segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A Imitação de Maria - Parte II

Por: Eduardo Moreira

Um ventre em chamas


Maria tem o ventre mais limpo e puro que pode existir. Nesse ventre Maria aqueceu a natureza humana, tal qual se aquece um metal, fundindo-a à natureza divina com o fogo do Espírito Santo. Esse fogo jamais a abandonou. Esse a ensinou a reduzir-se, a pulverizar-se de forma a se tornar nada e assim Cristo se tornou tudo nela. Por isso Maria disse: Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua vontade!

Que belas palavras! Que bela conclusão. Não sou nada meu Deus, sede tudo em mim. Sede minha herança, meu pensar, meu falar, meu agir. Gera em mim teu Divino Filho a fim de libertar os pobres pecadores.

Maria, com teu ventre Santo, quer nos santificar, mesmo em meio às cruzes, trabalhos e decepções da vida. Através da provação de morte do homem-Deus, Maria deu-nos o Salvador que nos comprou com seu sofrimento. Não abandonou ela, pois, seu Divino Filho estando com Ele até a morte, e morte de Cruz. Hoje Maria nos convida a movermos nossas cruzes no Calvário da vida. O Calvário com Cristo nos tornou livres do pecado. Nosso Calvário da vida, nossos sofrimentos, se oferecidos nos libertam de nós mesmos, nos pulveriza, nos ensina a sermos nada para que Cristo seja tudo em nós.

Se ditoso é o ventre de Santa Ana, muito mais ditoso é o Ventre de Maria que, através das nossas orações e da Consagração Total quer nos levar pra dentro dele e nos moldar. Esse ventre quer nos consumir com o Fogo do Espírito Santo e com o Amor de Cristo, o Amor Incondicional, quer abrasar nosso coração, consumir nossa Alma, transbordar nosso espírito para que no último dia, como disse Santo Agostinho, nos encontremos totalmente consumidos pelo amor de Deus. Esse fogo quer nos fundir à Deus para que, conforme descreveu São Boaventura, nos dissolvamos e nos confundamos com Ele.

Se nos deixamos a sós, tudo é desgraça. Se nos desgarramos do Amparo de tão boa Mãe, tudo é ódio, tudo é fúria. Nada de bom há fora de Maria, fora de seu ventre ditoso. Se temos uma vida santa, é porque ela nos queimou até a exaustão, nos extinguiu, abrasou nossa alma enchendo, assim, nosso espírito com a presença do Espírito Santo.

Disse São Cipriano que não há Salvação fora da Igreja Católica. Com muito mais razão digo, não há Salvação fora do ventre de Maria, porque dele nasceu Cristo, a Misericórdia Encarnada, de onde jorra a compaixão pelos pecadores. Se até Cristo teve de passar pelo ventre ditoso da Santíssima Virgem, nós, pobres pecadores, com muito mais razão devemos nos submeter a Ela.

É preciso que entremos no Ventre de Maria para que nos consumamos pelo Fogo do Espírito Santo. É mister que nos pulverizemos, que passemos a sombras, que deixemos de ter vontade própria para que Maria faça tudo em nós, para que nos transforme em seus escravos. Por mais que pareça loucura, só assim seremos livres. Só quando deixarmos de existir, quando nos deixarmos abrasar a tal ponto para sermos fundidos, no Ventre de Maria, ao Cristo, só assim teremos a liberdade que em vão procuramos na sabedoria mundana, na filosofia ou nas ciências. Como são tolos os que seguem a sabedoria dos homens! Morrerão incultos, pois se julgamos muito o que sabemos, muito mais é o que desconhecemos, diz Tomás de Kempis. Pobres daqueles que buscam com afinco as vaidades da terra sem se lembrarem de sua alma imortal. Certamente perdão a vida eterna.

A Ciência é boa, foi criada por Deus. A Sabedoria é boa, foi criada pelo Eterno e o próprio Cristo é a Sabedoria Encarnada. Entretanto, a Ciência ensoberbece e a Sabedoria não anda com os soberbos. Pobres almas que se atiram com tanta sede ao conhecimento e deixam seu espírito vazio! Jamais encontrarão a paz que procuram, jamais se tornarão sábios. Serão papagaios a repetirem o conhecimento acumulado, sapos inchados em seu orgulho, pessoas vazias de alma e cheias de conhecimento, conhecimento esse que de nada servirá na outra vida.

Muito mais importante é nessa vida nos aplicarmos com afinco e santidade às coisas do alto, sem esquecer nossas obrigações temporais. Devemos sim rogar a Nossa Senhora, dispensadora de todas as graças de Deus, que nos gere tal qual gerou o Verbo Encarnado. Devemos pedir para sermos nada. Devemos esvaziar nossas almas para que nelas haja espaço para Deus que não divide seu lugar com as vaidades.

Uma vez que O deixarmos entrar pelas Imaculadas Mãos de Maria, seremos fundidos com o Fogo do Espírito Santo e abrasados pelo Amor de Cristo à divindade. Seremos, agora sim, parte do Corpo Místico de Cristo, pois gerados fomos por Maria. Seremos, pois, ainda de natureza humana, frágil e pecadora, mas mais firmemente unidos ao Cristo, gerados no mesmo ventre que Ele.

Como bem disse Santo Agostinho, onde andamos que buscamos outras coisas senão Cristo? Devemos correr, buscar a Graça de Deus e pedir a essa Boa Mãe que nos mostre o caminho, que nos dirija os passos para encontrar a paz, como disse São Luis Maria Grignion de Montfort. Corram doutores, porque há muito tempo estão procurando o que não irão encontrar. Buscai as coisas do alto. Corram sábios, porque vossa sabedoria é vã e de nada lhe adiantará na outra vida!

Livre-nos, Mãe, das ciladas que o inimigo faz às nossas almas. Ajude nossa fé, nossa esperança e nossa caridade, porque a caridade jamais passará. Reveste-nos com vossos méritos a fim de que possamos ser consumidos pelo amor de Deus em Vosso Santo Ventre. Mãe ensina-nos a santidade, pois a Senhora é a fôrma de todos os santos. Que no dia de nosso julgamento, por vossa Graça, possamos nos apresentar a Deus consumidos pelo amor divino, dissolvidos no Infinito, plenamente unidos ao Cristo para que gozemos para sempre na vida eterna.


Feri, Dulcíssimo Jesus


FERI, dulcíssimo Jesus, o mais íntimo e profundo do meu ser com o dardo suavíssimo e salutar do vosso amor, com aquela santíssima e inalterável caridade que foi brasão e timbre dos vossos Apóstolos, para que a minha alma se deleite e enterneça com a febre sempre crescente de Vos querer mais.
Dai à minha alma que se queime em desejos de Vós, que desfaleça nos vossos átrios, e deseje dissolver-se e confundir-se convosco. Que tenha fome de Vós, ó Pão dos Anjos, Pão das almas santas, Pão nosso de cada dia, supersubstancial, fonte inexaurível de paz e suavidade. Ó Vós, a Quem unicamente os Anjos desejam contemplar!
Oh! que o meu coração tenha fome de Vós, que só de Vós se alimente, e que só do prazer que de Vós deriva se comovam as entranhas do meu ser; que só de Vós tenha sede, ó fonte da vida e da sabedoria, da ciência e da luz eterna; ó torrente de todos os prazeres, ó riqueza da casa de Deus, só por Vós anseie, só a Vós procure, só a Vós encontre, só para Vós caminhe, só a Vós alcance, só em Vós pense, só de Vós fale, e tudo o que fizer seja para honra e glória do vosso nome, com humildade e discrição, com prazer e amor, com alegria e afeto, com perseverança até o fim.
Sede, Senhor, a minha única esperança: só em Vós confie, só de Vós seja rico, só em Vós me regozije e alegre, ó meu descanso, ó minha paz, ó meu amor, aroma que me inebriais, doçura que me deleitais, pão que me revigorais, refúgio que me defendeis, auxílio que me escudais, sabedoria que me iluminais, herança e tesouro que espero. Em Quem só a minha alma e o meu coração vivam e se radiquem de maneira firme e inabalável. Amém.