Texto de São Rafael Arnaiz Baron
(1911-1938), monge trapista espanhol
Escritos espirituais, 15/12/1936
Por: Eduardo Moreira
Há dias em
que os aviões atravessam o céu a velocidades prodigiosas, sobrevoando o
mosteiro. O ruído dos seus motores assusta os passarinhos que se aninham
nos ciprestes do nosso cemitério. Em frente do convento, atravessando os
campos, há uma estrada alcatroada por onde circulam a toda a hora camiões
e carros de turismo que não se interessam pelo mosteiro. Uma das
principais vias férreas de Espanha também atravessa os terrenos do mosteiro. [...] Ouve-se dizer que tudo isto é liberdade. [...] Mas quem meditar um pouco verá como o mundo se engana no meio daquilo a que chama liberdade.
Onde se encontra então a liberdade?
Encontra-se no coração do homem que apenas ama a Deus. Encontra-se no
homem cuja alma não está presa nem ao espírito nem à matéria, mas apenas
a Deus. Encontra-se nesta alma que não está submetida ao eu egoísta; na
alma que voa por sobre os seus próprios pensamentos, os seus próprios
sentimentos, o seu próprio sofrer e fruir. A
liberdade está nesta alma
cuja única razão de existir é Deus, cuja vida é Deus e nada mais do que
Deus.
O espírito humano é pequeno, é reduzido, está sujeito a
mil variações, a altos e baixos, a depressões, a decepções, etc., e o
corpo tem uma grande fraqueza. A liberdade está portanto em Deus. A alma
que, passando realmente por sobre tudo isto, funda a sua vida n'Ele, pode
dizer-se que goza de liberdade, na medida do possível para quem está
ainda neste mundo.
Fonte:
Evangelho Quotidiano: http://www.evangelhoquotidiano.org