terça-feira, 12 de abril de 2011

Economia das Imagens no Antigo Testamento

Por John Lennon J. da Silva.


No fim do I séc. d.C. alguns grupos de judeus não observavam ardentemente as prescrições mosaicas sobre o uso de imagens, registra-se o uso comum de afrescos e mosaicos figurativos em algumas famosas sinagogas. Com a Sinagoga de Dura-Europos (inicio do séc. III), o fato de estes grupos utilizarem Imagens, afrescos não é novo remonta os tempos bíblicos do AT.

Analisaremos a “economia das Imagens”¹ no AT seu uso, prescrições e comodidade e finalidade para época visto que Deus não havia ainda se encarnado e o povo hebreu vivia em constante perigo de envolver-se com a adoração de Ídolos e sua fabricação, como mostrou-se antes de Moises trazer ao Povo a lei, aos pés do monte Sinai com o “Bezerro de ouro” (Ex 32, 1-6. 19) Este mesmo recebeu de Deus este mandamento.

“Não terás outros deuses diante de minha face. Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniqüidade dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles que me odeiam. Mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Ex 20, 3-6).

Mas esculturas e pinturas foram produzidas por ordem de Deus no Antigo testamento vejamos três casos bíblicos:

Arca da Aliança:

“Farás dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro, fixando-os de modo a formar uma só peça com as extremidades da tampa. Terão esses querubins suas asas estendidas para o alto, e protegerão com elas a tampa, sobre a qual terão a face inclinada.” (Exodo 25,18-20)

Lembrando que as Sagradas Escrituras dizem que Deus falava através desta arca com os israelitas (cf. Ex 25, 22). Que era o símbolo de uma aliança de Javé com o povo destinado ao sacerdócio real o povo hebreu.

Serpente no Deserto:

“O povo veio a Moisés e disse-lhe: “Pecamos, murmurando contra o Senhor e contra ti. Roga ao Senhor que afaste de nós essas serpentes.” Moisés intercedeu pelo povo, e o Senhor disse a Moisés: “Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido, olhando para ela, será salvo.” Moisés fez, pois, uma serpente de bronze, e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida.” ( Nm 21,7-9)

Serpente ordenada por Deus, através dela realizava-se curas: posteriormente os hebreus curvados à idolatria começaram a adorar a serpente como a um deus. O resultado, o Rei Ezequias teve de destruí-la. (Cf. 2 Rs 18,4). Pelo fato dela começar a ser tida como uma “divindade”. De forma analógica a “serpente estendida” simbolizará Cristo Jesus no Novo Testamento (cf. Jo, 14-17).

Templo de Jerusalém:

Durante a construção do templo de Jerusalém empreendida pelo rei Salomão no “quarto ano do seu reinado” (I Reis 6, 1) foram postos no interior do edifício os seguintes objetos narrados nos textos abaixo:

“Fez no santuário dois querubins de pau de oliveira, que tinham dez côvados de altura.” ( I Reis 6,23).

“Nos painéis enquadrados de molduras, havia leões, bois e querubins, assim como nas travessas igualmente. Por cima e por baixo dos leões e dos bois pendiam grinaldas em forma de festões.” (I Reis 7, 29)

“Para o interior do Santo dos Santos, mandou esculpir dois querubins e os revestiu de ouro.” (II Cr 3,10)

Mesmo o famoso véu do templo tinha querubins desenhados nele, como vocês podem ler em II Cr 3,7-14.

Após a construção do templo foi transladado para o mesmo, à arca da aliança e os levitas a colocaram “no santuário do templo, o Santo dos Santos” (cf. II Cr 5, 7) Após isto houve uma intensa celebração de Louvor ao Senhor cf. II Cr 5, 13 frente à arca, observe que como sobre a tampa dela havia duas “Imagens” representações ou esculturas de “Querubins” (Ex 25, 18):

E o mais incrível diz o texto de Crônicas que durante o “louvor ao Senhor” o templo “encheu-se de uma nuvem tão espessa” que os Sacerdotes não puderam exercer seu oficio; e continua “A glória do Senhor enchia a casa de Deus” II Cr 5, 14. Você leitor imagine a “glória de Deus” enchendo a casa do Senhor (o templo de Jerusalém) estando o edifício repleto de imagens e esculturas.

Haveria então controvérsia entre o mandamento Divino de não “esculpir imagem alguma”, e a “utilização de imagens pelos hebreus” nestes casos expostos? Obviamente não, pois as Escrituras estão livres de qualquer erro ou contradição como constata a [Inerrância bíblica] doutrina sobre a qual as Sagradas escrituras estão vetadas quanto a contradições, e nem se pode dizer que Deus é contraditorio “ordenando e desordenando” Como devemos entender então estes casos:

Como explicamos logo na introdução deste texto, Deus logo instituiu o Mandamento contra as Imagens, por conta do perigo que poderia ser aos hebreus não ter nenhuma prescrição que os vetassem de se contagiar com os povos visinhos que eram povos “politeístas” observam a vários deuses e prestavam cultos a estas falsas divindades “Ídolos”. Assim a condenação do Mandamento, resume-se na proibição de esculpir e adorar “falsos deuses” cf. Ex 20,23 e 34,17; Lv 19, 4.26; Dt 4,23-24.27,15. Como era visto nos povos idólatras do oriente.

Sobre o uso de imagens entre os hebreus como visto na Serpente erguida no deserto, Arca da aliança e no Templo de Jerusalém fica claro sob a ordem de Deus que o Senhor não condenou a pintura, esculturas ou a arte, mas em primeira mão as representações, imagens e simulacros utilizados pelo povo com “a finalidade de serem adoradas e proclamadas como divindades”.

Por isto mais tarde a teologia católica vai entender que “O culto cristão das imagens [ou ícones] não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos”. (CIC 2132) Já a interpretação (hermenêutica) protestante tem muitos problemas ao entender a questão das Imagens e seu uso, pelo fato de a problemática esta circundando a temática quanto ao “culto respeitoso que se presta as Imagens e não se confunde com a Adoração prestada competida só a Deus”. (Catecismo da Igreja Católica nº 2132)

Como fora utilizado pelos primitivos cristãos e hoje se encontra testemunhada pela arqueológica que provou o uso de imagens, afrescos e representações já no fim do I século, como comporta as catacumbas de culto dos cristãos e outros edifícios e lugares de celebração dos crentes, estendidas tanto no ocidente e oriente regiões que já foram integrantes do Império romano, sem mencionar os textos hagiográficos e testemunhos patrísticas ou a grande Tradição Apostólica que nos guarneceu o uso de ícones nas celebrações como se expressou o II Concílio Ecumênico de Nicéia:

“Na trilha da doutrina divinamente inspirada de nossos santos Padres e da tradição da Igreja católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos. ”(CIC n° 1161)

Notas:

¹ “Economia das Imagens” [termo teológico aplicado as disposições de Deus sobre o uso das Imagens entre os hebreus e cristãs na Historia da humanidade, neste a “economia” é o plano direcionado e orientado pela vontade de Deus].

sábado, 9 de abril de 2011

O papel singular de Maria na economia da Salvação


Por Eduardo Moreira e John Lennon J. da Silva

Introdução

Muitos escritos apócrifos podem ser de grande valia, mas alguns também podem ser decepcionantes. Alguns apócrifos são gnósticos ou carregados de outras heresias e inverdades. Entretanto, vários outros apócrifos carregam consigo fatos verdadeiros e ainda outros que não podem ser confirmados. Dessa maneira, o Evangelho Secreto da Virgem Maria nos traz, uma imagem mariana que ajuda, ao menos em mínimas proporções, a entender o papel da Mãe de Deus na história da salvação, um papel singular que só poderia ter sido cumprido por ela.

É bom dizer antes de tudo que o “Evangelho Secreto da Virgem Maria” não é um texto divinamente inspirado e tampouco aceito como verdadeiro ou canônico. Sua autoria ainda é incerta, além de em muitos trechos existirem equívocos teológicos. Certamente ele é apenas uma composição literária dos primeiros séculos do cristianismo onde o autor tenta mostrar o mundo através dos olhos da Imaculada de maneira bastante ousada. Entretanto, o Evangelho Secreto da Virgem Maria já traz consigo a concepção da intercessão dos justos, mortos para este mundo, mas vivos para Cristo pelos vivos, confirmando assim que há o céu logo após a morte, há também a ideia de que Maria era de fato a graça em plenitude, e que Maria é pra sempre virgem, além da fervorosa narração relacionada a São José, lhe acompanhando nessa virgindade perpétua, temática defendida por vários teólogos modernos, a concepção imaculada de São José.

O escrito peca, entretanto, ao tentar de maneira ousada mostrar como era o olhar da Virgem Santíssima, bem como ao mostrar um Cristo que muitas vezes não sabia de sua divindade, além de cometer erros como não distinguir Maria Madalena de Maria irmã de Lázaro.

É claro que erros como esses já eram esperados, pois se trata de um texto apócrifo, e não de um texto inspirado, mas há um grande grau de elementos comuns entre esse texto e o Catolicismo. É comum observar a verdade mesmo em meio às heresias, e essas verdades nos dão luz, de como era o olhar para Maria entre os primeiros cristãos.

Essa introdução nos ajuda a ver que mesmo pessoas de crença duvidosa nos primeiros séculos do cristianismo já tinham um carinho especial pela Mãe de Deus, título que já aparece também nesse “evangelho” assim como aparece no Evangelho Segundo São Lucas (cf. Lc 1, 43).

Maria, graça plena, medianeira junto a Cristo

Maria é chamada pelo anjo Gabriel de “cheia da graça” (cf. Lc 1, 28). Esse termo designa Nossa Senhora como a graça em plenitude. É um vocativo grego de difícil tradução, um termo atemporal que exprime aquela que era, que é e que sempre será agraciada. Seria equivalente a dizer tecida na graça, coroada pela graça. Desse pequeno trecho tiramos em partes o dogma da Imaculada Conceição.

Nossa Senhora certamente, se era, é e sempre será graça em plenitude, nasceu coroada pela graça, sem a mancha do pecado original. Mas Nossa Senhora teve de ser salva por seu filho pelo sacrifício na cruz, que é atemporal. O Sacrifício não existiu apenas para os que viviam naquela época, mas sim para os que viveram antes, depois e durante a primeira vinda de Jesus. A Salvação é para todos, mais percebida por poucos a morte de Cristo foi um sacrifício infinito, pois foi o sacrifício do filho de Deus que é Deus com o Pai e com o Espírito este sacrifício foi eterno, pois o Deus trino que professamos é eterno.

Maria foi concebida sem o pecado original, isso é ensinado de forma implícita por São Lucas nesse pequeno trecho do Evangelho, São Lucas que é um mariólogo destacado e rico em detalhes quando em seu Evangelho registrou os eventos relacionados à Virgem. Maria é superior aos anjos, é a criatura mais perfeita que pode existir, pois nunca se observa um anjo maravilhado com um ser humano em toda a Sagrada Escritura a ponto de saudá-la com termo tão majestoso “Cheia de graça”. Entretanto o anjo ao ver Maria a saúda “graça em plenitude” [termo que corresponde de forma mais perfeita as palavras originais do evangelho] e ela, por sua humildade se perturba com semelhante saudação.

Os anjos como mensageiros de Deus levaram essa saudação à Maria, saudação essa que partiu do Altíssimo. Nunca em toda a Sagrada Escritura aconteceu episódio similar, apesar de vários anjos mensageiros terem sido enviados por Deus a homens sábios no Antigo Testamento, em nenhuma destas narrações um anjo reconhece a graça em um ser humano. Nossa Senhora não podia ter o pecado original, pois sendo esse pecado passado de pai para filho, se Nossa Senhora o tivesse, ela o teria passado a Jesus, e é pelos méritos de Cristo que ela foi preservada por Deus, pois ali naquele Tabernáculo, o santo ventre de Maria, gerou-se a Salvação na pessoa de Jesus. Deus quis que a Rainha nascesse sem o pecado para que Jesus não o tivesse.

Maria, Mãe de Deus

Eis outro grande enigma. Jesus enquanto plenamente Deus não era descendente de ninguém, pois procede do Pai e com o Pai e o Espírito Santo, forma apenas um. Entretanto, negar a maternidade divina de Maria é negar a redenção. Se as naturezas humana e divina de Jesus fossem separadas, então o sacrifício na cruz não teria servido para nada. Nosso Senhor teria morrido em vão.

Os sacrifícios do Antigo Testamento não limpavam a mancha do pecado, que é uma ofensa infinita a Deus. Eles apenas limpavam parcialmente. Ora, se o pecado é uma ofensa infinita a Deus, então há necessariamente que ter um sacrifício infinito capaz de limpar os pecados da humanidade.

Se a natureza humana de Jesus é distinta da natureza divina, como alegaram diversas correntes heréticas no decorrer da História, quem morreu na cruz foi um homem, pois a divindade não morre. Se quem morreu na cruz é um homem, então o pecado não foi remido, pois se assim fosse, qualquer homem que fosse oferecido em sacrifício teria sido suficiente para redimir os pecados da humanidade. Tomando este raciocínio os concílios da Igreja, condenaram tais teses.

Muito diferente, entretanto, foi o Santo Sacrifício de Cristo. Ele, morrendo na cruz, de uma vez por todas venceu o pecado através de sua morte e ressurreição. Então, quando Maria gerou Jesus, ela gerou de fato um ser plenamente homem e plenamente Deus, cujas naturezas são inseparáveis és a doutrina sempre professada pela Igreja.

Dessa maneira, o Sacrifício de Cristo foi um sacrifício infinito, pois foi um sacrifício de um Deus que se fez homem em tudo, exceto no pecado. Sendo infinito, esse sacrifício lavou nossas culpas e nos fez filhos de Deus.

Portanto, se Nossa Senhora não é Mãe de Deus, as naturezas humana e divina de Nosso Senhor têm que ser distintas e certamente o sacrifício teria sido inútil, tomando este raciocínio o Arianismo, negou a maternidade divina de Maria e o uso do título, Mãe de Deus. No entanto o Concílio de Éfeso em 431 d.C. confirmou dogmaticamente a Maternidade divina de Maria. Assim as naturezas humana e divina de Jesus estão unidas, foram geradas no corpo de Cristo no ventre de Maria Santíssima, tornando possível a redenção.

As mães de todos nós não são capazes de gerar almas, pois a alma quem gera é Deus. Entretanto, essa incapacidade não tira delas o título de mães nossas. De forma semelhante, Maria por não ser Mãe de Cristo enquanto Deus anterior a Maria; não tira dela o título de Mãe de Deus, pois Jesus Cristo é ao mesmo tempo tão humano que teve de ser gerado por uma mulher e tão Deus que nos remiu de nossos pecados. A encarnação é, portanto, um mistério insondável aos olhos humanos.

Maria, medianeira de todas as graças

Na Bíblia em momento algum fala-se que é inútil a oração da Igreja para a conversão dos fiéis. Através do batismo somos todos unidos ao Corpo Místico de Cristo (I Cor 12,12), remidos do pecado original. Assim, somos um só corpo no amor de Deus.

Se somos uns só corpo, não há diferença entre mortos e vivos no que se refere à capacidade de orarmos uns pelos outros, pois nosso tesouro escondido está no alto. Ora, se assim é, então todos os membros se beneficiam com a oração dos membros da Igreja e por isso, Nossa Senhora como Mãe da Igreja também ora por seus filhos.

Maria é medianeira de todas as graças, pois conforme já mostrado e também afirmado por diversos santos, doutores e papas; é Mãe de Cristo e como somos parte do corpo d’Ele, Maria é nossa mãe. Se a graça provém do Verbo, logo a graça passa por Maria, mãe do Verbo. Dessa maneira a Igreja crê que as graças obtidas pelos fieis, chegam também pelas mãos imaculadas da Virgem Santíssima, pois que a ela pode-se recorrer, ante a mediação única que exerce o Senhor Jesus junto ao Pai (I Tm 2,5).

O fato da Palavra de Deus, citar Jesus como único mediador entre Deus e os homens não acaba com a co-mediação de outros, inclusive Maria. Como somos parte do Corpo de Cristo que é a Igreja, assim somos todos co-mediadores e por isso a intercessão tem valor. Muito mais valor e muito mais força tem a oração dos que já estão em comunhão plena com Deus na visão beatifica. Maria sempre esteve em comunhão, pois jamais conheceu o pecado e por isso, a intercessão de Maria é a intercessão que excede a petição de todos os demais bem aventurados.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Martinho Lutero sobre os crucifixos, imagens de santos e o Sinal da Cruz

Artigo traduzido do livro Martinho Lutero: Analise Crítica Católica e Louvor. Contem uma série de citações de Lutero a respeito do crucifixo e imagens.

CRUCIFIXOS

O costume de segurar um crucifixo diante de uma pessoa que esteja morrendo tem mantido muitos na comunidade Cristã e permitiu-lhes morrer com uma Fé confiante no Cristo crucificado. (Sermão sobre João, Capítulos 1-4, 1539; LW, Vol. XXII, 147)

Foi uma prática boa segurar um crucifixo de madeira diante dos olhos dos moribundos ou pressionar nas mãos deles. Isto trouxe o sofrimento e a morte de Cristo a mente, e confortava os moribundos. Mas para os outros, que arrogantemente se basearam em suas boas obras, entraram num céu que continha um fogo crepitante. Pois eles foram afastados de Cristo e falharam em impressionar a Paixão e morte vivificante de Jesus, em seus corações.(Sermão sobre João, Capítulo 6-8, 1532; LW, Vol. XXIII, 360)

Quando eu escuto falar de Cristo, uma imagem de um homem pendurado numa cruz toma meu coração, assim como o reflexo de meu rosto aparece naturalmente na água quando eu olho nela. Se não é pecado, mas sim bom em ter uma imagem de Cristo em meu coração, porque deveria ser um pecado de tê-lo em meus olhos? (Contra os Profetas Celestiais, 1525; LW, Vol. 40, 99-100)

IMAGENS E ESTATUAS DE SANTOS

Agora, nós não pedimos mais do que gentileza em considerar um crucifixo ou a imagem de um santo, como testemunha, para a lembrança, como um sinal, assim como foi lembrado à imagem de César. (Contra os Profetas Celestiais, 1525; LW, Vol. 40, 96)

E eu digo desde já que de acordo com a lei de Moises, nenhuma outra imagem é proibida, do que uma imagem de Deus no qual se adora. Um crucifixo, por outro lado, ou qualquer outra imagem santa não é proibida. (Ibid., 85-86)

Onde, porém, imagens ou estatuas são produzidas sem idolatria, então a fabricação delas não é proibida.

Meus confinadores devem também deixar-me ter, usar, e olhar para um crucifixo ou uma Madonna… Contanto que eu não os adore, mas apenas os tenha como memoriais. (Ibid., 86,88)

Porém, imagens para memoriais e testemunho, como crucifixos e imagens de santos, são para ser tolerados… E não são apenas para ser tolerados, mas por causa do memorial e testemunho eles são louváveis e honrados… (Ibid., 91)

SINAL DA CRUZ

Oração da Manhã

De manhã, quando você levantar, faça o sinal da santa cruz e diga:

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém…

À noite, quando fores dormir, faça o sinal da santa cruz e diga:

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

(Pequeno Catecismo, 1529, Seção II: Como o Chefe da Família Deve Ensinar a Sua Família a Orar Pela Manha e Noite, 22-23)

Assim se originou e continua entre nós o costume de dizer a graça e retornando graças às refeições, e outras orações de manhã e à noite. Da mesma fonte veio a prática com crianças de benzer-se a visão ou audição de ocorrências aterrorizantes… (Grande Catecismo, 1529, O Segundo Mandamento, seção 31, p.57)

Se o diabo coloca na sua cabeça que em você falta a santidade, a piedade e o merecimento de Davi e por essa razão não podem ter certeza que Deus escutará você, faça o sinal da cruz e diga a si mesmo: “ Deixe ser piedosos e dignos aqueles que serão!! Eu sei com certeza que eu sou uma criatura do mesmo Deus que criou Davi. E Davi, independente de sua santidade, não tem um Deus nem melhor nem maior do que eu.” (Salmo 118, LW, Vol. XIV, 61)

Se você tiver um poltergeist ou espírito tocando em sua casa, não vá e discuta sobre isso aqui e ali, mas saiba que não existe um espírito bom ao qual não procede de Deus. Faça o sinal da cruz quietamente e confie em sua fé. (Sermão do Festival da Epifania, LW, Vol. 52, 178-79)

BIBLIOGRAFIA E FONTES PRIMÁRIAS

Grande Catecismo, 1529, traduzido por John Nicholas Lenker, Mineapolis: Augsburg Publishing House, 1935.

Os Trabalhos de Lutero (LW-Luther’s Work), Edição Americana, editado por Jaroslav Pelikan (volumes 1-30) e Helmut T. Lehmann (volumes 31-55), São Luis: Concordia Pub House (volumes 1-30); Filadelfia: Fortress Press (volumes 31-55), 1955.

Armstrong, Dave. Martinho Lutero sobre os crucifixos, imagens de santos e o Sinal da Cruz. [Traduzido pela colaboradora Ana Paula Livingston]. Disponível em: http://socrates58.blogspot.com/2008/04/martin-luther-on-crucifixes-images-and.html. Acesso em : 05/03/2011

Fonte:

Apostolado Spiritus Paraclitus. Disponivel em: http://www.paraclitus.com.br/2011/destaques/martinho-lutero-sobre-os-crucifixos-imagens-de-santos-e-o-sinal-da-cruz/ Acesso em: 05 Abril 2011.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Imitando as Virtudes de Maria

Por Taiana Froes.


Profunda humildade: Maria sabia reconhecer-se como humilde serva, sentia-se nada diante do Senhor, sem vaidade nenhuma oferecia ao Senhor os louvores que recebia e não havia nada em seu coração que centrasse nela própria. Ela era simples, todos seus actos eram feitos no silêncio e no escondimento. A humildade de Maria é a principal virtude que esmaga a cabeça do demónio. Nossa Senhora nunca se esqueceu que tudo nela era dom de Deus. Ela se alegrava em servir ao próximo e se colocava sempre em último lugar.

Imitando essa virtude: Devemos buscar a humildade, pensando sempre que se temos qualidades e potenciais tudo devemos a Deus, tudo isso é dom de Deus. Compreendamos que o homem sem Deus não é nada e nada possui. Nunca se deixar levar pelo orgulho, pela vaidade e soberba. Ser modestos, comedidos, sem vaidade, sempre dispostos a servir aos outros, ter simplicidade na maneira de se apresentar e quando receber um elogio dar os créditos a Deus. A humildade se opõe a soberba. “Porque pôs os olhos na humildade da sua Serva…” (Luc. 1,48) “Derrubou os poderosos de seus tronos E exaltou os humildes.” (Luc. 1,52).

Paciência Heróica: Nossa Senhora passou por muitos momento estressantes de provação, de incomodo e de dor, durante toda sua vida, mas suportou tudo com paciência. Sua tolerância era admirável! Nunca se revoltou contra os acontecimentos, nem mesmo quando viu o próprio filho na Cruz! Sabia que tudo era vontade de Deus e meditava tudo isso em seu coração. Maria, nossa mãe, teve sempre paciência, sabendo aguardar em paz aquilo, que ainda não se tenha obtido, acreditando que iria conseguir, pela espera em Deus.

Imitando essa virtude: Ter paciência é não perder a calma, manter a serenidade e o controlo emocional. Além disso é saber suportar, como Maria, os desabores e contrariedades do dia a dia, saber suportar com paciências nossas próprias cruzes. Devemos saber ouvir as pessoas com calma e atenção, sem pressa, exercitando assim a virtude da caridade. Fazer um esforço para nos calarmos frente aquelas situações mais irritantes e estressantes. Quando houver um momento de impaciência pode-se rezar uma oração, como por exemplo, um Pai-nosso, buscando se acalmar para depois tentar resolver o conflito. Devemos nos propor, firmemente não nos queixarmos da saúde, do calor ou do frio, do abafamento no autocarro lotado, do tempo que levamos sem comer nada... Temos que renunciar, frases típicas, que são ditas pelos impacientes: “Você sempre faz isso!”, “De novo, mulher, já é a terceira vez que você...!”, “Outra vez!”, “Já estou cansado”, “Estou farto disso!”. Fugir da ira, se calando ou rezando nesses momentos. A paciência se opõe a Ira! “Não só isso, mas nos gloriamos até das tribulações. Pois sabemos que a tribulação produz a paciência, a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança.”(Rom. 5,3-4) “Eu, porém, vos digo que todo aquele que (sem motivo) se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, esta­rá sujeito ao inferno de fogo.”(Mat 5,22).

Contínua Oração: Nossa Senhora era silenciosa, estava sempre num espírito perfeito de oração. Tinha a vida mergulhada em Deus, tudo fazia em Sua presença. Mulher de oração e contemplação, sempre centrada em Deus. Buscava a solidão e o retiro pois é na solidão que Deus fala aos corações. "Eu a levarei à solidão e falarei a seu coração (Os 2, 14)" Em sua vida a oração era contínua e perseverante, meditando a Palavra de Deus em seu coração, louvando a Deus no Magnificat, pedindo em Caná, oferecendo as dores tremendas que sentiu na crucificação de Jesus, etc.

Imitando essa virtude: Buscar uma vida interior na presença de Deus, um “espírito” contínuo de oração. Não se limitar somente as orações ao levar, ao se deitar e nas refeições, estender a oração para a vida, no trabalho, nos caminhos, em fim, em todas as situações, buscando a vontade de Deus em sua vidas. "Tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai". (Cl 3,17). e "Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a acção de graças. E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus."(Fil 6,6-7)

Obediência Perfeita: Maria disse seu “sim” a Deus e ao projecto da salvação, livremente, por obediência a vontade suprema de Deus. Um “sim” amoroso, numa obediência perfeita, sem negar nada, sem reservas, sem impor condições. Durante toda a vida Nossa Mãezinha foi sempre fiel ao amor de Deus e em tudo o obedeceu. Ela também respeitava e obedecia as autoridades, pois sabia que toda a autoridade vem de Deus.

Imitando essa virtude: O Catecismo da Igreja Católica indica que a obediência é a livre submissão à palavra escutada, cuja verdade está garantida por Deus, que é a Verdade em si mesma. Esforcemo-nos para obedecer a requisitos ou a proibições. A subordinação da vontade a uma autoridade, o acatamento de uma instrução, o cumprimento de um pedido ou a abstenção de algo que é proibido, nos faz crescer. Rezar pelos superiores. Obedecer sempre a Deus em primeiro lugar e depois aos superiores. Obedecer a Deus é obedecer seus Mandamentos, ser dócil a Sua vontade. Também é ouvir a palavra e a colocar em prática. “Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Luc 1, 38).

Mãe do Supremo Amor: Nossa Mãe cheia de graça ama toda a humanidade com a totalidade do seu coração. Cheia de amor, puro e incondicional de mãe, nos ama com todo o seu coração imaculado, com toda energia de sua alma. Nada recusa, nada reclama, em tudo é a humilde serva do Pai. Viveu o amor a Deus, cumprindo perfeitamente o primeiro mandamento. Fez sempre a Vontade Divina e por amor a Deus aceitou também amar incondicionalmente os filhos que recebeu na cruz. Era cheia da virtude da caridade, amou sempre seu próximo, como quando visitou Isabel, sua prima, para a ajudar, ou nas bodas de Caná, preocupada porque não tinham mais vinho.

Imitando essa virtude: Todos os homens são chamados a crescer no amor até à perfeição e inteira doação de si mesmo, conforme o plano de Deus para sua vida. Devemos buscar o verdadeiro amor em Deus, o amor ágape, que nos une a todos como irmãos. Praticar o amor ao próximo, a bondade, benevolência e compaixão. O amor é doação, assim como Maria doou sua vida e como Jesus se doou no cruz para nos salvar, também devemos nos doar ao próximo, por essa razão o amor é a essência do cristianismo e a marca de todo católico. "Por ora subsistem a fé, a esperança e o amor – estes três. Porém, o maior deles é o amor." (I Cor. 13,13).

Mortificação Universal: Maria, mulher forte que assume a dor e o sofrimento unida a Jesus e ao seu plano de salvação. Sabe sofrer por amor, sabe amar sofrendo e oferecendo dores e sacrifícios. Sabe unir-se ao plano redentor, oferecendo a Vítima e oferecendo-se com Ela. Maria empreendeu, e abraçou uma vida cheia de enormes sofrimentos, e os suportou, não só com paciência, mas com alegria sobrenatural. Nada de revolta, nada de queixas, nada de repreensões ou mau humor. Pelo contrário, dedicou-se à meditação para buscar entender o motivo que leva um Deus perfeito a permitir aqueles acontecimentos. Pela meditação, pela submissão, pela humildade, Ela encontrou a verdade.

Imitando essa virtude: Muitas vezes Deus nos envia provações que não compreendemos, portanto devemos seguir o exemplo de Nossa Senhora e meditar os motivos que levam um Deus perfeito a permitir essas provações, aceitá-las e saber oferecer todas as nossas dores a Jesus em expiação dos nossos pecados, pelos pecados de todos e pelas almas, unindo nossos sofrimentos aos sofrimentos de Jesus na Cruz. Não devemos oferecer somente os grandes sofrimentos, devemos oferecer também o jejum, fugir do excesso de conforto e prazeres e, na medida do possível, oferecer alguns sacrifícios a Deus, seja no comer (renunciar de algum alimento que se tenha preferência ou simplesmente esperar alguns instantes para beber água quando se tem sede), nas diversões (televisão principalmente), nos desconfortos que a vida oferece (calor, trabalho, etc.), sabendo suportar os outros, tendo paciência em tudo. É indispensável sorrir quando se está cansado, terminar uma tarefa no horário previsto, ter presente na cabeça problemas ou necessidades daquelas pessoas que nos são caras e não só os próprios. Oferecer os sofrimentos, desconfortos da vida, jejuns e sacrifícios a Deus pela salvação das almas. “Ó vós todos, que passais pelo caminho: olhai e julgai se existe dor igual à dor que me atormenta.” (Lamentações 1,12).

Doçura Angélica: Nossa Senhora, é a Augusta Rainha dos Anjos, portanto senhora de uma doçura angélica inigualável. Ela é a cheia de graça, pura e imaculada. Ela pode clamar as Legiões Celestes, que estão às ordens, para perseguirem e combaterem os demónios por toda a parte, precipitando-os no abismo. A Mãe de Deus é para todos os homens a doçura. Com Ela e por Ela, não temos temor.

Imitando essa virtude: A doçura é uma coragem sem violência, uma força sem dureza, um amor sem cólera. A doçura é antes de tudo uma paz, a manifestação da paz que vem do Senhor. É o contrário da guerra, da crueldade, da brutalidade, da agressividade, da violência… Mesmo havendo angústia e sofrimento, pode haver doçura. “Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência.” (Col. 3,12).

Fé Viva: Feliz porque acreditou, aderiu com seu “sim” incondicional aos planos de Deus, sem ver, sem entender, sem perceber. Nossa Senhora gerou para o mundo a salvação porque acreditou nas palavras do anjo, sua fé salvou Adão e toda a sua descendéncia. Por causa desta fé, proclamou-a Isabel bem-aventurada: “E bem-aventurada tu, que creste, porque se cumprirão as coisas que da parte do Senhor te foram ditas” (Lc 1,45). A inabalável fé de Nossa Senhora sofreu imensas provas: - A prova do invisível: Viu Jesus no estábulo de Belém e acreditou que era o Filho de Deus; - A prova do incompreensível: Viu-O nascer no tempo e acreditou que Ele é eterno; - A prova das aparências contrárias: Viu-O finalmente maltratado e crucificado e creu que Ele realmente tinha todo poder. Senhora da fé, viveu intensamente sua adesão aos planos de Deus com humildade e obediência.

Imitando essa virtude: A fé é um dom de Deus e, ao mesmo tempo, uma virtude, devemos pedir a Jesus como fizeram os apóstolos para aumentar a nossa fé. Porém ter fé não é o bastante, é preciso ser coerente e viver de acordo com o que se crê. “Porque assim como sem o espírito o corpo está morto, morta é a fé, sem as obras” Tg (2,26). Ter fé é acreditar que se recebe uma graça muito antes de a possuir e é, acima de tudo, ter uma confiança inabalável em Deus! “Disse o Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá.” (Luc 17,6).

Pureza Divina: Senhora da castidade, sempre virgem, mãe puríssima, sem apego algum as coisas do mundo, Deus era o primeiro em seu coração, sempre teve o corpo, a alma, os sentidos, o coração, centrados no Senhor. O esplendor da Virgindade da Mãe de Deus, fez dela a criatura mais radiosa que se possa imaginar. O dogma de fé na Virgindade Perpétua na alma e no corpo de Maria Santíssima, envolve a concepção Virginal de Jesus por obra do Espírito Santo, assim como sua maternidade virginal. Para resgatar o mundo, Cristo tomou o corpo isento do pecado original, portanto imaculado, de Maria de Nazaré.

Imitando essa virtude: Esta preciosa virtude leva o homem até o céu, pela semelhança que ela dá com os anjos, e com o próprio Jesus Cristo. Nossa Senhora disse, na aparição de Fátima, que os pecados que mais mandam almas para o inferno, são os pecados contra a pureza. Não que estes sejam os mais graves, e sim os mais frequentes. Praticar a virtude da castidade, buscando a pureza nos pensamentos, palavras e acções! Os olhos são os espelhos da alma. Quem usa seus olhos para explorar o corpo do outro com malícia perde a pureza. Portanto, coloque seus olhos em contemplação, por exemplo na Adoração, e receba a luz que santifica. Quem luta pela castidade deve buscá-la por três meios: o jejum, a fugida das ocasiões de pecado e a oração. “Celebremos, pois, a festa, não com o fermento velho nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os pães não fermentados de pureza e de verdade” (I Cor.5,8).


Referência:

As Virtudes de Nossa Senhora. Disponível em: http://mariaportadoceu.blogspot.com/2009/10/as-virtudes-de-nossa-senhora.html Acesso em: 29 Março 2011.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

As “Maldições hereditárias” e sua incompatibilidade com a Doutrina Católica.

Por John Lennon J. da Silva.

Durante um programa na Radio Catedral, o Pe. Dom Estevão Bettercourt, ao comentar e constatar como errônea a crença em certas “maldições” que eram passadas supostamente por herança sanguínea a cristãos; fato que tal crença encontrava-se largamente pregada na obra do inglês Robert Degrandis, chamada “Cura de Gerações” livro que durante o programa ocupou sua reflexão. Ele afirmou que “A cura entre gerações é algo imaginoso, fantasioso. A doutrina católica nunca professou essa hipótese”.

Hoje existem milhares de seitas que estão a pregar entre seus membros ou aos que aproximam-se de suas comunidades a “cura de gerações” geralmente chamada de “maldições hereditárias”, seus progenitores alegam que esta é uma doutrina cristã, na verdade não é como veremos ao longo do texto.

Esta crença e prática supersticiosa é basicamente oriunda das seitas neo-pentecostais, também designada como o Evangelho da maldição ou Quebra de Maldições, Maldições Hereditárias, Maldição de Família e Pecado de Geração. No Brasil a crença tem origem com “Igreja” Renascer em Cristo e também na seita de Edir Macedo.

Esta pseudo-doutrina que é produto de um moderno misticismo supersticioso, é aparentemente conciliável com a concepção de “carma” ou “karma” no budismo oriental. Para entendermos o que representa esta “aberração doutrinaria” que é nominalmente é chamada de “maldições hereditárias” ela corresponde em síntese a:

Um mal invisível, cujo homem não vê, e que pode ter atingido ou atingi qualquer um ser humano, por intermédio do que eles denominam de “espíritos familiares” que transmitem durante séculos pela linhagem sanguínea e por influência destes mesmos “espíritos” que exercem algum “poder” ou “magia” como alegam os progenitores desta pseudo-doutrina, com aflições espirituais e corporais sob os que a possuem, até que tal “maldição” seja quebrada através de libertações geralmente produzidas por pastores protestantes.

A expressão “espíritos familiares” que usei acima é utilizada arbitrariamente pelos pregadores de tal crença para justificá-la biblicamente, o termo é retirado de citações do Antigo Testamento, como (Levítico 19,31); na versão bíblica “King James” tradução produzida pela Igreja Anglicana.

Esta expressão é usada para designar “entidades”, “demônios” e “anjos decaídos” que exercem nos adivinhos a atividade da comunicação com os mortos e com os cristãos atuando na condução dos mesmos no âmbito de suas inclinações emocionais, sentimentais, carnais e físicas, ao pecado. A palavra “familiares” no plural é utilizada como complementar a denominação destes “espíritos” pelo fato destes, como alegam os pregadores desta crença terem forte influência e pendurarem em gerações de famílias humanas com seus planos nefastos.

É completamente descabida esta argumentação, a versão “King James” inglesa da Bíblia, não é uma das melhores traduções bíblicas como seguram muitos cristãos, é oriundo de exegetas e tradutores protestantes, alguns deles puritanos. Há grande tradução das Escrituras produzida por São Jerônimo nos séculos IV e V, que chamamos de vulgata latina ocupou a reflexão da Igreja por séculos e os textos latinos nada mencionam o termo “espíritos familiares” assim como as versões católicas recentes não aludem. Esta versão é uma clara iniciativa da exegese que se desenvolvera na Inglaterra em contraposição a “Vulgata” católica e também a exegese católica.

Assim forjar textos e procurar traduções cômodas para justificar conceitos e “doutrinas” não traduz princípios básicos de hermenêutica é pura picaretagem moderna. O que foi guardado e transmitido a Igreja nos textos bíblicos antigos que São Jerônimo usou, além é claro da tradicional interpretação do Magistério sobre estes aspectos da teologia, não repercutem nem induzem qualquer afirmação da existência de “espíritos familiares” quando versadas para língua latina e nem tampouco a língua portuguesa.

Pode surgir à pergunta, as Sagradas Escrituras dão embasamento para afirmar que os cristãos podem estar de alguma forma sob o jugo de maldições ancestrais ou qualquer tipo de crença parecida?

A resposta é não, esta nunca foi parte da pregação apostólica e nem encontra fundamento nos textos bíblicos, os Padres da Igreja nunca mencionaram tal crença entre os cristãos no decorrer dos VII primeiros séculos. Aliás os textos bíblicos refutam qualquer possibilidade de “gerações” levarem ou trazerem qualquer peso, mancha ou maldições ou ainda os pecados de seus pais. Vejamos o que diz o profeta Ezequiel.

“Contudo perguntais: Por que não levará o filho a maldade do pai? Porque o filho fez justiça e juízo, guardou todos os meus estatutos, e os praticou, por isso certamente viverá. A alma que pecar, essa morrerá. O filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele”. (Ez 18,19-20).

Há outros textos e citações (Dt 24,16: Jr 31,30: Ez 18, 2-4: Ex 18,4; 20, 5-6: Lv 19, 17). Que fazem oposição a qualquer afirmação que alude esta crença supersticiosa oriunda do neo-pentecostalismo. Não existe compatibilidade desta crendice protestante com a “Sã doutrina”, boas considerações a respeito do pecado, o perdão de Deus, os sacramentos [exemplo o Sacramento do Batismo, que regenera o ser humano e o torna filho de Deus, trazendo-o ao convívio com a graça de Deus, por libertar-nos do pecado original, pelo Batismo somos incorporados em Cristo e na sua única Igreja], Julgamento particular e etc. acabam por aniquilar qualquer possibilidade de “maldição hereditária”.

“Deus é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (I Jo 1,9), ou seja, ele não leva em conta as “faltas dos pais sobre os filhos” como podemos ler acima, como então estas supostas faltas ou maldições e até perseguições demoníacas poderiam ligar-se a gerações inteiras de pessoas, por conta de parentes de séculos atrás que erraram ou foram amaldiçoados? É absurdo, logicamente improvável, não existem brechas para invenções do tipo, ao melhor só existem nas cabeças de “víboras”, aludindo o termo que Cristo usou para designar os incautos, escribas e fariseus (Mt 23, 33; Lc 3,7). E "hipócritas", falsários  do Evangelho (Mt 23, 27; Mt 23, 29; Mt 15, 7; Mc 7, 6; Lc 12, 56).

Não poso deixar de registrar que existirem muitos indivíduos ligados a movimentos leigos, que estão de maneira pouco ortodoxa e medonha à introduzirem na Igreja Católica, qualquer tipo de prática ou exercício de libertação para o indivíduo que segundo as diversas alegações supostamente possui tais “maldições hereditárias”. Fazem eles muito mal a Santa Igreja e aos seus membros, mas vira o dia em que os lobos disfarçados entre os eleitos serão repelidos do redil do Senhor.