Em uma recente entrevista à Revista Veja, aparecida no blog do jornalista católico Reinaldo Azevedo, o bispo de Guarulhos, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini afirma ter sido “agredido por militantes do PT”, que, há dez dias, “fizeram um escarcéu” junto à casa do prelado “às duas da manhã, com palavrões e rojões”. “Cheguei até a ser ameaçado”, explica Dom Bergonzini, que também advertiu na entrevista que “ninguém pode botar um cadeado, uma mordaça, na minha boca. Podem apreender um papel, mas nada altera minhas convicções”.
A entrevista, como explica Reinaldo Azevedo, foi dada no contexto da liminar concedida pelo ministro Henrique Neves, do TSE, que permitiu à polícia federal apreender o “Apelo a Todos os Brasileiros e Brasileiras”, em que a Comissão em Defesa da Vida, da Regional Sul I da CNBB, exortava os católicos a não votar em políticos que defendam a descriminação do aborto. A impressão do texto foi encomendada por Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos.
Diante disto, Azevedo denunciou que “o PT tentou acusar uma espécie de conspiração, afirmando que se tratava de uma iniciativa do PSDB, já que uma das sócias da gráfica Pana é filiada ao partido. Os petistas só se esqueceram de informar, como noticiou este blog, a empresa imprimiu material de campanha para outros partidos - inclusive para o PT. Num deles, uma central sindical exortava seus filiados a votar em Dilma, o que é ilegal”.
Na entrevista, o bispo de Guarulhos esclareceu que foi ele quem realmente encomendou a impressão do texto, não o PSDB. Dom Luiz revela também que os petistas tentaram intimidá-lo.
Na entrevista o repórter da Veja perguntou se foi Dom Bergonzini quem decidiu imprimir dois milhões de cópias do “Apelo a todos os brasileiros e brasileiras”. Diante da interrogante, o bispo respondeu afirmativamente e afirmou que fez “isso para tornar conhecida a minha posição política em defesa da Igreja e da vida. Essa publicação visava justamente defender a vida de seres humanos que não pediram para nascer e não têm condições de se defender. Trata-se de um documento oficial, assinado por três bispos. Não era um panfleto. É um documento autêntico da igreja”.
Ao ser perguntado se ele se sentiu censurado com a apreensão dos folhetos, o bispo respondeu:
“Claro que sim! Foi um ato totalmente antidemocrático, uma agressão à minha pessoa. Afinal de contas, eu tinha autorizado a publicação. Essa cassação impediu não só a impressão do documento como sua distribuição. Sinto que fui perseguido. O governo fala tanto em liberdade de expressão, mas esta apreensão foi um atentado a um princípio constitucional. A minha opinião foi censurada”.
Na seguinte pergunta a Revista indagou se o bispo “defende explicitamente que os fiéis não votem em Dilma Rousseff”. Em sua resposta, Dom Luiz asseverou: “Minha recomendação é essa por causa das idéias favoráveis ao aborto que ela tem. Em 2007, numa entrevista, ela chegou a dizer que era um absurdo a não-descriminalização do aborto no Brasil. Então ela é favorável a isso. Agora, depois do primeiro turno, ela se manifestou muito religiosa, se dizendo contra o aborto e contra a união de pessoas do mesmo sexo. Quer dizer: tudo aquilo que atrapalhou a sua eleição no primeiro turno, ela tirou da campanha. Você pode confiar numa pessoa que assume posições contraditórias? Ninguém muda de idéia deste jeito. O lobo perde o pêlo, mas não perde o vício. Ela não é confiável”.
Sobre os “indícios veementes” de participação do PSDB nas encomendas dos folhetos, como foi levantado pelo PT, Dom Luiz esclareceu que “em circunstância nenhuma eu agi de acordo com orientações partidárias”.
“Eu falei, repito, assino e afirmo: “Não tenho partido político”. Eu sou um ser político, sim, mas não partidário. Se tomei partido nesta eleição, não foi a favor do PSDB, foi contra o PT e a Dilma. As razões são claras: sou contra o aborto e a favor da vida. Não fui procurado por partido político nenhum! Fui apenas agredido por militantes do PT, que, há dez dias, fizeram um escarcéu debaixo da minha janela, às duas da manhã, com palavrões e rojões. Cheguei até a ser ameaçado”.
Dom Luiz, explicou estas ameaças em sua entrevista dizendo que recebeu cartas anônimas. “Uma delas dizia: “O Celso Daniel foi assassinado, tome cuidado”. Fiz um boletim de ocorrência por causa disso, mas não tenho medo. Se fizerem qualquer coisa contra mim, será um tiro no pé. Será pior para eles”, declarou o bispo.
Ao ser perguntado se é papel de um bispo se posicionar politicamente, o prelado afirmou que “o papel do bispo é orientar os seus fiéis sobre a verdade, sobre a justiça e sobre a moral. Ele deve apresentar a verdade e denunciar o erro. Foi o que fiz. Tenho todo o direito - e o dever - de agir do modo que agi. Não me arrependo de ter falado o que falei. Faria tudo de novo! Se surgir um candidato que seja contra os princípios morais, contra a dignidade humana e contra a liberdade de expressão, irei me levantar de novo”.
Finalmente, ao ser questionado se irá continuar distribuindo documentos similares aos apreendidos?
Dom Bergonzini afirmou que “se a Justiça liberar, vou”.
“De qualquer forma, vou continuar manifestando minha opinião. Ninguém pode botar um cadeado, uma mordaça, na minha boca. Podem apreender um papel, mas nada altera minhas convicções”.
Na quarta feira dia 20 de outubro de 2010, a Mitra Diocesana de Guarulhos entrou com um recurso para liberar o material apreendido irregularmente pela campanha do Partido dos Trabalhadores. O recurso afirma que o material foi encomendado pelo Bispo de Guarulhos, que é documento oficial da Igreja Católica, que as informações veiculadas são verídicas e denunciam, com base em ampla documentação, o envolvimento internacional do Partido dos Trabalhadores com a promoção do aborto no Brasil, e o fundamento jurídico para a divulgação do material nada mais é do que o direito à liberdade de expressão assegurado pela Constituição a todos os brasileiros.
O andamento do processo pode ser acompanhado no site do Tribunal Superior Eleitoral (http://www.tse.gov.br), no seguinte endereço, digitando, no espaço a preencher, o número do processo 352620:
Assim, membros do Movimento em Defesa da Vida (MDV) lançaram uma campanha pedindo a todos os cidadãos que escrevam, muito respeitosamente, à corregedoria geral eleitoral do tribunal superior eleitoral, no sentido de pedir que a sentença seja dada o mais rapidamente possível.
Os correios eletrônicos podem ser enviados aos endereços:
cge@tse.gov.br; cge@tse.jus.br;
Fonte:
SÃO PAULO, 25 Out. 10 / 02:14 pm (ACI).- Disponível em: http://www.acidigital.com/noticia.php?id=20411 Acesso em: 27 Outubro 2010.