sábado, 27 de agosto de 2011

Por que Deus se fez homem? (III parte)


Por: Eduardo Moreira¹ e Mariana Prado Borges².

Considerações sobre o evolucionismo

Quase na redação do quarto artigo da série “Por que Deus se fez homem?” cabe, talvez de forma tardia, dizer algumas palavras as quais certamente responderão perguntas já feitas pelos leitores em suas mentes. Quem vos escreve é um cientista, não um filósofo ou teólogo, que dista em muito das áreas biológicas, mas que sabe um mínimo acerca do evolucionismo darwiniano. Todavia, esse mesmo cientista possui contatos que lhe são capazes de assegurar que seu pronunciamento sobre essa teoria é verdadeiro. Tomando, pois, o mínimo conhecimento e a opinião de uma bióloga, Mariana Prado Borges, fica livre o autor para tecer alguns comentários acerca dessa teoria.

Distam-se quase nove séculos desde a redação da obra de Santo Anselmo a partir da qual foram feitos os raciocínios da série de artigos na qual esse se encontra. Todavia, embora antiga, a obra de Santo Anselmo parece atual e não é a ignorância do Santo Sábio Doutor da Igreja (que existe por razões óbvias) acerca do evolucionismo que tira dela os méritos e a profundidade do raciocínio que se lhe tem. Essa obra é pautada no raciocínio filosófico, dentro das limitações científicas da era chamada “medieval”.

Entretanto, é bom alertar ao leitor sobre certos equívocos e injustiças que se têm cometido em nome da assim chamada Teoria da Evolução. Muitos já são os cientistas céticos dessa teoria, que traz consigo verdades e dúvidas. O Gênesis não é, pois, um livro científico. A Igreja subsidiou pesquisas acerca do Big Bang, as quais foram desenvolvidas primordialmente por um padre jesuíta, Georges Lemaître, e a Igreja sabe perfeitamente que o universo não foi criado em sete dias como afirma Livro Sagrado. Esse, por sua vez, não trata de questões científicas e no que tange a criação, o próprio Santo Anselmo já afirma que os dias da Criação não são os nossos dias. Logo, os sete dias da criação não passam de uma poesia, uma narrativa belíssima da criação do mundo que atesta a maior verdade de todos os séculos: O universo foi criado e desejado por Deus.

No que diz respeito à teoria da evolução, o Papa Pio XII em 1938 escreveu uma encíclica chamada “Humani Generis”, a qual pode ser encontrada no sítio oficial do Vaticano e onde ele dá total liberdade dos fiéis em estudarem o evolucionismo monogenista. Não há, assim (e o mesmo Papa já disse isso na citada encíclica), qualquer liberdade para crer no poligenismo, que não é nem sustentado pela Ciência que revela através de análises do DNA mitocondrial que somos sim descendentes de uma só mulher (Teoria da Eva Mitocondrial).

Até então, entretanto, o ponto de vista oficial da Igreja é o criacionismo, muito embora seja dado aos fiéis o livre arbítrio para estudar e até crer no evolucionismo, não esquecendo, é claro, de que o homem é a obra prima de Deus, criada racional para conhecer o certo e o errado e assim amar ao Criador. Logo, não importando o caminho, o homem foi querido e criado por Deus. Assim como no passado a Igreja Católica (e as comunidades protestantes) sustentaram o geocentrismo até se ter uma prova concreta do heliocentrismo, hoje o catolicismo defende o criacionismo.

É bom dizer que a ciência não é “maldita”, posto que o Papa Beato João Paulo II disse que a ciência pode purificar a religião dos equívocos e das superstições e ele mesmo elogiou em certo pronunciamento público a teoria de Darwin, dizendo que é possível conciliá-la com a Teologia. Logo, aqueles que quiserem ler os artigos da série “Por que Deus se fez homem?” à luz do evolucionismo e/ou do criacionismo têm toda a liberdade para tal.

Para finalizar esse “parêntese” da série, deixo que a teoria da evolução também não tem todo crédito que certos cientistas pretendem que ela tenha. É uma questão de justiça dizer que essa teoria não pôde ainda ser reproduzida em laboratórios e que enfrenta diversas perguntas ainda sem respostas. Não se sabe, por exemplo, por que uma célula evolui quando na verdade todos seus mecanismos celulares são para preservar a estrutura do DNA impedindo que haja mudanças nele, mudanças essas necessárias para a evolução.

A evolução orgânica da matéria, todavia, é praticamente inquestionável. O que não é ainda inquestionável é se essa evolução é capaz de causar mudanças brutais nas espécies. Na opinião de quem vos escreve, o evolucionismo é uma hipótese (e não uma teoria), ainda não comprovada, mas que merece e deve ser estudada a fim de subsidiar o conhecimento do homem para bem servi-lo. Em nada essa teoria retira a Onipotência Divina, pelo contrário, só a revela ainda mais, assim como revela a capacidade do homem de compreender a natureza, criada por Deus tendo o homem como obra prima.

Notas:

Eduardo Moreira¹: Bacharel e licenciado em Química pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mestre em físico-química (eletroquímica ambiental) e doutorando em Química Quântica Avançada pela Universidade de São Paulo (USP).

Mariana Prado Borges²: Bacharel e licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mestre em Ecologia Vegetal e Conservação de Recursos Naturais pela mesma universidade.