sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Entendendo a Santa Missa

A Santa Missa: a atualização do Sacrifício do Calvário


A Missa é chamada de Santa, pois se trata da atualização do único e definitivo sacrifício do Calvário de Nosso Senhor Jesus Cristo, é a renovação incruenta, ou seja, sem derramamento de sangue, do sacrifício de Cristo que é o Santo dos santos. Se todas as pessoas entendessem a magnitude de cada celebração eucarística, não achariam por diversas vezes a Missa chata e cansativa. A cada Missa ocorre o grande milagre da transubstanciação, ou seja, da completa mudança da substância do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Jesus Cristo, nosso Senhor. Porém, muitos ignoram que a cada Missa Jesus se entrega a nós com todo seu amor, em um sacrifício único e agradável a Deus, para a nossa salvação.

Para entendermos como a Santa Missa é importante (que além de ser ordenada pelo próprio Cristo “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19), é desejada pelo Pai como uma oblação pura), podemos ler as passagens que seguem:

Inicialmente, o profeta Malaquias inspirado pelo Espírito Santo transmite como o Criador se encontra irritado com a falta de dignidade e pureza dos sacrifícios antigos:

O filho honra seu pai, e o servo reverencia o seu senhor. Se eu, pois, sou vosso pai, onde está a minha honra? E se eu sou o vosso Senhor, onde está o temor que se me deve? diz o Senhor dos exércitos. Convosco falo, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome, e que dizeis: em que desprezamos nós o teu nome? Vós ofereceis sobre o meu altar um pão imundo, e dizeis: Em que te profanamos nós? Nisso que dizeis: A mesa do Senhor está desprezada. Se vós ofereceis uma hóstia cega para ser imolada, não é isto mau? E se ofereceis uma que é coxa e doente, não é isto mau? Oferecei estes animais ao vosso governador, e vereis se eles lhe agradarão, ou se ele vos receberá com agrado, diz o Senhor dos Exércitos (Mal. 1, 6-8).

E diante de tal desagrado o profeta também diz que o Pai não aceitaria mais nenhum sacrifício antigo: “o meu afeto não está em vós, diz o Senhor dos exércitos; nem eu receberei algum donativo de vossa mão” (Mal 1, 10), e mais, prefigura um novo sacrifício puro e digno: “Porque desde o nascente do sol até o poente é o meu nome grande entre as gentes, e em todo lugar se sacrifica e se oferece ao meu nome uma oblação pura” (Mal. 1, 11). Ou seja, todo sacrifício oferecido da forma antiga, com sangue de animais não seria mais aceito, e em seu lugar deveria ocorrer um sacrifício puro para o agrado do Senhor dos exércitos.

Porém esta não é a única passagem bíblica que faz menção a um sacrifício puro oferecido a Deus. As passagens do Antigo Testamento podem prefigurar, por diversas vezes, os acontecimentos do Novo Testamento, através dos profetas e suas profecias. Em Gênesis (14, 18-20), podemos ver Melquisedec, rei de Salém e sacerdote do Deus altíssimo, oferecendo pão e vinho em Sacrifício a Deus e abençoando-os. Temos a certeza de que ele era sacerdote, pois no salmo 110 (109) versículo 4, podemos observar que o próprio Deus jurou a Davi “Você é sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec”. Já no Novo Testamento na carta de São Paulo aos Hebreus a partir do capítulo 8 podemos observar o apóstolo afirmar um novo sacerdócio, uma Nova Aliança mais benéfica, ou seja, as coisas não seriam mais como no passado, pois o sangue oferecido seria o do próprio Deus.

A Santa Missa é mais que a “Ceia do Senhor”, pois é o Sacrifício do Altar, é Deus que se imola em todas as celebrações eucarísticas e se dá a nós sob as espécies de pão e vinho. Deus nos alimenta e nos dá de comer e beber sustentando nosso Espírito com o pão da vida, tenhamos, pois, fé e gratidão todas as vezes que participamos da celebração da Santa Missa.

Nós, pobres pecadores, devemos participar e assistir com enorme gratidão a este sacrifício, todos os dias renovado e atualizado pelo próprio Cristo. Por esta razão, a Santa Missa é tão solene e os abusos por diversas vezes realizados na liturgia devem ser evitados, pois a celebração eucarística é feita de ritos, da repetição da forma desenvolvida pelos apóstolos, e não cabe a simples leigos mudar a forma dela se realizar, mas somente o Colégio Apostólico, liderado pelo Sumo-Pontífice, pode tomar tais decisões. Como feito no Concílio Vaticano II, na qual a Santa Missa pôde começar a ser celebrada na língua local e com o sacerdote virado para o povo.

Fonte:

Site Doutrina Católica. Disponível em: http://doutrinacatolica.wordpress.com/2011/09/30/entendendo-a-santa-missa/ Acesso em: 30 Setembro 2011.

sábado, 24 de setembro de 2011

A Idade Média, os Monges e o Progresso


Em síntese: O Prof. Léo Moulin, agnóstico ou ateu belga, reconhece a benéfica influência do Cristianismo e, em especial, da Regra de São Bento na evolução da cultura e da civilização. Mostra como a Regra de São Bento, legislando para os monges, fez transbordar sobre toda a sociedade medieval e posterior certos princípios de disciplina, diligência e ordem no trabalho, que propiciaram a criação de grandes empresas industriais e culturais. São Bento, aliás, hauriu das Escrituras Sagradas a sua mentalidade; ora a Bíblia incute ao homem certo otimismo em relação à natureza, obra de Deus Criador, que confiou ao casal humano o mandato de explorar e dominaras criaturas inferiores. A mesma fonte bíblica deu a saber ao homem que o universo foi criado com sabedoria e lógica; a própria razão humana, sendo dom de Deus, merece a confiança do homem; conscientes disto, os medievais cultivaram a inteligência, resultando daí grande número de Universidades e belas obras de arte (catedrais, especialmente), que supõem dinamismo, coragem e saber científico entre os homens da Idade Média. Esta, portanto, não foi o período obscuro do qual se fala sem o devido conhecimento de causa.

Costuma-se comentar a influência que o Calvinismo, fundado no século XVI, exerceu sobre o desenvolvimento comercial e econômico dos países que o adotaram. O senso religioso levou os calvinistas a se dedicarem "religiosamente" às suas atividades profissionais, donde resultou (em parte, ao menos) a rede colonial da Inglaterra e da Holanda.

Todavia é menos conhecida a influência sadia que a fé católica exerceu sobre os monges e as populações medievais em favor do progresso da civilização. Aliás, deve-se dizer que o Cristianismo, bem entendido e vivido, foi e será sempre um estímulo para a construção de um mundo mais humano, fraterno e, por conseguinte, mais feliz.

O Prof. Léo Moulin, agnóstico e ateu, belga de 82 anos de idade, tem-se manifestado sobre o assunto. Já em PR 310/1988, pp. 115-120 foi publicada uma entrevista desse mestre sobre a Idade Média, acentuando os seus valores positivos. Leo Moulin voltou à temática em 1990 por ocasião do nono centenário do nascimento de São Bernardo (1090-1153), desta vez focalizando mais explicitamente o papel dos monges da Idade Média no progresso da civilização. Visto que a questão é de grande importância para dissipar equívocos, passamos a resumir tópicos de um artigo do Prof. Moulin publicado na revista "JESUS", dezembro de 1990, pp. 103-107, com o título "Luminosíssimo Medioevo!"

1. Invenções e Descobertas

A Idade Média ocidental ocupa lugar importante na história do desenvolvimento tecnológico, pois registrou uma série de invenções e descobertas que lhe dão preeminência sobre quanto ocorreu na mesma época fora do âmbito europeu. Sejam recordados: a bússola, as lentes de óculos, a roda com aros, o relógio mecânico com pesos e rodas ("invenção mais revolucionária do que a da pólvora e a da máquina a vapor", conforme Ernst Junger), o canhão (em 1327), a caravela (em 1430), a própria imprensa, a ferradura de cavalo, que permite ao animal correr sobre terrenos inóspitos, os moinhos de água, de maré, de vento...Isto tudo fez que o Ocidente se encontrasse em melhores condições de civilização do que outras partes do mundo no século XVI.

2. A Regra de São Bento

Antes de todas estas, houve outra grandiosa "invenção", que é a Regra de São Bento (+547) (1). Nesta encontramos elementos necessários ao bom andamento de uma empresa moderna.

Com efeito. Além do Ora (Oração), São Bento ensina o valor e a sistematização do Labora (Trabalho). Imagina, sim, o seu discípulo como um operário (RB Prol 14) que trabalha com mãos e ferramentas na oficina do Mosteiro (RB 4, 75-78). O trabalho é essencial à identidade monástica, seja o manual, seja o intelectual, seja o artístico ou artesanal. No decorrer da Regra, São Bento ilustra as motivações do Labora:

Citaremos a Regra de São Bento usando a sigla RB; os números seguintes indicarão respectivamente capítulo e versículo(s). A abreviatura Prol significa Prólogo.É de notar que não sem motivo o Papa Paulo VI em 1964 declarou São Bento "Patrono do Ocidente". Este deve muitos dos seus valores aos escritos e à obra de São Bento.

— o trabalho corresponde a um gênero de vida pobre, que exige a labuta pessoal para poder manter-se; cf. RB 48,8;

— o trabalho é serviço à comunidade e aos hóspedes, a exemplo do que fez Cristo; cf. RB 48,1-25; 53, 1-23;

— o trabalho é desenvolvimento dos talentos que Deus entregou ao homem e cuja aplicação ele vai julgar; cf. RB 4,75-77;

— o trabalho ajuda os pobres e evita a ociosidade, que é inimiga da alma; cf. RB 48,1.São Bento quer que o trabalho seja executado "bem", "com serenidade", "sem tristeza" e "sem murmuração"; cf. RB 34,6; 35,13; 40, 8s; 53,18.Trabalhar em comum é, para São Bento, um valor, tanto que os monges culpados de faltas graves são excomungados não só da oração e da refeição comunitárias, mas também do trabalho com os irmãos: "Que seja suspenso da mesa e do oratório o irmão culpado de faltas mais graves. . . Esteja sozinho no trabalho que lhe for determinado" (RB 25,1.3).

A Regra de São Bento, portanto, formou os monges (e, conseqüentemente, a sociedade) no sentido da diligência e da disciplina do trabalho. De modo especial, ela incutiu (e incute) dois valores muito estimados no mundo industrial moderno:

— a pontualidade. São Bento não transige a respeito. Prevê sérias punições para quem chega atrasado à oração litúrgica ou ao refeitório (RB 43); ao sinal dado de madrugada, levantem-se todos sem demora (RB 22); quem recebe uma ordem, deve executá-la prontamente (RB 5);

— atenção ao que se faz. São Bento formula uma norma decisiva: "Controlar a todo momento os atos de sua própria vida. Actus vitae suae omni hora custodire." (RB 4,48).

É preciso, pois, estar presente de corpo e alma àquilo que se faz, sejam grandes, sejam pequenas coisas. A Regra prevê punições para quem erre na oração comum (RB 45,1); exige durante as refeições leitura, à qual todos devem prestar atenção, de modo que ninguém converse e só se ouça a voz do leitor (RB 38,5). Haja absoluta limpeza, especialmente na cozinha (RB 35,6-11). A perda ou a quebra de qualquer objeto durante o trabalho requer satisfação da parte de quem comete a falha (RB 46,1-4).

São Bento também pede que os monges não se entristeçam se a necessidade do lugar ou a pobreza exigirem que se ocupem em trabalhos extraordinários, "porque então são verdadeiros monges se vivem do trabalho de suas mãos, como também os nossos Pais e os Apóstolos" (RB 48,8).

Estes princípios de ordem ascética, inspirados pelo amor à disciplina do Evangelho, contribuíram para que os mosteiros se tornassem grandes centros agrícolas e artesanais em toda a Idade Média, irradiando em torno de si amor ao trabalho, organização e método modelares para a posteridade. Essa sistemática não tinha em vista simplesmente produção e lucro materiais, mas era inspirada pelo espírito de fé e apoiada em razões monásticas. Assim, por exemplo, um texto do século XI explica por que foi adotado um moinho de água na comunidade: "... a fim de que os monges tenham mais tempo para dedicar-se à oração".

Em seu afã de trabalhar para exercer disciplina e evitar a ociosidade (inimiga da alma), os monges dedicaram-se a quase todas as atividades produtivas: exploraram minas de carvão, salinas, metalurgia, marcenaria, construção. . . Assim, por exemplo, os monges cistercienses fabricaram fornos para produzir tijolos grandes, dotados de furos para facilitar a sua cozedura e manipulação; eram os chamados "tijolos de São Bernardo". Montaram na Borgonha fábricas de telhas, que eles espalharam por diversas regiões.

Aliás, a própria Regra de São Bento pede que o mosteiro tenha em suas dependências tudo de que necessita a comunidade para viver: "Seja o mosteiro construído de tal modo que todas as coisas necessárias, isto é, água, moinho, horta e os diversos ofícios se exerçam dentro do mosteiro, para que não haja necessidade de que os monges vagueiem fora, pois de nenhum modo isto convém às suas almas" (RB 66,6s). Ora esta norma da Regra não podia deixar de ser forte estímulo para a criatividade dos monges. O capítulo 57 da mesma Regra trata dos artesãos que, com a autorização e a bênção do Abade, trabalham no mosteiro como monges, e pede que os preços dos respectivos artefatos sejam mais baixos do que os preços do comércio de fora: "Quanto aos preços, não se insinue o mal da avareza, mas venda-se sempre um pouco mais barato do que pode ser vendido pelos seculares, para que em tudo seja Deus glorificado" (RB 57, 7-9).

Sabemos ainda que em 1215 os maiorais da Inglaterra, tanto leigos quanto clérigos, obtiveram do rei João sem Terra o reconhecimento da Magna Charta (Libertatum), Grande Carta das Liberdades, que promulgava direitos da população e que se tornou o fundamento da Constituição liberal da Inglaterra e o embrião dos posteriores sistemas políticos parlamentares. Ora, um século antes disto, em 1115 a Ordem Cisterciense (1) concebera o sistema de governo mais prático que se conhece: o Capitulum Generale (Capítulo Geral), assembléia internacional da qual fazem parte representantes de todos os mosteiros e dotada de poder legislativo. A instituição do Capitulum Generale foi adotada por Ordens e Congregações Religiosas posteriores e tornou-se modelo para o regime de muitas sociedades de caráter internacional.

É preciso ainda apontar duas características da mentalidade medieval, de grande importância na história subseqüente.(1) Cisterciense é o monge de Cister;segue a Regra de São Bento tal como foi entendida pelos reformadores de Cister, entre os quais está São Bernardo de Claraval ff 1153).

3. Duas notas marcantes

Podemos dizer que os medievais 1) fizeram um voto de confiança na razão humana e 2) se deixaram mover pelo dinamismo da Bíblia.

3.1. Confiança na razão

Para os medievais, o mundo era obra de um Deus sábio e lógico, distinto do próprio mundo (em oposição a todo panteísmo). Por conseguinte, o mundo lhes aparecia como algo que pode ser conhecido pelo homem mediante a sua razão; não é um fantasma nem uma armadilha. Dizia no século XII o teólogo francês Guilherme de Conches: "Deus respeita as próprias leis". E no século seguinte Santo Alberto Magno (+1280) afirmava: "Natura est ratio. A natureza é a razão ou é racional". Em conseqüência, os estudiosos medievais se aplicaram ao raciocínio e à pesquisa (como a podiam realizar na sua época) com plena confiança no acume da razão, sem, porém, cair no racionalismo, pois acima da razão admitiam as luzes e as verdades da fé.

Um dos exemplos mais clássicos desse tipo de estudiosos é o inglês Rogério Bacon (1214-1294), chamado "Doutor Admirável". Ingressou na Ordem dos Franciscanos em 1257 e pôs-se a comentar as obras de Aristóteles. Posteriormente dedicou-se à pesquisa científica, recorrendo a um método experimental, que foi precursor do método adotado por Francis Bacon (1561-1626); assim procedendo, fez descobertas no setor da ótica. Planejou diversas invenções mecânicas: máquinas a vapor, barcos, máquinas voadoras. . . Em seus escritos encontrou-se uma fórmula da pólvora, que ele pode ter tomado dos árabes numa época em que os europeus quase não a conheciam. Deixou obras famosas: Opus Maius, Opus Minus e Opus Tertium.

Os resultados dessa confiança dos medievais na razão humana fizeram-se sentir nos séculos subseqüentes: em 1608 contavam-se mais de cem Universidades na Europa e nenhuma no resto do mundo (exceto na America Latina, onde os espanhóis expandiam a sua cultura). Dessas Universidades, mais de oitenta tiveram origem na Idade Média, como genuína expressão da cultura medieval. Diz-se com razão que as Universidades e as catedrais exprimem autenticamente a Idade Média; na verdade, os medievais atingiram o primado mundial de altura de cúpula na catedral de Amiens (1221), com 42,30 metros. A flecha da torre da catedral de Estrasburgo (1250), terminada em 1439, mede 142 metros de altura: só foi ultrapassada pela Torre Eiffel de Paris em 1889, com 320 metros.

3.2. Dinamismo

A Escritura Sagrada transmite aos seus leitores uma atitude dinâmica em relação ao universo que os cerca. Logo em suas primeiras páginas formula o desígnio divino: "Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança; domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra" (Gn 1, 26). E após a criação do homem se lê a ordem divina: "Enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que rastejam sobre a terra" (Gn 1, 28).O salmo 8, por sua vez, canta o poder do homem sobre os seres que o cercam:"Que é o homem para que dele te recordes?. . . e o filho do homem, para que dele tenhas cuidado? Não obstante. Tu o fizeste um pouco inferior aos anjos. . . e lhe deste poder sobre as obras de tuas mãos, tudo colocaste debaixo dos seus pés".

No Novo Testamento lê-se que Cristo, ao encerrar sua missão pública, mandou aos apóstolos que fossem pregar o Evangelho no mundo inteiro; cf. Mt 28,18-20.Por conseguinte, a atitude do esforço, da luta, do empreendimento, da resposta ao desafio. . . é muito familiar ao cristão. Pode-se dizer que foram os cristãos que realizaram os progressos da ciência (tenha-se em vista o mundo ocidental comparado com o oriental ou asiático e africano!), as grandes aventuras da conquista intelectual, econômica, marítima. . . Foram otimistas e dinâmicos, conseguindo belos e valiosos resultados.Estas poucas observações são suficientes para percebermos a notável contribuição do Cristianismo para o avanço da cultura, da ciência e da civilização. . . na história da humanidade. E, dentro do Cristianismo, merece certamente relevo especial o monaquismo ocidental tal como São Bento (+547) o concebeu e a Ordem Cisterciense, com São Bernardo à frente, o desenvolveu.

Fonte:

Revista Pergunte e Responderemos 347 – abril 1991.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A incompatibilidade entre o Catolicismo e o Espiritismo



Porque tantas pessoas hoje dão ouvidos às pseudo-doutrinas espíritas?

São Paulo Apóstolo responde:

“O Espírito diz expressamente que, nos tempos vindouros, alguns hão de apostatar da fé, dando ouvidos a espíritos embusteiros e a doutrinas diabólicas” (1º Tim. 4,1)

“Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si.” (2º Tim. 4,3)

Mas, ainda que alguém – nós ou um anjo baixado do céu – vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema.” (Gal. 1,8)

Como é que católicos se metem a freqüentar centros espíritas, a assistir novelas de cunho espírita (dando dinheiro para que sejam ditas mentiras que podem perder almas), e a achar que certos nomes do espiritismo são louváveis? Por certo estes católicos não conhecem estas passagens de duas obras espíritas de renome – uma de Leon Denis, grande nome do espiritismo e outra do próprio codificador da doutrina espírita, Alan Kardec:

“Chegará a ocasião em que o catolicismo, seus dogmas e práticas não serão mais do que vagas reminiscências quase apagadas da memória dos homens, como o são para nós os paganismos romanos e escandinavos.” (Leon Denis. Depois da morte. p.80).

“Cumpre nos façamos compreensíveis. Se alguém tem uma convicção bem firmada sobre uma doutrina, ainda que falsa, necessário é que lhe tiremos essa convicção, mas pouco a pouco. Por isso é que muitas vezes nos servimos de seus termos e aparentamos abundar nas suas idéias: é para que não fique de súbito ofuscado e não deixe de se instruir conosco.” (Allan Kardec, Livro dos Médiuns, FEB, 62a. edição, 2a. parte, Cap. XXVII no.301 pp.399-400).

Vejam que eles mesmos dizem que o catolicismo será destruído, quando o próprio Senhor disse que contra a Igreja “as portas do inferno não prevalecerão”. Em quem vocês, católicos metidos a espíritas, preferem acreditar? O Evangelho é verdadeiro, logo o que o contradiz é mentira e sabemos muito bem que é o pai da mentira...

Vejam também a mentalidade ardilosa do Sr. Kardec que ensina a fingir, a ter uma linguagem falsa para atrair os não espíritas às suas fileiras! Em vez de dizerem logo aquilo que são e no que crêem, eles se fazem de cristãos, para melhor enganar! E isso é ensinado pelo próprio codificador da doutrina! Linguagem dúbia, própria de quem tem língua bífida como a da serpente!

Que os católicos acordem e deixem de dar ouvidos às mentiras do espiritismo e que os espíritas abram os olhos também e se deixem tocar pelo Espírito Santo de Deus! Eu também fui espírita e hoje, com a graça de Deus estou aqui, na esperança de ir para o Céu, viajando na Barca de Pedro que é a Santa Igreja Católica.

Quem tiver olhos de ver, que veja!


Fonte:

http://borboletasaoluar.blogspot.com/2010/06/incompatibilidade-entre-o-catolicismo-e.html

domingo, 18 de setembro de 2011

Quem denunciou o Papa Bento XVI à Corte de Haia?




Certamente há fiéis católicos perplexos diante da denúncia apresentada contra o Papa Bento XVI na Corte de Haia. O Papa e alguns cardeais foram acusados de cúmplice omissão ou acobertamento nos casos de pedofilia e, como tais, réus de crimes contra a humanidade.

Não deixa de ser curioso que o abuso sexual contra crianças, que viola a integridade física, moral e espiritual das mesmas, seja considerado um crime contra a humanidade (e penso que o deva ser), e o aborto, que viola a mesma integridade em grau extremo, venha se tornando um direito humano universal. Será que algum dia veremos os aborteiros e abortistas – fautores, promotores e cúmplices – no banco dos réus de Haia? Bem que estes criminosos poderiam se juntar aos verdadeiros pedófilos e o mundo seria um lugar melhor de se viver! Mas vamos aos fatos.

Bento XVI é reconhecidamente o campeão da tolerância zero com pedófilos na Igreja. Deve-se a ele uma significativa mudança no tratamento do problema, de tal modo que acusá-lo de acobertamento de pedofilia é bastante revelador das reais intenções de seus acusadores.

Quem acusa Bento XVI pouco se importa realmente com a sorte das crianças; na verdade, para eles é mesmo bom que haja abusos. Havendo abusos e muitos, mais facilitado será seu trabalho de acusar e sua pretensão de destruir a Igreja. Bento XVI é um inimigo na medida em que lhes tira a “bandeira”, prontamente hasteada quando se pretende atacar a Igreja, não importando sobre que argumentos. Recentemente o governo comunista de Pequim usou a “bandeira” da pedofilia para justificar sua intervenção na Igreja chinesa. O expediente é simples: quer defender uma tese contrária à doutrina da Igreja, não se preocupe com argumentos, basta começar recordando casos de pedofilia.

Quer conhecer quem denunciou o Papa ao tribunal de Haia? Leia o artigo “Eis quais são os dois lobbies anticlericais que denunciaram o Papa a Haia”abaixo:

“Duas associações que se declaram ‘pelos direitos das vítimas de abusos sexuais por parte de religiosos’ apresentaram à Corte penal internacional de Haia um dossiê em que se pede que o Papa Bento XVI, o Cardeal Tarcisio Bertone, o Cardeal Angelo Sodano e o Cardeal William Levada sejam processados por crimes contra a humanidade, porque teriam tolerado e tornado possível a cobertura sistemática e difusa de estupros e crimes sexuais contra crianças em todo o mundo. Uma operação exagerada e utópica muito interessante, porque revela finalmente o imenso esforço de manter a todo custo a ofensiva secularista contra a Igreja.

A Unione Cristiani Cattolici Razionali (UCCR) criou prontamente um dossiê apropriado em que são recolhidas todas as notícias mais interessantes sobre o assunto. É muito significativo notar como a maioria dos jornais se pôs prontamente ao lado do Pontífice, sublinhando as incontáveis iniciativas de Bento XVI para combater este terrível defeito presente na Igreja e os seus inúmeros mea culpa pela grande desatenção havida da parte de numerosos bispos. Muitos preveem que esta iniciativa logo se revelará um bumerangue para a cultura anticlerical e, infelizmente, também um distanciamento da atenção midiática sobre as crianças abusadas e sobre o fenômeno da pedofilia, grande mal da sociedade ocidental (secularizada segundo alguns) e em contínua expansão.

Entre os artigos mais interessantes está seguramente o ótimo trabalho desenvolvido pelo blog “Papa Ratzinger”, onde já foram examinados todos os argumentos de acusação contra o Papa contidos no dossiê apresentado a Haia e já refutados um a um. Outro artigo digno de nota apareceu noL’Occidentale em que se mostra quais são realmente estes lobbies anticlericais que estão na origem da denúncia. Exatamente para dar uma ideia de quem são aqueles que têm interesse de levar adiante esta operação difamatória e auto-publicitária.

A SNAP (Survivors Network of those Abused by Priests) é um associação débil cujos métodos de condução de suas atividades não convenceram a BBB, uma agência de avaliação das entidades filantrópicas americanas (não-lucrativas), e que sequer foi considerada digna de ser definida como “filantrópica” [charity no original]. Não parece ser muito amada pelas vítimas de pedófilos, alguns dos quais abandonaram a associação, como Michael Baumann (aqui seu artigo no seu blog) ou Key Ebeling (seu artigo). A SNAP ademais é financiada por advogados para cujo trabalho contribui mandando-lhes as pretensas vítimas como clientes em potencial. E a lista é óbvia e necessariamente longa. E ainda, como observou aqui um comentarista, um dos maiores colaboradores da SNAP, Dr. Steve Taylor, foi preso em 2008 pela posse de mais de 100 vídeo-imagens pedo-pornográficas. A fundadora e atual presidente da associação para as vítimas de pedófilos, Barbara Blaine, escreveu imediatamente diversas cartas em sua defesa pedindo aos magistrados para fecharem os olhos e voltarem a atenção para o trabalho desenvolvido por Taylor ao longo dos anos. Todavia, a SNAPrecorda em seu site que, quando um padre é acusado, os paroquianos que o defendem deveriam fazê-lo “em privado”. Mas evidentemente as regras não são iguais para todos. E ainda, mesmo depois da prisão de Taylor, a SNAP promoveu-o abertamente, definindo-o como um dos “chefes” de sua organização. Não obstante os pedidos, nem Barbara Blaine nem qualquer responsável da SNAP jamais se desculpou ou expressou alguma dor por haver colocado as pessoas seguidas por eles em íntimo contato com um aficionado por imagens pedo-pornográficas e potencial pedófilo, por tê-lo apoiado e celebrado como seu responsável mesmo depois da prisão. Nesta página um elenco de ulteriores acontecimentos controversos ligados à associação anticlerical.

Quanto ao CCR (Center for Constitutional Rights), foi fundado por radicais de esquerda e comunistas nos anos 60. Em seu passado defendeu os membros da Black Panther, organização terrorista, marxista-leninista-maoísta dos Estados Unidos. Dois de seus fundadores, Kinoy e Kunstler, eram declaradamente pró Fidel Castro, o impiedoso ateu ditador cubano. Muitos definem estes personagens “anti-sionistas até a medula, se não anti-semitas”. O CCR não parece sequer desdenhar os financiamentos do subversivo e anti-sionista George Soros.”

Tradução: OBLATVS

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Cristianismo e Racionalismo

Por G. K. Chesterton.

Um amigo, o Sr. George Haw, pediu-me para expor, em um ou dois artigos, que pudessem ser inseridos no Clarion, minha crença geral na verdade do Cristianismo. Não fingirei nenhuma relutância em fazê-lo; mas eu não deveria fazê-lo antes de oferecer ao Sr. Blatchford nossa gratidão e o que é melhor que isso, nossos parabéns, a respeito do seu gesto tão generoso de ter publicado até mesmo seu periódico nas mãos de seus oponentes religiosos. Ao fazer isto, ele ganhou, numa generosa desinconsciência, um ponto autêntico.

Receio que a maior parte das terríveis revelações sobre o mal Cristão, não o da ignorância, me afetam tão gravemente quanto deveriam. Quando ouço que um professor Alemão encontrou a quadracentésima origem precisa do protoplasma, tento, em vão, sentir entusiasmo; quando leio que os selvagens pintam de verde suas faces para agradar os fantasmas (e assim por diante), não tenho nenhum sentimento além de simpatia e um vago prazer. Ambos o professor e o selvagem de cara verde parecem, para mim, estar fazendo a mesma coisa: caindo na influência desse brilhante impulso que leva os homens a fazer algo grandioso com coisas completamente inúteis.

Mas tais coisas não fazem muita diferença da minha visão a respeito do Cristianismo. Em toda essa controvérsia, senti algo forte, que de fato atingiu o Cristianismo prático; penso ser um bom argumento; acho que é um argumento terrível. Trata-se do fato de esta controvérsia estar sendo conduzida num jornal não Cristão. Certamente é um ponto marcado justamente contra a religião, pois as pessoas que parecem ser mais interessadas nela são justamente as pessoas que acreditam ser ela uma fraude. Portanto, acho que a generosidade do Sr. Blatchford, como toda generosidade, é profundamente filosófica e sábia.

Eu nem o acuso, como alguns fizeram, de discuti-lo prolixamente. Como o assunto é a natureza do Universo, fica necessariamente tão grande quanto o Universo, tão rico quanto o Universo, e, posso acrescentar, tão divertido quanto o Universo.

Na verdade, imagino que deve existir algo como a Imortalidade, para que eu e o Sr. Blatchford simplesmente tenhamos tempo pra discutir se é verdade.

Antes de resumir meu ponto de vista, há algo a dizer no qual não posso evitar uma nota pessoal. Comecei a perceber que meu modo de falar nestes assuntos parece a muita gente uma indicação de que sou leviano ou imperfeitamente sincero. Pois, na realidade, estar mais convicto neles que na existência da lua me deixa pesaroso; mas busco ver a naturalidade do erro e como ele surgiu nas pessoas quando expulsas da atmosfera Cristã. O Cristianismo é em si tão alegre que enche seu possuidor de certa exuberância boba, a qual os tristes e exultantes Racionalistas podem razoavelmente compreender mal, por simples tolice ou blasfêmia; como seus protótipos, os tristes e exultantes Estoicos da velha Roma, eles fizeram da alegria Cristã palhaçada e blasfêmia.

Esta diferença conserva bom todo lugar, desde a fria arquitetura Pagã e as sorridentes gárgulas da Cristandade, até o absurdo multicolorido das Idades Médias e o sujo vestido deste século Racionalista. E se o Sr. Blatchford deseja saber porque deveríamos estar surpresos se o Duque de Devonshire andou com uma perna vermelha e outra amarela (como um nobre também o faria no século XIII), posso obsequiosamente informar-lhe que isto acontece por decadência de nossa fé. Em lugar nenhum na história existiu qualquer brilho popular ou alegria sem religião.

A primeira de todas as dificuldades que tenho em debater com o Sr. Blatchford é simplesmente esta: estarei andando prodigiosamente sobre sua base. Meu compêndio predileto de teologia é “Deus e minha Vizinhança”[2] mas não posso dizê-lo em detalhes. Se dei cada uma das minhas razões pra ser Cristão, elas seriam, em grande número, as mesmas que o Sr. Blatchford tem pra não ser.

Por exemplo, o Sr. Blatchford e sua escola assinalam que existem muitos mitos paralelos aos da estória Cristã; que existiram Cristos Pagãos, Índios Pele-Vermelha, Crucificações Patagonianas, e tudo isso eu conheço e aprecio. Mas o Sr. Blatchford não vê o outro lado deste fato? Se o Deus Cristão realmente gerou a raça humana, não tenderia a raça humana a divulgar os boatos e depravações do Deus Cristão? Se o centro de nossa vida é um fato, não estariam as pessoas longe do centro tendo uma versão confusa de tal fato? Se em nossa condição precisamos de que nos livre o Filho de Deus, seria estranho que os Patagônicos devessem sonhar com um Filho de Deus?

A posição Blatchfordiana na verdade equivale a isto: algo vem impressionando, como provável ou necessário, milhões de pessoas diferentes, logo, isto não pode ser verdadeiro. E depois, este tímido ser, ocultando seus próprios talentos, acusa o miserável G. K. C. de paradoxo! Gosto do paradoxo, mas não estou preparado pra dançar segundo o Nunquam ou encantar a quem aponta para a humanidade a clamar por algo - para ela apontando desde tempos imemoriais - como uma prova de que o objeto apontado não deve estar lá.

A estória de um Messias é muito comum em lendas e na literatura. Assim é a estória de dois amantes separados pelo Destino. Assim é a estória de dois amigos se matando por uma mulher. Mas isto seria mantido seriamente pelo fato de serem essas duas estórias comuns como lendas, embora nenhum dos dois amigos estivessem separados pelo amor ou nenhum dos dois amantes pelas circunstâncias? Certamente, é razoavelmente natural que estas duas estórias sejam comuns, pois nelas a situação é humana e intensamente provável e nossa natureza é feita como que para torná-las quase inevitáveis.

Por que não seria nossa natureza criada como que para para tornar certos eventos espirituais inevitáveis? Em todo o caso, é claramente ridículo tentar refutar o Cristianismo pela quantidade e variedade dos Cristos Pagãos. Você pode também pegar o número e variedade de esquemas ideais de sociedade, d'A República' de Platão ao 'Novas de lugar nenhum' de Morris, da 'Utopia' de More à 'Merrie England' de Blatchford, e depois tentar provar partindo delas que a humanidade nunca pode alcançar uma condição social melhor. Se fazem algo, é claro, trata-se do oposto disso; sugerem uma tendência humana que se dirige a um mundo melhor.

Assim, em primeira instância, quando os céticos estudados vem dizendo, “tem certeza de que os Kaffirs tem uma estória de Incarnação?” Devo replicar: “Falando como um leigo, não posso saber. Mas falando como um Cristão, devo estar muito impressionado se não tiverem.”

Tomemos um segundo exemplo. O Secularista diz que o Cristianismo foi ascético e sombrio, e aponta para a procissão de santos austeros e ferozes que abandonaram seus lares e sua felicidade e largaram a saúde e o sexo. Mas nunca parece ocorrer a ele que a esquisitice e plena sujeição deles muito faz parecer que houvesse realmente algo real e sólido naquilo pelo qual se doaram. Cederam à todas as experiências humanas por uma sobre-humana. Eles podem ter sido perversos, mas parece que aquela experiência ocorreu.

É perfeitamente defensável que esta experiência, tanto quanto a bebida, é perigosa e egoísta. Um sem-teto que anda maltrapilho, disposto a ter visões, pode ser tão repugnante e imoral quanto um sem-teto que anda maltrapilho, disposto a beber conhaque. É uma postura bastante razoável. Mas dizer que o que não é claramente uma postura razoável não estaria muito longe, na verdade, de ser uma postura insana, seria dizer que o desleixo, a indigência e o penoso aviltamento do homem provaram que não existia conhaque.

É precisamente o que tenta afirmar o Secularista. Tenta provar que não há como pensar na experiência sobrenatural como algo pelo qual as pessoas doaram tudo. Tenta provar que isso não existe demonstrando que existem pessoas que vivem desmotivadas.

De novo, posso docilmente perguntar: “De quem é o paradoxo?” O frenético rigor desses homens pode, é claro, mostrar que aquelas foram pessoas excêntricas que amaram a infelicidade pra seu próprio bem. Mas parece mais de acordo com o bom senso supor que eles tinha realmente descoberto o segredo de algum poder ou experiência real a qual foi, como vinho, uma terrível consolação e uma alegria solitária.

Assim, em seguida, num segundo exemplo, quando o cético culto diz pra mim: “Santos Cristãos deixaram amor e liberdade por tal êxtase do Cristianismo," eu deveria replicar: "Foi um grande erro deles. Mas, tendo alguma noção do êxtase do Cristianismo, eu deveria estar surpreso se não houvessem deixado.”

Tomemos um terceiro caso. O Secularista diz que o Cristianismo fomentou desordem e crueldade. Ele parece sugerir que isto prova ser mal o Cristianismo. Mas eles podem provar o contrário. Homens cometem crimes não somente por coisa más, mas frequentemente por coisas boas. As coisas ruins podem ser desejadas tão apaixonada e persistentemente quanto as boas, mas apenas homens muito excepcionais desejam coisas muito anormais e más.

A maior parte do crime é cometida porque, devido a alguma complicação peculiar, muitas coisas belas e essenciais residem nalgum perigo. Por exemplo, se quisermos acabar com o roubo e com a burla com apenas um golpe, a melhor coisa a fazer seria acabar com as criancinhas. As criancinhas, que são a coisa mais linda do mundo, têm sido o subterfúgio da selvageria e a origem da crise financeira da terra. Se pudéssemos abolir o amor romântico ou monogâmico, novamente o país seria dotado de assizes[3] de donzelas. E se em alguma parte da história massas de homens comuns e amáveis se tornaram cruéis, isto, quase com certeza, não significa que eles estão servindo a algo tirânico em si mesmo (por que deveriam?), mas que, quase com certeza, aquilo que racionalmente valorizam está em perigo, como o alimento de seus filhos, a pureza de suas mulheres ou a independência de seus países. E quando algo se coloca diante deles que não só seja extremamente valioso, mas suficientemente novo, o súbito pressentimento, a chance de ganhar ou perder, guia sua loucura. Isso tem, na vida moral, o mesmo efeito que tem a descoberta do ouro na economia do mundo. Isso inverte os valores e cria uma espécie de ímpeto cruel.

No caso dos exemplos religiosos não precisamos ir tão longe. Quando as doutrinas modernas de irmandade e liberdade foram pregadas na França no século XVIII, o tempo era oportuno a elas, em todo lugar as classes cultas a elas aderiram, de modo considerável o mundo as acolheu. E mesmo com todo aquele aparato e aquela abertura foram incapazes de prevenir o rebento da raiva e a agonia que cumprimentam tudo o que é bom. E se o lerdo e cortês pregador da fraternidade racional numa era racional acabou nos massacres de Setembro, que grande a fortiori temos aqui, não? Qual seria, provavelmente, o resultado da queda brusca de uma verdade terrivelmente perfeita num século terrivelmente mal? O que aconteceria se um mundo tão simples quanto o de Sade[4] fosse confrontado com um evangelho tão puro quanto o de Rousseau?

O mero arremesso do seixo polido da República Idealista no lago artificial da Europa do século XVIII produziu um borrifo que parecia respingar os céus, produziu também a tempestade que afogou dez mil homens. O que aconteceria se uma estrela realmente caísse do céu na sangrenta e pegajosa piscina de uma humanidade decaída e desesperada? Os homens varreriam uma cidade com a guilhotina e um continente com o sabre, porque a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade foram preciosas demais pra ser perdidas. Como aconteceria com o Cristianismo, então, quando este era ainda mais enlouquecedor pelo simples fato de ser ainda mais precioso?

Mas por que deveríamos relembrar o momento em que Aquele que conheceu a natureza humana como ela realmente pode ser conhecida, desde pescadores e mulheres a pessoas naturais, viu, da sua pacata vila, o caminho desta verdade através da história, e, ao dizer que Ele veio trazer não a paz mas a espada, colocou eternamente Seu colossal realismo contra o eterno sentimentalismo do Secularista?

Assim, já no terceiro caso, quando o cultíssimo cético dissesse: “O Cristianismo produziu guerras e perseguições,” deveríamos responder: “Naturalmente.”

E, por fim, permita-me tomar um exemplo que me leva diretamente ao assunto geral que desejo discutir até o fim do percurso dos artigos pelos quais sou responsável. O Secularista constantemente assinala que as religiões Hebraica e Cristã surgiram como problemas locais; que seu deus era um deus tribal; que elas deram a ele forma material e o anexaram a lugares específicos.

Este é um exemplo excelente das coisas que eu deveria usar pra salientar a validade da experiência Bíblica, se estivesse conduzindo uma campanha detalhada. Pois se existem realmente seres mais elevados que nós e se eles, de algum modo estranho, nalguma crise emocional, realmente revelaram-se a rústicos poetas ou sonhadores de tempos singelos, então aquele povo rústico deveria realmente considerar provinciana a revelação e ligá-la a colina específica ou ao rio específico onde ocorreu, e me parece que isso é o que qualquer ser humano racional esperaria. Isso tem uma aparência muito mais verossímil do que se eles houvessem falado de filosofia cósmica desde o início. Se houvessem, eu deveria ter desconfiado do “sacerdócio,” das falsificações e do Gnosticismo do século III.

Se esse tal de Deus existe, se pode falar com uma criança, e se, de fato, falasse com uma criança no jardim, é claro que ela iria dizer que Deus morara no jardim. Não posso pensar que isso é pouco provável por esse motivo. Se a criança dissesse: “Deus está em todo canto: uma essência intocável que permeia e apoia todos os componentes do Cosmos de igual modo" – digo que se o infante me falasse isso com os termos acima, eu pensaria que era muito provável que tratava-se mais da governanta do que de Deus.

Se Moisés tinha Deus como uma Energia Infinita, eu estaria certo de que ele não via nada de extraordinário. Se dissesse que Deus era uma Sarça Ardente, penso que aí sim ele viu algo extraordinário. Pois qualquer que seja o Segredo Divino, e se tem ou não quebrado limites às vezes (como acreditam todas as pessoas) ou surgido no nosso trabalho, pelo menos isto está bem longe dos pedantes e suas definições, e mais próximo das almas admiráveis de pessoas sossegadas, de seu amor à região nativa e da beleza dos arbustos.

Então, em última instância (fora as cem que poderiam ser tomadas), chegamos ao mesmo lugar. Quando o cético instruído disser: “As visões do Antigo Testamento foram provincianas, rústicas e grotescas,” diremos: “Claro! Elas foram reais.”

Então, como eu dizia no início, me encontro, pra começar, face a face com uma dificuldade: mencionar as razões pelas quais acredito no Cristianismo é, em muitos casos, o mesmo que repetir aqueles argumentos que o Sr. Blatchford, estranhamente, parece considerar argumentos contra ele. Seu livro é realmente rico e eficaz. Ele sem dúvida levantou essas quatro armas formidáveis das quais falei. Não tenho nada a dizer contra o tamanho e munição dessas armas. Só acho que por algum acidente no arranjo ele apontou a culatra daquelas quatro peças de artilharia para mim, e as bocas para si mesmo. Se eu não fosse tão compassivo, eu devia dizer: “Senhores da Guarda Secularista, o primeiro disparo.”

E digo mais: o Sr. Blatchford, por uma razão ou outra (possivelmente falta de espaço), negou explicar todos os argumentos para o Cristianismo. E, estranhamente, os dois ou três argumentos que ele resolveu ocultar são os realmente essenciais e vitais. Sem eles, mesmo os quatro fatos excelentes, que ele e eu temos, respectivamente, explicado, podem parecer superficiais e ininteligíveis.

Por que muitos de vocês não aceitarão minhas explicações? Obviamente, na simples lógica, elas são tão lógicas quanto as do Sr. Blatchford. É razoável, em suma, que a verdade deveria ser distorcida tanto quanto a mentira; é razoável, suponho, que os homens devem ser mortos por fome e pecado, mas mais por um real benefício que por um benefício inexistente. Você não irá acreditar nisto porque você tá armado até os dentes, e abotoado até o queixo, com a grande Ortodoxia Agnóstica, talvez a mais plácida e perfeita das ortodoxias do meio termo. Você daria mais crédito a um Sócrates que foi um espião Governamental do que a um Sócrates que ouviu a voz de seu Deus. Você poderia pensar mais facilmente ter Cristo assassinado Sua mãe, que ter tido Ele uma energia psíquica da qual nada sabemos. Então eu me achegaria a você reverente e corajoso, como a um tribunal de bispos.
Notas:

[1] Jornal inglês.

[2] Livro de Robert Blatchford.

[3] Processos judiciários.

[4] Donatien Alphonse François de Sade, o Marquês de Sade, foi um aristocrata francês e escritor libertino.

Fonte:

CHESTERTON, G. K. Cristianismo e racionalismo. [título original: Christianity and Rationalism, tradução de Wendy A. Carvalho]. Site Chesterton Brasil. Disponível em: http://chestertonbrasil.blogspot.com/2011/09/cristianismo-e-racionalismo.html Acesso em: 13 Setembro 2011.

sábado, 10 de setembro de 2011

Apostolado São Clemente Romano anuncia novo coordenador

Por John Lennon J. da Silva.


Queridos leitores, parceiros e amigos do Apostolado São Clemente Romano, é por meio deste pequeno texto que informo a todos que o apostolado e suas atividades pela internet; não serão mais dirigidas por mim, mas a partir deste sábado dia 10 de Setembro, o apostolado passara a ser coordenado pelo meu irmão Eduardo Marques Moreira. Que vem demonstrando muita habilidade e capacidade de levar o apostolado na minha falta, não é necessária qualquer apresentação sobre sua pessoa, para os que acompanham nosso trabalho e já conferiram seus artigos ele se sobressai de forma muito valorosa e ortodoxa.

A razão pela qual me fez tomar esta decisão de passar a coordenação de nossa página para Eduardo. Tange a falta de disponibilidade para dedicar-me as causas primárias que têm o apostolado que é defender a Fé Católica e promover e publicar artigos sobre a sã doutrina. Mas quanto a minha presença no apostolado escrevendo artigos e trazendo informações estas continuaram vivas, só estou me retirando da coordenação da página temporariamente. Ademais tudo continuara na normalidade e nenhuma modificação maior será feita na página.

Recentemente tenho tido diversas ocupações pessoais como, por exemplo, a publicação de meu primeiro livro, atividades programas com a Comunidade Católica Resgate [que faço parte], neste último mês passei por seleção para entrar na iniciação científica da faculdade onde atualmente curso História. E resolvi convidar Eduardo a levar o barco a frente com minha ajuda, o que ele logo aceitou de prontidão.

Quero agradecer a ajuda que ele vem me prestando nestes muitos meses que estamos juntos por aqui e nesta fase de minha vida! Deus o abençoe, pela intercessão da Virgem Santíssima nesta estrada irmão!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A Liturgia Católica [Programa Credo in Ecclesia]

Por John Lennon J. da Silva.

Coloco a disposição dos amigos e leitores do Apostolado ao Clemente Romano, para download o último programa que gravei para o “Credo in Ecclesia”. Na verdade o áudio foi gravado no dia 13 de Agosto e com atraso faço postagem aqui no site. Lembrando que o programa que vai ao ar todos os sábados pela rádio-web Resgate a partir das 18:30 hs.

Neste áudio trato especificamente da liturgia católica. Seu nascimento, desenvolvimento, importância e referência para a Igreja desde os primeiros séculos. Falo sobre como o fiel católico deve perceber a liturgia que se realiza na Santa Missa. Faço também comentários quanto à situação da liturgia no Brasil e do verdadeiro espírito que devemos nutri quanto ao culto perfeito que a Igreja celebra.

Abaixo o leitor pode escutar e através do 4shared baixar o áudio.