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terça-feira, 18 de setembro de 2012

O que é obsessão demoníaca?


Por Carina Caetano*

Obsessão é um dos tipos de manifestações demoníacas e pode, dependendo do autor que disserta sobre esse tema, ter sentidos mais amplos ou mais restritos a respeito de seu conceito.
 Importante saber que a obsessão demoníaca é diferente da obsessão tratada pela psicologia. Na referida área, a palavra obsessão é normalmente reservada para o pensamento, ou seja, as obsessões estão relacionadas a idéias e pensamentos que são repetitivos, insistentes e persistentes.

Abaixo, três referências oferecidas pelo DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), da Sociedade Americana de Psquiatria.

Segundo o DSM-IV, as Obsessões, são definidas por:

(1) Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou sofrimento;

(2) Os pensamentos, impulsos ou imagens não são meras preocupações excessivas com problemas da vida real;

(3) A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens, ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação.(A)*

(A)*Fonte: Psicologia na Net,  http://www.psicologiananet.com.br/pensamentos-obsessivos-%E2%80%93-obsessao-%E2%80%93-transtorno-obsessivo/1610/ 


 Já nos casos de obsessão demoníaca, a caracterização desse fenômeno se dá de outra forma.

 Frei Elias Vella (OFM Conv), exorcista da Ilha de Malta, por exemplo, caracteriza a obsessão demoníaca como um ataque por parte do demônio em uma determinada área onde a pessoa atacada seja mais vulnerável (1)*, e atribui a maior ocorrência desses casos a pessoas de vida santa.

  (1)* Vella, Elias (Fr, OFM Conv). O leão que ruge ao longo do caminho. São Paulo: Palavra & Prece, 2007.


 Já o Padre Corrado Balducci (SJ), renomado demonólogo, refere-se a obsessão demoníaca como infestação pessoal e a descreve como uma tentação particularmente violenta e prolongada que é caracterizada por fenômenos externos assustadores.

 Segundo o padre Balducci, também pode acontecer por meio de visões, sentimentos diversos (raiva, desespero, medo, etc), maus odores, barulhos estranhos, palavras ou canções obscenas e/ou blasfemas, tapas, arranhões, empurrões, etc.(2)*

 Também ele atribui a maior parte da ocorrência em pessoas de vida santa, como podemos verificar ao longo da história da Igreja:

 Santa Catarina de Sena (1343-1380), São Francisco Xavier (1506-1552), Santa Tereza de Ávila (1515-1582), Santa Madalena de Pazi (1566-1607), Santa Rosa de Lima (1586-1617), São João Maria Vianney (1786-1859), São João Bosco (1815-1888), Santa Gema Galgani (1878-1903).

(2)* Balducci, Corrado. O Diabo, vivo e atuante no mundo. São Paulo: MIR Editora, 2004.

 O padre espanhol José Fortea classifica-a como influência (externa ou interna, dependendo da fenomenologia), além do renomado padre Amorth que também oferece em seus livros um embasamento mais profundo acerca deste e dos outros tipos de manifestação demoníaca.

 A partir da conceituação desses e de outros padres exorcistas a respeito desse fenômeno podemos perceber que a obsessão demoníaca apresenta uma gama de sintomas que vão além da obsessão puramente psicológica, pois os mesmos não restringem-se a idéias permanentes e aparentemente inconvenientes. Além do mais, muitos casos de obsessão ultrapassam o campo das idéias e pensamentos, chegando a causar danos físicos a vítima, como foram os casos de padre Pio e de São João Maria Vianney.

 À pessoa que sofre este tipo de ataque por parte do inimigo classifica-se como obsesso e não obcecado, pois o significado deste termo remete a obscurecido; cego de entendimento, enquanto que o termo obsesso se refere a alguém que está dominado por uma obsessão; atormentado ou Indivíduo que se supõe influenciado ou dominado pelo demônio.
 Também o termo obsidiado é válido, visto que obsidiar significa pôr cerco a; estar à volta de.(B)*

(B)* Fonte: Dicionário Online de Português, http://www.dicio.com.br

Nota:

*Colaboração de Caio Pereira

domingo, 10 de junho de 2012

O que fazem os demônios?

Por Carina Caetano*

No artigo dessa semana, resolvi abordar o contexto acerca das potências inerentes aos anjos e por consequência aos demônios.

Espero poder ajudar a quem ler este artigo, de forma a tirar algumas dúvidas que são cada vez mais frequentes quanto a este tópico. Espero também desmistificar alguns contos que ouvimos por aí, contos esses muitas vezes que nos são relatados por pessoas com grande tempo de caminhada e que, partindo de pressupostos, cometem equívocos que acabam sendo passados adiante. Sobretudo, peço que o Espírito Santo, pela intercessão da Virgem Santíssima possa, por meio deste artigo, fazer cair por terra certos escrúpulos que temos acerca do demônio.

Comecemos falando dos milagres:

Muitos têm essa dúvida: “O demônio pode fazer milagres?” “Pode se passar por Deus por meio de um milagre realizado na vida de alguém?” “Ouvi tal pessoa de caminhada dizendo que o demônio, assim como Deus, também tem esse poder. Isso ocorre de fato?”

Não! O demônio não pode fazer milagres, e isso por uma razão muito simples: só Deus pode operar um milagre. Mas você vai me dizer “Ah, mas eu já vi casos de pessoas que foram curadas de doenças humanamente incuráveis em lugares que não professam a fé em Cristo”. Certo, isso de fato existe, porém, não denominamos uma ação extraordinária desse tipo por parte do demônio de milagre. O que um demônio pode realizar é um prodígio, uma maravilha, um sinal extraordinário. É o que nos afirma o famoso exorcista Maltês, Frei Elias Vella, em seu livro “O Leão que ruge ao longo do Caminho”.

Para confirmar esse conceito, o padre José Antonio Fortea nos diz em sua grande obra “Summa Daemoniaca”, que o demônio tem o poder, por sua capacidade angélica, de tirar uma pedra no rim, porém, não tem o poder de criar um olho numa cavidade vazia da faze, tem poder para curar uma dor de ouvido, mas não tem poder para criar um tímpano. Apenas Deus tem esse poder! O demônio pode transformar alguma coisa existente, mas nunca criar algo.

Para guardarmos bem esse conceito, tenhamos sempre em mente que ação do homem é uma ação de caráter natural, isto é, se dá dentro das limitações impostas pela natureza física; a ação dos anjos (e dos demônios) é de caráter preternatural. A palavra “preternatural” significa “mais além da natureza”, como acontece quando o demônio age nos exemplos citados acima, fazendo com que seja caracterizado um possível prodígio, uma maravilha, como lemos acima. Deus, e somente Deus, age em caráter sobrenatural, isto é, acima de qualquer natureza criada.

Importante ter sempre em consideração que, o demônio, ao dar com uma mão, toma com duas; ao beneficiar alguém por meio de uma cura física ou psicológica, sempre está tirando muito mais no lado espiritual e, com o passar do tempo, em outras áreas da vida humana.

Deus, ao contrário, sempre pode nos dar o milagre do qual realmente precisamos, sempre nos fazendo crescer em Sua graça. E Sua Poderosa ação fica ainda mais evidente quando é alcançado o milagre da nossa conversão.

* Colaboração de Caio C. Pereira.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Por que Deus se fez homem? (Artigo IV)

Por Eduardo Moreira.
Quem é o homem e por que ele foi criado?
Continuando os artigos anteriores, é conveniente saber quem é o homem e por que ele foi criado. Não se fala mais hoje sobre o que dizia o pensamento medieval acerca do homem enquanto ser racional, criado a Imagem e Semelhança de Deus para amá-lo, tendo o livre arbítrio para decidir que caminho seguir.
Na obra Por que Deus se fez homem de Santo Anselmo consta que há um número perfeito planejado por Deus a ser preenchido com criaturas racionais para gozarem junto do criador dum paraíso. Logo, os anjos foram criados racionais para desfrutarem desse paraíso divino, mas um número dos anjos caiu e assim o número perfeito ficou distante de ser preenchido.
Falando primeiramente dos anjos, sabemos que os que caíram sofreram a queda por algum motivo. A primeira possibilidade é que foram criados mais anjos que o número perfeito, o que fez com que alguns anjos tivessem que cair posto que Deus não pôde ter calculado mal esse número. Tendo-se que Deus é imensamente sábio e bom, essa hipótese é absurda, pois seria o mesmo que dizer que Deus criou de má fé um número excedente de anjos, já pensando em deixar que alguns caíssem. A segunda possibilidade é que os anjos foram criados para fazerem parte do número perfeito, mas não prevaleceram nesse número e assim usando sua racionalidade e seu livre arbítrio, escolheram sem retorno a queda no pecado. Em outra oportunidade mostrar-se-á o porquê dos anjos caídos não poderem se reconciliar, mas por hora ficará apenas que a segunda hipótese é a mais lógica.
Se havia um número perfeito, esse número deve ser preenchido a fim de manter a perfeição natural querida por Deus. Esse número deve ser preenchido ao menos substituindo o número dos anjos caídos, mas ficará claro adiante que é superior. O número perfeito pode ser atingido mediante a criação de anjos ou de homens, todavia, a geração de novos anjos não pode seguir a reta justiça de Deus.
Os anjos são andróginos e por isso são incapazes de gerar novos anjos. Logo, ou Deus poderia criar novos anjos, ou poderia criar outro ente dotado de raciocínio que fosse capaz ao menos de substituir os anjos caídos e quiçá completar o número perfeito. Assim uma das hipóteses deveria ser cumprida para que a obra de Deus fosse perfeita.
Em uma análise vê-se que se Deus criasse anjos novos seria injusto posto que os anjos caídos, se não tivessem pecado seriam mais dignos de glória que os novos anjos. Os anjos que caíram se não tivessem caído seriam mais dignos do mesmo elogio que os anjos novos. Os antigos anjos que não pecaram, vendo o castigo dos anjos pecadores perseveraram, mas não foi por isso que ficaram de pé e sim por seu estado de plenitude e amor a Deus que escolheram, ou seja, por seu próprio mérito. Se houvesse de cair algum anjo para que os outros se confirmassem na fé, ou todos cairiam ou deveria necessariamente haver a queda de alguns para que os outros perseverassem. Como ambas hipóteses são absurdas, vemos que os anjos confirmados se confirmaram por seu próprio mérito. Assim nota-se que anjos novos e antigos não seriam iguais e isso seria, de fato, indigno.
Pelo raciocínio acima observa-se que novos anjos não podem ser criados para substituir os antigos, pois isso seria injusto e nenhuma injustiça pode vir de Deus. Vários motivos impedem que anjos se reconciliem com Deus, impedindo que anjos maus voltem a fazer parte do número perfeito. Os anjos, ao contrário dos homens, não  descendem de um mesmo anjo e por isso não podem ser remidos por um Deus-anjo comum posto que cada anjo é único em gênero e teria que remir a si mesmo. Deus não pode encarnar em cada anjo caído para remi-lo. Como os anjos não têm descendência, Deus não pode se encarnar em um único anjo para remi-los todos. Anjos não são mortais e assim não existiria o sacrifício de um Deus-anjo bem como não pode haver encarnação de Deus num anjo posto que anjos não têm carne. Por fim, os anjos estão em estado de plena consciência atemporal, conhecendo no ato de sua rebeldia todas as conseqüências dessa sendo assim incapazes de se arrependerem de alguma ação. Logo, uma vez cometido um pecado por um anjo, ele não pode mais voltar atrás e após pecar certamente cairá.
Partindo dos dois parágrafos anteriores vemos que Deus não pode remir os anjos e que não pode criar novos anjos, posto que a criação de novos anjos seria uma desigualdade e uma injustiça no que tange os méritos angelicais. Ver-se-á agora que se os anjos existiam em perfeito número, os homens foram criados apenas para substituí-los. Por outro lado, se não havia anjos em perfeito número, os homens foram criados de forma a substituir os anjos réprobos e completar o número perfeito e, portanto, deverá haver mais homens que anjos prevaricadores.
Se Deus criou os anjos em perfeito número, tem-se que o homem foi criado após os anjos e exclusivamente para substituir esses. Todavia, isso seria perverso, pois não pode ser digno de Deus criar o ser humano unicamente para substituir os anjos caídos, afinal, isso soa como um mero capricho divino. Tem-se que, por outro lado, se homens e anjos foram criados juntos e sendo que anjos não deixam descendência, coube aos homens o papel de completar o número imperfeito e, eventualmente se houvesse queda de anjos, substituir esses anjos que caíram. Ora, o homem então por esse segundo raciocínio, é, embora frágil e mortal, capaz de se elevar ao tão perfeito estado dos anjos e com isso o homem pode certamente substituí-los. Deus certamente em sua infinita sabedoria já estava ciente de que tanto homens como anjos poderiam prevaricar, mas seguramente a defesa de Deus em relação aos homens é maior devido à sua maior fragilidade. Dessa maneira, é mais lógico que homens e anjos foram criados em número imperfeito e cabe aos homens tanto substituir os anjos réprobos como completar o número perfeito.
Outro argumento mostra que seria perverso dizer que os homens foram criados apenas para substituir anjos caídos: se assim fosse a felicidade da salvação dos homens seria a mesma felicidade de se contemplar a queda dos anjos, afinal, aquela dependeria dessa. Deus, que é infinita bondade, não pode criar um ente que se regozije com a desgraça alheia. Logo, homens e anjos foram criados juntos pela infinita justiça de Deus. Alguém pode objetar dizendo que foi pela negação dos judeus que os demais povos conseguiram a redenção, o que seria tão injusto quanto criar homens apenas para completar o número de anjos caídos. Esse argumento é, entretanto falso. O Messias veio para todos os homens, independentemente da aceitação dos judeus ou não. Logo, os apóstolos não pregaram aos gentios porque os judeus não aceitaram a salvação, mas aproveitaram que os judeus negaram o Cristo para levar o Evangelho aos que queriam ouvi-lo, que no caso eram os gentios, pois toda pessoa que teme à Deus e pratica o bem lhe é agradável (At 10, 35).
Se, pois, é um inconveniente que o homem se alegre com a queda dos anjos e se não pode haver inconveniente na Jerusalém Celeste, então é de todo impossível que os homens tenham sido criados apenas para preencher um número de anjos caídos. Além disso, é um número misterioso a soma dos anjos caídos com o número de homens que falta para completar a Cidade Gloriosa, o que parece mais lógico aos insondáveis desígnios de Deus, pois não cabe aos homens saber quantos homens hão de se salvar. É bom dizer aqui também que não é digno de Deus criar homens para que se percam. Deus, portanto, criou os homens sendo todos eles passíveis de alcançarem a Salvação.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Por que Deus impôs uma prova aos espíritos angélicos?

                                                                                                     Por Carina Caetano*


No artigo passado vimos atributos essenciais a respeito de quem são os anjos, de quem são os demônios, o que caracteriza e faz um e outro.

 Como vimos, os seres angélicos foram, assim como nós o somos hoje, submetidos a um tempo de prova, e no artigo desta semana veremos mais a fundo o porquê Deus quis proceder dessa forma também em relação aos anjos. Seguiremos ainda o embasamento teológico do padre espanhol José Antonio Fortea, exorcista pertencente à diocese do município de Alcalá de Henares, em Madri, e que em 1998 defendeu sua tese de licenciatura “O exorcismo na atualidade”.

 Há três poderosas razões para que Deus concedesse essa prova aos anjos:

 1 – A razão menos importante de todas é que Deus precisava estabelecer uma condição para que cada espírito angélico o contemplasse num determinado grau, visto que Deus é um bem infinito e os anjos, por gloriosos que sejam, possuem uma capacidade finita, ainda que imensa, de contemplá-lO. Logo, Deus concedeu a prova para que cada anjo determinasse por própria vontade, ação e perseverança o grau com que gozaria da plenitude de Deus. É como se cada um dos espíritos angélicos fosse um vazo, o qual cada um tem sua medida para estar cheio até a borda. E essa medida seria determinada pela perseverança e entrega de cada anjo. É um ato de bondade muito grande da parte de Deus. Um bem infinito sendo contemplado por criaturas finitas, permitindo a estas que elas mesmas determinassem o grau de glória com que contemplariam Sua Sagrada Face.

 2 – A fé de cada anjo só poderia ser desenvolvida sem a visão beatífica de Deus, pois uma vez que se contempla a Deus tal como Ele é, a única atitude a se tomar é agradecer pelo que se contempla. Não há mais fé onde há visão, e só a fé, somente a vista parcial de Deus é que poderia permitir aos anjos crescer em perseverança, fé, humildade, súplica, etc.

Porém, há que se observar que com a liberdade dada aos espíritos angélicos para que evoluam segundo sua entrega em glória, há também a possibilidade do surgimento do mal, uma vez que a liberdade consumada sempre vem acompanhada por suas conseqüências. Deus sabe que a liberdade concedida às Suas criaturas pode fazer surgir tanto uma Madre Tereza de Calcutá como um Hitler. Em contrapartida, percebe-se que o surgimento do mal está longe de ser uma frustração aos planos divinos, haja visto que Deus sabe muito bem que a liberdade que Ele concede a cada criatura pode resultar tanto numa boa escolha como numa má escolha. O resultado depende de cada criatura que usufrui desse livre arbítrio, e não de Deus. Querer que apareça o bem espiritual supõe de antemão aceitar que apareça o mal espiritual.

3 – A razão mais importante e poderosa para pôr os anjos a prova é a de obter o amor de um modo livre. Se Deus não usasse da prova, ainda assim seria glorificado pelos anjos a partir da visão beatífica que estes teriam de seu Criador. Porém, Deus é um ser que ama e que quer ser amado, e esse amor entregue a Ele por parte de suas criaturas não poderia existir se não houvesse uma prova. O mesmo Deus que cria todo o universo, que realiza o impossível, não pode criar esse amor daquele que é provado na fé. O amor a Deus não se cria, é uma doação por parte da criatura.


Fonte: "Summa Daemoniaca, Tratado de Demonologia e Manual de Exorcistas", por Pe. José Antonio Fortea, Editora Palavra & Prece, São Paulo 2007.



* Colaboração de Caio C. Pereira

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Quem são os anjos? O que é um demônio?

Por Carina Caetano*

Quem são os anjos?
Anjo: do grego, ággelos (γγελος); do latim, ângelus, mensageiro.
Anjos são seres espirituais puros, que não possuem corpo nem nada relativo à matéria. Além de glorificarem a Deus por meio de sua existência, os anjos têm missões e funções específicas que lhes foram conferidas pelo Criador conforme o grau de força e inteligência inerente à natureza de cada um. A Tradição e o Magistério da Igreja nos ensinam serem nove as categorias existentes na hierarquia angélica. As teses mais embasadas provêm do Pseudo-Dionísio, o Areopagita (entre os séculos IV e V) e de São Tomás de Aquino (século XIII). Em ordem decrescente, são estes os nove coros dos anjos:
1º Serafins, 2º Querubins, 3º Tronos, 4º Dominações, 5º Virtudes, 6º Potestades, 7° Principados, 8° Arcanjos e 9° Anjos.
Em toda a Sagrada Escritura encontramos menções a respeito dos anjos. Logo no capítulo 3 do Livro do Gênesis lemos que o Senhor, após expulsar Adão e Eva do paraíso, colocou dois querubins ao Oriente do jardim do Éden para guardar o caminho da árvore da vida (Gn 3,24).
 Independentemente do coro ao qual pertençam, todos os anjos têm uma função privilegiada em meio à criação, sendo, como nós, servos do Deus Altíssimo, que têm seu prazer e glória em glorificar o nome do Senhor por meio do cumprimento da missão que lhes foi confiada desde o princípio, seja adorando a Deus, seja auxiliando os homens no caminho da salvação, seja combatendo os demônios.
 O que é um demônio?
Um demônio é um ser de natureza angélica condenado eternamente. Essa deformação deu-se por conta de um afastamento de Deus ocasionado de modo voluntário e irreversível, como nos ensina a Santa Igreja.
 Tal rebelião por parte de alguns anjos é, de fato, irreversível, pois, diferentemente do que acontece conosco, o pecado cometido pelos anjos é totalmente isento de paixões, de concupiscência, fazendo assim com que tal pecado se dê numa decisão elevadíssima do intelecto, que já não está disposto, ao atingir determinado grau de insistência no pecado, a retroceder à obediência a Deus.
  A queda dos anjos
Assim como ocorre conosco hoje, os anjos foram submetidos também a uma prova antes que pudessem ter a visão beatífica de Deus, isto é, antes que pudessem ver a Deus tal como Ele é.
Essa prova ao qual foram submetidos os espíritos angélicos é uma constatação da misericordiosa justiça do Criador, pois por meio dela Deus permitiu que cada um dos anjos criados, ainda que em diferentes hierarquias, pudessem determinar por sua própria decisão e perseverança o grau de glória com que iria contemplar eternamente o Criador, uma vez que esse tempo de prova teria um fim.
 Segundo tese do padre espanhol José Antonio Fortea, renomado exorcista, os anjos, ao serem criados, viam a Deus como uma luz que reluzia fortemente acompanhada de uma voz majestosa. Apesar de nessa ocasião eles ainda não poderem ver a essência de Deus, sabiam que estavam ali diante de seu Criador; sabiam que lhe deviam escutar e obedecer. Mas isso segundo a escolha e intensidade de cada um.
 Em meio a essa prova, uns foram mais fiéis, perseverantes e intensos na busca por um elevado agrado a Deus, outros menos, e outros ainda recusaram-se a lhE adorar e prestar obediência, estando convictos que a submissão a Lei Divina mais lhes faria vítimas de uma tirania do que lhes daria a liberdade e a glória que almejavam.
 É também quanto a este fato que se refere o texto de Apocalipse
7.Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate, 8.mas não prevaleceram. E já não houve lugar no céu para eles. 9.Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na terra, e com ele os seus anjos”Ap 12,7-9.
 Essa identificação com o trecho acima se dá por que essa batalha ocorreu entre os anjos, de forma que aqueles que queriam rebelar-se contra Deus usavam de seus argumentos para convencer os demais de que a rebelião seria a melhor escolha. Os anjos que haviam optado pela fidelidade a Deus por sua vez usavam de seus motivos para convencer os rebeldes de que a obediência a Deus, além de justa, era o que realmente lhes faria livres e gloriosos de verdade. Segundo o exorcista espanhol, em meio a essa batalha, houve baixa de todos os lados.
 Do que foi apresentado até aqui, podemos verificar que de fato não se trata da batalha entre os anjos de uma batalha com armas, espadas, correntes nem nada do que possa ser material e corpóreo. Antes, foi uma batalha certamente intensa, porém, uma batalha puramente espiritual.
 Por isso, apesar da boa intenção de alguns, não é coerente e nem fundamentado na caridade querer rezar pela conversão do Diabo ou de algum ser angélico condenado, pois visto que não possuem paixões que os empurram ao pecado como os seres humanos, sua decisão em afastar-se de Deus é irrevogável e, apesar de seu sofrimento atual, os demônios quiseram decididamente esse fim.
 Vale dizer também que, ao contrário do que pensam alguns, os demônios não foram atirados por Deus num inferno, nem os anjos foram elevados a outra esfera celeste. A batalha narrada no Apocalipse, dado o contexto apresentado, teve seu fim quando Deus, em sua Sabedoria que excede a tudo e a todos, percebeu que cada anjo, fiel ou infiel iria permanecer imutável na escolha que cada qual tinha feito durante o período de prova pelo qual passara. Então, Deus mostrou-se tal como é aos anjos que perseveraram na fidelidade e, por outro lado, ocultou-se totalmente dos anjos que haviam rebelado-se. E isso fez, a partir de então, com que cada anjo vivesse o seu céu e cada demônio o seu inferno.
 Portanto, terminada a prova, os anjos deformados não podem voltar atrás em sua decisão, assim como os anjos que permaneceram fiéis a Deus não podem um dia vir a tornar-se demônios, pois, uma vez que possuem a visão beatífica de Deus, sua razão e sua vontade não podem desejar outra coisa que não estar na presença do Criador, adorando-O e contemplando-O por todos os séculos dos séculos.
Referência:

"Summa Daemoniaca, Tratado de Demonologia e Manual de Exorcistas", por Pe. José Antonio Fortea.
*Colaboração:

Caio C. Pereira.