sábado, 29 de janeiro de 2011

A Paz e o Papado

Por Gilbert Keith Chesterton.

Há um famoso ditado que a alguns parece falta de reverência, embora de fato seja um esteio de uma parte importante da religião: “Se Deus não existisse, seria necessário inventá-Lo.” Isso não é totalmente diferente de algumas das ousadas questões com que Santo Tomás de Aquino inicia sua grande defesa da fé. Alguns dos modernos críticos de sua fé, especialmente seus críticos protestantes, cometeram um erro divertido, por causa de sua ignorância do latim e do antigo uso da palavra DIVUS, e acusaram os católicos de descreverem o Papa como Deus. Os católicos, preciso dizer, estão tão próximos a chamar o Papa de Deus quanto de chamar um gafanhoto de Papa. Mas há um sentido em que eles realmente reconhecem uma correspondência eterna entre a posição do Rei dos Reis no universo e a do seu Vigário no mundo, como a correspondência entre uma coisa real e sua sombra; uma similaridade parecida com a similaridade imperfeita e defeituosa entre Deus e a imagem de Deus. E entre as coincidências dessa comparação pode ser colocado o caso deste epigrama. O mundo se encontrará mais e mais na posição em que mesmo os políticos e os homens práticos se pegarão dizendo: “Se o Papa não existisse, seria necessário inventá-lo.”

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Imperador Constantino fundou a Igreja Católica? (Prog. Credo in Ecclesia).

O Imperador Constantino em 313 junto com Licínio promulgaram o conhecido Edito de Milão concedendo aos cristãos do Império Romano a liberdade de culto.


Este acontecimento histórico é entendido e repercutido pela internet especialmente em sites não católicos, de cunho protestante, como a prova mais notável de que Constantino teria através deste ato. Fundado a Igreja Católica.

O programa “Credo in Ecclesia” desta semana abordou o assunto, e esclareceu esta falsa afirmação a respeito do Edito de Milão e do Imperador Constantino.

Confira, o programa, ouça, baixe e divulgue! abaixo segue-se o link.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Palestra “Vencendo a indiferença” (Fulton Sheen).


Caro leitores indoco a vocês, os três videos abaixo. Trata-se de Palestra intitula “Vencendo a indiferença” que foi proferida pelo Facecido e grande Bispo americano John Fulton Sheen. Vale a pena vocês assistirem.





quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Dom Richard Domba denuncia que Guerrilheiros da (LRA) assasinaram religiosa católica no Congo.

O Bispo de Douma-Dungu (República Democrática do Congo), Dom Richard Domba Madiy, denunciou que Irmã Jeanne Yegmane, ex-superiora da congregação das Agustinas, foi assassinada por guerrilheiros do chamado Exército de Resistência do Senhor (LRA) em uma emboscada.

Em declarações recolhidas pela agência vaticano Fides, Dom Domba assinalou que no último 15 de janeiro os assassinos surgiram repentinamente na estrada, procedentes da selva, e abriram fogo "contra os veículos que passavam, matando a irmã Yegmane".

Depois de deter os automóveis e assaltar os passageiros, os guerrilheiros incendiaram os veículos. "Na coluna bloqueada havia pelo menos um soldado que não pôde intervir", lamentou o Bispo.

Dom Domba denunciou que as autoridades mentem ao afirmar que o LRA desapareceu, pois "ainda há rebeldes na selva. O exército está tratando de proteger a população, mas a guerrilha ataca rapidamente e logo fogem à selva. É muito difícil capturá-los".

A irmã Yegmane também era enfermeira e oftalmologista e trabalhava intensamente para pôr em funcionamento o Centro Oftalmológico Siloé de Isiro, ao norte do Congo, que atenderá cerca de 2 milhões de pessoas na zona, e que será inaugurado oficialmente em maio. 

Fonte:

Bispo denuncia emboscada no assassinato de religiosa católica no Congo. Agencia de notícias ACIdigital. Disponível em: http://www.acidigital.com/noticia.php?id=21004 Acesso em: 20 janeiro 2010

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Filme “Nosso Lar” as fabulas espíritas

Por John Lennon J. da Silva


Caro leitores, publico um pequeno comentário [não vou nem explanar tal assunto, porque nem vale à pena] ao Filme “Nosso Lar – o filme” produzido pela “GoboFilmes” e outras produtoras, o Filme mais caro já produzido pelo cinema nacional, avaliado em 20 milhões de reais. Longa metragem baseado na obra do Sr. Chico Xavier. O filme é endossado por atrizes e atores das “novelinhas” da TV Globo.

No último domingo encontrava-se na casa da minha noiva, e resolvi ir a feira comprar alguns Dvds, depois de uma pequena caminhada, parei em um banco da feira, que às vezes costumo comprar Dvds, lá escolhi alguns e entre eles me deparei com o tal filme “Nosso Lar” resolvi então levá-lo por curiosidade. Volte para casa, depois de algumas horas, fui assistir ao filme ao lado de minha noiva.

Então começamos. Na primeira cena o médico protagonista do filme, que havia morrido estava em um lugar que seria um pseudopurgatório, entendido pelo espiritismo. Mais adiante no mesmo lugar, o médico depara-se com milhares de almas andando sem rumo, algumas sendo torturadas e espancadas; naquele lugar tenebroso.

Proximamente ele seria resgato deste local por espíritos já aperfeiçoados. E em seguida levado a cidade, chegando lá passaria por uma espécie de “hospital” onde as almas tinham seus corpos sarados [sem esquecer que elas tomam alguns líquidos no filme] por intermédio do poder das mãos dos espíritos desencarnados, bem ao estilo oriental (risos).

Conhecendo a tal cidade, o médico fica informado das outras áreas que gerenciam a entrada de almas na cidade, como por exemplo, o “Ministério de regeneração” e o mais louco e tecnologicamente avançado “Ministério de Comunicação” onde as “alminhas” mandavam cartas, que pena que eles não usam e-mails, seria bem mais rápido (risos). Durante o filme o médico nesta cidade, redescobri-se e auto perdoa-se, o que ira pouco a pouco Le proporcionando o reaproveitamento, para no fim como lixo depois de todo aquele processo ele ser “reciclado” (risos).

Vale mencionar que antes ele, vem dar uma passadinha na terra, para visitar os parentes, e entrar em seus sonhos [é bem parecido como à hora do pesadelo] só não é visto por eles com exceção, da cozinheira que segundo as características provavelmente deve ser da Macumba ou da Umbanda, que são seitas irmãs dos espíritas.

O mais pitoresco depois do anuncio, que na terra haveria uma grande guerra, [II grande guerra] feito pela prefeitura da cidade e por algum espírito elevado, todos ficam na expectativa, pois como mostra o filme eles receberam as vitimas da guerra, é quase que emocionante [para não dizer o contrario], imaginem em multidão se aproximam elas, estão os judeus os protestantes, e católicos entre aquela multidão, e acabam sendo recepcionados com abraços pelas almas desencarnadas da cidade.

A sim, o filme possui todo um estilo, futurista é bem provável que o “Sr. Chico” tenha em vida assistido algum filme de ficção científica, a arquitetura da cidade é coisa de “Guerra nas estrelas” (risos).

Concluindo o filme é uma porcaria, não percam tempo algum assistido ao que esta produtora, que parece militar em favor dos espíritas, depois da autobiografia do Sr. Chico, eles tem propagando a reencarnação, a comunicação com os mortos, e os outros artigos heréticos da doutrina espírita entre os Brasileiros. Ainda bem que não perdi todo o meu tempo assistindo a fabulas de algum “Chico Xavier” Discípulo do tal professor, que se intitula “Alan Kardec”. Aproveitei aquele tempo explicando e refutando as falácias do Espiritismo para minha noiva, naquela tarde.

Vale mencionar o que o inspirado São Paulo, falou a seu discípulo Timóteo.

“Porque virá tempos em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajuntarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas” (2Tm 4, 3-4).

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A era das Cruzadas

Por G.K. Chesterton

Um tanto por acaso, começou o último capítulo pelo nome de Santo Eduardo; calha muito bem a este começar pelo de São Jorge. Contam que sua primeira aparição como patrono do nosso povo deveu-se aos instantes rogos de Ricardo Coração de Leão, durante a campanha na Palestina; e isto, como veremos, veio muito a propósito para uma nova Inglaterra, que haveria de ter um novo santo. Os confessores sempre foram presença marcante na história inglesa, enquanto São Jorge – apesar de sua participação no martirológio romano – parece não fazer parte de história alguma. Se desejamos compreender a maior e mais nobre das revoluções humanas, só conseguiremos vislumbrá-la à condição de aceitar o paradoxo que representa o enorme progresso e esclarecimento de sua passagem da crônica para o romance.

Em qualquer recanto intelectual da modernidade, é possível deparar-se com uma passagem como esta, que acabei de ler num jornal de polêmicas: “Como muitas coisas boas, não é necessário que a salvação venha do exterior.” Apelidar um fato espiritual de externo, e não interno, é a principal e moderna forma de excomunhão. Mas se o objeto de estudo é medieval e não moderno, devemos incutir nessa rematada sensaboria a idéia diametralmente oposta. Havemos de conservar a atitude de homens que pensam que quase tudo o que há de bom vem do exterior – como as boas notícias. A imparcialidade neste caso não é o meu forte, confesso; e a citação que mostrei do jornal atingiu de cheio o que concebo quanto à essência da vida. Na minha cabeça, não acredito que os bebês atinjam a melhor forma física sugando o próprio dedo, nem que o homem atinja a melhor forma moral sugando a própria alma, negando a dependência em face de Deus e de outras coisas boas. Sustento que o agradecimento é a forma mais excelsa do pensamento, e a gratidão um portento de redobrada felicidade. Mas a fé na receptividade, e no respeito do que vem de fora, aqui só precisa ajudar-me a explicar aquilo que uma interpretação sobre o tempo presente deveria, em todo caso, explicar. Não há nada mais moderno em um alemão, ou mais alucinado, do que o sonho de encontrar um nome alemão para tudo; ele quer literalmente comer o idioma, ou melhor, morder a língua. E não havia nada mais razoável nem saudável do que os homens medievais condescendendo com nomes e símbolos oriundos do exterior de suas amadas fronteiras. Os monastérios não apenas acoitariam um estranho, mas quase chegariam a canonizá-lo. Um reles aventureiro como Bruce seria entronizado, como se fora realmente um cavaleiro andante, sobretudo por uma arrebatada e patriótica comunidade, caso ainda não tivessem um estrangeiro por santo patrono. Isto explica porque a multidão dos santos vinha da Irlanda, e porque São Patrício não era irlandês¹. Também explica porque, na medida em que os ingleses transformaram-se em nação, deixaram incontáveis santos saxões como que para trás, ignorando por assim dizer não só a santidade de Eduardo, mas o renome de Alfredo, e invocaram um herói quase mítico, que peleja no deserto oriental contra o monstro improvável.

Essas transição e símbolo significam as Cruzadas. Seu romantismo e crueza foram para a Inglaterra a primeira lição, cuja origem não é só exterior, mas remota. Como tudo que leva o nome cristão, a Inglaterra vicejou em terreno alheio, sem disso se pejar. Desde os caminhos de César até as igrejas de Lanfranco, sempre partiram em busca de Deus. Todavia as águias estão prestes a alçar vôo, cortejando o odor da carnificina – estão na busca do que é estranho, não se conformam mais com o só recebê-lo. Os ingleses deram o primeiro passo em direção à aventura, iniciando seu épico naval. A grandiosidade do movimento que varreu toda a Inglaterra e consigo o Ocidente alongaria demasiado o volume deste livro, mas ainda assim já seria melhor que embotá-la por aquele olhar distante e gélido, useiro e vezeiro em certos compêndios. O tratamento que dão a Ricardo Coração de Leão é prova irrefragável da inaptidão do método insular para as histórias populares. Contam a legenda de modo a imaginarmos que sua partida para as Cruzadas se assemelhasse à escapulida dum gazeteiro que se lançasse em direção ao mar. Na minha opinião, isto seria uma adorável ou perdoável travessura, não obstante estivesse mais para um venerável inglês dirigindo-se para a linha de frente. Era a cristandande como um só povo, e a linha de frente a sua Terra Sagrada. É verdade que Ricardo possuía um caráter aventureiro e até romântico, mas para quem nasceu soldado não era despropositado nem romântico fazer o de que era mais capaz. Mas o que aqui deslustra o argumento contra a história insular é a ausência da comparação com o continente. Neste caso seria suficiente atravessar o estreito de Dover para encontrar a falácia. Contemporâneo do francês Ricardo, Felipe Augusto era célebre por ser um estadista pouco afeito à pátria e receoso; não obstante, até ele foi às Cruzadas. E isso porque – é claro – as Cruzadas eram, para qualquer europeu consciencioso, o que havia de mais sublime em governança e acendrado em dedicação ao bem público.

Cerca de seiscentos anos depois que o cristianismo floresceu no oriente e seguiu rumo a oeste, ergueu-se praticamente naqueles mesmos territórios outra grande fé, assediando a mais antiga como uma gigantesca sombra. Igualmente à sombra, ela era a sua cópia e antípoda. Chamamo-la de islã, ou crença dos muçulmanos; talvez sua descrição mais exata seja a de ímpeto resultante do acúmulo de orientalismos, ou talvez do acúmulo de hebraísmos, que aos poucos a Igreja rejeitou, na medida em que se tornava mais européia, ou em que o cristianismo virava cristandade. Sua razão primordial foi o ódio aos ídolos, e neste aspecto a Encarnação era em si uma idolatria: a idéia do Deus feito carne e, mais tarde, a de Sua representação em madeira e pedra eram os alvos da perseguição. Um estudo das contendas que em segredo ardiam nas veredas das tórridas pradarias dos cristãos convertidos leva a crer que o fanatismo contra a arte ou a mitologia fora outrora resultado e reação daquelas mesmas conversões. Pertenciam eles a uma espécie de minoria hebraizante. Nestes termos o islã era algo como uma heresia cristã. As heresias primitivas estavam cheias de inversões e evasões da Encarnação, libertando Jesus da realidade do corpo, ainda que às expensas da sinceridade da alma. Precipitaram-se os gregos iconoclastas por sobre a Itália, destruindo estátuas famosas e acusando o Papa de idolatria, até que foram destroçados, em estilo não tão simbólico, pela espada do pai de Carlos Magno. O conjunto dessas negações frustradas incendiou o gênio de Maomé, e lançou a partir daquele território requeimado uma ofensiva de cavaleiros que quase conquistou o mundo. E se alguém sugerir que a observação sobre tais procedências orientais não passa por ser a história da Inglaterra, minha resposta é que esse livro, ai de mim!, talvez contenha muitas digressões, mas que isso não é uma digressão. Há de se ter sempre em mente que este Deus semita assombrou a cristandade como um fantasma; os europeus de toda parte devem lembrar-se disso, especialmente os da nossa parte. Se alguém duvida disso, leve-o para um passeio pelas igrejas paroquianas da Inglaterra num raio de treze milhas, e pergunte porque esta virgem de pedra está decapitada ou aquele vitral desaparecido. Logo saberá que não há muito, naquelas veredas e herdades, contivera-se o ímpeto que veio do deserto, e que o norte regelado da ilha estava tomado da fúria dos iconoclastas.

Existia nesta sublime porém sinistra simplicidade do islã um elemento que não conhecia fronteiras. Seu abrigo natural era o relento. Nascera na desolação arenosa entre os nômades, e em todo lugar se estabelecia, porque não vinha de lugar algum. Contudo nos sarracenos da Idade Média o caráter nômade do islã mascarava-se sob uma alta civilização, mais científica, não obstante menos criativa, que a coeva cristandade. O monoteísmo muçulmano era, ou parecia ser, uma religião mais racional, se comparada à cristã. Seu refinamento, sem compromisso com antecedentes, esmerava-se em especial nos conceitos abstratos, cuja memória o simples nome da álgebra celebra. Em comparação, a civilização cristã dava muito mais ensanchas à instintividade, mas seus instintos eram poderosíssimos e bem peculiares. Ela estava repleta de afeições locais, cuja expressão se deu no sistema de cercamentos, que se constituiu espécie de modelo para tudo quanto fosse medieval – desde a heráldica até o arrendamento de terras. Havia graça e colorido nestes costumes e estatutos pintados em todos aqueles tabardos e brazões, algo ao mesmo tempo austero e jovial. Não estamos nos distanciando do interesse das coisas exteriores, já que isto é parte dele. As cortesias que se poderiam amiúde dedicar ao estranho oriundo de além-muro era o reconhecimento do próprio muro. Os povos que levavam a vida em auto-suficiência não enxergavam os muros como um limite, mas como o fim do mundo. Chamavam os chineses ao homem branco de “rompedor dos céus”. O espírito medieval amava a sua parte na existência enquanto parte, e não enquanto todo, e este privilégio tem uma razão de ser. Existe uma piada sobre um monge beneditino que saudava com o usual Benedictus benedicat, ao qual rebateu triunfalmente um franciscano iletrado com um Franciscus Franciscat. Esta é uma como parábola da história medieval: se existisse um verbo Franciscare, haveria de ser a descrição próxima do que São Francisco faria mais tarde. Contudo esse misticismo mais individual era somente o prenúncio daquele que viria, ao passo que o Benedictus benedicat era o motto do medievalismo primevo. Quero dizer que toda a benção vem do além, e o que abençoa é por seu turno abençoado por algo que lhe vem do além – só o que é abençoado abençoa. Mas para se entender as Cruzadas, entenda-se que o além não era o infinito, como numa religião moderna. Todo além estava em algum lugar. O mistério da localização, e todo o seu significado para o coração humano, estava mais presente nas etéreas e profundas aspirações da cristandade do que ausente das atitudes mais práticas do islã. Teve a Inglaterra de tomar emprestado da França, e a França da Itália, e a Itália da Grécia, e a Grécia da Palestina, e a Palestina do Paraíso. Isto não significa apenas que o sitiante de Kent há de ter a casa abençoada por um padre da paróquia local, que por sua vez foi confirmado pelo bispo de Cantuária, que o foi por Roma. Roma não se venera a si, como nas eras pagãs. Roma olha em direção à leste para o misterioso berço da fé, para a terra que toda a terra chama de sagrada. Mas quando ela se voltava em direção à leste, deparava-se com o vulto de Mafoma, e via fincado no lugar que fora seu paraíso terrestre o gigante devorador egresso dos desertos, para quem todos os lugares eram idênticos.

Convém interromper o discurso sobre as motivações internas das Cruzadas, uma vez que o leitor inglês moderno praticamente desconhece os sentimentos que empolgavam seus pais; além disso o real motivo da disputa – que foi o batismo de fogo das jovens nações – entre cristandade e islã não se poderia de qualquer modo medir por um único critério. Não era algo simples como a disputa entre dois homens que queriam Jerusalém, mas antes a disputa letal entre um homem que a queria para si e outro que não sabia porque o primeiro a queria. Evidentemente o muçulmano tem seus próprios lugares sagrados, mas não os mesmos sentimentos que têm os ocidentais para com seus campos e moradias. Ele concebe a sacralidade enquanto sagrada, mas não os lugares enquanto lugar. A austeridade que lhes proíbe imagens, a guerra peregrina que lhes proíbe descanso desliga-os de tudo que rebenta e aflora num patriotismo local como o nosso; foi precisamente o que deu aos turcos um império, sem contudo dar-lhes uma nação.

Deste modo, a aventura contra o inimigo poderoso e misterioso foi causa de grandes transformações na Inglaterra, assim como nas demais nações que se desenvolviam a par com ela. Em primeiro lugar, aprendemos muito com tudo que o sarraceno fez. Em segundo lugar, aprendemos muito mais ainda com tudo que o sarraceno não fez. Felizmente fomos capazes de imitá-los quando havia algo de bom que ignorávamos, mas quando havia algo de bom que eles ignoravam, fomos duma dureza adamantina ao desafiá-los. Talvez digam que os cristãos não soubessem quão acertado era seu caminho até que fossem à guerra contra os muçulmanos. De imediato a reação mais óbvia e representativa foi a produção do que há de melhor na chamada arte cristã, com destaque para os grotescos da arquitetura gótica, que não só parecem vivos mas ameaçadores. Na certa a atmosfera e o magnetismo impessoal do oriente estimularam a imaginação ocidental, mas estimularam no sentido de recusar os preceitos muçulmanos, e não de acatá-los. Era como se impelissem os cristãos a desenharem, como caricaturistas, rostos nos ornamentos sem rosto, cabeças nas serpentes sem cabeça, pássaros nas árvores sem vida. A proibição do inimigo estimulou e deu vida à estatuária como se fora uma benção. A imagem, só porque se chamava ídolo, tornou-se não apenas insígnia mas arma. Erigiram uma grande milícia de pedra em todos os nichos e estradas da Europa. Os iconoclastas mais fizeram que destruíram estátuas.

O lugar de Coração de Leão na fábula e maledicência populares tem mais afinidades com seu lugar na verdadeira história que aquele que lhe impinge nossos livros escolares utilitaristas, de mero irresponsável e apátrida. Certamente o rumor popular está quase sempre mais próximo da verdade histórica que a hodierna opinião “educada”; por tradição, é mais verdadeiro que a moda. Como típico Cruzado, o rei Ricardo ao granjear a gloria no oriente foi mais decisivo para a Inglaterra do que se tivesse se dedicado conscientemente à política doméstica, a exemplo do rei João. O fracasso do seu gênio e prestígio militares deu a Inglaterra algo com que se ocupar por uma centena de anos, e sem o quê tornaria incompreensível neste período a reputação de ser ela a vanguarda da cavalaria. Os grandes romances da Távola Redonda, a associação entre a cavalaria e o nome do rei bretão, pertencem a este período. Não foi Ricardo apenas cavaleiro, mas trovador. Cultura e cortesia ligaram-se à idéia da bravura inglesa. O inglês medieval sempre se orgulhou de ser educado, que ao menos é melhor do que se orgulhar de dinheiro ou de falta de modos – nestes últimos séculos, infelizmente, um senso comum entre os ingleses.

Dever-se-ia apelidar a cavalaria de o batismo do feudalismo. Ela foi uma tentativa de levar a justiça e mesmo a lógica da crença católica para o sistema militar então existente, transformando-lhe a disciplina em iniciação e as desigualdades em hierarquia. Pertence à relativa graça do novo período aquele notável culto à dignidade da mulher, com que amiúde a palavra “cavalaria” se confunde, ou talvez exalte. Isto também foi uma revolta contra um dos piores deslizes da polidíssima civilização sarracena. Quase sempre os muçulmanos negavam alma às mulheres; talvez o sentimento se originasse no mesmo instinto que derivou da divina conceição a inevitável glorificação da mãe; talvez ainda porque, como tivessem mais tendas que casas, possuíssem mais escravas que esposas. Falso é dizer que a visão cavalheiresca da mulher não passava de emulação, exceto no sentido de que há sempre emulação onde há um ideal. Não passa de superficialidade da pior casta não enxergar o potencial dum sentimento dominante só porque os fatos sempre o contrariam: a própria Cruzada por exemplo era mais presente e poderosa nos sonhos que na realidade. Desde o primeiro plantageneta até o derradeiro lancastriano, este sonho obsedou a imaginação dos reis ingleses, erguendo como pano de fundo de suas batalhas a miragem da Palestina. Deste modo aquela devoção de Eduardo I à sua rainha era um motivo bem plausível nas vidas duma multidão de seus contemporâneos. Quando a turba dos iluminados turistas, preparados para espirrar de alergia às superstições do continente, adquire os bilhetes e etiqueta as bagagens na ampla estação de trem da parte mais elegante de Strand, ou eles despedem-se das esposas com cortesia e fluência maiores que as de seus pais na época de Eduardo, ou param para meditar na legenda dum esposo sofredor, encontradiça até no topônimo de Charing Cross² - uma coisa ou outra, não sei qual.

Mas é um tremendo erro histórico considerar que as Cruzadas interessam apenas à nata da sociedade, para quem a heraldica era arte e a cavalaria etiqueta. A Primeira Cruzada foi sobretudo um unânime levante popular, muito mais do que aquilo que alguns chamam de revoltas e revoluções. As guildas, o grande regime democrático da época, sempre se valeu de seu crescente poder para engrossar as fileiras da causa da Cruz, mas isto é assunto para mais tarde. Muitas vezes não era apenas uma leva de homens, mas um comboio de famílias inteiras, como novos ciganos movendo-se em direção ao oriente. Tornou-se proverbial as crianças que de própria iniciativa planejavam cruzadas como hoje em dia planejam charadas. Talvez se encararmos as Cruzadas como se fossem feitas por crianças contemplemos melhor o fato. Encontravam-se as Cruzadas repletas de tudo o que o mundo moderno confere só às crianças, uma vez que o aniquilou totalmente nos homens. Como os mais rudes vestígios de sua arte mais tosca, suas vidas estavam cheias daquele algo mais que enxergávamos através da janela da creche. Pode-se ver melhor este algo mais, por exemplo, nos interiores de Memling coalhados de rótulas e grades, mas ele é onipresente na arte mais antiga e inconsciente da época, que domesticava terras distantes e traçava horizontes em casa. Os recantos das casinholas faziam as vezes dos precipícios do mundo e das franjas do céu. Consideram-na uma perspectiva rude e alucinada, mas é uma perspectiva; não era como a insipidez decorativa do orientalismo. Numa palavra, seu mundo, como o da criança, está cheio de rascunhos, na tentativa de descobrir o atalho para o país das fadas. Seus mapas eram mais instigantes que suas pinturas. Seus animais meio fantásticos são monstros, e ainda assim bichinhos de estimação. É impossível traduzir em palavras esta atmosfera pujante, pois constituía-se tanto em atmosfera quanto em aventura. Justamente tais visões alienígenas foram as que se tornaram habituais a todos; em comparação os reais concílios e querelas feudais já não eram tão próximos. A Terra Sagrada estava muito mais perto da casa do homem comum que de Westminster, e incomensuravelmente mais perto que de Runymede. Fornecer a lista dos parlamentos e reis ingleses, sem abrir um parêntese a este prodigioso momento de transfiguração religiosa na vida quotidiana, é a inversão da religião e dos séculos, qual uma interpretação moderníssima que convencesse, com dificuldades, um fanático pelo assunto. É como se um escritor clericalista ou realista desse a lista dos arcebispos de Paris de 1750 a 1850, comentando que um morreu de sarampo, outro de velhice, aqueloutro num curioso acidente por decapitação, e ao longo de todo o relatório nunca mencionasse a natureza, ou mesmo o nome, da Revolução Francesa.

1.Santo padroeiro da Irlanda [N. da P.].

2.Região londrina a sudeste da Praça de Trafalgar. O nome tem origem nas últimas doze cruzes construídas por Eduardo I, em 1290, para assinalar o trajeto funerário de sua mulher, Eleonora de Castela, de Nottinghamshire até a Abadia de Westminster. [N. da P.]

Fonte:

CHESTERTON. G.K. A era das cruzadas. Chesterton Brasil. [ extraído do capítulo 6 do livro A Short History of England, título original The Age of the Crusades, publicado em Londres, 1917]. Disponível em: http://chestertonbrasil.blogspot.com/search/label/A%20era%20das%20Cruzadas Acesso em: 13 Janeiro 2010.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Papa envia ajuda econômica ao Haiti por meio do Cardeal Robert Sarah.

O Papa Bento XVI enviou o cardeal Robert Sarah ao Haiti, país que, em 12 de janeiro de 2010, sofreu um terremoto que deixou 250 mil mortos e um milhão de desabrigados. "O presidente do Cor Unum leva uma mensagem do Papa e uma ajuda financeira à população tão gravemente afetada há um ano", explica um comunicado do Conselho Pontifício Cor Unum, divulgado ontem.

O cardeal chegou à ilha caribenha ontem e permanecerá até a quinta-feira, 13 de janeiro, fazendo várias visitas, presidindo as celebrações e renovando o compromisso da Igreja na reconstrução do país.

Na segunda-feira, o cardeal Sarah visitou, em Léogane, as comunidades religiosas das Irmãs de Cristo Rei, cujo hospital foi destruído pelo terremoto, e das Irmãs de Santa Teresa do Menino Jesus, que dirigem uma clínica para pessoas com HIV e tuberculose.

Também visitou a comunidade das Compagnes de Jésus, que tinha um centro de idosos e uma escola, ambos destruídos pelo terremoto. Lá, lançou a pedra fundamental da Ecole Notre Dame des Anges.

Em nome do Papa, o cardeal Sarah leva ajuda concreta procedente das oferendas recebidas para o terremoto: 800 mil dólares para a reconstrução de escolas e 400 mil dólares para a reconstrução das igrejas.

Hoje, o cardeal Sarah, acompanhado pelo subsecretário de Cor Unum, Dom Segundo Tejado, vai se encontrar com o presidente da República do Haiti, René Préval, e visitará o campo de deslocados do Parc Acra, onde celebrará uma Missa. "Em 12 de janeiro, o cardeal lerá a mensagem do Papa durante a Missa em recordação do terremoto", disse o comunicado.

Depois, ele se reunirá com os bispos e seminaristas do país e, finalmente, com os funcionários da Cáritas e das organizações internacionais de voluntariado. O último encontro desta viagem ao Haiti terá lugar na quinta-feira, 13 de janeiro, quando o prelado celebrará uma Missa no convento das Filhas de Maria Parideans, que sofreram a perda de 15 religiosas sob os escombros deixados pelo terremoto, que também feriu outras 12 irmãs. "A visita terá também como objetivo agradecer a todos que colaboraram no enorme trabalho da fase de emergência e renovar o compromisso da Igreja na reconstrução - conclui o comunicado -, instando a uma nova fase de compromisso caritativo."

Fonte:

CIDADE DO VATICANO, Zenit. Disponível em: http://www.zenit.org/article-26947?l=portuguese. Acesso em: 11 Janeiro 2011.