O mundo de hoje, com certa hipocrisia, anda a interpretar livremente
o Evangelho a seu bel prazer impondo fardos pesados nos outros e
retirando os mais leves de cima de si. Não raras as vezes vemos
pessoas dizendo que o Vaticano deveria vender seu patrimônio para
matar a fome dos pobres enquanto esses mesmos não doam sequer 10
centavos para um mendicante nas ruas, sempre com o mesmo argumento de
que “ele vai comprar droga”. Cabem, entretanto, algumas
considerações acerca da riqueza da Igreja.
Primeiramente, conta-se uma história de que o Papa Paulo VI teria
vendido sua tiara papal para simbolizar o despojamento das riquezas.
Com o dinheiro obtido, esse Papa teria comprado comida para os
pobres. No dia seguinte, a economia continuava igual, a desigualdade
social não tinha diminuído e ninguém tinha se tornado mais rico
por causa desse nobre ato. Os mesmos pobres que tinham saciado sua
fome estavam novamente com fome nas ruas mendigando um prato de
comida. É claro que esse ato do Papa foi um símbolo de humildade,
mas sendo nós francos (e com todo respeito que devemos ter pelo
Papa), qual foi a contribuição efetiva pra esse ato na mudança da
vida das pessoas? Em termos materiais, nenhuma. Talvez reste hoje uma
vaga lembrança na memória das pessoas sobre o Papa que vendeu sua
tiara papal, mas penso que muito pouca gente se lembra disso ou já
leu algo sobre.
O que esses céticos que tanto criticam a Santa Sé não sabem é
que eles não têm a menor noção do real valor das coisas que estão
no Vaticano e nem do que elas representam. Como um exemplo da
estupidez materialista desses cético lembro que não é incomum ver
pessoas divulgando a foto do Papa Emérito Bento XVI sentado em um
trono, supostamente de ouro, que, se fosse vendido daria pra comprar
comida pra milhões de famintos. Até hoje não sei se todo esse
alarme por causa “do tal trono de ouro“ é tolice ou pura má-fé.
A verdade é que o trono papal não é de ouro, mas sim de madeira
recoberta por uma fina camada de bronze. Como diz o ditado, nem tudo
o que reluz é ouro. O trono papal é amarelo dourado, mas não é de
ouro e certamente não mataria a fome do mundo inteiro.
Em segundo lugar, o papel da Igreja é exercer a bondade e não
resolver grandes mazelas sociais que estão totalmente fora de seu
alcance. O que a Igreja pode fazer, e tem feito muito bem, é criar
instituições caritativas e apelar aos mais ricos para que perdoem
as dívidas dos mais pobres ou para que sejam caridosos. Não são
raros os documentos papais que pedem a caridade às pessoas e não
vou citá-los porque um texto não seria suficiente para tal. Outra
contribuição da Igreja para resolver as mazelas da sociedade é
defender os valores morais porque sem eles o coração se torna duro
e a sociedade fria, incapaz de ajudar os mais necessitados. Por fim,
a Igreja elaborou sua Doutrina Social que jamais foi colocada em
prática em nenhum país, mas se fosse certamente diminuiria muito a
pobreza.
Em terceiro lugar, mesmo que o Vaticano quisesse vender suas
“riquezas” não poderia, mesmo porque a maior riqueza da Igreja
são as pessoas e não seus tesouros. Diz um conto que certa vez um
prefeito perverso pediu a São Lourenço, diácono da Igreja
Primitiva, que lhe desse todas as suas riquezas para que a cidade
pudesse enviá-las à Roma. De fato, a comunidade de São Lourenço
era rica e ele, como diácono, administrava essa riqueza. São
Lourenço teria então reunido todos os mendigos, doentes, viúvas e
órfãos e, apresentando-os ao prefeito, teria dito: aqui estão
nossas maiores riquezas. Enfurecido, o prefeito teria queimado São
Lourenço vivo em um braseiro feito no chão. Dizem até que São
Lourenço, dono de um humor típico de quem tem uma fé inquebrável,
teria dito: vire-me do outro lado porque esse já está bem tostado.
E assim morreu esse doutor da humildade, um dos maiores mártires da
Igreja Católica. Quanto às riquezas materiais das quais dispõe o
Vaticano atualmente, essas não podem ser vendidas porque são
patrimônio da humanidade. Mesmo sendo consideradas peças caras as
obras em poder da Igreja não tem valor efetivo nenhum, afinal, esse
patrimônio não rende nada a ninguém. Em resumo, faz tanto sentido
pedir que Roma venda seus “tesouros” quanto pedir a venda de tudo
o que existe nos museus do mundo. Cabe aqui uma pergunta, intrigante
aos hipócritas que defendem a igualdade social: quem compraria bens
tão caros, segundo as palavras dos pseudo-socialistas, senão os
grandes detentores do capital mundial? Quer dizer, essas pessoas
defendem que os maiores ricos do mundo comprem os bens da Igreja
tornando-se ainda mais ricos. Muito coerente!
Em quarto lugar, se quebrarem a maior instituição caritativa do
mundo, quem ficará em seu lugar? Quem arcará com os milhares de
orfanatos, hospitais, azilos e outras instituições beneficentes da
Igreja? Os socialistas? Ou será que seriam os mesmos
extra-terrestres que, segundo Richard Dawkins, teriam plantado a vida
na terra? Talvez a Richard Dawkins Foundation pudesse fazer isso.
Enfim, nossos especialistas em resolver as mazelas africanas não
pensaram nesse detalhe (aliás, penso que nem saibam pensar de fato).
O que mais chama a atenção é que muitas pessoas que criticam os
bens da Igreja nunca fizeram nada para mudar o mundo. Defendem
regimes autoritários e assassinos que, muito distante de matar a
fome dos pobres, deram a esses bastante companhia como em Cuba, por
exemplo.
A verdade é que esse argumento de que a Igreja deveria vender seus
bens casa-se perfeitamente com o pensamento ateísta militante, o
mesmo presente nos países socialistas que levaram tantos cristãos
ao fuzilamento pelo simples fato deles serem cristãos. Essa ideia de
que a Igreja deveria vender tudo o que tem tenta esconder, no fim das
contas, um profundo desejo de que Ela deixe de existir. Aos que têm
tal desejo, eu sinto informar mas Deus assegurou que a Igreja estaria
presente entre nós até o fim dos tempos. Ela é uma força contra a
qual não adianta lutar porque é o próprio Deus quem a manteve.
Todas as tentativas de derrubá-la foram inúteis, leiam a história
e vocês verão isso. Matem os cristãos e o sangue deles irrigará o
terreno de onde nascerão novos mártires. Fechem Igrejas e os
cristãos se reunirão até nos esgotos. Prendam nossos bispos e eles
celebrarão a Santa Missa nas cadeias usando o próprio peito como
altar. Se você que é contra a Igreja pretende perseguir os
cristãos, saiba que para nós essa vida não é nada. Como disse São
Paulo, viver para nós é Cristo e morrer é lucro. Para o verdadeiro
cristão nada se compara à alegria do Céu, nem mesmo os maiores
prazeres terrenos.
É triste ver o estado das pessoas cegas com o próprio ódio. Os
mesmos que dizem que “o amor é sua religião” ou que “se unem
pelo amor ao contrário dos cristãos que se unem pelo ódio”
manifestam um ódio mortal pelo cristianismo e pelos seus seguidores.
Entretanto, nós cristãos devemos continuar nossa caminhada de 2000
anos amando nossos inimigos e sufocando o ódio deles com a
Misericórdia de Deus.