Por Carina Caetano*
A queda dos
anjos
Referência:
"Summa Daemoniaca, Tratado
de Demonologia e Manual de Exorcistas", por Pe. José Antonio Fortea.
*Colaboração:
Caio C. Pereira.
Quem são os
anjos?
Anjo: do grego, ággelos (ἄγγελος);
do latim, ângelus,
mensageiro.
Anjos
são seres espirituais puros, que não possuem corpo nem nada relativo à matéria.
Além de glorificarem a Deus por meio de sua existência, os anjos têm missões e
funções específicas que lhes foram conferidas pelo Criador conforme o grau de
força e inteligência inerente à natureza de cada um. A Tradição e o Magistério
da Igreja nos ensinam serem nove as categorias existentes na hierarquia
angélica. As teses mais embasadas provêm do Pseudo-Dionísio, o Areopagita (entre
os séculos IV e V) e de São Tomás de Aquino (século XIII). Em ordem decrescente,
são estes os nove coros dos anjos:
1º
Serafins, 2º Querubins, 3º Tronos, 4º Dominações, 5º Virtudes, 6º Potestades, 7°
Principados, 8° Arcanjos e 9° Anjos.
Em
toda a Sagrada Escritura encontramos menções a respeito dos anjos.
Logo no capítulo 3 do Livro do
Gênesis lemos que o Senhor, após expulsar Adão e Eva do paraíso, colocou
dois querubins ao Oriente do jardim do Éden para guardar o caminho da árvore da
vida (Gn 3,24).
Independentemente
do coro ao qual pertençam, todos os anjos têm uma função privilegiada em meio à
criação, sendo, como nós, servos do Deus Altíssimo, que têm seu prazer e glória
em glorificar o nome do Senhor por meio do cumprimento da missão que lhes foi
confiada desde o princípio, seja adorando a Deus, seja auxiliando os homens no
caminho da salvação, seja combatendo os demônios.
O que é um
demônio?
Um
demônio é um ser de natureza angélica condenado eternamente. Essa deformação
deu-se por conta de um afastamento de Deus ocasionado de modo voluntário e
irreversível, como nos ensina a Santa Igreja.
Tal
rebelião por parte de alguns anjos é, de fato, irreversível, pois,
diferentemente do que acontece conosco, o pecado cometido pelos anjos é
totalmente isento de paixões, de concupiscência, fazendo assim com que tal
pecado se dê numa decisão elevadíssima do intelecto, que já não está disposto,
ao atingir determinado grau de insistência no pecado, a retroceder à obediência
a Deus.
Assim
como ocorre conosco hoje, os anjos foram submetidos também a uma prova antes que
pudessem ter a visão beatífica de Deus, isto é, antes que pudessem ver a Deus
tal como Ele é.
Essa
prova ao qual foram submetidos os espíritos angélicos é uma constatação da
misericordiosa justiça do Criador, pois por meio dela Deus permitiu que cada um
dos anjos criados, ainda que em diferentes hierarquias, pudessem determinar por
sua própria decisão e perseverança o grau de glória com que iria contemplar
eternamente o Criador, uma vez que esse tempo de prova teria um
fim.
Segundo
tese do padre espanhol José Antonio Fortea, renomado exorcista, os anjos, ao
serem criados, viam a Deus como uma luz que reluzia fortemente acompanhada de
uma voz majestosa. Apesar de nessa ocasião eles ainda não poderem ver a essência
de Deus, sabiam que estavam ali diante de seu Criador; sabiam que lhe deviam
escutar e obedecer. Mas isso segundo a escolha e intensidade de cada
um.
Em meio
a essa prova, uns foram mais fiéis, perseverantes e intensos na busca por um
elevado agrado a Deus, outros menos, e outros ainda recusaram-se a lhE adorar e
prestar obediência, estando convictos que a submissão a Lei Divina mais lhes
faria vítimas de uma tirania do que lhes daria a liberdade e a glória que
almejavam.
É também
quanto a este fato que se refere o texto de Apocalipse
“7.Houve
uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão. O Dragão e
seus anjos travaram combate, 8.mas não prevaleceram. E já não houve lugar no céu
para eles.
9.Foi então precipitado o grande Dragão, a
primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi
precipitado na terra, e com ele os seus anjos”
– Ap 12,7-9.
Essa
identificação com o trecho acima se dá por que essa batalha ocorreu entre os
anjos, de forma que aqueles que queriam rebelar-se contra Deus usavam de seus
argumentos para convencer os demais de que a rebelião seria a melhor escolha. Os
anjos que haviam optado pela fidelidade a Deus por sua vez usavam de seus
motivos para convencer os rebeldes de que a obediência a Deus, além de justa,
era o que realmente lhes faria livres e gloriosos de verdade. Segundo o
exorcista espanhol, em meio a essa batalha, houve baixa de todos os
lados.
Do que
foi apresentado até aqui, podemos verificar que de fato não se trata da batalha
entre os anjos de uma batalha com armas, espadas, correntes nem nada do que
possa ser material e corpóreo. Antes, foi uma batalha certamente intensa, porém,
uma batalha puramente espiritual.
Por
isso, apesar da boa intenção de alguns, não é coerente e nem fundamentado na
caridade querer rezar pela conversão do Diabo ou de algum ser angélico
condenado, pois visto que não possuem paixões que os empurram ao pecado como os
seres humanos, sua decisão em afastar-se de Deus é irrevogável e, apesar de seu
sofrimento atual, os demônios quiseram decididamente esse
fim.
Vale
dizer também que, ao contrário do que pensam alguns, os demônios não foram
atirados por Deus num inferno, nem os anjos foram elevados a outra esfera
celeste. A batalha narrada no Apocalipse, dado o contexto apresentado, teve seu
fim quando Deus, em sua Sabedoria que excede a tudo e a todos, percebeu que cada
anjo, fiel ou infiel iria permanecer imutável na escolha que cada qual tinha
feito durante o período de prova pelo qual passara. Então, Deus mostrou-se tal
como é aos anjos que perseveraram na fidelidade e, por outro lado, ocultou-se
totalmente dos anjos que haviam rebelado-se. E isso fez, a partir de então, com
que cada anjo vivesse o seu céu e cada demônio o seu
inferno.
Portanto, terminada a prova, os
anjos deformados não podem voltar atrás em sua decisão, assim como os anjos que
permaneceram fiéis a Deus não podem um dia vir a tornar-se demônios, pois, uma
vez que possuem a visão beatífica de Deus, sua razão e sua vontade não podem
desejar outra coisa que não estar na presença do Criador, adorando-O e
contemplando-O por todos os séculos dos séculos.