quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Igualdade: Deus não quer, e o homem não consegue! Proposições do Catolicismo sobre o assunto

"Não é verdade que na sociedade civil todos temos direitos iguais, e que não exista hierarquia legítima" (Pio XI, Divini Redemptoris n. 33).

Que todos os homens são iguais é uma proposição à qual, em tempos normais, nenhum ser humano sensato deu, alguma vez, o seu assentimento. Porém nós vivemos dias na sombra de algo que podemos chamar de mito da Igualdade.Feministas querem a igualdade entre o homem e a mulher, outros querem a igualdade entre as nações, e assim a sociedade vai se acostumando a considerar toda igualdade um bem e toda desigualdade um mal.

O que é a Igualdade?

Igualdade é uma noção tão antiga quanto complexa, o conceito que mais se aproxima da palavra igualdade é que ela é a inexistência de diferenças entre dois ou mais elementos comparados, sejam objetos, indivíduos, ideias, conceitos ou quaisquer coisas que se comparem.

A Igreja Católica, baseada nas Sagradas Escrituras e nos ensinamentos da nossa Tradição sempre considerou a desigualdade como um bem a ser desejado. Vamos analisar o por quê dessa posição que para muitos soa, no mínimo, como um absurdo.

Criação do Universo

Deus, na sua imperscrutável sabedoria e em sua infinita bondade criou o universo hierárquico e desigual. Podemos observar a hierarquia nos reinos da criação, desde o mineral - matéria pura - até o anjo, que é puro espírito, perpassando pelos vegetais, animais e pelo homem. E ainda, dentro de cada reino se vê a enorme desigualdade entre os seres.

No mundo atômico, cada elemento tem suas propriedades particulares. No macrossomo estelar, há também uma grande desigualdade harmônica e, bem dizia o Apóstolo Paulo que cada estrela é diferente de outra estrela (I Cor 15, 41).

No reino vegetal, a desigualdade cresce em valor. Isso por que a vida vegetal traz uma maior variedade, permitindo uma capacidade simbólica mais acentuada. Se uma jovem vai a festa usando um colar de metal, imitando o ouro, ela não vai causar com isso nenhum tipo de escândalo. Mas se para enfeitar seu vestido, a pobre jovem colocar sobre o peito, não uma rosa, mas um belo repolho, certamente causará uma explosão de risos. Isto porque a desigualdade de uma rosa e um repolho é maior do que aquela existente entre o ouro e o metal.

Entre os animais, a desigualdade é evidentemente maior. Há animais que pelo modo de atuarem, lembram bastante as virtudes humanas, enquanto outros lembram o pecado, tanto por sua forma quanto pelo jeito de ser.

Mas entre os Anjos, é possível existir desigualdade? A resposta é sim, São Tomás de Aquino nos ensina que eles se dividem em três ordens, cada uma das quais se divide, por sua vez, em três coros. Portanto, são nove coros angélicos sabiamente hierárquicos e, para reforçar, o Doutor Angélico nos ensina que cada anjo é diferente do outro.

Diante disse, nós podemos afirmar que é a desigualdade que permite a ordem e a harmonia no universo. A beleza do arco-íris se dá por causa da desigualdade harmoniosa das cores, do mesmo modo é a música, ela só é possível devido a desigualdade das notas musicais.

Deus nos criou como espelho, para que Sua imagem refletisse em nós. Cada homem reflete a Deus em sua particularidade, isso nos faz importantes e dignos. Em nossa fraca humanidade, decaída pelo pecado e remida por Cristo, nós refletimos um raio do Amor de Deus que nos faz sermos únicos e contribuintes para a beleza do conjunto da criação do Senhor.

Efeitos do Igualitarismo

O igualitarismo gera males destruidores para a raça humana, por que é justamente a diferenciação que gera a multiplicidade de entes, ou seja, aquilo a que chamamos ''Universo", se desconstruímos as diferenças entre os entes estamos fazendo uma tentativa de nos engajar em um processo de destruição do Universo.

A falsa ideia de igualdade ainda acarreta males no âmbito religioso, pois muitos são aqueles que querem colocar a Verdadeira Fé no mesmo patamar das seitas protestantes e de outras religiões. Para eles, todo caminho leva á Deus, e esse erro vem maltratando a Igreja já ha muitos tempos. Existem Padres que não querem usar mais vestes sacerdotais porque acreditam que eles devem se igualar aos leigos, pior do que isso, é ver leigo que quer celebrar a Missa porque se considera igual ao sacerdote. Aonde nós vamos parar???

O que diz as Sagradas Escrituras?

A Bíblia Sagrada nos mostra o valor e a necessidade da desigualdade para que haja ordem no universo. Vejamos:

No livro de Provérbios, lemos que "O rico e o pobre se encontraram; o Senhor criou a ambos" (Prov. 22, 2).

E em Israel, queria Deus que houvesse igualdade?

No povo eleito , havia 12 tribos. Entre elas Deus preferiu a de Judá, prometendo-lhe que dela nasceria a Messias: "Judá, teus irmãos te louvarão ( ... ) os filhos de teu pai se prostrarão diante de ti ( ... ) O cetro não será tirado de Judá" (Gen. 44, 8-12).

Na tribo de Judá havia muitas famílias mas Deus não as tratou igualmente, pois preferiu entre todas a família de Davi. Quando veio ao mundo, Cristo nasceu num presépio onde havia - diz a tradição - um boi e um burro, cumprindo-se o que profetizara Isaías:

"Conhecerá o boi o seu dono, e o burro conhecerá o presépio de seu Senhor". (Is. I, 3).

Hugo de S. Victor explica que o boi e o burro do presépio representavam respectivamente o judeu e o pagão, pois Cristo veio redimir a ambos> O boi que arava sob a canga representa o judeu que labutava sob a canga da Lei mosaica. O asno que não tem sabedoria simboliza o pagão que não tinha a inteligência das coisas de Deus. Foi por essa razão que Cristo, demonstrando que veio salvar a todos os homens, entrou em Jerusalém montado num burrico que nunca havia sido montado. (Mt. XXI, Marc; XI, 2), levando-o até o templo de Jerusalém para significar que queria que os pagãos fossem levados à Religião verdadeira, ao Templo do Senhor.

E o que dizer dessa Palavra de Jesus? "A vós é concedido conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhe é concedido" (Mat. 13, 11).

E dessa? "Porque (o reino dos céus) será como um homem... que deu cinco talentos (a um servo), e a outros dois, e a outro um, e a cada um segundo a sua capacidade" (Mat. 25, 14-15)

Sabe o que isso significa? Que há desigualdade nas graças, nas virtudes, nos mistérios e nas culpas, o que produz desigualdade de glória no Céu e de castigo no Inferno como nos fala São Tomás (Suma Teológica, I - 295 e Suma Contra os Gentios, cap. CXXXIX e CXXII).

O que diz a Igreja?

A Igreja Católica, porta voz de Deus na Terra, sempre manteve a sua opinião. Vejamos:

Diz Leão XIII na encíclica Quod Apostolici Muneris: "... a desigualdade de direitos e de poder provém do próprio Autor da natureza ... ". E mais adiante: "Aquele que criou e governa todas as coisas regulou com sua sabedoria providencial que as ínfimas coisas ajudadas pelas medianas, e estas pelas superiores, consigam todas o seu fim.". "Por isso, assim como no Céu quis que os coros dos anjos, fossem distintos e subordinados uns aos outros, e na Igreja instituiu graus e diversidade de ministérios, de tal forma que nem todos fossem apóstolos, nem todos doutores, nem todos pastores (I Cor. 12, 27). Assim estabeleceu que haveria na sociedade civil várias ordens diferentes em dignidade, em direitos e em poder, a fim de que a sociedade fosse, como a Igreja, um só corpo, compreendendo um grande número de membros, uns mais pobres que os outros, mas todos reciprocamente necessários e preocupados com o bem comum." (Leão XIII, Quod Apostolici Muneris, no 15, 17 e 18).

E na Humanum Genus diz Leão XIII: "... se considerarmos que todos os homens são da mesma raça e da mesma natureza e que devem todos atingir o mesmo fim último e se olharmos aos deveres e aos direitos que decorrem dessa comunidade de origem e de destinos, não é duvidoso que eles sejam iguais. Mas, como nem todos eles têm os mesmos recursos de inteligência, e como diferem uns dos outros seja pelas faculdades do espírito seja pelas energias físicas; como, enfim, existem entre eles mil distinções de costumes, de gostos, de caracteres, nada repugna tanto à razão como pretender reduzi-los todos à mesma medida, a introduzir nas instituições da vida civil uma igualdade rigorosa e matemática." (Leão XIII, Humanum Genus, no 22).

"A Igreja, pregando aos homens que eles são todos filhos do mesmo Pai celeste, reconhece como uma condição providencial da sociedade humana a distinção das classes; por esta razão Ela ensina que apenas o respeito recíproco dos direitos e deveres, e a caridade mútua darão o segredo do justo equilíbrio, do bem estar honesto, da verdadeira paz e prosperidade dos povos. (...) "Mais uma vez Nós o declaramos: o remédio para esses males [da sociedade] não será jamais a igualdade subversiva das ordens sociais" ( Alocução de 24/01/1903 ao Patriarcado e à Nobreza Romana).

Na carta Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII sobre a condição dos operários, ele diz: "O primeiro princípio a pôr em evidência é que o homem deve aceitar com paciência a sua condição: é impossível que na sociedade civil todos sejam elevados ao mesmo nível. É, sem dúvida, isto o que desejam os Socialistas; mas contra a natureza todos os esforços são vãos. Foi ela, realmente, que estabeleceu entre os homens diferenças tão multíplices como profundas; diferenças de inteligência, de talento, de habilidade, de saúde, de força; diferenças necessárias, de onde nasce espontaneamente a desigualdade das condições. Esta desigualdade, por outro lado, reverte em proveito de todos, tanto da sociedade como dos indivíduos; porque a vida social requer um organismo muito variado e funções muito diversas, e o que leva precisamente os homens a partilharem estas funções é, principalmente, a diferença das suas respectivas condições.

Se assim nos falou a Igreja que é a "Coluna e sustentáculo da Verdade" (I Tim. 3, 15), devemos assentir com muito respeito. Se faz necessário ouvirmos aquilo que a nossa Mãe Igreja, em seus santos e doutores tem a nos dizer, para que assim não fiquemos presos a ideologias anticristãs e que nos levam aos poucos a rejeitarmos a sã Doutrina do Evangelho de Nosso Senhor. Para terminar, nada mais justo do que ouvir o aviso que nos dá São Cipriano de Cartago, que nos alerta para o perigo que há em escutar certos mestres:

‘’Disfarça seus ministros em ministros de justiça, ensina-lhes a dar à noite o nome de dia, à perdição o nome de salvação, ensina-lhes a propalar o desespero e a perfídia sob o rótulo da esperança e da fé, a apregoar o Anticristo com o nome de Cristo. Mestres na arte de mentir, diluem com as suas sutilezas toda a verdade.’’

No Coração de Jesus e Maria!

Maurino dos Reis Pereira
Apostolado São Clemente Romano
Itanhem / BA 03 Setembro de 2010

Referencias:

[1] ECCLESIA. São Cipriano sobre a unidade. [site ortodoxo]. Disponível em: http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/s_cipriano_sobre_a_unidade.html Acesso: 3 de setembro de 2010

[2] FEDELI, Orlando. Desigualdade & igualdade: considerações sobre um mito. [Site da Associação Cultural Montfort] Disponível em: http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=religiao&artigo=desigualdade&lang=bra Acesso: 11 de Agosto de 2010.

[3] LEÃO XIII. Carta Encíclica Rerum Novarium. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum_po.html Acesso: 19 de Agosto de 2010