Por Carina Caetano*
No artigo passado vimos atributos essenciais a respeito de quem são os anjos, de quem são os demônios, o que caracteriza e faz um e outro.
Como vimos, os seres angélicos foram, assim como nós o somos hoje, submetidos a um tempo de prova, e no artigo desta semana veremos mais a fundo o porquê Deus quis proceder dessa forma também em relação aos anjos. Seguiremos ainda o embasamento teológico do padre espanhol José Antonio Fortea, exorcista pertencente à diocese do município de Alcalá de Henares, em Madri, e que em 1998 defendeu sua tese de licenciatura “O exorcismo na atualidade”.
1 – A razão menos importante de todas é que Deus precisava estabelecer uma condição para que cada espírito angélico o contemplasse num determinado grau, visto que Deus é um bem infinito e os anjos, por gloriosos que sejam, possuem uma capacidade finita, ainda que imensa, de contemplá-lO. Logo, Deus concedeu a prova para que cada anjo determinasse por própria vontade, ação e perseverança o grau com que gozaria da plenitude de Deus. É como se cada um dos espíritos angélicos fosse um vazo, o qual cada um tem sua medida para estar cheio até a borda. E essa medida seria determinada pela perseverança e entrega de cada anjo. É um ato de bondade muito grande da parte de Deus. Um bem infinito sendo contemplado por criaturas finitas, permitindo a estas que elas mesmas determinassem o grau de glória com que contemplariam Sua Sagrada Face.
2 – A fé de cada anjo só poderia ser desenvolvida sem a visão beatífica de Deus, pois uma vez que se contempla a Deus tal como Ele é, a única atitude a se tomar é agradecer pelo que se contempla. Não há mais fé onde há visão, e só a fé, somente a vista parcial de Deus é que poderia permitir aos anjos crescer em perseverança, fé, humildade, súplica, etc.
Porém, há que se observar que com a liberdade dada aos espíritos angélicos para que evoluam segundo sua entrega em glória, há também a possibilidade do surgimento do mal, uma vez que a liberdade consumada sempre vem acompanhada por suas conseqüências. Deus sabe que a liberdade concedida às Suas criaturas pode fazer surgir tanto uma Madre Tereza de Calcutá como um Hitler. Em contrapartida, percebe-se que o surgimento do mal está longe de ser uma frustração aos planos divinos, haja visto que Deus sabe muito bem que a liberdade que Ele concede a cada criatura pode resultar tanto numa boa escolha como numa má escolha. O resultado depende de cada criatura que usufrui desse livre arbítrio, e não de Deus. Querer que apareça o bem espiritual supõe de antemão aceitar que apareça o mal espiritual.
3 – A razão mais importante e poderosa para pôr os anjos a prova é a de obter o amor de um modo livre. Se Deus não usasse da prova, ainda assim seria glorificado pelos anjos a partir da visão beatífica que estes teriam de seu Criador. Porém, Deus é um ser que ama e que quer ser amado, e esse amor entregue a Ele por parte de suas criaturas não poderia existir se não houvesse uma prova. O mesmo Deus que cria todo o universo, que realiza o impossível, não pode criar esse amor daquele que é provado na fé. O amor a Deus não se cria, é uma doação por parte da criatura.
Fonte: "Summa Daemoniaca, Tratado de Demonologia e Manual de Exorcistas", por Pe. José Antonio Fortea, Editora Palavra & Prece, São Paulo 2007.
* Colaboração de Caio C. Pereira