Ter amor por aqueles que são crucificados todos os dias
Por: Eduardo Moreira
Por: Eduardo Moreira
Pode alguém pensar que Maria sofreu apenas pela morte de Cristo por
ser Ele seu filho. Nada mais insensato! Cristo do alto da Santa Cruz
deu sua Mãe a todos os homens para que, confiando nela, fossem
salvos passando pelos caminhos queridos por Deus e que a Virgem Maria
foi capaz de conhecê-los. Essa verdade deveria ser unânime entre os
cristãos, mas mesmo entre as Igrejas Apostólicas há aqueles que
mantém uma devoção fraca e cuidadosa para com a Santíssima
Virgem. Essas pobres almas escondem em seu interior uma profunda
soberba, pois pensam que por si próprias podem atingir o Cristo que
habita nos Céus, no mais Alto e Inacessível que podemos conceber.
Maria, pois, não sofreu apenas com a morte de Cristo, Ela continua a
sofrer ao ver cada filho d'Ela ser desprezado e crucificado pelos
homens. E quantas almas são crucificadas todos os dias? Quantas
pessoas sob as quais Cristo se esconde são ignoradas nas ruas onde
estão famintas, maltrapilhas e abandonadas (Mt 25, 40)?
Maria sofreu por cada apóstolo que foi morto, cada discípulo
perseguido e exilado, e continua a sofrer, mesmo hoje, ao ver com
pesar que seus próprios filhos não se ajudam. Longe dos discursos
socialistas que só fizeram tudo aquilo que condenaram, Maria
pede-nos hoje para sermos mais humanos.
Cristo não veio ao mundo para nos ensinar a sermos Deuses, mas sim
para mostrar ao homem o caminho, a via perfeita de ser plenamente
homem, imagem e semelhança de Deus, demonstrando compaixão para com
todos, inclusive para com os mais necessitados.
Cada vez que vemos a desigualdade social gritante se alastrar pela
Terra e ficamos calados ou, pior, até apreciamos esse alastramento
medonho, somos cúmplices do diabo e permitimos que a mensagem do
Evangelho seja usurpada por grupos que, em nome do fim da pobreza,
defendem atitudes imorais, assassinato de bebês no ventre materno,
massacres das pessoas que seguem alguma religião, enfim, todo tipo
de ódio que se possa imaginar. O socialismo é a soma das virtudes
enlouquecidas. Esse regime coloca virtudes acima de Deus, extingue o
ser humano enquanto indivíduo e provoca as piores tragédias que se
conhece quando colocado em prática.
O bom cristão não pode ser socialista porque o socialismo promete
apenas a ajuda material e trata o ser humano como uma parte do
coletivo. O bom cristão enxerga o próximo como ser humano, não
como membro de uma sociedade. Ninguém pode se dizer cristão se não
tem compaixão pelo próximo ou se concorda com as mazelas mundiais
da fome e da doença. Cristo disse que veio para que todos tivessem
vida, e vida em abundância!
Cada vez que negamos ajudar o próximo, tratá-lo como ser humano,
negamos isso ao próprio Cristo. Cada vez que ignoramos os anseios do
irmão, ignoramos o próprio Cristo que, sendo Rei, veio à Terra
pobre como um mendigo.
Tal como Maria teve pena de seu Filho crucificado, também nós
devemos ter pena de tantos que são crucificados todos os dias. Se
jejuamos, aquele alimento do qual nos abstemos não deve ser
reservado, mas sim servir de sustento a quem não o tem. Cabe também
a nós em cada jejum ou penitência, não só nos abstermos friamente
do alimento, mas também entregar esse sofrimento a Deus pelas mãos
Imaculadas de Maria para que Ela, dispenseira de todas as graças,
aplique como for melhor.
Além da abstinência, da partilha e da entrega, convém também que
façamos, pelo menos por um breve instante, uma reflexão acerca das
pessoas que passam por esses sofrimentos todos os dias, não
espontaneamente, mas sim por não ter lhes restado opção. Dessa
forma certamente quando algum desses pequeninos nos vier pedir alguma
coisa saberemos nos colocar em seu lugar, conseguiremos imaginar o
desespero e a dificuldade que ele está passando e não pensaremos
duas vezes em ajudá-lo e em tratá-los com dignidade.
As mães bem sabem de quantos sacrifícios fazem pelos filhos. Maria,
naqueles tempos difíceis, certamente se absteve de muitas coisas
para o bem do próximo, de Jesus e de São José principalmente.
Certamente esse grande exemplo de santidade moldou grandes santos
como São Francisco que ficava feliz quando, mendigando, ganhava um
pão que não usava para o próprio sustento. São Francisco ficava
feliz porque com aquele pão não mataria a própria fome, mas sim a
fome do irmão.
Nisso se resume a passagem de 1 Cor 13 na qual podemos ver que o
verdadeiro amor pensa antes no próximo que em si mesmo. Deus não
pensa em Si mesmo, mas sim nos seus filhos porque não há nada de
que Ele necessite. Quando procuramos imitar a Deus através da
Imitação de Maria nosso egoísmo se extingue e, tal como São
Francisco, ficamos felizes ao vermos que poderemos ajudar o próximo.
Também testemunhou essa virtude com profundidade Madre Tereza de
Calcutá que, saindo de si mesma, foi viver na Índia cuidando de
pessoas que nem católicas eram porque viu nelas não hindus, mas
criaturas de Deus necessitadas de pão e compaixão. Esse é, talvez,
o maior esplendor do cristianismo e também sua maior riqueza, como
disse Santo Estêvão, nossa maior riqueza são os órfãos, as
viúvas e os mendigos.