segunda-feira, 10 de junho de 2013

A Imitação de Maria: Parte VI


Imitação da vigilância

Por: Eduardo Moreira

O homem prudente vigia-se constantemente. Vigia os pensamentos, porque eles se tornam palavras. Vigia palavras, porque elas se tornam ações. Vigia ações, porque elas são o que melhor diz sobre o que ele é. A pregação converte, mas o exemplo arrasta multidões. São Francisco dizia a seus companheiros de ordem: vamos evangelizar, se necessário com palavras. E de fato, os franciscanos evangelizavam com o exemplo de vida, humildade, obediência e pobreza.
Certamente Maria não caiu no pecado não somente por ser Imaculada, afinal, também Eva era Imaculada e caiu. Maria não descuidou de seus pensamentos, palavras e ações por um minuto sequer. Devemos, pois, à imagem d'Ela, vigiar e orar. Não é à toa que o inimigo surgiu como uma serpente, porque a serpente é astuta tal qual os demônios o são. Sim, eles sabem a hora exata de agir de forma a nos tomar de surpresa e nos seduzir para o mal.
Mas será fácil fazer tudo isso? É claro que não. Se nos dispomos a imitar o Cristo, que tantos ultrajes sofreu, será possível que pensemos que isso será fácil? Não é mais coerente pensar que será dificílimo? E mais, por que é que buscamos coroas de ouro num mundo onde nosso Rei foi coroado com uma coroa de espinhos? Imitar a Cristo, imitar à Santíssima Virgem custa caro, pode custar a alguns o sangue e a própria vida, mas teremos sempre a certeza de que essa vida não é nada, que tudo passa e que um dia teremos o consolo eterno. Viver pra mim é Cristo e morrer é lucro, dizia São Paulo.
O medo gela o corpo, mas a fé aquece o coração e traz de volta a esperança até em quem está em condições de jazer nas profundezas do inferno. A vigilância é sinônimo de uma fé madura e de uma espiritualidade viva e atualizada. Ninguém, por mais que queira, vigia constantemente os próprios atos se não for com o auxílio de Deus. Longe dele só há tagarelices, conversas livres, obscenidade, futilidade. Enquanto os demônios vigiam astutos nossas vidas, nos tentando em nossas maiores fraquezas, Deus está a dizer: coragem, eu venci o mundo. Não existe cristianismo sem coragem. Não existe cristão verdadeiro sem a vigilância. Nossa alma deve ser como um exército em ordem de batalha, tal como Maria, impecável, pronta para qualquer ordem que venha do alto. Para isso precisamos estar vigilantes.
Se não oramos, não conseguimos vigiar. Apenas Cristo vigiava no horto porque apenas Ele orava. Os apóstolos dormiam e por isso não vigiavam. Se não vigiamos, nos entregamos aos vícios, esperando achar neles a felicidade, como um cão que se atira em um pedaço de pimenta esperando encontrar algum prazer. O que conseguimos, entretanto, não é o prazer pra alma, mas apenas para o corpo. A alma fica então vazia após se entregar aos vícios. A alma fica triste porque chora ter perdido a graça, passa a sentir saudade de Deus. Nos vem então uma sensação de vergonha porque, de fato, estamos com vergonha de Deus, como Adão e Eva se sentiram ao ver o Pai após o pecado. Sentimos vergonha porque pecamos e por isso vem o remorso após os palavrórios, as conversas livres e os demais prazeres da carne. É preciso, pois, vigiar e orar para resistirmos às tentações do Inferno.
Algumas pessoas querem a perfeição espiritual, mas sendo apenas servas de Deus. Isso é impossível. Para sermos perfeitamente vigilantes, para sermos os servos nos moldes que Deus quer precisamos não ser apenas servos, mas escravos! Um servo trabalha num horário fixo, um escravo serve ao seu senhor integralmente. Um servo recebe um ordenado por seus trabalhos, um escravo vive totalmente dependente do Senhor. Devemos, pois, ser escravos por amor. Se somos ricos, devemos nos dispor de toda a riqueza, consagrando-a totalmente à Nossa Senhora para que Ela aplique da forma como melhor glorifique a Deus. O escravo de Maria dispõe de tudo o que tem por Ela e deixa tudo o que tem, incluindo suas vontades, nas mãos da Santíssima Virgem. Por tudo isso os escravos da Virgem Santíssima são os servos mais perfeitos, porque fazem apenas a vontade d'Ela, que é a mesma vontade de Deus.
Nisso consiste a verdadeira liberdade, por mais irônico que pareça, assim nos livramos de nossos vícios e pecados e nos tornamos verdadeiramente livres para o Céu. Não há outra via de perfeição e felizes são os que a descobrem. Essa via, entretanto, exige entrega e sacrifício, exige uma vida coerente com a vida de Maria, a fôrma de todos os santos, o Vaso Honorífico de Devoção.
Vigiar é difícil e penoso, mas torna-se mais ameno e confortável com a presença de Maria. Ela reconforta nossas almas, como boa mãe que é. Ela nos ampara e nos auxilia, mesmo nos momentos mais difíceis. Para solicitar que Ela nos ajude, não nos esqueçamos de dizer, várias vezes ao dia, a oração da qual fala São Luis Maria de Montfort: Sou todo vosso, ó minha rainha e minha mãe e tudo quanto tenho vos pertence! Nisso consiste a perfeição e a escravidão de amor, que se faz tão necessária nesses dias.

Devemos escolher de que lado estamos

Diz o Evangelho que Cristo vomita os mortos, e com razão. Com efeito, ninguém suporta pessoas que hora estão de um lado, hora estão de outro, ou pior, pessoas que se permanecem alheias às situações em que deveriam participar. Maria escolheu o Amor a Deus e como escravos d'Ela, fiéis imitadores dessa fôrma de santidade, quando vigiamos como Maria e com Maria nos tornamos semelhantes aos anjos de Deus na Terra.
Por outro lado, quando não ficamos vigiantes ao invés de nos tornarmos sinal de graça nos tornamos sinal de desgraça. Ao invés de imitarmos Maria, imitamos o demônio que está a todo tempo, sem dormir ou descansar, a nos tentar. O demônio quer nos perder e se desgarramo-nos de nossa vida espiritual ele nos toma totalmente de forma que fazemos da própria vida e da vida alheia um verdadeiro inferno.
Quantas pessoas, por falta de zelo, não se tornaram prefigurações quase perfeitas de Satanás? Quantas pessoas ficam procurando os mínimos detalhes para reclamarem e murmurarem? Quantas pessoas não suportam faltas leves do próximo e, pelo contrário, até fazem certo esforço para encontrá-las pelo simples prazer de reclamar e julgar? Essas pessoas chegam a tal depravação simplesmente porque permitiram que o demônio entrasse em suas vidas.
O demônio procura portas estreitas e frestas pra entrar e quando permitimos que ele entre, ele nos torna azedos. Às vezes ele entra em nossas vidas através de coisas que pensamos que até são algum zelo, como por exemplo, o hábito que tem alguns de reparar nos pecados alheios sob a falsa escusa de não fazerem igual. Quando vemos um irmão pecar a melhor coisa que fazemos é orar. Se for conveniente que se admoeste-o também, mas jamais devemos condená-lo.
Estes segredos apenas conhecem as almas vigilantes, tão raras no mundo atual que parece nos sufocar com afazeres e responsabilidades. Entretanto, somos chamados à santidade, não importa a época em que estejamos. A falta de tempo não pode ser desculpa para não vigiarmos, pelo contrário, se o mundo nos sufoca com atribulações, respondamos consagrando tudo o que fazemos a Deus.

Conclusão

Quão bela é Maria, que resplandece a luz de Deus do mais alto dos céus mostrando o caminho aos pecadores errantes! Permita-nos, Nossa Senhora, que nos mantenhamos vigilantes e orantes para que Deus faça em nós Sua Santíssima vontade e, tendo uma boa vida de vigilância e fidelidade a Ele, possamos gozar um dia do Paraíso Eterno.
Que Deus mantenha nossos olhos afastados da coisas vãs, não deixem nossos ouvidos ouvirem aquilo que traz o pecado e que nossa boca não se atire às tagarelices que nada trazem de útil. Que se aparte de nosso coração toda ira injusta contra o próximo e que possamos ver nele a imagem do Cristo Vivo.

Eu vos saúdo, oh Maria!

Eu vos saúdo, ó Maria, vós sois a esperança dos cristãos. Recebei a súplica de um pecador que vos ama ternamente, vos honra de um modo particular, e em vós põe toda a esperança de sua salvação. De vós recebi a vida, pois que me restabeleceis na graça de vosso Filho. Sois o penhor certo de minha salvação. Rogo-vos, pois, que me liberteis do peso de meus pecados; que dissipeis as trevas de minha inteligência; que desterreis os afetos terrenos do meu coração; que reprimais as tentações dos meus inimigos; e que governeis de tal sorte a minha vida que eu possa, por vosso intermédio e debaixo da vossa proteção, chegar à felicidade eterna do paraíso.