravidão de amor, que se faz tão necessária nesses dias.

Devemos escolher de que lado estamos

Diz o Evangelho que Cristo vomita os mortos, e com razão. Com efeito, ninguém suporta pessoas que hora estão de um lado, hora estão de outro, ou pior, pessoas que se permanecem alheias às situações em que deveriam participar. Maria escolheu o Amor a Deus e como escravos d'Ela, fiéis imitadores dessa fôrma de santidade, quando vigiamos como Maria e com Maria nos tornamos semelhantes aos anjos de Deus na Terra.
Por outro lado, quando não ficamos vigiantes ao invés de nos tornarmos sinal de graça nos tornamos sinal de desgraça. Ao invés de imitarmos Maria, imitamos o demônio que está a todo tempo, sem dormir ou descansar, a nos tentar. O demônio quer nos perder e se desgarramo-nos de nossa vida espiritual ele nos toma totalmente de forma que fazemos da própria vida e da vida alheia um verdadeiro inferno.
Quantas pessoas, por falta de zelo, não se tornaram prefigurações quase perfeitas de Satanás? Quantas pessoas ficam procurando os mínimos detalhes para reclamarem e murmurarem? Quantas pessoas não suportam faltas leves do próximo e, pelo contrário, até fazem certo esforço para encontrá-las pelo simples prazer de reclamar e julgar? Essas pessoas chegam a tal depravação simplesmente porque permitiram que o demônio entrasse em suas vidas.
O demônio procura portas estreitas e frestas pra entrar e quando permitimos que ele entre, ele nos torna azedos. Às vezes ele entra em nossas vidas através de coisas que pensamos que até são algum zelo, como por exemplo, o hábito que tem alguns de reparar nos pecados alheios sob a falsa escusa de não fazerem igual. Quando vemos um irmão pecar a melhor coisa que fazemos é orar. Se for conveniente que se admoeste-o também, mas jamais devemos condená-lo.
Estes segredos apenas conhecem as almas vigilantes, tão raras no mundo atual que parece nos sufocar com afazeres e responsabilidades. Entretanto, somos chamados à santidade, não importa a época em que estejamos. A falta de tempo não pode ser desculpa para não vigiarmos, pelo contrário, se o mundo nos sufoca com atribulações, respondamos consagrando tudo o que fazemos a Deus.

Conclusão

Quão bela é Maria, que resplandece a luz de Deus do mais alto dos céus mostrando o caminho aos pecadores errantes! Permita-nos, Nossa Senhora, que nos mantenhamos vigilantes e orantes para que Deus faça em nós Sua Santíssima vontade e, tendo uma boa vida de vigilância e fidelidade a Ele, possamos gozar um dia do Paraíso Eterno.
Que Deus mantenha nossos olhos afastados da coisas vãs, não deixem nossos ouvidos ouvirem aquilo que traz o pecado e que nossa boca não se atire às tagarelices que nada trazem de útil. Que se aparte de nosso coração toda ira injusta contra o próximo e que possamos ver nele a imagem do Cristo Vivo.

Eu vos saúdo, oh Maria!

Eu vos saúdo, ó Maria, vós sois a esperança dos cristãos. Recebei a súplica de um pecador que vos ama ternamente, vos honra de um modo particular, e em vós põe toda a esperança de sua salvação. De vós recebi a vida, pois que me restabeleceis na graça de vosso Filho. Sois o penhor certo de minha salvação. Rogo-vos, pois, que me liberteis do peso de meus pecados; que dissipeis as trevas de minha inteligência; que desterreis os afetos terrenos do meu coração; que reprimais as tentações dos meus inimigos; e que governeis de tal sorte a minha vida que eu possa, por vosso intermédio e debaixo da vossa proteção, chegar à felicidade eterna do paraíso.