sábado, 13 de agosto de 2011

Por que Deus se fez homem?


Por Eduardo Moreira.

Que não é justo o homem se livrar do pecado pelo sacrifício de qualquer ente que não o próprio homem. Os opositores da fé católica dizem que Deus foi injusto ao matar seu próprio Filho para salvar a humanidade. Santo Anselmo de Cantuária em sua obra “Por que Deus se fez homem?” já desmascarou esse argumento. Nosso objetivo com o texto abaixo é pensar com um olhar atual para as reflexões da Filosofia Escolástica de Santo Anselmo a fim de esclarecer melhor o motivo que levou Deus a se tornar homem por amor ao homem.

Crê e ensina o Cristianismo que Deus criou o homem. A narração de Gênesis diz que o homem estava só e isso pode ser entendido como que o homem é um ser a parte, diferente dos demais. Nenhum animal é igual ao homem e nem é tão perfeito. A política de tratar o homem como mais um animal é uma falácia, pois se o homem é igual aos demais animais, não poderíamos ter edificado universidades, hospitais e outras benfeitorias sociais, haja vista que nenhum animal senão o homem fez tamanha proeza.

Ao contrário do que as pessoas insistem em ensinar, o homem é um animal diferente, dotado de raciocínio. Isso não é o único adjetivo que difere o homem dos demais animais, pois o homem possui de forma racional o livre arbítrio, podendo escolher racionalmente entre o bem e o mal. Além disso, o homem possui uma característica que nenhum outro animal possui, a capacidade de conhecer e amar a Deus.

Partindo do raciocínio acima, sabemos que o homem é dotado de vontade e dotado do livre arbítrio racional. Com a origem do homem, é lógico que ele tinha a capacidade de optar pelo bem ou pelo mal. O homem é criado à imagem e semelhança de Deus para substituir os anjos caídos que traíram a Deus, completando a obra bendita.

Entretanto, o homem glorioso, criado para viver junto de Deus, dotado de alma e dotado de vida imortal cai em sua desgraça pelo pecado. Iludido pelo demônio, o homem cai numa tragédia, porque tendo a opção de escolher entre o bem e o mal, comete o mesmo pecado dos anjos ao querer ser igual a Deus.

Deus então, cheio de amor e compaixão qual Pai que jamais esquece do filho, faz uma aliança com seu povo e promete um dia a restauração de sua natureza gloriosa através de uma nova e eterna aliança, o sacrifício do próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, que sacrificando-se inseriria os homens em seu corpo. Mortos para o pecado, os homens como Cristo, os homens presentes no Corpo de Jesus se tornariam algo superior aos anjos, filhos de Deus. Muitas pessoas objetam essa aliança dizendo que é impróprio de Deus, pura bondade, exigir o sacrifício de seu amado e único filho, Deus de Deus para restaurar a humanidade.

Acontece que o homem em sua origem foi quem pecou. Sendo que o homem pecou, ele escolheu o mal e se tornou escravo do pecado. O pecado passa de geração em geração como se fosse um mal hereditário. Isso tanto é verdade que se é possível perceber a corrupção em todo ser humano, por mais santo que seja. Dessa maneira, só o sacrifício de um homem sem mancha pode livrar a mancha do homem.

Assim sendo, alguém pode dizer que Deus não precisaria se encarnar para salvar a humanidade, pois isso poderia ser feito gerando um homem sem mancha, capaz de suportar a culpa do pecado. Todavia, se Deus fizesse isso ele não poderia livrar o homem do pecado, pois criaria de um pecador um não-pecador e isso é impossível, pois conforme já vimos o pecado é transmitido. Doutra forma, criar um homem não pecador de um pecador usando a onipotência divina seria injusto, pois se o homem tornou-se escravo do pecado não é justo que Deus liberte apenas um homem do pecado para salvar a humanidade, haja vista que se o homem caiu por livre e espontânea vontade e por livre e espontânea vontade deveria se livrar de sua queda.

O homem libertador deve ser, portanto, livre do pecado desde o início até o fim, mas também não pode ser um anjo. Se um anjo se encarnasse seu sacrifício não livraria o homem do pecado, pois o homem foi a criatura que pecou e não os anjos. O homem libertador deve ser obrigatoriamente livre do pecado e, principalmente, deve ter valor infinito, pois o pecado é uma ofensa infinita a Deus, conforme mostrar-se-á em outro artigo.

Só Deus é infinito e assim sendo, o homem libertador deve ser ao mesmo tempo Deus e homem, que por livre e espontânea vontade queira libertar a humanidade como homem, sem deixar de ser Deus, infinito. Logo, não se trata de meio homem e meio Deus, um híbrido. Se trata de pleno homem e pleno Deus. Só esse homem-Deus, sacrificado na cruz, é capaz de libertar a humanidade.

Se as naturezas de Cristo são separadas, então o sacrifício crucial foi limitado, finito, e por isso não serve para livrar o homem do pecado, pois a divindade infinita não morre nunca e se as naturezas humana e divina são separadas, quem morreu na cruz foi um homem. Isso mostra que o Deus-homem deve ser homem e Deus em tudo. Assim, a divindade se fez homem em tudo, até na morte e morrendo sacrificou-se de forma infinita livrando o homem da pena infinita e da escravidão perpétua do pecado. Logo, para satisfazer a libertação do homem o ente libertador deve obrigatoriamente ser Deus.

Há ainda outro motivo que leva o sacrifício a ser o sacrifício de um Deus-homem. Mesmo o Deus-homem nascendo para ser puro, Ele poderia ser contaminado com a mancha do pecado enquanto homem. Nesse caso, o homem-Deus poderia não ser gerado, pois em Deus não pode haver pecado e se houvesse pecado no homem-Deus, esse sequer poderia existir. Logo, o Deus-homem deve ser puro desde a concepção, livre do pecado. O sacrifício deveria livrar a progenitora do Deus-homem do pecado para que esse não contaminasse o ente libertador. Só mesmo um sacrifício atemporal poderia livrar Maria do pecado original antes do sacrifício ocorrer no tempo.

Pelos argumentos acima apresentados, nota-se que a libertação do homem só pôde ser feita pelo homem e ao mesmo tempo por Deus. Assim sendo, o ente libertador deve ser plenamente Deus e plenamente homem. Dessa maneira, vemos que o sacrifício de Cristo não foi uma injustiça, mas sim a justiça e a misericórdia infinita de Deus.

OBS: Este é o primeiro artigo, logo vira a segunda parte em outro artigo.