Por: Eduardo Moreira
Uma
recente polêmica que vem esquentando a rede social Facebook motivou
esse texto. A polêmica ocorreu por causa de algumas declarações do
vocalista da banda de rock católico Rosa de Saron, Guilherme de Sá,
as quais o Padre Paulo Ricardo respondeu em forma de um vídeo
condenando as frases do cantor como sendo heréticas. Em outras vezes
já cometemos erros no Apostolado São Clemente Romano em julgar
apressadamente as pessoas, mas é evidente que o vocalista dessa
banda precisa esclarecer melhor o que ele disse porque, afinal de
contas, ficou mesmo confuso, muito embora em sua defesa ele tenha
citado a Encíclica Redemptoris Missio do Papa João Paulo II.
A questão
polêmica é sobre o dogma, em princípio enunciado por São Cipriano
de Cartago que diz “extra Ecclesiam nulla salus” (não há
salvação fora da Igreja Católica). Entretanto, essa declaração
forte do bispo de Cartago, um grande orador que viveu no século III,
tem também que ser interpretada para que não se cometam equívocos
como muitas pessoas realmente fazem. Primeiramente é mister dizer
que a verdade é que a doutrina da Igreja não muda, ou seja, aquilo
que era dogma há 2000 anos continua sendo dogma hoje e, portanto, a
afirmação desse santo (que foi elevada a dogma) vale para os dias
atuais. Também Santo Agostinho, o grande bispo e doutor de Hipona se
posicionou em defesa desse dogma e assim sendo nada nos resta a não
ser concordar com ele. Cabe aqui, entretanto, esclarecer 1) o que é
Igreja Católica e 2) o que é o dogma em questão e o porquê das
coisas serem assim.
É
importante dizer que Igreja Católica não é uma mera instituição
como foi difundido pela cultura moderna, especialmente após a
Reforma Protestante como uma via de desmoralizar a Igreja. A Igreja
antes de tudo é o Corpo Místico de Cristo, do qual Cristo é a
cabeça invisível e o Papa é a cabeça visível. É bom dizer
também que não é qualquer um que se salva, afinal, o homem não é
redentor de si mesmo porque se assim fosse, o Sacrifício de Cristo
teria sido inútil. Afirmar que o homem pode limpar a si mesmo do
pecado é cair na heresia gnóstica, uma heresia primitiva irracional
que prega, dentre outras coisas, a negação da matéria e a
reencarnação.
O homem ao
pecar comete uma ofensa infinita contra Deus, que é infinito. Ora,
se o homem comete uma ofensa infinita então ele precisa reparar de
forma infinita, mas o homem sendo finito é incapaz de fazer isso.
Pra reparar as faltas dos homens, Deus, por misericórdia, morreu na
cruz e adquiriu um sacrifício reparatório capaz de limpar qualquer
pecado. Entretanto, Deus adquiriu o mérito pra todos os homens, mas
nem todos os homens tomam parte desse tesouro tão facilmente. Para
que tenhamos os méritos de Cristo devemos formar um corpo com Ele e
esse corpo, conforme já mencionado, é a Igreja Católica, o Corpo
Místico de Cristo do qual fazemos parte através do Batismo (para
mais detalhes leia a obra “Por que Deus se fez homem? de Santo
Anselmo de Cantuária). Ora, se Cristo possui méritos infinitos e se
nós fazemos do Corpo d'Ele, então também nós, pela graça e não
por nosso merecimento, tomamos parte nesses méritos. A nossa conduta
de vida em evitar o pecado nos garante a comunhão com a Graça, o
que nos garante a Salvação. Assim sendo, não é a conduta de vida
que nos salva, ela apenas nos mantém unidos à Salvação que nós
já recebemos de Deus. A salvação vem pela graça, não por nossos
méritos.
Aqui já
sabemos que é condição para a salvação que sejamos parte do
Corpo Místico de Cristo. Entretanto, pela misericórdia Deus estende
esse Corpo a pessoas que não estão fisicamente na Igreja Católica
quando em vida, mas apenas espiritualmente. De fato, a Igreja
Católica é muito maior do que podemos ver. Pessoas que estão em um
estado de ignorância invencível, não pelos méritos próprios, mas
pela misericórdia de Deus também podem se salvar.
Aqui
devemos fazer alguns esclarecimentos para que não haja nenhum
equívoco. 1) não é a religião que a pessoa segue fora da Igreja
Católica que salva (embora todas religiões tenham elementos da
verdade, apenas a Igreja Católica tem a verdade revelada
plenamente), 2) não é o homem que se salva, mas a misericórdia de
Deus e 3) não é por merecimento, mas por graça, misericórdia e
justiça divinas que os não católicos se salvam.
Ora, se em
um ponto remoto da Terra existe um povo que nunca teve entre eles um
pregador, será mesmo que Deus seria justo em cobrar deles algo que
não conhecem? É claro que não! Por causa disso as pessoas que
tiveram uma boa conduta de vida fora da Igreja Católica serão
julgadas não pela sua fé, mas pela sua conduta. Deus deixou uma lei
moral sensível ao homem, isto é, há um criador (a beleza do mundo
nos revela isso) e não devemos fazer com os outros o que não
queremos que façam conosco (amarás o teu próximo como a ti mesmo).
Os pagãos
ao morrerem se encontram com Cristo e Ele, por sua Infinita
Misericórdia, concede a eles seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade
para que tomem parte do riquíssimo tesouro de Cristo. Dessa maneira
a Igreja crê e ensina que aqueles que não pertenceram à fé
católica, a única onde está revelada integralmente a verdade
divina, devem entrar em comunhão com a Igreja, o Corpo Místico de
Cristo, após a morte para que sejam salvas. Para ver um belíssimo
testemunho acerca disso recomendamos que o leitor procure o “Livro
da Vida” que conta a história de Glória Polo, uma colombiana que
teve uma experiência de quase-morte e visualizou um índio recebendo
a Eucaristia antes de entrar no Céu.
Assim
sendo, o dogma da Igreja permanece válido até hoje. Cristo de fato
morreu por todos, a Igreja existe pra todos, qualquer um pode ser
batizado e tomar parte dessa grande graça, mas sem a Igreja não há
salvação. Qualquer afirmação que seja diferente dessa é herética
e condenada pela Igreja e com justa razão. Esperamos que nossos
leitores não sejam divagadores de heresias cujo pensamento é
distinto do que ensina a Santa Madre Igreja.