quinta-feira, 2 de junho de 2011

Uma rápida exposição sobre a teologia das religiões

As religiões são portadoras de elementos que atestam o desígnio universal de Deus – sementes do Verbo. Esses elementos de graça apontam para Cristo. Romano Guardini diz que ainda que Buda tenha sido o precursor oriental maior de Cristo tornou-se o obstáculo maior para pregação desse mesmo cristianismo no Oriente.

A teologia das religiões parte de toda essa problemática em relação ao fenômeno religioso e, especialmente, na veracidade da fé cristã, da sua unidade e da universalidade do desígnio salvífico de Deus. Dentro desse cenário encontram-se posições diversas; o exclusivismo – extra ecclesiam nulla salus – , o inclusivismo em duas vertentes – teologia do cumprimento e teologia da presença de Cristo nas religiões - , o pluralismo – Cristologia normativa e Cristologia não-normativa.

Os teólogos inclusivistas – Danielou, Lubac, Balthasar, da primeira linha, e Rahner, Schilebeckx, Kung, da segunda linha – partem da singularidade e universalidade do evento de Jesus Cristo. O inclusivismo é de faceta cristocêntrica – o exclusivismo é eclesiocêntrico – e reflete a respeito do Salvador constitutivo. Assim, a salvação fora da Igreja seria fundada no mistério do Verbo encarnado, na fidelidade da consciência e na fidelidade dos ritos e tradições religiosas. Não obstante, não existiria uma autonomia salvífica, como se esta fosse conquistada pelo simples esforço do homem. Os elementos de graça e verdade são os sinais do não abandono de Deus aos homens.

No inclusivismo a centralidade de Cristo é afirmada, entretanto, as duas linhas se diferenciam na compreensão do modo como esta chega aos homens. A tendência Danielou prega que o homem se salva apesar da religião, pela fidelidade objetiva de consciência. O mistério de Cristo alcançaria os homens de outras religiões como extensão da graça de Deus. Destarte, o inclusivismo da primeira linha entende que o movimento do homem para a salvação não vem de si mesmo, mas brota da graça de Deus. As religiões não cristãs são, então, preparações evangélicas para a salvação. O cristianismo, como cumprimento de todas as religiões, tem a plenitude da salvação. Resumidamente pode-se colocar que enquanto a teologia do cumprimento parte da idéia de que o melhor das religiões leva a Cristo, a teologia da presença de Cristo nas religiões considera que Cristo está nas religiões não-cristãs.

Karl Rahner fora o teólogo que mais se destacara nessa linha. Para ele a oferta da graça alcança a todos os homens e todos os homens têm a consciência certa desta graça oferecida. O seu Existencial-Transcendental é a estrutura que o deixa aberto à graça. Realidade intermédia na natureza como uma disposição à graça. Orienta até Deus. Assim, aceitar a si mesmo é aceitar a Cristo e implicitamente o Evangelho, portanto cristãos anônimos.

Já a teologia do pluralismo religioso é seguida por todas as teologias contextuais; teologia negra, teologia feminista, teologia ecológica, teologia da libertação. Para os seus pensadores o pluralismo é de fato de iure. Deus positivamente há querido comunicar sua graça através das religiões em sua diversidade e até contradições. Conseqüentemente incide em dois grandes erros; a oposição entre a economia do Verbo Encarnado e a economia do Espírito Santo, assim os livros sagrados seriam emanações do próprio Espírito Santo e veículos válidos da experiência religiosa, e a distinção entre o Verbo Encarnado e o Logos Asarkós. Ou seja, o Logos não está definitivamente vinculado com Cristo, toda a mediação humana – inclusa a humanidade de Cristo – é insuficiente para abraçar a plenitude de Deus. Raymond Panikkar, desse modo, definiu Cristo como totum Dei e não totos Deus.

O mistério de Cristo é explícito na fé cristã, mas seria implícito nas demais religiões, ou seja, caminhos alternativos de salvação. Haveria uma dialética entre a experiência implícita do mistério de Cristo e o reconhecimento de Jesus de Nazaré, privilégio dos cristãos. Para os adeptos dessa linha a Igreja – sociedade e não Corpo Místico - não é critério para a salvação dos não-cristãos. O Concílio Vaticano II teria sido medroso em romper com a visão eclesiocêntria e cristocêntrica, alegam.

Obviamente os teólogos pluralistas se perdem nos próprios devaneios. O valor das religiões não só é real e pleno como há uma distinção entre Cristo e o que os Evangelhos falam de Cristo. A ação de Jesus vai além do anunciado nas Escrituras, não se restringe, mas também se faz presente nas outras crenças. Alguns dizem, inclusive, que com a condição kenótica de Cristo, este tomou uma consciência restrita pela natureza humana e, conseqüentemente, incapacitado de abarcar a totalidade do mistério de Deus.

A teologia do pluralismo – normativa e não-normativa – incide em heresias formais. Cristo não mais é o centro da salvação e as religiões são vias alternativas e complementares. Para a linha normativa Cristo ainda é a Revelação definitiva, mas não seria a causa constitutiva da graça salvífica. Ademais, não seria possível um conhecimento transcendente de Deus, o conhecimento das realidade transcendentes. O homem como ser metafísico mas impossibilitado de fazer metafísica. Surgem, então, o Reinocentrismo – Reino de Paz e Justiça e o Soteriocentrismo – ereção do paraíso mediante a transformação das estruturas.

Ainda que a teologia do pluralismo normativa incida em heresias formais, a não-normativa consegue ir além ao colocar Cristo como apenas mais um mediador da salvação. Com uma forte influência ideológica, a religião passa a ser vista como mais um instrumento de destruição e submissão cultural. A união das religiões, então, teria como fim a construção do bem, da paz e da justiça mundial. Do cristocentrismo eles migram para o teocentrismo, onde as religiões são multiformes manifestações do divino.

O diálogo, então, tem como pressuposto fundamental a não-pretensão da verdade e ter em vista que os valores das religiões, e seu próprio fim, é promover o bem da humanidade. Para Paul Knitter a Encarnação é uma metáfora da vida em fidelidade a Deus e do amor ao próximo, e John Hick, grande expoente do relativismo religioso, a religião é passar do centrar em si mesmo para o centrar na realidade, viver para o próximo. Destarte, as contradições claríssimas das religiões são revolvidas mediante a ética e pela lei moral

Fonte:

RAVAZZANO, Pedro. Uma rápida exposição sobre a teologia das religiões. Blog Acarajé Conservador. Disponível em: http://acarajeconservador.blogspot.com/2011/05/uma-rapida-exposicao-sobre-teologia-das.html Acesso em: 31 Maio 2011.