terça-feira, 6 de agosto de 2013

Sola Scriptura: uma doutrina insustentável em si mesma

Por: Eduardo Moreira.


Uma das doutrinas que é de aceitação unânime no meio protestante é a Sola Scriptura. Essa doutrina diz que a Bíblia é a única fonte infalível de doutrina e cada um deve ser inspirado pelo Espírito Santo para lê-la. É sobre essa doutrina e seus equívocos que faremos uma breve exposição nos parágrafos abaixo.

Em primeiro lugar devemos dizer que é importante reconhecer o grande amor às Sagradas Escrituras que nossos irmãos protestantes têm. De fato, se pretendemos vencer o protestantismo devemos reconhecer suas virtudes e essa é uma delas. Entretanto, isso não nos isenta da obrigação de corrigir os equívocos e exageros originados nessa doutrina a fim de mostrar aos nossos irmãos separados o caminho reto que leva a Deus, isto é, a Santa Igreja Católica, o Corpo Místico de Cristo.

            A doutrina protestante se baseia em interpretações distorcidas de vários versículos da Bíblia que, de fato, é um livro inspirado. Para uma refutação mais detalhada que a exposta nesse artigo, recomendamos ao leitor que leia o livro “Somente a Bíblia? 21 razões para rejeitar a Sola Scriptura” que pode ser encontrado nesse link.

Deus nos deixou Sua palavra para nos instruir e essa palavra é, em parte, a Bíblia. Entretanto, por mais sagrada que seja, a Bíblia é um texto e sendo um texto Ela possui interpretações. Os protestantes alegam que o Espírito Santo é quem deve guiar o leitor para uma correta interpretação da Bíblia. No entanto, dizer isso é, na prática, o mesmo que dar a quem a lê o direito à Livre Interpretação, doutrina abertamente condenada por São Pedro em II Pd I, 20. O resultado dessa livre interpretação protestante é uma divisão cada vez maior no seio do protestantismo com os mais variados tipos de doutrina. De fato, as doutrinas protestantes vão desde a negação da divindade de Cristo a aceitação do casamento homossexual.

            Não obstante aos efeitos catastróficos da livre interpretação, é importante notar também que a doutrina da Sola Scriptura é pautada em um absurdo chamado “raciocínio circular”. O raciocínio circular coloca uma causa como efeito num momento e em outro coloca o efeito como causa de forma e não dar uma resposta lógica. Dessa forma, os protestantes afirmam que creem na Bíblia porque ela é inspirada. Quando se pergunta a eles o porquê da inspiração, eles dizem que a própria Bíblia diz isso. Se perguntarmos novamente por que creem no que está escrito nela, respondem que é porque ela é inspirada. Assim sendo, o raciocínio fica andando em círculos.

            Além disso, se o simples fato de “estar escrito” torna um texto inspirado, qualquer um pode escrever qualquer coisa e no fim da coisa escrita dizer que a mesma é inspirada. Entretanto, mesmo os protestantes admitirão, sem problemas, que isso é um absurdo. Além do problema da inspiração, não há na Bíblia um cânon definido de livros citado em nenhum lugar, portanto, nem mesmo a Bíblia define o que é Bíblia.

            Houve, pois, alguém que definiu quais livros compõem a Bíblia e que disse que ela é inspirada. Esse “alguém” é a Igreja Católica que, guiada infalivelmente pelo Espírito Santo, definiu a lista dos Livros Sagrados ao longo dos séculos. Ora, essa mesma Igreja que escreveu e selecionou os livros da Bíblia deixou-nos também uma riquíssima Tradição, tão sagrada quanto a Bíblia e com documentos de mesma autoria daqueles que escreveram as Sagradas Escrituras. Se os autores sagrados deixaram ensinamentos fora da Bíblia e pediram para que os seguíssemos como seguimos as Sagradas Escrituras, por que então os protestantes seguem uma parte e rejeitam outra? Se os mesmos autores, os mesmos bispos disseram sob a mesma inspiração que ambas as coisas são sagradas, por que então aceitar apenas uma parte do que eles disseram?

            A verdade é que existe aqui uma clara negação às origens do cristianismo por parte dos protestantes. Os autores sagrados sob ação do Espírito Santo deixaram não apenas o Livro Sagrado, mas também uma rica Tradição igualmente inspirada. Basta vermos que antes do Novo Testamento ser escrito ele foi anunciado por vários anos na forma de Tradição até passar a forma escrita e só depois de tudo isso passar a fazer parte das Sagradas Escrituras, antes compostas apenas pelos livros do Antigo Testamento.

            Alguns podem objetar: Se Deus queria mesmo que a Tradição fosse considerada Sagrada, por que ela não está na Bíblia? A resposta para essa pergunta está em Mt. XVI, 18: Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja. Ora, Jesus fundou uma Igreja para transmitir a fé aos fiéis, não uma biblioteca. Fazemos, pois, parte de uma Igreja que é um Corpo Místico, não de uma Biblioteca que é um Corpo Místico. Essa Igreja, fundada por Cristo em São Pedro, é a Igreja Católica, a coluna e sustentáculo da verdade (I Tm III, 15).

            Os protestantes tentam negar a fundação da Igreja em São Pedro dizendo que a pedra à qual Cristo se refere é Ele mesmo e não São Pedro. Para isso usam algumas interpretações errôneas do idioma grego, interpretações essas refutadas aqui, em um artigo de Alessandro Ricardo Lima. Entretanto, mesmo sem explicações teológicas profundas conseguimos ver que, se a pedra é Jesus e não Pedro, a sentença de Mt. XVI, 18, perde completamente seu sentido.

            Deus nos deixou, portanto, uma Bíblia que atesta os primeiros anos do Cristianismo, as primeiras definições e certamente uma fonte riquíssima de verdades sobre Jesus Cristo que não deve ser desprezada. Entretanto, a Igreja vive e no decorrer da história e vivência da Igreja foi estruturada a Tradição em plena concordância com o Evangelho. Ademais, a própria Bíblia é parte dessa Tradição, mas em forma escrita. Por fim, todo esse tesouro não só é guardado como também é ensinado pela Igreja de forma infalível através do Espírito Santo. Também a essa Igreja, formada por homens santos e pecadores, foi incumbida a missão de interpretar todo o tesouro da fé, dando ao mesmo seu real significado. Apoiada nesses três pilares: a Bíblia, a Tradição e o Magistério, está sustentada toda fé da Santa Igreja, a única instituída por Cristo para a Salvação dos homens.