quarta-feira, 26 de junho de 2013

Liberdade, Justiça, Amor ao Próximo e Misericórdia

Por: Eduardo Moreira


Ao ler um texto do Papa João Paulo II, o grande Papa da paz, lembrei-me de um antigo chavão que circulava entre as escolas pelas quais passei durante os ensinos fundamental e médio. Aquele chavão era necessário e os professores foram muito sábios em divulgá-lo porque com ele aprendemos o que era a liberdade bem no tempo em que revogávamos para nós esse atributo sem conhecermos exatamente o que era. O chavão era: há uma grande diferença entre liberdade e libertinagem.
Naquela concepção, tínhamos a impressão de que a liberdade era poder fazer tudo o que quiséssemos sem nenhuma influência. Entretanto, onde é que não há influência? Somos influenciados por tudo, pela mídia, pela educação que recebemos de nossos pais, pelo ensino dado nas escolas, etc. Enfim, na atual conjuntura das coisas acho impossível o ser humano não ter influencia de ninguém ou nada, afinal, não se pode negar a forte influência que recebemos do meio que por sua vez forma quem somos. Se não somos influenciados pelo meio conservador, somos influenciados pelo meio revolucionário. Em ambas situações somos influenciados de forma tal que não se pode dizer por isso que somos livres.
Então, o que dizer da liberdade? Existiria alguma liberdade?
A resposta é simples: a liberdade está no ato de escolha. Eu sou livre pra escolher que influência eu terei. Sou livre para discordar das influências e livre para, a partir de outras influências, tentar melhorar minha vida.
Liberdade não é sair fazendo o que se bem entende. A liberdade existe apenas para se praticar o bem, do contrário, com justa razão recebe a prisão quem usa mal sua liberdade. Portanto, é útil pensar que só temos liberdade para fazer aquilo que não agrida a liberdade de outros, ou melhor, para fazer aquilo que gostaríamos que fizessem por nós.
Nisso consiste o amor: fazer pelo próximo o que desejamos que ele faça por nós. Nisso também consiste a verdadeira justiça, a justiça com misericórdia que é indulgente para com os arrependidos. Se erramos, desejamos que todos sejam indulgentes conosco. Ora, se assim é, devemos ser indulgentes com todos os que se arrependem de terem feito o mal. É essa a justiça perfeita.
Certa vez um amigo me chamou a atenção para um fato interessante: não devemos nos zangar com o próximo pelo fato dele ter pecados diferentes dos nossos. Quer dizer, pecados todos temos, então, porque somos tão indulgentes com nossos próprios erros e não toleramos os menores deslizes de nossos semelhantes?
A verdadeira paz depende de tudo isso, da liberdade, da justiça, do amor ao próximo e da misericórdia. Entretanto, não devemos nos enganar porque há uma paz assassina e pacifista que ronda nossa sociedade. O fato de eu dever amar ao próximo não significa que eu não deva aplicar a ele a justiça, porque, do contrário, em nada estou colaborando para o crescimento pessoal dele.
Na justa medida, é perfeitamente aceitável a aplicação de penas para punir e fazer refletir quem erra, bem como para isolar um malfeitor da sociedade que pode se tornar uma vítima de seus criminosos. Não se trata aqui de aplicar a pena de morte a quem rouba uma caixa de fósforos, porque isso seria a justiça sem misericórdia, ou seja, seria uma justiça absurda e implacável.
Trata-se, pois, de aplicar penas justas aos indivíduos que erram visando retirar o risco da sociedade enquanto o indivíduo se reabilita para ingressar nela novamente.
A grande arte da vida é encontrar o equilíbrio, porque medidas extremas sob aspecto de liberdade só escravizam o ser humano. Como disse o poeta, “disciplina é liberdade”, entretanto, não há disciplina no terrorismo e nem na inquietação exacerbada. Ao contrário, as pessoas extremamente inquietas são pessoas doentes, que já perderam o sossego na vida e procuram desesperadamente uma solução sem encontrá-la. São pessoas que já não ligam para a dor alheia, para o próximo e para a sociedade e muito dificilmente conseguirão fazer algo útil para alguém. Precisamos, pois, de mais Cristos e de menos revolucionários.