Imitação da vigilância
Por: Eduardo Moreira
O homem prudente
vigia-se constantemente. Vigia os pensamentos, porque eles se tornam
palavras. Vigia palavras, porque elas se tornam ações. Vigia ações,
porque elas são o que melhor diz sobre o que ele é. A pregação
converte, mas o exemplo arrasta multidões. São Francisco dizia a
seus companheiros de ordem: vamos evangelizar, se necessário com
palavras. E de fato, os franciscanos evangelizavam com o exemplo de
vida, humildade, obediência e pobreza.
Certamente Maria
não caiu no pecado não somente por ser Imaculada, afinal, também
Eva era Imaculada e caiu. Maria não descuidou de seus pensamentos,
palavras e ações por um minuto sequer. Devemos, pois, à imagem
d'Ela, vigiar e orar. Não é à toa que o inimigo surgiu como uma
serpente, porque a serpente é astuta tal qual os demônios o são.
Sim, eles sabem a hora exata de agir de forma a nos tomar de surpresa
e nos seduzir para o mal.
Mas será fácil
fazer tudo isso? É claro que não. Se nos dispomos a imitar o
Cristo, que tantos ultrajes sofreu, será possível que pensemos que
isso será fácil? Não é mais coerente pensar que será dificílimo?
E mais, por que é que buscamos coroas de ouro num mundo onde nosso
Rei foi coroado com uma coroa de espinhos? Imitar a Cristo, imitar à
Santíssima Virgem custa caro, pode custar a alguns o sangue e a
própria vida, mas teremos sempre a certeza de que essa vida não é
nada, que tudo passa e que um dia teremos o consolo eterno. Viver pra
mim é Cristo e morrer é lucro, dizia São Paulo.
O medo gela o
corpo, mas a fé aquece o coração e traz de volta a esperança até
em quem está em condições de jazer nas profundezas do inferno. A
vigilância é sinônimo de uma fé madura e de uma espiritualidade
viva e atualizada. Ninguém, por mais que queira, vigia
constantemente os próprios atos se não for com o auxílio de Deus.
Longe dele só há tagarelices, conversas livres, obscenidade,
futilidade. Enquanto os demônios vigiam astutos nossas vidas, nos
tentando em nossas maiores fraquezas, Deus está a dizer: coragem, eu
venci o mundo. Não existe cristianismo sem coragem. Não existe
cristão verdadeiro sem a vigilância. Nossa alma deve ser como um
exército em ordem de batalha, tal como Maria, impecável, pronta
para qualquer ordem que venha do alto. Para isso precisamos estar
vigilantes.
Se não oramos, não
conseguimos vigiar. Apenas Cristo vigiava no horto porque apenas Ele
orava. Os apóstolos dormiam e por isso não vigiavam. Se não
vigiamos, nos entregamos aos vícios, esperando achar neles a
felicidade, como um cão que se atira em um pedaço de pimenta
esperando encontrar algum prazer. O que conseguimos, entretanto, não
é o prazer pra alma, mas apenas para o corpo. A alma fica então
vazia após se entregar aos vícios. A alma fica triste porque chora
ter perdido a graça, passa a sentir saudade de Deus. Nos vem então
uma sensação de vergonha porque, de fato, estamos com vergonha de
Deus, como Adão e Eva se sentiram ao ver o Pai após o pecado.
Sentimos vergonha porque pecamos e por isso vem o remorso após os
palavrórios, as conversas livres e os demais prazeres da carne. É
preciso, pois, vigiar e orar para resistirmos às tentações do
Inferno.
Algumas pessoas
querem a perfeição espiritual, mas sendo apenas servas de Deus.
Isso é impossível. Para sermos perfeitamente vigilantes, para
sermos os servos nos moldes que Deus quer precisamos não ser apenas
servos, mas escravos! Um servo trabalha num horário fixo, um escravo
serve ao seu senhor integralmente. Um servo recebe um ordenado por
seus trabalhos, um escravo vive totalmente dependente do Senhor.
Devemos, pois, ser escravos por amor. Se somos ricos, devemos nos
dispor de toda a riqueza, consagrando-a totalmente à Nossa Senhora
para que Ela aplique da forma como melhor glorifique a Deus. O
escravo de Maria dispõe de tudo o que tem por Ela e deixa tudo o que
tem, incluindo suas vontades, nas mãos da Santíssima Virgem. Por
tudo isso os escravos da Virgem Santíssima são os servos mais
perfeitos, porque fazem apenas a vontade d'Ela, que é a mesma
vontade de Deus.
Nisso consiste a
verdadeira liberdade, por mais irônico que pareça, assim nos
livramos de nossos vícios e pecados e nos tornamos verdadeiramente
livres para o Céu. Não há outra via de perfeição e felizes são
os que a descobrem. Essa via, entretanto, exige entrega e sacrifício,
exige uma vida coerente com a vida de Maria, a fôrma de todos os
santos, o Vaso Honorífico de Devoção.
Vigiar é difícil
e penoso, mas torna-se mais ameno e confortável com a presença de
Maria. Ela reconforta nossas almas, como boa mãe que é. Ela nos
ampara e nos auxilia, mesmo nos momentos mais difíceis. Para
solicitar que Ela nos ajude, não nos esqueçamos de dizer, várias
vezes ao dia, a oração da qual fala São Luis Maria de Montfort:
Sou todo vosso, ó minha rainha e minha mãe e tudo quanto tenho vos
pertence! Nisso consiste a perfeição e a escravidão de amor, que
se faz tão necessária nesses dias.
Devemos escolher de
que lado estamos
Diz o Evangelho que
Cristo vomita os mortos, e com razão. Com efeito, ninguém suporta
pessoas que hora estão de um lado, hora estão de outro, ou pior,
pessoas que se permanecem alheias às situações em que deveriam
participar. Maria escolheu o Amor a Deus e como escravos d'Ela, fiéis
imitadores dessa fôrma de santidade, quando vigiamos como Maria e
com Maria nos tornamos semelhantes aos anjos de Deus na Terra.
Por outro lado,
quando não ficamos vigiantes ao invés de nos tornarmos sinal de
graça nos tornamos sinal de desgraça. Ao invés de imitarmos Maria,
imitamos o demônio que está a todo tempo, sem dormir ou descansar,
a nos tentar. O demônio quer nos perder e se desgarramo-nos de nossa
vida espiritual ele nos toma totalmente de forma que fazemos da
própria vida e da vida alheia um verdadeiro inferno.
Quantas pessoas,
por falta de zelo, não se tornaram prefigurações quase perfeitas
de Satanás? Quantas pessoas ficam procurando os mínimos detalhes
para reclamarem e murmurarem? Quantas pessoas não suportam faltas
leves do próximo e, pelo contrário, até fazem certo esforço para
encontrá-las pelo simples prazer de reclamar e julgar? Essas pessoas
chegam a tal depravação simplesmente porque permitiram que o
demônio entrasse em suas vidas.
O demônio procura
portas estreitas e frestas pra entrar e quando permitimos que ele
entre, ele nos torna azedos. Às vezes ele entra em nossas vidas
através de coisas que pensamos que até são algum zelo, como por
exemplo, o hábito que tem alguns de reparar nos pecados alheios sob
a falsa escusa de não fazerem igual. Quando vemos um irmão pecar a
melhor coisa que fazemos é orar. Se for conveniente que se
admoeste-o também, mas jamais devemos condená-lo.
Estes segredos
apenas conhecem as almas vigilantes, tão raras no mundo atual que
parece nos sufocar com afazeres e responsabilidades. Entretanto,
somos chamados à santidade, não importa a época em que estejamos.
A falta de tempo não pode ser desculpa para não vigiarmos, pelo
contrário, se o mundo nos sufoca com atribulações, respondamos
consagrando tudo o que fazemos a Deus.
Conclusão
Quão bela é
Maria, que resplandece a luz de Deus do mais alto dos céus mostrando
o caminho aos pecadores errantes! Permita-nos, Nossa Senhora, que nos
mantenhamos vigilantes e orantes para que Deus faça em nós Sua
Santíssima vontade e, tendo uma boa vida de vigilância e fidelidade
a Ele, possamos gozar um dia do Paraíso Eterno.
Que Deus mantenha
nossos olhos afastados da coisas vãs, não deixem nossos ouvidos
ouvirem aquilo que traz o pecado e que nossa boca não se atire às
tagarelices que nada trazem de útil. Que se aparte de nosso coração
toda ira injusta contra o próximo e que possamos ver nele a imagem
do Cristo Vivo.
Eu vos saúdo,
oh Maria!
Eu vos saúdo, ó
Maria, vós sois a esperança dos cristãos. Recebei a súplica de um
pecador que vos ama ternamente, vos honra de um modo particular, e em
vós põe toda a esperança de sua salvação. De vós recebi a vida,
pois que me restabeleceis na graça de vosso Filho. Sois o penhor
certo de minha salvação. Rogo-vos, pois, que me liberteis do peso
de meus pecados; que dissipeis as trevas de minha inteligência; que
desterreis os afetos terrenos do meu coração; que reprimais as
tentações dos meus inimigos; e que governeis de tal sorte a minha
vida que eu possa, por vosso intermédio e debaixo da vossa proteção,
chegar à felicidade eterna do paraíso.