Ao ler um texto do Papa João Paulo
II, o grande Papa da paz, lembrei-me de um antigo chavão que
circulava entre as escolas pelas quais passei durante os ensinos
fundamental e médio. Aquele chavão era necessário e os professores
foram muito sábios em divulgá-lo porque com ele aprendemos o que
era a liberdade bem no tempo em que revogávamos para nós esse
atributo sem conhecermos exatamente o que era. O chavão era: há uma
grande diferença entre liberdade e libertinagem.
Naquela concepção, tínhamos a
impressão de que a liberdade era poder fazer tudo o que quiséssemos
sem nenhuma influência. Entretanto, onde é que não há influência?
Somos influenciados por tudo, pela mídia, pela educação que
recebemos de nossos pais, pelo ensino dado nas escolas, etc. Enfim,
na atual conjuntura das coisas acho impossível o ser humano não ter
influencia de ninguém ou nada, afinal, não se pode negar a forte
influência que recebemos do meio que por sua vez forma quem somos.
Se não somos influenciados pelo meio conservador, somos
influenciados pelo meio revolucionário. Em ambas situações somos
influenciados de forma tal que não se pode dizer por isso que somos
livres.
Então, o que dizer da liberdade?
Existiria alguma liberdade?
A resposta é simples: a liberdade
está no ato de escolha. Eu sou livre pra escolher que influência eu
terei. Sou livre para discordar das influências e livre para, a
partir de outras influências, tentar melhorar minha vida.
Liberdade não é sair fazendo o
que se bem entende. A liberdade existe apenas para se praticar o bem,
do contrário, com justa razão recebe a prisão quem usa mal sua
liberdade. Portanto, é útil pensar que só temos liberdade para
fazer aquilo que não agrida a liberdade de outros, ou melhor, para
fazer aquilo que gostaríamos que fizessem por nós.
Nisso consiste o amor: fazer pelo
próximo o que desejamos que ele faça por nós. Nisso também
consiste a verdadeira justiça, a justiça com misericórdia que é
indulgente para com os arrependidos. Se erramos, desejamos que todos
sejam indulgentes conosco. Ora, se assim é, devemos ser indulgentes
com todos os que se arrependem de terem feito o mal. É essa a
justiça perfeita.
Certa vez um amigo me chamou a
atenção para um fato interessante: não devemos nos zangar com o
próximo pelo fato dele ter pecados diferentes dos nossos. Quer
dizer, pecados todos temos, então, porque somos tão indulgentes com
nossos próprios erros e não toleramos os menores deslizes de nossos
semelhantes?
A verdadeira paz depende de tudo
isso, da liberdade, da justiça, do amor ao próximo e da
misericórdia. Entretanto, não devemos nos enganar porque há uma
paz assassina e pacifista que ronda nossa sociedade. O fato de eu
dever amar ao próximo não significa que eu não deva aplicar a ele
a justiça, porque, do contrário, em nada estou colaborando para o
crescimento pessoal dele.
Na justa medida, é perfeitamente
aceitável a aplicação de penas para punir e fazer refletir quem
erra, bem como para isolar um malfeitor da sociedade que pode se
tornar uma vítima de seus criminosos. Não se trata aqui de aplicar
a pena de morte a quem rouba uma caixa de fósforos, porque isso
seria a justiça sem misericórdia, ou seja, seria uma justiça
absurda e implacável.
Trata-se, pois, de aplicar penas
justas aos indivíduos que erram visando retirar o risco da sociedade
enquanto o indivíduo se reabilita para ingressar nela novamente.
A grande arte da vida é encontrar
o equilíbrio, porque medidas extremas sob aspecto de liberdade só
escravizam o ser humano. Como disse o poeta, “disciplina é
liberdade”, entretanto, não há disciplina no terrorismo e nem na
inquietação exacerbada. Ao contrário, as pessoas extremamente
inquietas são pessoas doentes, que já perderam o sossego na vida e
procuram desesperadamente uma solução sem encontrá-la. São
pessoas que já não ligam para a dor alheia, para o próximo e para
a sociedade e muito dificilmente conseguirão fazer algo útil para
alguém. Precisamos, pois, de mais Cristos e de menos
revolucionários.