sábado, 30 de julho de 2011

A Inquisição em seu mundo


Por Eduardo Moreira.

Introdução:

A Inquisição é o tema mais usado para atacar a Igreja Católica. Mesmo os protestantes, que em nada ficam atrás da Igreja quando se trata de intolerância naquelas épocas usam esse tema para promover ofensivas contra os católicos, ignorando que também houve inquisições e chacinas protestantes muito mais cruéis que aquelas cometidas pela Santa Igreja.

As pessoas que promovem os ataques também ignoram o contexto social no qual nasceu a Inquisição. Ignoram que esse episódio se deu em uma época onde a Religião Católica era o sumo bem do povo que em geral era embrutecido pela barbárie ainda tão recente na Europa. Nesse texto, abordaremos com base nos livros de João Bernardino Gonzaga (A Inquisição em seu mundo) e Felipe Rinaldo de Aquino (Para entender a Inquisição) a Inquisição como ela tem que ser abordada, isto é, em seu contexto histórico, político e social.

O homem medieval:

A Idade Média foi uma época difícil. A desigualdade social era muito grande, povos recém cristianizados ainda eram embrutecidos pela barbárie, pelos cultos antigos e pelo código de direito vigente, o Código de Direito Germânico. O sagrado e o profano se misturavam, a expectativa de vida da população era baixa, sendo que os pobres viviam no máximo até os 26 anos, os nobres raramente ultrapassavam os 40 anos e as pessoas mais resistentes dificilmente chegariam aos 58 anos.

O homem medieval era um homem bruto. Não existiam os costumes humanistas que temos hoje. As pessoas eram de um modo geral, incultas e sem muito medo da morte e da dor. Para se ter uma idéia, as poucas cirurgias que existiam eram todas feitas sem anestesia, amputavam-se membros com a pessoa sentindo dores terríveis e os riscos de infecções eram grandes. Ferimentos que exigiam esses procedimentos eram comuns pelos mais diversos fatores como pestes, guerras e crimes cometidos por parte de assaltantes.

Guerras eram bastante comuns. Não havia autoridades policiais como hoje. Devido às condições precárias de higiene, pestes surgiam a todo o tempo. A escassez de alimento também assolava a população, sendo que não raro, em cercos de guerra os vivos tiveram que comer cadáveres e raízes de árvores para sobreviverem. Também entre uma e outra guerra surgia o problema dos soldados. Desempregados entre as guerras, estes viviam de saques, o que tornava as estradas e florestas locais tão perigosos que poucas pessoas se aventuravam a andar sozinhas nos mesmos.

A mortalidade infantil era bastante alta. Não se existia a ciência como hoje. O povo recém cristianizado arrastava ainda os costumes de religiões pagãs onde não havia nenhuma piedade. É bom lembrar que a Igreja Católica foi quem trouxe a Inquisição, mas foi quem trouxe também as instituições de caridade, os orfanatos e os hospitais ao mundo (AQUINO, F., Uma História que não é contada, 3ª ed., Editora Cleófas, 2003).

Os homens tinham a divindade como máximo bem, centro de tudo. Nas situações de perigo constante em que viviam o ser humano confiava sua vida, suas dificuldades e doenças à Deus, única esperança da sociedade medieval ainda tão pouco evoluída. Essa é a sociedade teocentrista, onde tudo é para e por Deus, o sumo bem dos homens.

No mundo teocentrista, o crime de maior gravidade é aquele que lesa a majestade divina, ou seja, ninguém podia falar nada contra as coisas sagradas ou contra Deus. Conta-se que certo herege chamado Pedro Valdo fez uma fogueira de cruzes e para assar carne em plena Sexta-Feira da Paixão. O povo enfurecido por causa de tamanha profanação assou Pedro Valdo ao invés da carne naquela fogueira.

Era esse o homem medieval, zeloso pela religião, bruto e acostumado com a dor e a morte. Relatos históricos mostram que os homens dessa época suportavam o que hoje consideramos terríveis torturas e não temiam a esses castigos pelo simples fato de que a só vida já era dura demais. Além de tudo, os homens da Idade Média eram regidos por um rei e esse rei, não raras vezes, se julgava no direito de dizer o que era ou não heresia. Havia pelo princípio germânico a noção de que a Religião do rei era a Religião do povo.

A heresia era punida pelo estado com pena de morte, mesmo sem nenhuma aprovação da Igreja. Por tal é bom separar em uma análise da Inquisição a Igreja do Estado, muito embora isso seja difícil, pois nessa época os poderes religioso e político praticamente se sobrepunham.

Os antecedentes da Inquisição:

A Inquisição como ouvimos falar surgiu em meados do século XIII. Aconteceu que naquela época as investiduras leigas haviam caído. Os reis não tinham mais tanto poder para investir membros do clero, que por sua vez, estava retomando seu poder pleno. Os reis julgavam muitas vezes de forma injusta as heresias, pois não tinham conhecimento teológico para tal.

A teologia, como toda ciência, ainda estava engatinhando. Ela por sua vez tinha muito misticismo, fruto da influência da sociedade, da qual o clero não estava isolado, pois era daí que saiam os servos de Deus. É um erro pensar que a Igreja era uma instituição a parte, intelectualmente acelerada que não acreditava nas convicções que professava, mas as impunha para manter o poder. A Igreja cria tanto quanto a população nas suas convicções e justamente por isso toda ela pregava o que pensava.

Do misticismo medieval nem mesmo os reformadores que se julgam aqueles que retornaram à fé cristã primitiva estavam livres. Lutero, por exemplo, era de uma família de camponeses que cria em duendes e outras criaturas místicas. O misticismo acerca de Lutero e Calvino era tamanho que muitas vezes os dois chegaram a declarar que jamais sentiram o perdão de Deus, mesmo depois de se arrependerem amargamente de seus pecados.

Nos séculos onde se desenvolveu a Inquisição, conforme já dito, tanto a população quanto os reis vinham fazendo julgamentos, não raro injustos, para deter quem eles julgavam hereges.

Como o misticismo era ainda elevado e havia as crenças remanescentes das culturas anteriores, os homens medievais muitas vezes criam em histórias macabras de bruxaria. Com isso as pessoas se iravam contra mulheres que, inocentes ou não, acabavam mortas com ou sem o consentimento da Igreja. Os membros da Igreja eram tidos muitas vezes como benevolentes demais com os hereges.

Por muitas vezes as pessoas invadiam presídios e raptavam presos em julgamento por heresia para executá-los de forma bárbara e cruel. É fato que a Igreja relaxou várias pessoas ao braço secular para que fossem executadas, mas é fato também que a Igreja foi um órgão de muita tolerância no cenário medieval.

Nesse contexto, remanescentes dos maniqueus, crença herética dualística desviada do cristianismo primitivo, emigraram para o sul da França, precisamente para cidade de Albi. É importante falar quem eram os maniqueus. Santo Agostinho mesmo foi maniqueu, mas em decorrência das orações de sua mãe, Santa Mônica, Santo Agostinho se converteu ao catolicismo. Esse santo argumentou bravamente contra os hereges maniqueus que pela ação agostiniana quase foram extintos.

Os maniqueus em Albi ganharam então o nome de albingenses ou cátaros (termo que soberbamente significa puro). Infelizmente, foram a corrupção e os maus exemplos do clero que instigaram as grandes heresias. Esses hereges ao verem a situação deplorável de certos membros do clero, acabavam desejando de forma obsessiva, orgulhosa e doentia a pureza. Geralmente, as grandes heresias consistem em um núcleo de verdade coberto por uma casca de mentira. Quanto mais forte o núcleo de verdade, mais difícil é de se quebrar a heresia.

Os cátaros pregavam que existiam dois deuses. Segundo eles, o deus que se apresentou a Moisés era um deus perverso que havia aprisionado o deus bom na matéria. Cristo seria, pois, um anjo que teria revelado o deus bom pregando um desapego a matéria, pois essa foi criada pelo deus mau. Segundo os cátaros, o deus do bem estava em toda a matéria e deveria ser liberto por uma espécie de esoterismo, um conhecimento oculto das criaturas. Portanto, nada que é matéria poderia ser bom. Essa é a doutrina pessimista da Gnose.

As conseqüências desse pensamento foram desastrosas. Os cátaros pregavam a pobreza, o desapego total a tudo que é matéria. Proibiam o casamento, pois os filhos eram a perpetuação da desgraça proveniente da matéria, que em si é má. Eram fanáticos e infiltraram-se na Igreja de forma oculta, tomando mosteiros, pessoas do alto clero, universidades e vários outros órgãos. Chegaram a criar dioceses com bispos e sacerdotes. Mesmo a nobreza em parte adotou ao catarismo que crescia as escondidas como uma planta parasita que matava a grande árvore, que é a Igreja.

A Inquisição em si:

Em princípio, a Igreja quis converter os cátaros conforme ensinavam Santo Agostinho e São João Crisóstomo, ou seja, só por pregações. Entretanto, esses mesmos santos haviam dito que a tortura pode ser usada quando não há outro recurso.

Como a pregação estava sendo impossibilitada pelos cátaros, que inclusive chegaram a matar pregadores, a Igreja foi forçada a agir por outros meios. Vale lembrar que os historiadores, em geral, são unânimes quando falam sobre o catarismo. As conseqüências da Inquisição foram graves, mas se o catarismo tivesse se estendido suas conseqüências teriam sido muito piores. Nesse contexto dos historiadores está Henry Charles Lea, protestante hostil a Igreja que apesar dos pesares fala que a causa da ortodoxia contra os cátaros não foi senão a causa da sociedade e do bom senso.

Os cátaros tinham rituais próprios, inclusive “missas”. Em alguns rituais os cátaros se envolviam sexualmente e o fruto dessas relações ao completar oito dias era queimado vivo em uma fogueira. As cinzas do recém nascido eram então adoradas pelos cátaros. Para eles, a reencarnação era a forma de purificação. Com sucessivas reencarnações o ser humano se tornaria puro e voltaria a ser a divindade puramente espiritual que fora um dia.

A Inquisição propriamente dita nasceu em Laguedoc, sul da França no ano de 1184. Todavia, a Inquisição no início não era como se tem hoje. Não havia tribunais fixos, mas sim tribunais convocados. Não havia pena de morte ou tortura. Essas só foram instituídas mais tarde sendo primeiro instaurada a tortura e depois a pena de morte, que era executada pelo estado. Essas penas só foram impostas porque as pregações não surtiram efeito.

Entre 1209 e 1244 o Papa Inocêncio III convocou então as cruzadas contra os cáltaros ou cruzada albingense, sob apoio do nobre herói católico e nobre Simão de Montfort. É importante lembrar que entre os cátaros também era comum o suicídio que visava libertar a alma da matéria (que era tida como ruim). Esse suicídio “sagrado” era chamado de Endura.

Nesse contexto nasceu a Inquisição. Sob a suspeita de heresia a Inquisição era convocada para julgar o caso. É importante falar que embora na nossa concepção atual matar um herege seja errado naquela época não era assim. Tanto os católicos como os hereges achavam normal matar alguém que negasse a fé. A pena de morte também não é anti-bíblica, sendo que São Paulo reconhece que o estado tem autoridade de aplicá-la quando necessário (Cf. Rm. 13).

Importante também é dizer que a Inquisição não era um tribunal algoz, cheio de sarcasmo que matava qualquer um por qualquer coisa sem o menor cuidado. A Inquisição organizava e arquivava processos e a pena de morte era o último recurso a ser usado, pois o objetivo desses tribunais não era matar, mas sim converter os hereges.

Apenas os hereges eram pegos pela Inquisição. Judeus, mulçumanos e outros que jamais haviam sido batizados não podiam ser julgados por esses tribunais. Se o foram em algum período, foi fora das normas estabelecidas pela Igreja. Isso ocorreu nas Inquisições Espanhola e Portuguesa, mas essas são chamadas de Inquisições Régias, pois eram muito mais ligadas ao poder da monarquia desses países e não da Igreja.

Devido à dureza do homem medieval, é perfeitamente compreensível que se apliquem a pena de morte e a tortura, tendo em vista que a justiça da época além de ser embrutecida pelo Código de Direito Germânico, ainda não contava com instrumentos de perícia policial para adquirir provas como hoje.

Os recursos empregados para se incriminar alguém então eram os mais absurdos possíveis para a mentalidade de hoje. A tortura (no Direito Romano), a confissão do réu, os testemunhos e por parte do estado também duelos e os ordálios (no Direito Germânico). Nesses dois últimos casos, se o réu sobrevivesse ou se não se infeccionasse por algum tormento intencionalmente provocado, os medievais consideravam isso como um sinal de que Deus estava em defesa dele. Entretanto, essa prática era condenada pela Igreja que lutou de todas as formas para substituir o Código de Direito Germânico pelo Código de Direito Romano, mais racional, mas que utilizava a tortura.

A admissão da tortura pela Igreja também tinha condições. A tortura não podia mutilar membros ou torná-los tão degradados que necessitassem ser amputados, não podia passar de uma hora e deveria ser feita com acompanhamento médico para dizer até onde poderia ir o suplício. Só em último caso aplicava-se a tortura legalmente. O clero não podia torturar ou matar alguém e assim foi durante toda a Inquisição, mas deveria estar com o sangue pronto para ser derramado pela fé.

Mesmo os algozes e inquisidores deveriam ser pessoas de índole e pessoas piedosas. Quando algum algoz ou inquisidor fugia a regra, ele deveria ser punido, muitas vezes pela Inquisição. Quanto à pena de morte, ela passou a ser empregada só mais tardiamente, quando viram que as repressões usadas não surtiam efeito. Era o estado e não a Igreja que executava a pena de morte, que não é anti-bíblica.

O herege que não se retratava pela Inquisição era convidado a se calar. Só quando o herege insistia em seu erro é que ele era morto, mas a pena de morte poderia ser por pura iniciativa do estado ou por pedido da Igreja. Além do mais, a Inquisição é tida na história, ao contrário do que muitos pensam, como um progresso no direito civil.

Para se ter uma idéia, foram relaxados ao braço secular apenas 1,8% dos casos de bruxaria julgados pela Inquisição. Quando o estado agia cerca de 48,2% dos casos de bruxaria foram executados. As cadeias antes eram lugares horríveis, sem ventilação e iluminação, com péssimas condições de higiene. Foi a Inquisição, para exercitar a penitência dos fiéis que criou as chamadas penitenciárias que por sua vez eram lugares bem arejados, iluminados e com certeza muito mais higienizados que as cadeias do estado. Daí vem o nome penitenciária, do nome penitência, pois as penitenciárias eram lugares para exercitar o arrependimento dos infiéis.

Não só a pena de morte era utilizada, peregrinações e outras formas de penitências poderiam ser impostas. Além do mais, não era só a pena de morte pela fogueira que era empregada, havia também outras formas de se matar os hereges.

Vale lembrar que naquela época, a religião do rei era a religião do povo. Depois da queda do Império Romano, como a única instituição organizada que havia no ocidente era a Igreja Católica, ela teve que agir para que os bárbaros não acabassem com tudo. Se a Igreja não tivesse agido, provavelmente as conseqüências teriam sido bem piores. Foi graças à Igreja que toda a cultura helênica e romana foi salva das destruições dos bárbaros.

Os bárbaros passavam saqueando tudo e causavam destruição e dor por onde passavam. Foi a Igreja quem salvou os tesouros das culturas antigas. Foi justamente por ter guardado isso que foi possível que a própria Igreja restaurasse o racionalismo que ganhou o nome de Renascença.

Hoje em dia se fala (com exageros) em milhões de mortes causadas pela Inquisição. Fecham-se os olhos para as 100.000.000 de vítimas do comunismo que agiu por apenas 50 anos. O número de mortos pela Inquisição Espanhola, a mais sangrenta de todas e com grandes participações do estado, certamente não chegou a 5.000 em seus seis séculos de existência.

A Inquisição Anglicana na Inglaterra matou em sua história mais que toda a Inquisição Católica. Entretanto os professores de história e os grandes “intelectuais” carregados com seus pensamentos marxistas acusam apenas a Igreja Católica de carnificina.

E não para por aí. No Brasil, gêmeos e crianças deficientes indígenas são enterradas vivas com freqüência em nome da “cultura”. Basta que um pajé declare que aquela criança não tem alma. Entretanto, para esses “pensadores” as atrocidades em nome da cultura são justificáveis.

Também as atrocidades em nome da liberdade de expressão e opinião são toleradas, exceto quando o pensamento tem fundo religioso cristão-católico. Veja-se que hoje pelo mundo existem vários partidos e grupos declarados nazistas e comunistas, tipos que tanto fizeram vítimas pelo mundo, entretanto, é só mesmo contra a Igreja que tem graça fazer ataques.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Comunidade anglo-luterana volta à comunhão plena com Igreja Católica

Entrevista da infocatólica com o Metropolita da Igreja Católica Anglo-luterana. 

A Reforma foi um «trágico erro de proporções épicas que nunca devia ter acontecido».

O Arcebispo Irl A. Gladfelter preside uma das confissões cristãs que planejam voltar ao catolicismo nos ordinariatos criados por Bento XVI. A Igreja Católica Anglo-Luterana é a única com raízes luteranas e poderia considerar-se o primeiro passo pra a volta ao redil católico dos herdeiros de Lutero. Numa longa entrevista concedida a Infocatólica, este Arcebispo que ainda não é católico mas sim cooperador da Opus Dei, fala de sua alegria de voltar à Igreja Católica, da importância de uma única fé e de seu compromisso de desfazer a Reforma protestante.

Reverendo Irl A. Gladfelter, Metropolita da Igreja Católica Anglo-Luterana (ALCC), o senhor é biólogo, Doutor em Cirurgia Dental, tenente-coronel reformado do exército americano, Doutor em Teologia e Metropolita da ALCC. Como encontrou tempo para tantas coisas?

Não foi um problema. Só me tornei clérigo depois de ser reformado pelo Exército dos Estados Unidos e como dentista.

Quando foi fundada a ALCC? Por que a combinação de anglicanismo e luteranismo?

A ALCC foi formada em 1997 por antigos membros da Igreja Luterana – Sínodo de Missouri dos Estados Unidos (LCMS), os quais, por serem luteranos orientados ao catolicismo ou “Evangélicos Católicos” (também conhecidos como a “igreja alta”), não podiam aceitar a orientação cada vez mais protestante da LCMS e sua aceitação crescente da teologia evangélica fundamentalista, junto com alguns aspectos da soteriologia e da teologia sacramental que haviam sido importados do Calvinismo por vários meios já na sua fundação e a aceitação cada vez maior de serviços evangélicos não litúrgicos. Nossos fundadores também faziam reparos à teologia sacramental da LCMS, à sua política congregacional, a suas ideias sobre a natureza e o exercício da autoridade dentro da Igreja e à sua compreensão das Ordens Sagradas (o “ofício do ministério público”, segundo a linguagem que utilizam). Inicialmente, a ALCC adotou as posturas da ala “anglo-católica” do anglicanismo (ou anglicanismo da “igreja alta”). Ao longo do tempo, embora respeitássemos as relações que haviam sido estabelecidas com o anglicanismo da “igreja alta”, a ALCC encontrou também problemas com o anglicanismo, incluindo sua recusa da primazia papal, da infalibilidade papal, da infalibilidade do Sagrado Magistério e dos Concílios posteriores aos quatro primeiros Concílios Ecumênicos, além de sua tolerância de alguns graus de teologia eucarística de tipo protestante, que podem ser encontrados na Oração Eucarística do Livro de Oração Comum, entre outros problemas. Finalmente, a ALCC chegou a reconhecer a verdade absoluta da fé católica e se deu conta de que tinha a obrigação em consciência de voltar a Roma. Descreveu-se recentemente a Igreja Católica Anglo-Luterana (ALCC) como “totalmente romanizada” e como uma Igreja que “ensina a doutrina católica sólida, utilizando um vocabulário luterano e anglicano, corrigindo este último com o primeiro”. Ambos comentários são acertados e precisos. Em essência, a ALCC se “romanizou” totalmente, aceitando com entusiasmo a verdade objetiva de todos os aspectos da fé católica.

Foi importante para os senhores a declaração conjunta católica e luterana sobre a justificação (1997)?

Sim. Para a ALCC, a Declaração conjunta católica e luterana sobre a doutrina da justificação decidiu de uma vez para sempre o assunto fundamental da fase de Wittenberg (luterana) da Reforma. Uma vez que esse assunto tenha sido resolvido, a ALCC se deu conta de que tinha a “obrigação em consciência” de entrar na Igreja Católica, marcando o caminho para que outras jurisdições eclesiásticas luteranas (igrejas) possam segui-la.

Quantos membros e paróquias tem aproximadamente a ALCC? Estão presentes somente nos Estados Unidos ou estão também em outros países?

O número total de membros da ALCC é de aproximadamente 11.000 pessoas, nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Sudão e no proximamente independente Sudão do Sul. O maior número corresponde a africanos sub-saharianos, a maioria dos quais são do Sudão do Sul.

De onde vem a maioria de seus membros? Antes de ingressar na ALCC eram luteranos, anglicanos, católicos ou não cristãos?

A maioria de nossos membros não africanos entraram na ALCC procedentes de outras Igrejas luteranas, mas nossos membros sub-saharianos, tanto na África como nos Estados Unidos e Canadá são antigos anglicanos.

Na Comunhão Anglicana, há algumas congregações religiosas anglo-católicas. Também os senhores têm religiosos na ALCC?

Sim, temos uma Prelazia Pessoa, a Ordem de Santo Ambrósio (O.S.A) e uma Sociedade Sacerdotal, a Sociedade Sacerdotal dos Servos do Bom Pastor. A regra e a espiritualidade de ambas se parecem muito com as da Opus Dei. O Vigário Geral da ALCC e eu somos, com grande entusiasmo, Cooperadores da Opus Dei. Alguns de nossos bispos são membros da Confraternidade de São Pedro, dirigida pela Fraternidade Sacerdotal de São Pedro (FSSP), uma sociedade católica.

Ingressarão no ordinariato dos Estados Unidos quando for criado, no final deste ano?

Sim, porque é o que a Congregação para a Doutrina da Fé nos disse que façamos, mas a última palavra será da própria Congregação. Vimos trabalhando com eles desde 2009. Do ponto de vista da ALCC, trata-se de um tema de obediência à Congregação para a Doutrina da Fé. Em nossa petição a Roma para entrar na Igreja Católica (antes da promulgação da Anglicanorum Coetibus) não mencionamos um ordinariato, já que ainda não havia sido publicada a Constituição Apostólica. Por conselho de nosso advogado católico de Direito Canônico, a ALCC pediu apenas para entrar como “sociedade sacerdotal” ou da forma que dispusesse o Santo Padre. Nossa petição terminava com a frase: “O filho pródigo voltou e está à porta. Santo Padre, por favor, deixe-nos entrar”. A ALCC nunca pediu mais que isto. Está à porta e roga que a deixem voltar para casa. Entretanto, quando no outono de 2010 recebemos uma carta do Secretário da CDF notificando-nos que deveríamos entrar na Igreja Católica através das disposições da Anglicanorum Coetibus, por obediência aos desejos do Santo Padre e da CDF, a ALCC aceitou imediatamente estas instruções por escrito. Assim, portanto, atualmente a ALCC espera pacientemente e roga ao Senhor e a sua Bendita Mãe, Maria, que nos permita voltar para casa, a Igreja Católica, seja através da Anglicanorum Coetibus seja por outro meio.

Todos os membros da ALCC se farão católicos ou alguns decidiram esperar ou passar para outros grupos anglicanos ou luteranos?

Todos os membros da ALCC se farão católicos. A diferença de algumas Igrejas Anglicanas, a ALCC não tem “posturas inamovíveis” A ALCC não está interessada em absoluto em “preservar um patrimônio”. Ao contrário, trata-se de uma Igreja profundamente “romanizada”, que trabalha com todas as suas forças para “desfazer” a Reforma, porque considera que foi um trágico erro de proporções épicas, que nunca devia ter acontecido, e procura restaurar a unidade da Igreja segundo os critérios da Igreja Católica. A ALCC não pede para preservar um “patrimônio luterano”. A diferença do patrimônio anglicano, o patrimônio luterano é essencialmente teológico e, ao ter compreendido plenamente as heresias do luteranismo e ao ter aceitado a fé católica, a única coisa que pede e por que reza a ALCC é que se lhe permita “voltar para casa” e entrar na Igreja Católica, como filhos pródigos arrependidos. A única coisa que queremos é nos dissolvermos na Igreja Católica, como católicos normais. Faz tempo que a ALCC tem como política não admitir membros nem aceitar clérigos que não estejam plenamente comprometidos com a causa da unidade da Igreja de Cristo, sanando as feridas que infligiram a essa unidade o orgulho humano e as heresias dos líderes da Reforma protestante. Todos os membros da ALCC devem estar comprometidos em desfazer a Reforma.

Todos os clérigos da ALCC, desde o Metropolita até o último diácono permanente devem assinar uma versão adaptada do Mandato da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, o qual estabelece que “se comprometem a ensinar a doutrina católica e não pregarão, ensinarão, escreverão nem publicarão nada que entre em conflito com o magistério católico”. Este compromisso se controla e se faz cumprir estritamente. Já aconteceu de algum sacerdote ter sido destituído de seu cargo, permitindo-lhe escolher entre sua demissão e a excomunhão, por não cumprir o Mandato da ALCC.

Será um problema para os membros da ALCC a necessidade de aceitar o Catecismo da Igreja Católica, como expressão normativa de fé para os ordinariatos? Que textos utilizam atualmente para catequizar as crianças e os adultos?

Absolutamente. Há anos a ALCC aceitou oficialmente o Catecismo da Igreja Católica como nossa expressão completa da fé cristã. Catequizamos as crianças e os adultos usando o Catecismo da Igreja Católica, o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica da Conferência Episcopal norteamericana, Fé para o futuro: Um novo catecismo ilustrado, publicado pela Liguori Press; o Compêndio de Doutrina Social da Igreja da Conferência Episcopal norteamericana e outros textos católicos unicamente. Para a catequese geral e o estudo, a ALCC usa a Bíblia de Navarra, publicada pela Scepter Press; a New American Bible e a Bíblia Católica de Estudo da Ignatius Press. A ALCC não permite o uso de qualquer catecismo luterano nem de outros catecismos protestantes.

Quais são as principais dificuldades encontradas até agora?

Toda organização nova tem “crise de crescimento” e a ALCC não é uma exceção. Sempre há lugar para melhorar e para formas de desenvolver nossos apostolados de forma mais eficaz. Entretanto, estamos muito bem, levando em conta que a ALCC foi fundada em 1997. A maior preocupação da ALCC, com muita diferença, consiste em conseguir seu objetivo de converter-se na primeira jurisdição eclesiástica luterana que volta à Igreja Católica como grupo unificado desde o final da Contra-reforma.

Uma vez que ingressem num ordinariato, o senhor e os demais bispos e sacerdotes da ALCC terão de ser ordenados como diáconos e sacerdotes católicos. É algo difícil de se aceitar?

Não, em absoluto. Alegramo-nos disto, porque eliminará a possibilidade de qualquer confusão entre os fiéis católicos sobre a validade de nossa ordenação de nossos sacramentos.

Sempre existiu um setor “católico” entre os luteranos?

Si, certamente. A tal setor foi dado muitos nomes: Gneiso-luteranos (luteranos originais), Velhos-luteranos, Luteranos Romanizados e, nos últimos anos, “Católicos Evangélicos”. A ALCC está simplesmente no extremo mais católico desta tradição.

Há outros grupos de luteranos que estão relativamente próximos da Igreja Católica?

Na Suécia existe o movimento Arbetsgemenskapen Kyrklig Förnyelse (União Eclesial Sueca) e outras sociedade menores. Há comunidades monásticas, como o Mosteiro de Östanbäck (um mosteiro beneditino), o convento de Alsike e a Congregação de São Francisco, a Fundação de São Lourenço, a Fundação de Santo Oscar, a Coalizão Eclesial pela Bíblia e a pela Confissão e a Förbundet För Kristen Enhet, que como a ALCC trabalha para conseguir a união visível e como grupo com a Igreja Católica. Na Alemanha existe a St. Jakobus- Bruderschaft, com a qual a ALCC permanece em contato, a Arbeitsgemeinschaft Kirchliche Erneuerung (Grupo de Trabalho para a Renovação da Igreja) da Igreja Luterana da Baviera, Humiliatenorden, St. Athanasius-Bruderschaft, Hochkirchlicher Apostolat St. Ansgar, Bekenntnisbruderschaft St. Peter und Paul, a Kommunität St. Michael en Cottbus, a Congregatio Canonicorum Sancti Augustini e o Priorado de São Wigberto. Há grupos similares na Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia.

O senhor crê que se formará algum tipo de ordinariato para os luteranos no futuro?

Quer se trate de um ordinariato ou de alguma outra estrutura mais simples e menos polêmica para estabelecer e integrar na Igreja segundo o Direito Canônico, como uma “sociedade sacerdotal” ou um “instituto de vida apostólica”, creio que se formará algum tipo de estrutura para que os luteranos de todos os países possam voltar à Igreja Católica. Há de se reconhecer: a Igreja Católica, e em geral o cristianismo, estão sendo atacados atualmente. As comunidades eclesiais como os anglicanos e luteranos se dividem ainda mais sob os ataques do ateísmo, do agnosticismo, da filosofia pós-moderna e das teologias heréticas de tipo liberal. A Igreja não pode se permitir o enfrentamento a essas e outras ameaças em seu estado dividido atual. É hora de os luteranos e outras comunidades eclesiais voltarem à Igreja Católica, para que lhe resulte mais fácil derrotar estas ameaças e realizar a Nova Evangelização promovida pelo Papa Bento XVI e outras pessoas! É hora de recuperar a unidade da Igreja de Cristo! Os luteranos devem se dar conta de que voltar à Igreja Católica não é algo bom, é estupendo. No Getsêmani, Jesus orou para que seus discípulos fossem um, como Ele e o Pai são um, assim a união com a Igreja Católica não é algo “bom”, mas algo “estupendo”, porque Jesus o pediu em sua oração e o ordenou (não o “sugeriu” simplesmente). Os luteranos devem voltar à Igreja Católica porque é o correto, é o único caminho correto.

Em sua homilia de vésperas, na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, em São Paulo Extramuros, em Roma, 25 de janeiro de 2011, o Papa Bento XVI afirmou: “Os esforços para recuperar a unidade entre os cristãos divididos não podem reduzir-se simplesmente a reconhecer nossas diferenças recíprocas e a conseguir uma coexistência pacífica. O que desejamos é a unidade pela qual orou o mesmo Cristo e que, por sua própria natureza, se manifesta numa comunhão de fé, de sacramentos e de ministério. O caminho para esta unidade deve ser percebido como um imperativo moral, uma resposta a um chamado específico do Senhor... Devemos continuar com entusiasmo o caminho para este objetivo”. Isto é exatamente o que pretende fazer a ALCC ao esforçar-se para entrar na Igreja Católica como grupo unificado.

Se se criasse um ordinariato para luteranos no futuro, os senhores deixariam o ordinariato anglo-católico para integrar-se nele?

Certamente, estaríamos interessados e colaboraríamos com qualquer futuro ordinariato luterano ou estruturas alternativas segundo o Direito Canônico atual, mas faremos exatamente o que nos pedirem a Congregação para a Doutrina da Fé e o Santo Padre. Além do mais, os membros da ALCC só queremos converter-nos em católicos normais, como todos os outros, e nos injetar de forma segura no “centro” teológico e social da Igreja Católica. Ficaremos contentes em “florescer” onde quer que o Santo Padre e a CDF nos “plantem” dentro da Igreja Católica.

O senhor crê que sua união com a Igreja Católica influenciará outros luteranos?

Sem dúvida. Faz alguns anos o Pe. Richard John Nieuhaus, um pastor luterano dos Estados Unidos que se converteu ao catolicismo e foi ordenado como sacerdote católico (e era o editor da revista norteamericana First Things), escreveu que enquanto ele apenas podia perceber movimentos de luteranos para a Igreja Católica, algum dia uma Igreja Luterana “dará um passo adiante e então nada voltará a ser igual”. Esperamos e rezamos para que a Igreja Católica Anglo-Luterana seja a Igreja que dará este passo adiante e que isso leve muitos luteranos a abandonar as heresias da Reforma e voltem à fé católica; que se aproxime este bendito dia no qual a oração de Cristo no Getsêmani para que todos seus discípulos sejam um seja de novo uma realidade, em uma só Igreja sob Cristo e seu Vigário nesta terral, o Sucessor de São Pedro. Até este dia, a ALCC terá muito presentes dois lemas usados por nossa Igrejas: (1) “Voltar à unidade do Corpo de Cristo, Igreja por Igreja”, e (2) o lema do escudo papal de São Pio X, “renovar todas as coisas em Cristo”.

Muito obrigado por suas respostas. Espero que tenhamos a oportunidade de entrevistá-lo de novo quando o senhor for um membro do ordinariato.

Foi um prazer!


Tradução: OBLATVS

terça-feira, 19 de julho de 2011

Por uma correta e sagrada Liturgia!


Por John Lennon J. da Silva.

Na semana passada publiquei artigo leia aqui, sobre as deformações que são encontradas em meio a Sagrada Liturgia no Brasil. Esta semana encontrei alguns bons vídeos sobre o mesmo tema. É interessante aos leitores conhecê-los. Já que é importantíssimo buscarmos uma justa compreensão do assunto, e zelosamente nos mantermos fieis ao que a Igreja ensina e crer que dever ser professado e aceito na liturgia católica.

Ontem descobri pela internet, alguns bons vídeos que contêm considerações eficazes e oportunas sobre a noção de “sacrifício”. Já que a liturgia é o próprio calvário onde o Senhor Jesus é imolado em petição pelos nossos pecados, sentimentos e assentimento que devem marcar não só ideologicamente, mas se enraizar nos católicos transpassando a ideologia e vindo a torna-se presentes na prática catequética, estes devem orientar-se sobre alguns princípios de compreensão para que ajudem em uma justo e edificante comportamento interno na celebração dos mistérios cristãos.

O primeiro destes vídeos que quero trazer aos olhos dos leitor(e)s é um parte da participação que fez Dom Henrique Soares da Costa, Bispo Titular de Acúfica e Auxiliar de Aracaju no programa “Escola da Fé” do Prof. Felipe de Aquino. Ele fala muito bem sobre a liturgia e sobre os problemas que ela vêm enfrentando no Brasil.



O segundo vídeo que quero trazer é do Revmo. Pe. Paulo Ricard de Azevedo Junior que em um de seus projetos no site que mantêm, falou recentemente sobre “Música e Liturgia” na sua série de vídeos intitulada “ A Resposta Católica”. É brilhante as considerações sobre a teologia da missa que traz o padre aos que assitem, assim como ao polêmico assunto das músicas, e estilos que podem esta presentes na Santa Missa. Assistam.



O próximo vídeo também é do Padre Paulo Ricardo como é mais conhecido este ortodoxo sacerdote. Neste a uma pequena exposição do que significa o princípio da “inculturação” para a Igreja. É bom salientar que a “inculturação” é usada de forma equivoca para introduzir na liturgia várias formas de aberrações e moldes típicamnete humanos que entram em confronto com os ritos e com a realidade liturgica, como vocês veram o Pe. Paulo Ricardo exclarecer qualquer forma de “inculturação” na liturgia só pode ser feita com autorização especial da Santa Sé. No vídeo também trata-se das ilegitimas “missas-shows”, “missas-afro”, e demais denominações genericas para estas escandalosas celebrações que são verdadeiros abusos liturgicos.



Por último quero presentia-los com um vídeo [legendado] do Cardeal Francis Arinze que de 2002 até 2008 era Prefeito da Congregação para o Culto Divino, congregação a qual compete a missão de orientar e zelar pela aplicação justa do missal romano, exortando as diversas Igrejas locais sobre questões referentes a liturgia católica.



No vídeo que se passa em um evento em que o mesmo cardeal esta á responder algumas perguntas sobre “dança liturgica” [palavra por demais heterodoxa]. E sobre música sécular. Quero deixar registrado uma das frases do Cardeal Arinze que alude muito bem o princípio central, que deve ser divisor de águas na escolha e uso de certas canções durante a Santa Missa, "porque aquilo que cantamos deve manifestar aquilo que acreditamos e não obscurecer nossa fé". O que lembra o tradicional ditado católico em latim “lex orandi, lex credendi.

sábado, 16 de julho de 2011

OEA considera que o aborto não se opõe aos direitos humanos

A ex-presidente da Comissão Interamericana de Direitos humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luz Patricia Mejía, manifestou que este organismo internacional considera que o aborto legal não é contrário aos direitos fundamentais dos seres humanos.

Conforme informa o jornal La Voz, Mejía –que hoje é relatora especial para os direitos das mulheres para a Argentina, Bolívia e Equador– interveio na audiência pública feita no Congresso Nacional argentino para discutir a legalização do aborto.

"Para a Comissão Interamericana de Direitos humanos da OEA, o aborto legal não é contrário à Convenção" Interamericana de Direitos humanos.

Esta convenção, conhecida como o Pacto de San José, data de 1969 e assegura no artigo 4 que "toda pessoa tem direito a que sua vida seja respeitada. Este direito estará protegido pela lei e, em geral, a partir do momento da concepção".

A funcionária argumentou que "a Convenção se refere a preservar em geral o direito à vida desde a concepção" mas como "não é contrário" ao aborto legal.

Mejía fez uma apologia da legalização do aborto a partir dos abortos clandestinos e da mortalidade materna.

Segundo o diário La Voz, "a reunião foi convocada pelo presidente da comissão de Legislação Penal, Juan Carlos Vega , para abordar o tema do aborto, embora no encontro não (os participantes) não tenham analisado nenhum dos projetos” que estão sendo revistos pelos Deputados.

Fonte:

Buenos Aires, 15 Jul. 11 / 02:02 pm (ACI). Disponível em: http://acidigital.com/noticia.php?id=22204 Acesso em: 16 Julho 2011.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

As arbitrariedades contra a Sagrada Liturgia

Por John Lennon J. da Silva.

Uma das maiores feridas deixadas pela crise que enfrenta a Igreja nestas últimas décadas, sem dúvida alguma se trata das “chagas visíveis” que podem ser verificadas na má aplicação da Sagrada Liturgia. Nas últimas décadas as noções de sacrifício que deveriam permear as celebrações de muitas paróquias principalmente no Brasil, parecem ter desaparecido e dado lugar a arbitrarias compreensões de culto.

Que na maioria das vezes não sublinham a presença de Cristo crucificado e sua redenção, deram lugar a picadeiros onde os expectadores aguardam ansiosos por apresentações recheadas de movimentos e emoções; onde não mais o sacerdote faz às vezes de Jesus, mas é o signo do humano. Fato que fazer “Missas” mais atraentes e recheadas de novidades para alguns soam como o melhor atalho para encher os templos de gente.

Há vale salientar que alguns destes preferem fugir de uma boa catequese que converta a alma e coração dos fieis que andam distantes da Igreja, para que sejam estes introduzidos verdadeiramente na fé e prática católica, limitam-se a badalação e a numero expressivo de corações que se animam com os “frutos da terra” (cf. Gn 4,3) que oferece Caim, mas batem em retirada e deparam-se no mundo com seus corações vazios da Palavra de Deus e das orientações eficazes da Igreja.

Do outro lado também se encontra bispos e padres que apoiam e dão aparato para celebrações que na verdade são shows, ao melhor, torna-se o “sacrifício de Caim”. Existe também o modernismo teológico que vigora na ideologia eclesial destes sujeitos, que usam de forma grossa o Concílio Vaticano II para apoiar suas copiosas aberrações; tentam esconder eles que o concílio freia seus erros e proíbe as suas arbitrariedades. Alguns podem alegar que estou sendo duro nas palavras. Mas no momento em que vivemos quando predominam os covardes devem aparecer os duros e zelosos junto à verdade, como profetas que não têm medo de perder sua cabeça por amor ao reino de Deus.

Desde o início a Igreja procurou prestar a Deus um “oficio” puro e perfeito aos moldes dos louvores que prestam continuadamente na eternidade os anjos que ministram na Igreja triunfante composta pelos querubins, serafins, arcanjos, anjos e santos na alegria celeste. Dentre os séculos homens prudentes e iluminados se levantaram a fim de aperfeiçoar e corrigir os erros na liturgia. Para fazer dela um sacrifício perfeito como o de Abel que fora abençoada por Deus. A liturgia sempre foi um misto composto pelas suas raízes hebraicas e legislação dada por Javé á Moisés, que encontra ápice no aprimoramento cristão trazido na encarnação de Cristo e seu sacrifício em expiação de nossos pecados.

As Mentes frívolas de nossos tempos esquecem suas origens e perderam sua identidade. Já não mais fazem para glória de Deus, o sagrado oficio. Mais se gloriam no homem. Em nossos dias os inimigos da religião infiltrados na Igreja vêm a “profanar o santuário, a fortaleza” e como profetiza Daniel, tentam “cessar o holocausto perpétuo” e lutam para instaurar “a abominação do devastador” (cf. Daniel 11,31).

Por isto tomam lugar às arbitrariedades nos movimentos, [exemplo, dança, pulos e gritos]. Sem contar na composição das músicas e nos etilos musicais. Na falta dos paramentos e objetos de uso litúrgico. Mesmo quando os Papas continuam a exortam que cessem os abusos e desregramentos litúrgicos. O Inimigo, a antiga serpente (cf. Ap 20,2) continua e querer ludibriar e atrapalhar o verdadeiro culto a Deus trazendo confusão a Noiva de Cristo. Onde deveria existir o maior de todos os zelos, pois que da Sagrada Liturgia depende a nossa vida de adoração, os livros litúrgicos que deveriam ser luzes; são nestas ocasiões figurantes, as rubricas litúrgicas que deveriam ser sinais nas mãos dos sacerdotes, são negligenciadas. Estes são alguns dos reflexos da “crise na liturgia” que são vistos em muitas celebrações artífices que contribuem para tornar a “Santa Missa” mais humana e menos divina. Quando busco as celebrações ordinárias em minha cidade busco ortodoxia litúrgica, mas o que enxergo e presencio são as palmas de quem não entende nada do que se passa no altar!

Sempre me vêm à memória a Santíssima Virgem, e o apostolo amado e me interpelo como se sentiram vocês “aos pés da Cruz” (cf. Jo 19,25-26). Tinham seus corações repletos de sofrimento, modéstia, espera e silêncio. Estes são os sentimentos que deveriam ser nutridos pelos fieis hoje, são modelos de comportamento ante a realidade da Cruz que na Santa Missa realiza-se o mistério pascal para nossa salvação.

Rezemos para que Deus suscite nos corações dos clérigos e fieis a nuvem de sentimentos e comportamento que detinham os que estavam no Calvário. Que possamos pelejar para que os não católicos ou os que ainda se mantenham longe da sã doutrina vejam com seus olhos que prestamos a Deus um verdadeiro culto e nutrimos e cremos que a Santa Missa é a renovação incruenta do Sacrifício Redentor de Cristo.

Tomemos como palavras para nos guiar em uma melhor postura que devemos alimentar internamente e externamente na Santa Missa, lugar onde Cristo oferece-se de um modo sacramental, debaixo das aparências do Pão e do Vinho. As palavras de São Leonardo de Porto-Maurício.

“Eis o meio mais adequado para assistir com fruto a Santa Missa: consiste em irdes à igreja como se fôsseis ao Calvário, e de vos comportardes diante do altar como o faríeis diante do Trono de Deus, em companhia dos santos anjos. Vede, por conseguinte, que modéstia, que respeito, que recolhimento são necessários para receber o fruto e as graças que Deus costuma conceder àqueles que honram, com sua piedosa atitude, mistérios tão santos.” (São Leonardo de Porto Maurício. Tesouro Oculto).

Que possamos ir à missa e estarmos nela, semelhante aos que assistiram no calvário Jesus Cristo oferece-se de um modo sangrento pelos pecados do homem.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Características das Heresias

Por Marcus Grodi.

No ano 144 d.C., durante um dos momentos mais difíceis da História da Igreja Católica, surgiu a heresia Marcionita que logo se estenderia principalmente pelo Império Bizantino e sobreviveria pelos próximos três séculos, até ser absorvida pelo Maniqueísmo e desaparecer. É possível que seu fundador, Marcião, fosse filho de um dos primeiros bispos de Sinope, uma diocese da Ásia Menor, de onde Marcião era originário. Há quem suponha (baseando-se na conhecida habilidade de Marcião para citar as Escrituras) que ele fosse um bispo renegado pela Igreja. Qualquer que fosse o caso, o certo é que Marcião deu origem a uma das mais persistentes heresias de seu tempo e, para isso, fez uso, pela primeira vez, de certas armas que todos os cristãos dissidentes empregariam no futuro até os nossos dias.

O gênio divisionista de Marcião criou uma nova doutrina pseudocristã, modificando a História Sagrada e publicando um cânon próprio das Escrituras. Isto que hoje nos parece tão familiar - depois de tantos séculos de Bíblias cerceadas, lendas negras e traduções deturpadas da Escritura - era então uma assombrosa novidade que cativou a muitos. Marcião sustentava, como muitos vieram a fazer desde então, que o Deus do Antigo Testamento era vingativo e colérico, que não podia corresponder à mansa e amorosa pessoa de Jesus. A partir de então, desenvolveu uma doutrina dualista que sustentava a existência de duas divindades, uma má (a do Antigo Testamento) e outra boa (a do Novo Testamento).

Ao iniciar uma nova igreja, sempre se tropeça com este problema: o que fazer com a Igreja Católica? Marcião não podia destruir a Igreja de Cristo, porém, podia desqualificá-la. Para isso, teve uma idéia que para nós parece bem desgastada, mas que era muito original naquela época: usar as Escrituras para impugnar a veracidade da doutrina católica.

O problema de usar essa estratégia é que as Escrituras do Antigo Testamento - inspiradas por um "deus mau", segundo Marcião - ofereciam amplo e suficiente testemunho da futura vinda de Jesus. Essa "pequena" inconsistência não foi grande problema para o líder herege, que declarou nulo todo o Antigo Testamento. Ao fazer isto, Marcião estabeleceu outro grande princípio, que quase todo movimento herético seguiria no futuro: eliminar as partes da Bíblia que não convenham à nova doutrina enquanto que, ao mesmo tempo, se exalta a Escritura (modificada) como a autoridade sobre a qual o novo grupo eclesial é fundado.

Recordemos que Marcião apareceu no cenário cristã menos de cinco décadas depois de ter falecido o último Apóstolo de Cristo. A Igreja de então suportava frequentes perseguições, algumas locais e outras mais estendidas. Os Evangelhos e os demais escritos cristãos circulavam sem que houvesse um cânon definido e universal. A Bíblia da Igreja Católica desses anos era a versão dos LXX (ou Septuaginta Alexandrina), que consistia basicamente dos livros que hoje encontramos no Antigo Testamento da Bíblia Católica.

As razões para a ausência de um cânon cristão eram várias, principalmente as constantes perseguições que tornavam impossível aos bispos se reunirem em sínodos gerais, os quais seriam muito perigosos por razões óbvias. Passariam-se quase três séculos até que se apagassem as perseguições imperiais e os bispos pudessem se reunir livremente para considerar quais escritos deveriam ser aprovados para sua inclusão no Novo Testamento. Uma das boas coisas que ocorreu por consequência da heresia marcionita foi justamente isto: a Igreja Católica tomou consciência da importância de possuir uma lista ordenada de escritos cristãos autorizados.

Antes que a Igreja pudesse produzir tal lista, Marcião criou um "evangelho" de sua própria lavra. Nele declarava que o invisível, indescritível e benévolo Deus (aoratos akatanomastos agathos theos) teria se apresentado entre os judeus pregando no dia de sábado. O pseudo-evangelho de Marcião era uma versão modificada do Evangelho de Lucas, editado para apoiar as doutrinas dualistas do fundador da seita.

A esta altura, encontramos no movimento marcionista as características que logo se repetem nas heresias surgidas posteriormente:

1. A base da doutrina é um texto - a Escritura - e não o Depósito da Fé recebido por toda a comunidade, como na Igreja Católica.

2. O texto da Escritura é alterado ou redigido para afirmar as doutrinas do novo grupo, criando assim uma nova e distinta tradição. O oposto ocorre na Igreja Católica, que preserva cuidadosamente e exalta o papel da Escritura dentro do contexto da Sagrada Tradição.

3. Altera-se o contexto histórico ou até a própria História. Isto é feito com o duplo sentido de afirmar a própria doutrina e, ao mesmo tempo, impugnar a Igreja Católica, acusando-a de ser ela quem "conta a História à sua maneira". Curiosamente, estas acusações tão imaturas imprimiram na Igreja o costume de documentar o desenvolvimento da sua própria doutrina na História. Na Igreja Católica a História, as Escrituras e a Doutrina da Igreja devem estar obrigatoriamente de acordo, sempre sem deixar espaço para dúvidas. É por isso que sabemos com certeza que hoje cremos na mesma fé declarada por Cristo e pelos Apóstolos.

Consequentemente, um dos testemunhos mais fortes que pode ser oferecido em favor do Catolicismo é a sua consistência e coerência durante vinte [e um] séculos de História. O mesmo não ocorreu com os marcionitas, que se dividiram em diversas seitas e, de uma espécie de puritanismo original, logo passaram para o Gnosticismo e, depois, para o Maniqueísmo, movimento que acabou absorvendo o Marcionismo por completo. Disto podemos deduzir uma quarta característica das heresias: sua instabilidade.

4. A instabilidade doutrinária e sua consequência (as divisões sectárias), identificam todas as heresias. Seguindo o ditado de "quem com o ferro mata, pelo ferro morrerá", os criadores de divisões na Igreja logo recebem na própria carne o seu amargo remédio.

Podemos afirmar, sem medo de errar, que todos os movimentos dissidentes do Cristianismo que se afastaram da Igreja Católica possuem estas quatro características em menor ou maior grau. Quando Cristo pregou a parábola da videira, disse assim:

"Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem. Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos. Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo. O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando" (João 15,1-14).

É inegável a importância destas palavras de Cristo. A Igreja deve operar em união com Cristo e em unidade interna. É a única maneira de produzir "fruto", isto é, a salvação das almas. Quem espera agir fora desta ordem que Cristo estabeleceu deixa de permanecer em Seu amor. Para permanecer no amor de Cristo, entende-se que devemos guardar os Seus mandamentos. Nesta simples parábola, Cristo resumiu as qualidades da Igreja que deverá durar até o fim do mundo. Todas elas provêm do amor cristão:

- A primeira qualidade é a humildade. Cristo é a videira, a plenitude da fé e o todo da Igreja, enquanto que seus discípulos são os ramos que se nutrem Dele. Não existe outra ordem pela qual algum dos ramos possa dar origem a outra videira distinta.

- A segunda qualidade é a obediência. Somos amigos de Cristo se fizermos o que Ele nos diz. Não há outra opção se O amamos.

- A terceira qualidade é consequência das outras duas: a união. A indivisibilidade da planta produz fruto que dá glória a Deus em Cristo. Essa união é o resultado visível do amor que começa em Cristo e se multiplica nos discípulos.

Como não ocorre - nem nunca ocorrerá - entre aqueles que se separam da Igreja Católica, estas três qualidades distintas produzem o milagre da duração da Igreja na História, que é por si mesma um poderoso testemunho da verdade do Evangelho. Quando Cristo nos adverte que sem Ele não podemos fazer nada, também agrega que nossa relação com Ele só pode ser frutífera. Sem Cristo, os ramos morrem sem dar fruto; com Cristo, a Igreja continua no mundo e na História, dando testemunho do Seu amor em perfeita união. Este é o fruto cristão por excelência!

Tendo comparado as qualidades próprias das heresias e da Igreja, não nos surpreende que as Palavras de Cristo se cumpram na História. Apenas a Igreja fundada por Cristo sobrevive dando testemunho ao longo dos séculos e ao mundo inteiro com a doutrina integral recebida de Cristo. Não importa quão numerosos sejam os membros de uma seita; sabemos que passarão enquanto que a Igreja continuará sua missão até que Jesus retorne. Os poderes malignos continuarão criando divisões, pois isto é da sua natureza; mesmo assim, não prevalecerão contra toda a Igreja (Mateus 16,13-20).

A Igreja já viu passar centenas de seitas, movimentos dissidentes, heresias crassas e toda espécie de inimigos. O testemunho da História é apenas um: a Igreja SEMPRE permanece e seus inimigos SEMPRE passam, pouco importando quão forte ou astuto tenham sido seus adversários. Aquele que a sustenta nunca dorme e Seu braço protetor jamais descansa!

Tradução:

NABETO, Carlos Martins. Blog Veritas Ipsa. [texto original em: http://www.prodigos.org]. Disponivel em: http://veritasipsa.blogspot.com/ Acesso em: 17 abril 2011.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Arte católica antiga: a grandeza bizantina

Em 313, o Imperador Constantino proclamou o cristianismo como uma das religiões permitidas do Estado. Isso provocou uma revolução nas artes da Igreja. Até então, o artista fora um autodidata, aprendendo a trabalhar somente para o momento, sugerindo, insinuando, jamais se entregando totalmente, trabalhando na escuridão, em superfícies pequenas e inadequadas, despreocupado com qualquer coisa que não fosse o presente, cônscio da morte que espreitava em todos os cantos. Agora, subitamente, o brilho da publicidade o envolvia. Ele tinha de decorar basílicas em vez de túneis; glória alguma era demasiada para o Rei dos Reis; antes que seus olhos estivessem acostumados com a luz, exigiram dele grandeza e permanência.

Quase que imediatamente surgiu o difícil problema das imagens. A fé judaica, de onde nascera o cristianismo, interpretara o primeiro mandamento como uma proibição do uso de “imagens esculpidas” para que elas não se transformassem em ídolos. Essa tradição prosseguiu na Igreja primitiva. Assim, a Casa de Deus não teria estátuas. Outras representações também poderiam muito bem ter sido proibidas naqueles primeiros tempos de confuso entusiasmo, se não fosse a lucidez do Papa Gregório Magno, que observou que “a pintura pode fazer pelo analfabeto o que a escrita faz pelos que podem ler”.

Contudo, a rápida técnica da pintura impressionista, que nascera da necessidade de uma vida fugitiva nas catacumbas, deixara de ser apropriada para a Igreja, que representava uma religião oficial do império.

Grandes basílicas estavam sendo construídas sobre os túmulos dos apóstolos e nos lugares santos, custeadas pelos imperadores, cujo gosto pela grandeza e magnificência era satisfeito pelas qualidades duradouras dos trabalhos em mosaico. Os mosaicos são feitos de pequenos cubos de vidro dourado e colorido, sobretudo em cores fortes e ricas. Esses cubos são agrupados em desenhos e quadros e fixados nas paredes, tetos e pisos, onde brilham e cintilam à luz, causando efeitos muito chamativos. Antes da época cristã eles eram usados nos palácios e nos templos dos pagãos.

Os mais antigos mosaicos católicos são encontrados em Roma, na abóbada de Santa Constança, na nave de Santa Maria Maior e na abside de Santa Pudenciana. O estilo das catacumbas ainda está ligado ao mosaico Traditio Legis em Santa Constança. Há em torno dessas figuras um movimento e urgência que não está de acordo com a natureza rígida e formal das pedras de que foram construídas. Ele ainda tem encanto, ao passo que, como meio de expressão, o mosaico exige formalidade. Ele ainda é um tanto rústico, quando deveria ser “distante”. Ainda conta uma história, quando deveria satisfazer-se com uma afirmação.

(O Traditio Legis em Santa Constança)

Os mosaicos de Ravena, mundialmente famosos e singulares, mostram a lenta modificação da ênfase. Examinem primeiramente “O Bom Pastor” no mausoléu de Galla Placidiana, uma pequena edificação de tijolos semienterrada no chão. Ao se entrar nele, saindo da brilhante luz solar, a princípio não se vê nada em sua penumbra, mas lentamente, pelas pequenas aberturas de translúcido alabastro cor de âmbar, passa uma luz resplandecente.

(O Bom Pastor no mausoléu de Galla Placidiana, Ravena)

Os mosaicos, do azul mais profundo, recamado de ouro e prata, cobrem todo o interior e um efeito de grande magnificência sem ostentação revela-se ao espectador. Cristo, o Bom Pastor, ainda é o bom pastor grego, a juventude divina e eterna – mas diferente da figura simples das catacumbas. Ele ainda não é elevado à figura entronizada da arte bizantina, mas ali está Cristo regiamente vestido, usando o ouro e a púrpura do imperador.

Pastoral, e sugerindo um suave ar de paz, esse mosaico nada tem do caráter sentimental e sonhador dos Bons Pastores pintados no século XIX. As ovelhas estão alerta, observando seu pastor, atentas a todas as suas ordens. A paisagem é árida, havendo rochas por toda parte. Tão cedo na arte cristã, já a atitude cristã era representada como de constante vigilância.

O estilo romano-pompeano persiste em todos os mosaicos de Galla Placidia. Luz, sombra e profundidade desempenham um papel importante. O formalismo ainda estava por vir.

Entre o túmulo de Galla Placidia e o batistério de Ravena, a arte cristã se desenvolveu. Ela abandonou seu interesse greco-romano pela narrativa e voltou-se mais para o Oriente, em busca de inspiração. Constantinopla foi sua nova fonte. Infelizmente as mais antigas artes bizantinas se perderam porque Constantinopla, seu berço, foi destruída tantas vezes que pouco dela restou. Ravena representa agora o que Constantinopla outrora deve ter sido.

(Cúpula do batistério em Ravena)

No âmago da arte bizantina encontra-se a idéia de majestade. Cristo é o rei; os anjos, os santos e o imperador são a sua corte. Desapareceu o doce pastor, e em seu lugar está o governante.

No batistério de Ravena são visíveis os primeiros traços da nova influência bizantina. Aqui termina a primeira busca do cristianismo de uma forma própria de manifestar-se artisticamente. Um último e prolongado relance para a passada cultura pagã pode ser visto no batismo de Cristo, a figura central do mosaico do teto.

O jovem Cristo está imerso nas águas do Jordão entre duas figuras: o rude São João Batista está à sua esquerda e um deus semelhante a Netuno dá sua aprovação à direita (na realidade, a figura não é Netuno, mas a personificação do rio Jordão). Eles têm aquela qualidade estática, fixa, nova na arte cristã nessa época, mas que persistirá por muitos séculos em muitos lugares.

Enquanto a grande majestade de Deus estava sendo salientada por toda parte, em Ravena temos uma figura de Cristo, na basílica de Santo Apolinário Novo, desenhada não só para significar a realeza de Deus mas também a benevolência sabedoria e misericórdia do Redentor. Ele tem uma dignidade dificilmente superada. A primitiva idéia do Cristo jovem cedeu lugar à do homem amadurecido.

O estilo bizantino, que teve origem no império de Constantino, influenciou a arte cristã do Ocidente por oito séculos – isto é, por um período mais longo do que aquele que separa Picasso de Giotto. O surpreendente é o pouco que ela mudou em todo esse tempo. Mais tarde, as guerras espalharam os artistas do Oriente por todos os países ocidentais e áurea glória dos mosaicos de Ravena dos séculos V e VI brilhou novamente em Dafni, na Grécia, em Veneza e na Sicília.

(A abside da Catedral de Monreale, Sicília, com um mosaico do século XIII representando Cristo o Governante e Mestre, conhecido como Pantocrator. Foi esse tema, em vez do crucifixo, que por muitos séculos dominou as igrejas católicas e que fixou o caráter da arte bizantina.)

Os mosaicos de Palermo estão entre os mais belos desse período. Ali, e em Monreale, podem-se ver todos os traços tradicionais da arte cristã cuidadosamente conservados. Características são as majestosas figuras de Cristo glorificado, rodeado de anjos e santos.

(Mosaicos do século XI na Capela Palatina, Palermo, representando o nascimento de Cristo e sua entrada em Jerusalém. Alguns dos mais belos exemplares da arte bizantina na Europa se encontram na Sicília.)


A cena da coroação, na igreja Martorana, em Palermo, onde um rei terreno é coroado pelo Rei do Céu, segue a tendência de Ravena. O monarca terreno está luxuosamente trajado e coberto de jóias, mas, em estatura, ele é apresentado num tamanho muito menor do que a figura modestamente trajada de Cristo. Embora essa maneira date do século XII, a forma primitiva persiste. Uma fórmula se transformara numa tradição fixa.

(Cena da coroação, na igreja Martorana, em Palermo)

Outro elemento importante da arte bizantina é o ícone.O ícone tem origem nos retratos funerários da antigüidade greco-romana(fayum). São escritos (maneira de se referir à pintura deles) sobre madeira, na técnica da encáustica ou da têmpera. Como o mosaico, ele se difundiu pelo mundo ocidental. É uma representação rica, rígida e formal de uma simples personagem ou de uma cena, pintados num painel de madeira contra um fundo dourado.

(Ícone georgiano)

E a noção de originalidade?

A noção moderna de que um artista deve ser “original” não era compartilhada pela maioria das pessoas do passado. Um mestre egípcio, chinês ou bizantino ficaria imensamente perplexo se lhe exigissem tal coisa. Tampouco um artista da Europa medieval ocidental teria entendido por que haveria de inventar novos métodos para desenhar um cálice ou representar a História Sagrada, quando os antigos métodos serviam tão bem a esses fins. O piedoso devoto que queria dedicar um novo sacrário para uma relíquia de seu santo padroeiro não só tentava obter o mais precioso material que estivesse ao seu alcance, mas desejaria também dotar o mestre com um antigo e venerável exemplo de como a vida do santo devia ser corretamente representada. Nenhum artista se sentia embaraçado com esse tipo de encomenda; ainda lhe restava campo suficiente para mostrar se era um mestre ou um charlatão.

Talvez possamos entender melhor essa atitude se pensarmos no tipo de música que se pede para tocar num casamento. Numa festa de casamento não esperamos que os músicos componham algo novo para a ocasião, assim como o mecenas medieval não esperava uma nova invenção quando encomendava uma pintura sobre a Natividade para decorar sua capela pessoal. Indicamos o tipo de música que queremos e o tamanho da orquestra ou do coro, se os nossos meios o permitirem. Entretanto, é ainda ao músico que compete apresentar uma execução maravilhosa de uma antiga obra-prima ou fazer desta uma barrafunda inaudível. E, assim como dois músicos igualmente grandes podem interpretar a mesma peça de modos muito diferentes, também dois grandes mestres bizantinos podiam criar obras de arte muito diferentes sobre o mesmo tema e até a partir do mesmo modelo antigo.

Glossário

Neste ponto do nosso trabalho (que é uma série), cabe um pequeno glossário:

Afresco: O termo “afresco”, hoje é sinônimo de pintura mural. Originalmente, porém, era uma técnica de pintar sobre a parede úmida. Vem daí seu nome (“pintura a fresco” ———> “pintura afresco”).

Nesse tipo de pintura, a preparação da parede é muito importante. Sobre a superfície da parede é aplicada uma camada de reboco a base de cal, que, por sua vez, é coberta com uma camada de gesso fina e bem lisa. É sobre essa última camada que o pintor executa sua obra. Ele deve trabalhar com a argamassa ainda úmida, pois com a evaporação da água, a cor adere ao gesso (o gás carbônico do ar combina-se com a cal e a transforma em carbonato de cálcio, fazendo com que o pigmento se fixe na parede).

O afresco se distingue das demais técnicas porque, uma vez seca a argamassa, a pintura se incorpora ao reboco, tornando-se parte integrante dele. Nas outras técnicas, as figuras pintadas permanecem como uma película aplicada sobre um fundo. Além disso, como a parede deve estar úmida para receber a tinta, a camada de gesso é colocada aos poucos. Assim, se alguma área já pronta não receber pintura, ela precisa ser retirada a aplicada posteriormente. Por esse motivo, observando um afresco de perto, podemos notar os vários pedaços em que foi sucessivamente executado.

Têmpera: A têmpera é o nome que recebe um dos modos que os artistas bizantinos utilizavam para preparar a tinta usada em seus ícones. Consiste em misturar os pigmentos a uma goma orgânica, para facilitar a fixação das cores à superfície do objeto pintado. A mais comum é a goma de ovo. O resultado é uma pintura brilhante e luminosa. A partir do surgimento da pintura a óleo, os artistas abandonaram a técnica da têmpera. Mas alguns contemporâneos continuam a usá-la, como foi o caso do pintor brasileiro Alfredo Volpi.

Encáustica: Já a técnica da encáustica foi utilizada desde a Antigüidade. Os gregos usavam-na, por exemplo, para colorir suas esculturas de mármore. O processo consiste em diluir os pigmentos em cera derretida e aquecida no momento da aplicação. Ao contrário da têmpera, cujo efeito é brilhante, a pintura da encáustica é semifosca.

Mosaico: O mosaico consiste na colocação, lado a lado, de pequenos pedaços de pedras de cores diferentes sobre uma superfície de gesso ou argamassa. Essas pedrinhas coloridas são dispostas de acordo com um desenho previamente determinado. A seguir, a superfície recebe uma solução de cal, areia e óleo que preenche os espaços vazios, fazendo com que os pedacinhos de pedra adiram melhor. Como resultado obtém-se uma obra semelhante à pintura.

Os gregos usavam os mosaicos principalmente nos pisos. Já os romanos utilizavam-nos na decoração, demonstrando grande habilidade na composição de figuras e no uso da cor. Na América os povos pré-colombianos, principamente os maias e os astecas, chegaram a criar belíssimos murais com pedacinhos de quartzo, jade e outros minerais.

Mas foi com os bizantinos que o mosaico atingiu sua mais perfeita realização. As figuras rígidas e a pompa da arte de Bizâncio fizeram do mosaico a forma de expressão artística preferida pelo Império Romano do Oriente.

Assim, as paredes e as abóbadas das igrejas, recobertas de mosaicos de cores intensas e de materiais que refletem a luz em reflexos dourados, conferem uma suntuosidade ao interior dos templos que nenhuma outra época conseguiu reproduzir.

Fonte:

MORAIS, Tiago Santos de. Arte católica antiga: a grandeza bizantina. Blog Apologética Católica. Disponível em: http://apologeticacatolicablog.blogspot.com/2011/06/arte-catolica-primitiva-grandeza.html Acesso em: 09 Julho 2011.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Papa Bento XVI "tuíta" pela primeira vez

Cidade do Vaticano (Quarta-feira, 29-06-2011, Gaudium Press) "Caros amigos, acabo de lançar news.va. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Com minhas orações e bençãos, Benedictus XVI". Esta foi a mensagem, desde já histórica, que o Papa Bento XVI enviou aos seguidores do perfil no Twitter do novo portal de notícias do Vaticano, http://www.news.va, lançado ontem pelo pontífice, através de um tablet, do Palácio Apostólico Vaticano.

O inédito "tuíte" pontifício foi escrito na plataforma iPad em italiano, mas traduzido para diversas línguas - há um perfil de notícias do Vaticano na rede social para cada idioma -, inclusive em português. A iniciativa da novidade foi do presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, Dom Cláudio Maria Celli.

Papa escreve primeiro "tuíte" na plataforma iPad

"Devo dizer que o Papa aceitou imediatamente e de bom grado [abençoar os usuários da rede e lançar o portal]. Além disso, ele estima muitíssimo a comunicação e, sobretudo, deseja que a Igreja esteja presente lá onde o homem vive e se encontra", afirmou o arcebispo ao jornal vaticano L'Osservatore Romano, cujos conteúdos noticiosos também comporão, juntamente com os materiais da Radio Vaticana, do Centro Televisivo Vaticano e da Sala de Imprensa da Santa Sé, o novo portal multimídia de notícias da Igreja.

Por enquanto, o news.va está disponível somente em italiano e inglês, mas espera-se que em breve o site esteja abranja outras línguas, como alemão, espanhol, francês e português.

Fonte: