domingo, 4 de agosto de 2013

Há salvação fora da Igreja Católica?

Por: Eduardo Moreira

 Uma recente polêmica que vem esquentando a rede social Facebook motivou esse texto. A polêmica ocorreu por causa de algumas declarações do vocalista da banda de rock católico Rosa de Saron, Guilherme de Sá, as quais o Padre Paulo Ricardo respondeu em forma de um vídeo condenando as frases do cantor como sendo heréticas. Em outras vezes já cometemos erros no Apostolado São Clemente Romano em julgar apressadamente as pessoas, mas é evidente que o vocalista dessa banda precisa esclarecer melhor o que ele disse porque, afinal de contas, ficou mesmo confuso, muito embora em sua defesa ele tenha citado a Encíclica Redemptoris Missio do Papa João Paulo II.
A questão polêmica é sobre o dogma, em princípio enunciado por São Cipriano de Cartago que diz “extra Ecclesiam nulla salus” (não há salvação fora da Igreja Católica). Entretanto, essa declaração forte do bispo de Cartago, um grande orador que viveu no século III, tem também que ser interpretada para que não se cometam equívocos como muitas pessoas realmente fazem. Primeiramente é mister dizer que a verdade é que a doutrina da Igreja não muda, ou seja, aquilo que era dogma há 2000 anos continua sendo dogma hoje e, portanto, a afirmação desse santo (que foi elevada a dogma) vale para os dias atuais. Também Santo Agostinho, o grande bispo e doutor de Hipona se posicionou em defesa desse dogma e assim sendo nada nos resta a não ser concordar com ele. Cabe aqui, entretanto, esclarecer 1) o que é Igreja Católica e 2) o que é o dogma em questão e o porquê das coisas serem assim.
É importante dizer que Igreja Católica não é uma mera instituição como foi difundido pela cultura moderna, especialmente após a Reforma Protestante como uma via de desmoralizar a Igreja. A Igreja antes de tudo é o Corpo Místico de Cristo, do qual Cristo é a cabeça invisível e o Papa é a cabeça visível. É bom dizer também que não é qualquer um que se salva, afinal, o homem não é redentor de si mesmo porque se assim fosse, o Sacrifício de Cristo teria sido inútil. Afirmar que o homem pode limpar a si mesmo do pecado é cair na heresia gnóstica, uma heresia primitiva irracional que prega, dentre outras coisas, a negação da matéria e a reencarnação.
O homem ao pecar comete uma ofensa infinita contra Deus, que é infinito. Ora, se o homem comete uma ofensa infinita então ele precisa reparar de forma infinita, mas o homem sendo finito é incapaz de fazer isso. Pra reparar as faltas dos homens, Deus, por misericórdia, morreu na cruz e adquiriu um sacrifício reparatório capaz de limpar qualquer pecado. Entretanto, Deus adquiriu o mérito pra todos os homens, mas nem todos os homens tomam parte desse tesouro tão facilmente. Para que tenhamos os méritos de Cristo devemos formar um corpo com Ele e esse corpo, conforme já mencionado, é a Igreja Católica, o Corpo Místico de Cristo do qual fazemos parte através do Batismo (para mais detalhes leia a obra “Por que Deus se fez homem? de Santo Anselmo de Cantuária). Ora, se Cristo possui méritos infinitos e se nós fazemos do Corpo d'Ele, então também nós, pela graça e não por nosso merecimento, tomamos parte nesses méritos. A nossa conduta de vida em evitar o pecado nos garante a comunhão com a Graça, o que nos garante a Salvação. Assim sendo, não é a conduta de vida que nos salva, ela apenas nos mantém unidos à Salvação que nós já recebemos de Deus. A salvação vem pela graça, não por nossos méritos.
Aqui já sabemos que é condição para a salvação que sejamos parte do Corpo Místico de Cristo. Entretanto, pela misericórdia Deus estende esse Corpo a pessoas que não estão fisicamente na Igreja Católica quando em vida, mas apenas espiritualmente. De fato, a Igreja Católica é muito maior do que podemos ver. Pessoas que estão em um estado de ignorância invencível, não pelos méritos próprios, mas pela misericórdia de Deus também podem se salvar.
Aqui devemos fazer alguns esclarecimentos para que não haja nenhum equívoco. 1) não é a religião que a pessoa segue fora da Igreja Católica que salva (embora todas religiões tenham elementos da verdade, apenas a Igreja Católica tem a verdade revelada plenamente), 2) não é o homem que se salva, mas a misericórdia de Deus e 3) não é por merecimento, mas por graça, misericórdia e justiça divinas que os não católicos se salvam.
Ora, se em um ponto remoto da Terra existe um povo que nunca teve entre eles um pregador, será mesmo que Deus seria justo em cobrar deles algo que não conhecem? É claro que não! Por causa disso as pessoas que tiveram uma boa conduta de vida fora da Igreja Católica serão julgadas não pela sua fé, mas pela sua conduta. Deus deixou uma lei moral sensível ao homem, isto é, há um criador (a beleza do mundo nos revela isso) e não devemos fazer com os outros o que não queremos que façam conosco (amarás o teu próximo como a ti mesmo).
Os pagãos ao morrerem se encontram com Cristo e Ele, por sua Infinita Misericórdia, concede a eles seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade para que tomem parte do riquíssimo tesouro de Cristo. Dessa maneira a Igreja crê e ensina que aqueles que não pertenceram à fé católica, a única onde está revelada integralmente a verdade divina, devem entrar em comunhão com a Igreja, o Corpo Místico de Cristo, após a morte para que sejam salvas. Para ver um belíssimo testemunho acerca disso recomendamos que o leitor procure o “Livro da Vida” que conta a história de Glória Polo, uma colombiana que teve uma experiência de quase-morte e visualizou um índio recebendo a Eucaristia antes de entrar no Céu.
Assim sendo, o dogma da Igreja permanece válido até hoje. Cristo de fato morreu por todos, a Igreja existe pra todos, qualquer um pode ser batizado e tomar parte dessa grande graça, mas sem a Igreja não há salvação. Qualquer afirmação que seja diferente dessa é herética e condenada pela Igreja e com justa razão. Esperamos que nossos leitores não sejam divagadores de heresias cujo pensamento é distinto do que ensina a Santa Madre Igreja.