domingo, 11 de julho de 2010

Ex-Testemunha de Jeová e Batista, Tom Been

Seque-se mais um testemunho, da Serie de Testemunhos de Ex-Protestantes, que estamos postando no blogger, testemunhos que foram retirados de varios sites na internet. E reunidos, sendo agora publicados aqui no blog do Apostolado São Clemente Romano (http://www.apologeticacatolica.com.br/).


O Caminho de Arizona a Roma

Um ex-membro do quartel-general dos Testemunhas de Jeová no Brooklyn (EUA) e sua esposa foram admitidos na Igreja Católica em 2006. Esta é a história desde o início:

"Meu pais foram batizados como testemunhas de jeová na primavera de 1954, logo após o meu quarto aniversário. Meu pai, àquela altura um rancheiro dedicado à criação de gado, cresceu sem freqüentar nenhuma igreja. Minha mãe tinha sido, até então, nominalmente metodista, sem freqüentar regularmente a sua igreja. Ambos foram atraídos pela versão de Cristianismo oferecido pela Torre da Vigia, aderindo a esta crença com grande entusiasmo.

PROGRESSO NO BROOKLYN 
LIÇÕES DE HISTÓRIA 
UMA MUDANÇA DE VISÃO FUNDAMENTAL

A SAGRADA TRADIÇÃO



Em cerca de dois anos, convencidos de que o fim do mundo (o Armagedon) se aproximava, venderam sua casa localizada no Phoenix (Arizona) e se ofereceram como voluntários 'para mudar para um lugar onde a necessidade de pregadores fosse mais urgente'. Em 1956, meu pai foi nomeado superintendente da Congregação Cottonwood, no Arizona, que nessa época era formada apenas por nossa família e um testemunha de jeová já em idade avançada. Em 1960 o grupo já tinha crescido; era uma pequena, porém muito dedicada Congregação composta por uma dezena de famílias. Papai rejuvenesceu o idioma espanhol que aprendera na escola secundária e fundou um pequeno grupo de estudo da Bíblia entre os hispânicos de Cottonwood. Pouco depois, a pedido da Sociedade Torre da Vigia, nos mudamos para El Centro, um povoado ao sul da Califórnia, onde meu pai serviu como superintendente de uma Congregação de fala hispânica.


Minha mãe e eu começamos a estudar espanhol. Eu aprendi o idioma com grande facilidade, porém ela teve muitas dificuldade para aprendê-lo e nunca conseguiu falá-lo fluentemente. Alguns anos depois, nos pediram novamente para que mudássemos para uma pequena Congregação de fala hispânica do Arizona. Após concluir a escola secundária em 1967, me dediquei ao ministério em tempo integral (Precursorado). Como resultado, fui classificado como 'Ministro Religioso' pela Junta local de recrutamento das forças armadas e fui isentado de prestar o serviço militar. No verão de 1968, por sugestão dos meus pais, apresentei a minha proposta para trabalhar no centro mundial dos Testemunhas de Jeová, no Brooklyn (Nova Iorque). Fui admitido e comecei a trabalhar ali a partir de 14 de novembro de 1968.

No Lar de Betel - como normalmente é chamado a central do Brooklyn - me apliquei com diligência ao meu trabalho. Estava determinado a aprender tanto quanto fosse possível sobre os ensinamentos da Torre da Vigia. Minha vontade de entregar-me ao trabalho e uma aptidão natural para o mesmo resultou que me fossem atribuídas outras responsabilidades, as quais geralmente eram reservadas a pessoas com mais idade do que eu.


Pouco depois da minha chegada a Betel, meus pais começaram o ministério em tempo integral (Precursorado). Meu pai foi convidado a ser superintendente de circuito (pregador itinerante) e assim se dedicou a visitar as Congregações de fala hispânica no sudoeste e nordeste dos Estados Unidos por cerca de 10 anos.



Em Nova Iorque fui apontado, aos 19 anos de idade, como membro do Comitê de Serviço de minha Congregação local; aos 21 anos, já era ancião. No ano seguinte, fui nomeado "ancião betelita". Como tal, me cabia falar nas conferências e assembléias públicas como representante da Torre da Vigia. Aos 26 anos, fui o orador principal na assembléia de distrito de Roanoke (Virgínia). Em Betel, passei a trabalhar no linotipo principal, que imprimia a revista "A Atalaia". Um ano depois, fui nomeado supervisor de uma série de linotipos. Aos 27 anos, fui nomeado superintendente da oficina de impressão. Cultivava amizades com membros influentes e responsáveis por Betel, muitos deles escritores ou pessoas que trabalhavam em outras oficinas importantes, as quais eram atribuídas aos testemunhas mais leais e melhor formados. Nesses tempos, mantinha diálogo com eles acerca dos ensinamentos da Sociedade e do funcionamento da Organização.



Em finais de 1973, voltei a me encontrar com uma jovem e encantadora mulher, chamada Glória, que também era betelita e que tinha conhecido pouco depois de sua chegada a Betel, no ano de 1971. Namoramos por algum tempo, nos noivamos e nos casamos em 25 de maio de 1974. Glória, da mesma forma que eu, era uma fervorosa entusiasta da Sociedade Torre da Vigia e uma pessoa bastante trabalhadora. Ambos tínhamos decidido dedicar completamente nossas vidas como membros da sede principal durante os poucos anos que faltavam para chegar o fim do mundo no Armagedon. Nós dois aprendemos francês e nos oferecemos para trabalhar com os testemunhas de fala francesa, em sua maioria haitianas, em Newark, Nova Jersei. 



SURGEM DÚVIDAS INQUIETANTES


Embora fosse testemunha de jeová durante quase 10 anos (me batizei em 1959), nunca tinha lido a Bíblia em sua totalidade. Decidi-me então a fazê-lo. Isto suscitou muitas dúvidas que assaltavam meus pensamentos. Quanto mais lia, mais contradições encontrava entre as simples explicações que ofereciam as Escrituras e as minhas crenças como testemunha. No princípio, atribuí a minha falta de compreensão à minha própria juventude e inexperiência. Porém, com o passar do tempo, o respeito e a confiança que os meus pares me conferiam passaram a aumentar. A esta altura, comecei a comentar cautelosamente as minhas dúvidas acerca da Bíblia aos membros superiores e mais respeitados da sede principal. Fiquei surpreso ao descobrir que muitos deles tinham os mesmos problemas que eu e também da forma sincera de se abordar esses assuntos. Comecei a olhar os ensinamentos da Torre da Vigia de diversos pontos de vista a partir da publicação do livro 'Auxílio para Entender a Bíblia', em 1971. Ocorreram mudanças na Organização que abriram as portas para o exame de outros ensinamentos fundamentais. Perguntava-me: 'Se nos enganamos pensando que certas atividades eram solidamente baseadas nas Escrituras, não poderíamos estar enganados também nas doutrinas?' E eu não era o único que perguntava essas coisas... Durante a década de 1970, uma crescente quantidade de pessoas sinceras da sede principal passou a ler outras traduções bíblicas além da Tradução do Novo Mundo da Torre da Vigia e ainda comentários bíblicos. Começamos a nos reunir em grupos informais; estudávamos e debatíamos abertamente, sem a 'assistência' das publicações da Torre da Vigia. Em 1979, me convenci que era impossível reconciliar certos ensinamentos-chaves da Torre da Vigia com a Bíblia. No entanto, ainda acreditava que Deus estava guiando a Organização, de forma que achava que grandes mudanças ocorreriam em breve. As aguardei com grande expectativa. Por outro lado, minha esposa Glória estava descontente em Betel. Suas dificuldades não eram, primariamente, de índole doutrinária, mas tinham a ver com a maneira como as pessoas eram tratadas. Desejava abandonar Betel para ter filhos. Segundo a minha forma de ver, a cronologia da Torre da Vigia estava correta; portanto, não conseguia entender o porquê de todo mundo querer ir embora faltando tão pouco para o fim do mundo...



Mencionei o caso a um amigo de confiança do Corpo Governante, Ray Franz. Ele me deu a cópia de uma carta que fora escrita à Sociedade Torre da Vigia por Carl Olof Jonsson, testemunha-membro do Corpo Diretivo da Suécia. Jonsson apresentava provas irrefutáveis de que a cronologia da Torre da Vigia continha erros sérios. A lógica que empregava e a documentação que apresentava eram sólidas e de grande erudição. Li a evidência uma e outra vez. Finalmente, me convenci. O que era difícil para eu aceitar não era o erro em si mesmo, mas a sua conseqüência. A cronologia era e é absolutamente essencial para determinar a afirmação da Sociedade Torre da Vigia de que é "o canal de comunicação" de Deus com a Humanidade neste breve período que antecede o fim do mundo. Comecei a considerar seriamente a possibilidade de que a Sociedade Torre da Vigia não era o que afirmava ser. Parecia existir a certeza de que os líderes da Sociedade, na melhor das hipóteses, tinham sido induzidos ao erro; ou, no pior dos casos, eram hipócritas e falsos profetas. Ainda que eu tivesse desfrutado muitíssimo em estar ao seu serviço e tivesse amado verdadeiramente os meus irmãos e irmãs testemunhas, parecia-me praticamente certo que minha partida definitiva era inevitável.



Assim, morreu em mim o desejo de apoiar ativamente algo que eu já não acreditava. Minha função na sede principal tinha encontrado o seu fim. No meio deste período confuso, meus pais vieram a Nova Iorque, provindos do Texas, para nos visitar. À raiz de alguns comentários que fiz acerca da excomunhão de alguns de nossos amigos íntimos, intuíram que a minha atitude incondicional anterior de apoio à Organização estava mudando. Lhes assegurei que jamais abandonaria a Deus, Jesus Cristo ou a Bíblia, porém, não podia negar que tinha sérias dúvidas quanto à autoridade da Organização. Todavia, já sem a fé na cronologia da Torre da Vigia, não havia mais nenhum motivo para adiar nosso desejo de formar uma família. Decidimos deixar Betel o mais rápido possível. Deixamos Betel em 15 de julho de 1980. Contudo, não estava preparado para me afastar totalmente da minha comunidade. Toda nossa vida estava ligada aos Testemunhas de Jeová. Também tinha a impressão de que estaríamos em uma situação mais favorável para que nossos pais compreendessem como tinha mudado a minha forma de pensar se ainda mantivéssemos alguma relação. As coisas não saíram como eu esperava. Esse foi o começo de um profundo distanciamento que durou um-quarto de século. Continuou aumentando até que me encontrei quase completamente isolado de meus pais. Nunca pude me reconciliar com meu pai antes que viesse a falecer em 2002. Porém, sempre o amei. Tudo estava para dar uma reviravolta. Tínhamos que recomeçar nossas vidas. Não tínhamos dinheiro guardado, pois servimos como voluntários nos doze anos anteriores, sem qualquer salário. Tinha, contudo, estudado muito, experiência trabalhista e conhecimentos técnicos, apesar de não possuir título universitário. Pedi 300 dólares emprestados ao meu sogro, para mudar-me para Lancaster (Pennsylvânia) com o pouco que tínhamos. Moramos com os pais de Glória durante 10 semanas, até que eu conseguisse encontrar um emprego e um lugar para viver.



EXPULSO DA COMUNIDADE DOS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ



Deixamos a sede principal por vontade própria, todavia a Organização me tinha em alta estima, de modo que pouco depois de chegar a Pennsylvânia fui nomeado membro do corpo de anciãos. Tinha dúvidas, mas não encontrava motivos para me afastar dos Testemunhas de Jeová, já que minha relação com eles não mandava desconsiderar o que me ditava a consciência. No entanto, descobri que isso ficava cada vez mais difícil, pois a tendência geral das publicações da Torre da Vigia desse período consistia em advertir contra aqueles que não concordavam com os seus ensinamentos, que eram classificados de "apóstatas" e merecedores da condenação eterna. Depois de 1 ano aproximadamente, renunciei ao meu cargo de ancião. Ao mesmo tempo, tivemos um filho, Matthew, que nasceu em 9 de agosto de 1981. Cerca de 1 ano e meio depois, os membros do Conselho da Congregação de Lancaster pediram para falar com Glória e comigo na habitual reunião de serviço de 5ª-feira à noite. Foi uma sessão judicial informal. Me interrogaram (na presença de Glória), durante mais de uma hora, se eu tinha "dúvidas". O único tema específico que me interrogaram era se acreditava ou não na Sociedade Torre da Vigia como uma organização de Jeová. Respondi que Deus tinha operado através dos Testemunhas de Jeová, mas que Ele não estava disposto a se limitar em operar através destes exclusivamente. Afinal, Ele é Deus - afirmei - e pode fazer tudo o que quiser. A reunião terminou sem que se tomassem medidas contra mim.



Ainda que tivéssemos sido muito ativos na Congregação, durante mais de dois anos e meio, poucos - se é que os havia - sabiam que tínhamos dúvidas. No entanto, em menos de dois dias, muitos ouviram que éramos "céticos". Pediram, então, para que comparecêssemos a outra breve reunião duas semanas depois. Os membros do Conselho nos fizeram saber que, considerando que as nossas dúvidas na Congregação eram "vox populi", precisavam tomar uma medida. Mencionei que nenhuma pessoa da Congregação sabia nada sobre as nossas dúvidas antes dos anciãos terem se reunido conosco. Era evidente que os próprios membros do Conselho tinham difundido essa idéia após aquela reunião. A esposa de um ancião tinha mencionado alguns detalhes da reunião a uma cunhada de Glória. Um dos membros do Conselho respondeu: 'Como você ficou sabendo dessa informação não é tema que interessa. Agora que é de domínio público, temos que tomar providências'. Anunciaram então sua decisão de nos expulsar. Isto significava que nossa família e amigos deveriam nos repudiar, caso contrário seriam também expulsos. Nós tivemos a impressão de que a decisão de nos expulsar já tinha sido tomada antes de se reunirem conosco, com base em fatores que não eram nem provas, nem o nosso próprio testemunho. Ficou evidente que não adiantaria apelar da decisão. Desta maneira, encerraram-se quase 3 décadas de nossa relação com os Testemunhas de Jeová. Nossa comunidade religiosa nos havia repudiado e agora estávamos sós.



OBRA DE DEUS ATRAVÉS DE UMA ORGANIZAÇÃO?



Apesar da forma como fomos tratados, havia muitas coisas admiráveis nos Testemunhas que eu tinha certeza que eram corretas. Tinha descoberto o erro, porém o que eu queria era a verdade. Precisava saber, de algum modo confiável, quais ensinamentos da Torre da Vigia eram verdadeiros e quais eram falsos. Uma vez que tinha acreditado que Deus empregara a Organização da Torre da Vigia como um canal exclusivo para se comunicar com seus fiéis, concentrei minhas reflexões nesse tema. Minha esperança era poder escrever um ensaio que ajudasse meus pais (antes de mais nada) a entender o porquê de eu ter mudado algumas das minhas opiniões sobre a Sociedade Torre da Vigia. Utilizando a minha Concordância e o Dicionário Bíblico, comecei a buscar minuciosamente nas Sagradas Escrituras evidências no sentido de verificar se Deus alguma vez usara ou não alguma organização como instrumento oficial para se comunicar diretamente com a Humanidade.


Concluí que não e publiquei o meu ensaio em um artigo que intitulei 'Deus opera através de uma organização?'. Com o passar dos anos, foi traduzido para diversos idiomas e teve uma circulação bastante ampla entre os Testemunhas que se separaram da Organização, especialmente quando a Internet passou a ser usada massivamente. Embora nesse momento tenha atuado sem sentimento de culpa, sinto um pouco de tristeza pelo êxito que teve e devo aceitar o fato de que meus escritos provavelmente induziram muitos ao erro. Inicialmente, não entendia a diferença entre as organizações humanas e a Verdadeira Igreja, o Corpo de Cristo. Posteriormente, corrigi o meu artigo para demostrar que Cristo estava organicamente unido ao seu Corpo, o que não ocorria com as organizações humanas. Porém, tinha ainda muito o que aprender sobre o que Jesus tinha começado e preservado: a Igreja visível, o Corpo vivo no qual Ele mora.



UMA MÃO EXTENDIDA AOS TESTEMUNHAS



Logo depois de ter deixado Betel, mantive contato com amigos ex-testemunhas e travei amizade com outros mais. Começou a se formar uma rede cada vez maior, mediante a qual se trocavam palavras de conforto e esperança. Durante o verão de 1983, meu amigo Peter Gregerson nos convidou, juntamente com vários testemunhas, para uma reunião na qual se decidiu dar um caráter oficial ao grupo, na forma de um ministério. Nosso grupo foi chamado 'Biblical Research and Commentary Incorporated' ou, abreviadamente, 'BRCI'. O objetivo era produzir material e proporcionar apoio aos testemunhas que se separavam, para facilitar-lhes na penosa transição da Sociedade Torre da Vigia para o 'mundo exterior'. No verão seguinte, em 1984, a primeira das várias reuniões anuais foi celebrada em Gadsden (Alabama).


Muitos testemunhas expulsos têm membros da família ou cônjuges que continuam sendo leais à Organização. Nos parecia assim que um nome bem mais neutro poderia facilitar a remessa dos materiais a essas pessoas sem chamar a atenção dos membros da família que continuavam como testemunhas para o fato de que o destinatário estava se correspondendo com um ex-testemunha, o que é terminantemente proibido. Pelo que me recordo, a sugestão do nome foi dada por Ray Franz, embora nunca tenha sido membro da diretoria da BRCI.



Estabelecemos uma linha telefônica confidencial de apoio para confortar as pessoas que sofriam por ter deixado a Organização da Torre da Vigia. Pouco depois de sua publicação, meu artigo sobre a Organização era sempre incluído no pacote informativo que era remetido aos que ligavam para a linha de apoio da BRCI.



EXPERIÊNCIA ECLESIÁSTICA 



Durante aproximadamente os sete primeiros anos, Glória e eu líamos e estudávamos a Bíblia por nossa própria conta ou com outros ex-testemunhas, com os quais nos reuníamos semanalmente através de um pequeno grupo de suporte. Formamos fortes laços sociais com estes queridos amigos, porém nosso crescimento espiritual foi lento. Geralmente nossos debates centravam-se mais naquelas coisas que havíamos alguma vez acreditado como verdade, mas que depois tínhamos rejeitado. Volta e meia voltávamos ao mesmo assunto sempre que nos reuníamos. Finalmente, Glória me disse: 'Já estou cansada de examinar uma e outra vez as mesmas coisas de sempre. Quero aprender algo novo e verdadeiro sobre Cristo!' Também já tinha chegado nosso segundo filho, James, nascido em 22 de novembro de 1986. À medida que nossos filhos começavam a crescer, sentíamos cada vez mais a necessidade de encontrar cristãos que cressem na Bíblia com os quais nossos filhos pudessem se relacionar.



Muitas das crianças de nosso bairro eram educadas como humanistas seculares e não compartilhavam nem de nossos princípios cristãos, nem de nossos pontos de vista sobre a importância de se agradar a Deus. Tentamos em uma igreja local e logo em seguida nos tornamos amigos do pastor e sua esposa. Quando se inteirou de meu 'curriculum', me pediu para que tomasse conta de uma classe da escola dominical para adultos. Me surpreendeu que não me pedisse maiores detalhes sobre as minhas verdadeiras crenças. Nem sequer apareceu na minha classe para ver o que eu ensinava. Isto me pareceu estranho pois, para mim, a precisão doutrinária era muito importante. Porém, sempre ensinava a 'ortodoxia' no sentido de que podia respaldar meus ensinamentos tanto nas Sagradas Escrituras quanto nos comentários protestantes que gozavam de respeito. Nem Glória, nem eu jamais nos tornamos membros dessa igreja. Não queríamos nos incorporar a nenhuma organização religiosa. Depois de ensinar ali, por cerca de 1 ano, o pastor me pediu, lamentando, que eu deixasse o posto de professor, já que entendia que ninguém poderia ter classes e, ao mesmo tempo, não ser membro da igreja. Creio que tinha razão. Foi uma boa experiência em termos gerais. Começamos a fazer amigos cristãos. Nos inteiramos que nem todos os cristãos evangélicos estavam totalmente convencidos acerca da verdade doutrinal como nós estávamos. Buscávamos uma comunidade de crentes que tivessem bastante filhos e uma grande quantidade de programas para eles. Finalmente, fomos nos adaptando, pouco a pouco, a uma comunidade batista evangélica independente. Aí conhecemos muitos cristãos excelentes e rapidamente nos envolvemos em atividades eclesiásticas. Alguns meses depois de termos nos associado a essa igreja, outra vez me pediram que assumisse classes bíblicas para adultos, atividade esta que desempenhei ininterruptamente durante 14 anos.



No final da década de 1990, comecei a trabalhar em outro artigo com o objetivo de complementar aquele que havia escrito sobre a Organização. Minha intenção era auxiliar ex-testemunhas a encontrar outros crentes, para que pudessem se relacionar com eles. Queria que se sentissem tranqüilos, ajudando-os a compreender que muitas igrejas atuais ensinam e prestam culto de maneira semelhante aos discípulos do século I. Pensei que seria útil mostrar como eram os primeiros cristãos, como eram estruturadas suas congregações, como viviam e prestavam culto e em quais aspectos se diferenciavam dos ensinamentos e da prática dos Testemunhas de Jeová. Queria que compreendessem que viver como cristãos era o que mais importava e os incentivava a se incorporarem a alguma comunidade cristã centrada na Bíblia.


Comecei empregando somente as Escrituras, mas logo percebi que muitas coisas que se ensinam e praticam nas igrejas não podem ser fundamentadas diretamente e apenas nas Escrituras. Acabei comprando livros de História - com o passar do tempo, obtive dezenas deles - além de fazer muita pesquisa na Internet. Quando terminei de escrever o artigo 'Onde se encontra o Corpo de Cristo' recebi maravilhosos comentários. Porém, o que eu ia descobrindo suscitava em minha cabeça muito mais perguntas do que respostas...



Enquanto pesquisava, comecei a encontrar por acaso referências aos 'Primeiros Padres da Igreja'. Praticamente todos os eruditos, tanto católicos quanto protestantes (exceto alguns eruditos modernos) demonstravam um grande apreço por eles. Nessa época, eu somente tinha uma idéia muito vaga de quem eram eles. Quando fiquei sabendo, no final da década de 1990, que meu amigo David Bercot tinha publicado um Dicionário das Crenças dos Primeiros Cristãos, adquiri um exemplar. Dei uma olhada, mas não o li muito. Tinha minhas próprias idéias sobre como era a Igreja dos primeiros cristãos e de que maneira criam e prestavam culto. Depois de transcorridos 20 anos de minha saída da Sociedade Torre da Vigia, acreditava que pouco depois do século I a fiel Igreja Apostólica dos primeiros cristãos tinha se transformado na corrupta Igreja Católica Romana. Os Reformadores, como fiquei sabendo depois, tinham um ponto de vista semelhante, exceto que estabeleceram a data da "Grande Apostasia" no século IV, V ou mesmo depois. Contudo, tanto Lutero quanto Calvino acreditavam que a Igreja Ante-Nicena era realmente autêntica. Um dos objetivos da Reforma foi devolver à Igreja sua pureza original, impoluta, ante-nicena. Isto me fez repensar as conseqüências do conceito da "Grande Apostasia". O corolário desta doutrina é que Jesus não teve uma congregação de fiéis discípulos, nenhuma organização visível ou igreja sobre a terra, durante um longo período, talvez vários séculos, até que algum indivíduo (Martinho Lutero, João Calvino, John Wesley, Joseph Smith, Charles Russell ou qualquer outro), baseando-se apenas nos escritos dos primeiros cristãos, os compreenderam corretamente e "restauraram" o verdadeiro cristianismo apostólico sobre a terra. Finalmente, concluí que esse ponto de vista era indefensável, pois significaria que a maioria das pessoas que viveram entre a apostasia e a "restauração" - toda vez que esta supostamente ocorria - na prática não tiveram nenhuma oportunidade de se converter em verdadeiros cristãos, visto que o parecer era que ninguém era capaz de reconhecer 'as simples verdades que são ensinadas na Bíblia' até que aparecesse algum desses reformadores.



A IGREJA: VISÍVEL OU INVISÍVEL?



Também comecei a pensar seriamente sobre como deveria ser a verdadeira Igreja de Jesus Cristo. Devido a minha própria experiência, não me custou aceitar o ponto de vista da 'igreja invisível', na qual todos os membros da 'única santa Igreja católica e apostólica' encontram-se disseminados por todas as confissões cristãs do mundo e é composta por homens e mulheres de cada comunidade cristã que realmente levam à sério a fé e tentam viver em conformidade com as Sagradas Escrituras. A maioria das comunidades de fé que vi estava aparentemente repleta de pecadores que não praticavam a sua fé. Porém, enquanto pensava nisso, comecei a perceber que esta perspectiva apresentava problemas insanáveis. Uma igreja invisível é uma "comunidade" de pessoas espalhadas que não se conhecem, nem estão em mútuo contato. Na verdade, carece totalmente de características visíveis (pois, afinal, é invisível!). Não podemos saber nada de certo acerca de semelhante igreja: onde estão, em que crêem, como prestam culto. Concluí que tudo isso era fruto da imaginação. É como queremos que ela seja, já que não existe nada real com o que podemos comparar. É uma igreja que pode ser interpretada da nossa própria maneira. E o mais importante: não se parece absolutamente em nada com a Igreja descrita no Novo Testamento, que estava repleta de pessoas reais, santas e pecadoras; possuía uma estrutura que incluía presbíteros, diáconos e discípulos de Cristo que se submetiam, em menor ou maior grau, à sua liderança. Cada congregação dos fiéis de Deus descrita nas Escrituras não é apenas visível, mas também humana, com todos os problemas que existem em uma família, clube ou comunidade de seres humanos de qualquer parte. De que outra maneira poderia qualquer igreja ser o sal e a luz da comunidade? De que outra maneira poderiam os não-crentes ver suas boas obras e glorificar a Deus? Até os reformadores, embora rejeitando a autoridade de Roma, reconheciam a existência e a necessidade de um conjunto visível de crentes. Continuei lendo livros de História e também as obras dos primeiros cristãos. A estes lhes considerava representações precisas do que o conjunto principal de antigos cristãos cria e praticava. Me surpreendeu que tantos conceitos e ensinamentos que anteriormente rejeitava me tivessem sido apresentados de maneira incorreta e, inclusive, desonesta na Torre da Vigia e na literatura evangélica, retratando-os como ilógicos ou contraditórios às Sagradas Escrituras. Tal como os apresentavam os primeiros cristãos, geralmente tinham mais sentido e correspondiam melhor às Sagradas Escrituras que muitas das explicações que tinha lido nos Comentários. Comecei a aceitar uma quantidade cada vez maior dos ensinamentos que ali encontrava, simplesmente porque eram claros, maduros e se ajustavam às Escrituras. Um por um, analisei estes ensinamentos comparando-os com as Sagradas Escrituras e, enquanto me convencia de sua validade, paulatinamente minha interpretação do Cristianismo começou a mudar. A complexidade de certas passagens com que havia lidado durante anos passou a desaparecer lentamente. Realmente todas as peças começavam a se encaixar (pela primeira vez na vida). Toda a minha interpretação do Cristianismo se modificou!


SACRAMENTOS



Os primeiros cristãos criam que o Pão e o Vinho servidos durante a comunhão, após serem consagrados pelo presbítero, realmente se convertiam no Corpo e Sangue de Jesus Cristo. Isto é exatamente o que Jesus disse com clareza em João 6. No entanto, a maioria dos protestantes considera que as palavras de Jesus são simbólicas. Nenhum dos primeiros cristãos entendeu assim. Na verdade, fora pouquíssimas exceções, nenhum cristão anterior à Reforma alemã jamais duvidou deste ensinamento. Esta foi a minha introdução ao conceito de "sacramentos" da fé cristã: objetos materiais pelos quais Deus transmite a graça aos seus fiéis. Nunca ouvi mencionar acerca deles entre os Testemunhas ou os cristãos evangélicos. Todo o conceito me resultava novo e estranho. Porém, à medida que lia, orava e pensava nisso, o assunto tinha cada vez mais sentido. Em síntese, o culto sacramental ensina que Deus opera através de coisas simples como água, pão, vinho e óleo. Estes objetos materiais, quando são consagrados e empregados na Igreja fundada por Jesus, transformam-se em meios pelos quais a graça de Deus é comunicada aos seres humanos. Desempenham um papel fundamental na saúde e nos devolve a plena comunhão com nosso Pai celestial. Segundo esta perspectiva, Deus opera através da sua criação e não ao redor ou apesar dela mesma. No início, eu pensava que isto era totalmente alheio às Escrituras. Porém, agora, guiado pelos primeiros cristãos, passava a encontrar em todas as partes da Bíblia. Por exemplo: Naaman, um leproso sírio, foi curado ao obedecer a ordem de Eliseu (dita de passagem e transmitida por um criado seu) para banhar-se sete vezes no rio Jordão. A água não era mágica, porém Naaman precisou obedecer a ordem e banhar-se nessa água para ser curado (2Reis 5). Os primeiros cristãos criam que as águas do batismo tinham o poder de lavar ou eliminar o pecado dos novos discípulos (Atos 22,16), tal como tinha eliminado a lepra de Naaman. Outros exemplos: Jesus curou um cego fazendo lama, colocando-a sobre os seus olhos e mandando-o lavar-se na piscina de Siloé (João 9,6-11). Uma mulher acreditou que seria curada se tocasse apenas na borda das vestes de Jesus; e de fato foi curada. O pano não era mágico, mas em conjunto com sua fé, transformou-se no meio pelo qual recebeu o poder de Jesus (Mateus 9,20-22). Enquanto relia as Escrituras, me surpreendeu encontrar tantos relatos das obras poderosas de Jesus e dos Apóstolos que se davam por ações físicas como tocar ou soprar sobre os receptores, ou objetos usados como pão, peixe, óleo e vinho. Uma descoberta impactante! 



Nessa mesma época, estava folheando alguns livros usados em uma loja quando encontrei um exemplar do Catecismo Católico à venda por alguns centavos. O comprei e comecei a ler. Fiquei maravilhado com o que havia encontrado! A explicação católica da fé e dos princípios morais cristãos, inclusive a salvação, o batismo, a redenção e a expiação dos pecados, parecia-se muito mais com a explicação da Igreja dos primeiros cristãos do que de qualquer Comentário protestante que havia lido. Com muita freqüência se referia aos primeiros cristãos como fonte de autoridade. A partir desse ponto, comecei a considerar seriamente a Igreja Católica Romana. Me surpreendeu descobrir como seus ensinamentos e práticas guardavam uma íntima relação com a perspectiva dos primeiros cristãos. Porém, como poderia explicar a existência de tantos católicos que não levavam a sério o Cristianismo? No princípio, com certa dificuldade de conceito, mas sempre pensando e orando, recordei que Deus empregou o antigo Israel como "recipiente" da auto-revelação divina transmitida por Moisés durante mais de 15 séculos, mesmo quando a maioria dos israelitas e até suas autoridades eram infiéis. Não poderia ter feito o mesmo com a Igreja universal fundada por Cristo?

Eu havia me inteirado, pricipalmente através de fontes judaicas, que grande parte da prática judaica tinha sido transmitida durante séculos por via oral. Moisés comunicou as normas da Lei Mosaica aos israelitas no Sinai, porém nem tudo tido sido colocado por escrito. As tradições verbais foram colocadas por escrito pela primeira vez (no Talmud e na Mishná) logo após a destruição do Segundo Templo, no século I d.C. É certo que Jesus tinha dito que os fariseus tinham 'invalidado a Palavra de Deus por suas tradições'. Porém, me dei conta de que não quis dizer que toda tradição era negativa; apenas aquela que o homem tinha criado e que contradizia a Revelação divina. As Sagradas Escrituras dizem claramente que Cristo revelou muitas coisas aos seus discípulos e que não foram escritas (João 21,25). Também diz que 'a Igreja' (e não as Sagradas Escrituras) é 'a coluna e o fundamento da verdade' (1Timóteo 3,15). O que Jesus ensinou aos seus discípulos na forma oral não foi 'agregado às Escrituras' pelos Apóstolos; foram ensinadas oralmente aos novos discípulos que surgiram. As Escrituras foram redigidas dentro de um marco eclesiástico em pleno funcionamento, no qual cada ensinamento cristão havia sido transmitido na forma oral durante décadas. Quando o Apóstolo Paulo escreveu cartas às congregações, já tinha dedicado muito tempo antes ensinando-as na forma oral. Suas cartas podiam e diversas vezes deixou muitas coisas para expor. As cartas de Paulo tratam principalmente das contingências e problemas que requeriam o seu conselho e não dos ensinamentos e práticas que todos já conheciam, pois já tinham sido ensinados oralmente e previamente.


O MOMENTO DECISIVO: SEGUIMOS ADIANTE NA FÉ



Finalmente, fomos recompensados e a evidência mostrou ser conclusiva. Minhas investigações sobre a História da Igreja dos primeiros cristãos me permitiu adotar uma perspectiva católica sem que o meu anterior prejuízo contra a Igreja Católica viesse a interferir. O que íamos encontrando nos ensinamentos católicos era incrível: ensinamentos profundos, atraentes, respaldados pela História, de uma lógica coerente e que se ajustavam às Escrituras, resultando como gratificantes não apenas para a mente, mas também para o coração. Agora sentíamos que fazíamos parte desse caminho durante todos estes anos. Encontrei nos artigos de outros convertidos ao Catolicismo uma grande utilidade. Admito que tinha abordado a questão muito vagamente ao estudar o Cristianismo.


Muitos teólogos católicos são gigantes espirituais. Lendo-os, aprendi muito sobre Deus e suas peculiaridades, que jamais supus que existissem. Li 'The Everlastin Man', de G.K.Chesterton, que influenciou na conversão de C.S.Lewis ao Cristianismo. Seus livros 'Orthodoxy', 'Heresy' e 'Conversion' verdadeiramente me tocaram o coração. Os apologistas católicos têm um profundo respeito por C.S.Lewis, ainda que este fosse anglicano, já que sua teologia é praticamente ortodoxa. 'A Map of Life', 'Theology for Beginners' e 'Theology and Sanity', de Frank Sheed, são claros e concisos. Os livros de convertidos contemporâneos ao Catolicismo, como Jimmy Akin, Thomas Howard, Karl Keating, Scott Hahn, Dave Armstrong e Peter Kreeft são especialmente úteis para encarar as dúvidas que os protestantes têm sobre a fé católica. 'Catholic Christianity and his Christian Apologetics', do dr. Kreeft e Ron Tacelli, é mais claro e exaustivo que qualquer defesa protestante do Cristianismo que já li. 'Estas pessoas estão no caminho correto', pensei ao ler o livro. Pensam com maior profundidade que eu na maioria das questões e estão dispostas a arriscar suas vidas e carreiras para seguir a verdade aonde quer que estejam. Durante muito tempo cometi o erro de julgar os ensinamentos católicos baseando-me em pessoas católicas, a maioria das quais (como seus primos protestantes) são mais indiferentes acerca da teologia. Porém, depois de aceitar a evidência histórica de que a fé católica era a expressão original e mais completa do Cristianismo, não devendo julgar a Igreja inteira por causa do [mal] comportamento de alguns pecadores, minha perspectiva mudou. Comecei a ler obras católicas entusiasticamente. As explicações católicas do Cristianismo ajustam-se às Escrituras, ao mundo real e ao coração do ser humano. Creio, com toda a honestidade, que qualquer pessoa que as siga fielmente se transformará em um homem ou mulher de Deus. Os ensinamentos do Catolicismo são sólidos, plenos e retos. Chegamos a eles lenta e cuidadosamente, seguindo a verdade e identificando e rejeitando o erro. 



Compartilhei com Glória as coisas que estava lendo. Ela também as leu e refletiu. Falamos de algumas coisas, porém eu não queria pressioná-la, para que pudesse tomar uma decisão por si mesma. Continuou lendo. Certo dia, simplesmente me disse: 'Deveríamos nos converter ao Catolicismo' (ela tinha sido batizada na Igreja Católica logo após nascer). Consumamos o nosso desejo de tornar parte desta venerável Igreja reunindo-nos com o nosso pároco, o pe. James Cronin, durante alguns meses, a fim de examinar [um pouco mais] os ensinamentos católicos. Fomos admitidos no seio da Igreja Católica Romana em 9 de junho de 2006. Estamos emocionados por sermos católicos e por nossos novos companheiros católicos. Nos sentimos completamente felizes dentro da Igreja que Jesus Cristo fundou. Encontramos o Lar!"


FONTE:

(Tradução: Carlos Martins NabetoFonte: http://www.voxfidei.com/)


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